INICIAÇÃO CIENTIFICA

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS PRÓ-REITORIA DE PESQUISA EDITAL PIBIC 2013-2014 RELATÓRIO FINAL Projeto Metodologias de documentação para preservar os Monumentos Públicos Artísticos em áreas urbanas: o caso do Monumento Campos Salles.

Candidata Bárbara dos Anjos Ipac | 135041 Graduanda em Arquitetura e Urbanismo - Unicamp

Orientador Prof. Dr. Marcos Tognon IFCH - Unicamp Resumo O objeto de pesquisa é estudar e avaliar as metodologias de caracterização e diagnóstico para os Monumentos Públicos Artísticos, especialmente as etapas e os protocolos de documentação histórica, gráfica e fotográfica. Esses estudos serão aplicados em um caso específico e significativo: o monumento a Campos Salles, localizado hoje no início da Avenida Campos Salles em Campinas, e que se encontra em um estado de conservação crítico. Como resultado final do nosso projeto, pretendemos viabilizar um protocolo para todos os processos de documentação, documento técnico que poderá ajudar nas políticas públicas de preservação dos bens culturais materiais artísticos urbanos e também em outros estudos futuros na Universidade. Neste fim de atividade foi cumprido o cronograma pré-estabelecido em que as seguintes etapas foram concluídas: I. II.

Revisão Bibliográfica de todos os temas metodológicos da pesquisa; Estudos históricos (bibliografia, iconografia e documentos em Arquivos) da cidade e do Monumento a Campos Salles, sobre a biografia de Campos Salles, de monumentos similares em composição e temáticos, sobre o autor da obra;

III.

Estudo da sua atual localização e sua relação com o ambiente urbano;

IV.

Documentação Fotográfica;

V.

Documentação Gráfica; 1


VI.

Relatório de caracterização dos materiais e técnicas artísticas;

VII.

Relatório de diagnóstico das patologias;

VIII.

Dossiê fotográfico - Parte 2 (localização e identificação dos materiais e respectivas patologias);

IX.

Relatório final da bolsa de IC; Durante toda esta pesquisa não houve problemas, nem grandes dificuldades, porém o

número máximo de páginas estipulado pelo edital é muito pequeno, principalmente por esta pesquisa se tratar de uma documentação de um monumento público artístico.

Produção cientifica Participação no Projeto de Extensão Universitária, que visa à profissionalização na preservação do Patrimônio Cultural da RMC (Região Metropolitana de Campinas) e capacitar gestores e técnicos para a limpeza e manutenção dos Monumentos Públicos Artísticos. Colaborando nas pesquisas, na elaboração do material didático e no apoio nas atividades de formação da turma.

Materiais e métodos Para as medições em campo foi utilizado o medidor de distâncias a laser GLM 50 Professional, da Bosch. E para a execução dos desenhos foi utilizado o software AUTOCAD 2013.

Índice Identificação da obra___________________________________________________________3 Histórico ___________________________________________________________________14 Caracterização dos materiais e técnicas artísticas____________________________________17 Tabela de patologias e diagnósticos ______________________________________________23 Identificação dos materiais e patologias ___________________________________________26

Conclusão____________________________________________________________31 Arquivos_____________________________________________________________31 Referências Bibliográficas_______________________________________________31 Agradecimentos_______________________________________________________32

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Identificação da obra____________________________________________________ Denominação atual: Monumento a Campos Salles Denominação outras: Monumento a Campos Salles, Monumento de Campos Salles e Monumento Campos Salles. Localização/Relação com o entorno: O Monumento Campos Salles após ser retirado do Largo do Rosário, foi transferido para a Praça Heitor Teixeira Penteado localizada no cruzamento da avenida que leva o nome do homenageado, a Avenida Doutor Campos Salles, com a Rua 11 de Agosto. Esta região se encontra na parte central de Campinas, próxima a antiga estação ferroviária (FEPASA), e ao Terminal Rodoviário Ramos de Azevedo, uma área de grande movimento tanto de carros como de pedestres.

Esquema do entorno onde o monumento está localizado. Foto retirada do Google Earth.

Vista aérea do monumento e a demarcação das ruas circundantes. Foto retirada do Google Earth.

A Praça onde se encontra o monumento é cercada por uma área predominantemente comercial, de grande circulação de pedestres principalmente durante o dia, em dias de semana, período de funcionamento das lojas, em contraponto com o período noturno e os finais de semana, períodos estes em que esta região tem pouco movimento e consequentemente pouca fiscalização.

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A região se caracteriza pelo tráfego intenso, inúmeras pedestres, muito barulho, diversas placas de lojas, bem como anúncios espalhados pelas ruas que geram não só a poluição visual, como sonora. No entorno da praça, mais especificamente há uma grande quantidade de fios da rede elétrica, que se confundem na paisagem, há também semáforos, placas de sinalização e postes de iluminação. Mas do que isso, a posição em que o monumento foi colocado acabou se tornando um problema para trânsito dessa região, pois segundo os motoristas atrapalha na visibilidade do fluxo de carros tanto de quem vem da Avenida Dr. Campos Salles quanto da Rua 11 de Agosto, podendo ocasionar em acidentes de trânsito. Já para os pedestres o monumento parece também atrapalhar o caminho, pois como o monumento se encontra bem no extremo do pequeno “balão”, não há passagens por todo seu entorno, fazendo com que os pedestres andem no meio da rua para completarem seu trajeto, o que também pode causar acidentes. Assim, nota-se que o monumento após a sua mudança de local, deixou de lado o seu motivo simbólico e passou a ser um estorvo, tanto para os motoristas como para os pedestres. Poucos sabem o significado dos seus símbolos e figuras, mesmo aqueles que passam por ali todos os dias, sabem que existe algo, mas não conhecem do que se trata, e a obra acaba passando despercebida. Entretanto, para algumas pessoas o monumento acabou se tornando um local de descanso na hora do almoço ou nos intervalos do trabalho, pois é possível nesses horários encontrar algumas pessoas deitadas em alguma parte do monumento, ou até mesmo vestígios de comida e objetos que as pessoas deixam na obra como rastros. Nota-se que a obra se encontra em um local muito vulnerável sendo passível de ação de pichadores e até de roubos como é possível notar pela falta de algumas peças da obra como as espadas. Isso tudo se deve ao fato de como ela foi mal instalada, sem estudos prévios que a colocassem de forma assertiva para que possa ser percebida e admirada com a atenção que merece, ao contrario disso, o monumento acaba se tornando um empecilho e sendo alvo de desgaste físico pelo ambiente nocivo a que foi exposto. Desgastes estes que serão estudados em seguida.

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Foto denuncia o caos e a poluição visual ao qual o monumento está inserido. Foto registrada no dia 23/12/2013.

Descrição do Monumento: O monumento a Campos Salles, assim como o nome sugere é uma homenagem ao então politico Manoel Ferraz de Campos Salles. Essa homenagem partiu do vereador Carlos Francisco de Paula no ano 1929, que criou um concurso público para a construção do monumento, que por sua vez perpetuaria o nome de Campos Salles em praça pública. O edital publicado em Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, em 1929, além de buscar artistas de todo Brasil, definia parâmetros a serem seguidos pelos artistas participantes, bem como restrições orçamentárias, material o qual a maquete deveria ser produzida (gesso), a representação do homenageado em tamanho real, desenhos do monumento no local a ser instalado e memorial descritivo, contando minuciosamente o processo de projeto. Em 1930 a primeira edição do concurso recebeu a proposta de onze escultores, sendo eles: Galileo Emendabili, José Rosada, Yolando Mallozzi, Umberto Carpinelli e Umberto Morassutti, Paulo Mazuchelli e João Penotto, Antelo Del Debio, Ricardo Cipicchia, F. Baptista

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Ferri e Paes Leme. Porém a edição foi anulada pois a comissão julgadora rejeitou todas as propostas. Assim uma segunda edição foi lançada no mesmo ano (1930), com a participação de novos artistas e de outros da primeira edição, como o escultor Yolando Mallozzi, que acabou ganhando o concurso com o pseudônimo Epitheto. Como a solução encontrada pelo escultor Yolando Mallozzi foi a escolhida pela banca examinadora, e com base na analise proposta por esta pesquisa, cabe apenas a discussão da proposta deste escultor e não dos outros participantes. Porém em análise aos demais projetos: “observa-se nas propostas expostas que permanece certo padrão na estrutura dos monumentos apresentados, do ponto de vista formal: o elemento da verticalidade todos eles compostos por uma base, sobre a qual acomoda-se um plinto ou colunas; os materiais empregados - granito na estrutura (base e colunas/plinto) e a utilização de bronze nos conjuntos escultóricos. Além disso, há uma composição da representação realista de Campos Sales (conforme exigia o edital) com figuras alegóricas

de

derivação

clássica,

presente

em

todas

as

propostas

apresentadas.”(UHLE, 2006, p.49).

Fotografia da maquete do Monumento a Campos Salles executada por Yolando Mallozzi

Porém voltando ao projeto de Yolando, sua obra originalmente era estruturalmente composta por quatro blocos caracterizando as colunas e uma pilastra central, todos superpostos

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sobre a base. Em frente às quatro faces da pilastra estariam quatro esculturas de bronze e também diversos elementos que de certa forma resume um pouco a vida do homenageado e seus feitos. “Muitas são as referências simbólicas trazidas na obra de Mallozzi. A princípio, observa-se a presença de dois temas principais: identidade e vida pública. Nenhuma menção é feita à sua vida privada (à família, por exemplo) e mesmo os traços biográficos, presentes especialmente na estátua do homenageado, restringem-se a certo modo de agir na política.” (UHLE, 2006, p. 65) Assim cabe agora analisar todos esses elementos e seus significados tendo por base o memorial descritivo 1 do projeto de Yolando Mallozzi. Iniciando pela base de granito cinza, como já foi citada era em forma de cruz e com escadas laterais, representando a terra de Santa Cruz, o Brasil, e que conforme o memorial tinha como símbolo a origem de tudo e aquilo que une todos os elementos que acima virão. Em seguida, sobre a base temos quatro colunas, que também estão em forma de cruz e representam “a união, a robustez e a elevação do quatriênio governamental de Campos Sales” 2. A pilastra também de granito assim como as colunas, se encontra no centro dessas ultimas, porém em tamanho maior e em suas quatro extremidades foram esculpidas três figuras, as alegorias da abundancia, da harmonia e do crédito. A alegoria da abundância representada em duas faces da pilastra (uma acima da estátua de Campos Salles e outra acima da estátua de Campinas) tem como símbolo o índio ornamentado com cocar e rodeado por flores e frutas, que retoma a questão da Pátria, porém atrelada a natureza e a identidade nacional. A alegoria da harmonia é representada por três perfis, que por sua vez são símbolos que caracterizam a harmonia na união da Argentina, Brasil e Chile, harmonia essa adquirida graças à atuação politica do então presidente Campos Salles. E por fim a alegoria do crédito é representada por três cifrões, que relembra a época em que Campos Salles ao ser eleito presidente da República, antes de assumir ao cargo, fez uma viagem a Europa, onde conseguiu um empréstimo de consolidação da dívida externa com banqueiros ingleses, esquema que garantia através de um novo empréstimo o pagamento de juros e do montante de empréstimos anteriores, dando ao personagem a figura de salvador da economia, na época.

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Memorial Descritivo do Monumento a Campos Sales, publicado no jornal Folha da Manhã, em 19/08/1934. Memorial Descritivo do Monumento a Campos Sales, publicado no jornal Folha da Manhã, em 19/08/1934. 2

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Fotos com as três alegorias, da esquerda para a direita, abundância, harmonia e crédito. Foto de janeiro de 2014.

Como já foi dito, além dessas figuras alegóricas esculpidas no granito há também quatro esculturas executadas em bronze, localizadas sobre as colunas. Dentre elas a única que traz uma figura realista, a do próprio homenageado, Campos Salles, executada de forma cuidadosa para se parecer em escala humana, já que era um dos pré-requisitos do edital do concurso. Representado com a cabeça levemente erguida e com respeitáveis vestes, segura na mão esquerda um pergaminho representando sua atuação politica e seu gosto pelas letras. Mais que isso, a posição do seu corpo dá a impressão de que vai levantar. As outras três esculturas são alegóricas sendo elas a República, Legislação e Trabalho e a cidade de Campinas. A alegoria da República, chamada também no memorial como Propaganda e Vitória Republicana, é representada por quatro titãs nus carregando uma figura feminina e o brasão da República, todos classicamente representados. Os titãs moldados de forma que parecessem fortes e grandes, estão armados com pequenas espadas como se fossem guerreiros, uma idealização do esforço republicano, esforço esse que se refere às defesas dos ideais republicanos em meio a um regime monárquico. A figura feminina, inspirada na Marianne francesa, representa a alegoria da República localizada atrás do brasão, está sentada, com os cabelos soltos e com uma boina tradicional. Na extremidade oposta está localizada a alegoria à Legislação e Trabalho composta por outros quatro titãs, que também estão armados, porém com martelos, representando o povo na demanda de trabalho. Eles estão carregando aquilo que é o lema republicano “Ordem e Progresso” e outra figura feminina, porém representando dessa vez a Justiça, já que no primeiro governo republicano Campos Salles ocupou o Ministério da Justiça. E mais essa mulher carrega na mão um livro que faz referência à Constituição de 1891. E por fim, a alegoria à cidade de Campinas é retratada através de uma mulher sensual, que também está utilizando vestes clássicas, e está escrevendo no livro do tempo o nome de Campos Salles, como o próprio autor explicita no memorial: Campinas inscreve no livro do Tempo o nome do glorioso filho.

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Fotos com as quatro esculturas, da esquerda para a direita, “Campos Salles”, “República”, “Legislação e Trabalho”, “Cidade de Campinas”. Foto de janeiro de 2014.

Assim percebe-se a necessidade do memorial descritivo, que ajudou a esclarecer o significado e escolha das alegorias (isso devido as diferentes interpretações existentes sobre uma mesma imagem), bem como as simbologias e conceitos impregnados na obra. Com o projeto descrito e sendo aceito pela banca examinadora, o preço total pago a Yolando ficou em duzentos mil contos de réis e com prazo para entrega do monumento de 2 anos, ou seja até 15 de outubro de 1932. Entretanto, a obra não ficou pronta a tempo, mas fora finalizada e entregue a Prefeitura 5 meses após a data estabelecida, no dia 31 de março de 1933. Porém o monumento só foi inaugurado no Largo do Rosário, local pré-estabelecido pela banca para ser implantado, no dia 18 de agosto de 1934 com uma grande festa, com direito a acrobacias aéreas, chuva de flores e bandas. Entretanto esse Largo sofreu com o tempo muitas modificações, antes e depois de receber o monumento, e isso de certa forma influenciou na trajetória da obra e as modificações que ela veio sofrendo com o tempo. Logo cabe aqui um breve histórico do Largo do Rosário e do plano Prestes Maia, visto que este teve papel indireto no deslocamento da obra ao planejar um novo modelo de cidade. O Largo do Rosário, também conhecido por Praça Visconde de Indaiatuba3, foi um dos poucos largos de Campinas que surgiu antes da Igreja que leva também o seu nome, Igreja do Rosário, logo sua história começa um poucos antes de 1817, ano em que a família Teixeira Nogueira mandou construir uma capela dedicada a Nossa Senhora do Rosário. Em 1846 com a primeira visita de D. Pedro II a Campinas, o largo fora usado como um espaço de festejos em homenagem a visita ilustre, com direito a arquibancadas para a população assistir os espetáculos (“cavalhadas”). Já no ano de 1854 o local passou a ser um espaço para as feiras livres, porém

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Em 1887, um projeto do vereador José Bento dos Santos alterava o nome do Largo do Rosário para Praça Visconde de Indaiatuba. Entretanto, mesmo após a demolição da Igreja o local permanece popularmente conhecido como Largo do Rosário. 9


não havia nenhum planejamento, onde o piso era de terra batida, sem calçamento, nem árvores, nem banco. Alguns anos depois, por volta de 1872, o largo foi arborizado graças a uma proposta feita pelo então vereador Campos Salles, dois anos depois ganhou o seu chafariz e em 1875 foi instalada a iluminação a gás, portanto a praça estava sendo reformada segundo um ideário higienista, com árvores e plantas formando grandes canteiros, instalação de bancos, calçadas, passeios internos, banheiro público, gradis de ferro e chafariz projetado pelo engenheiro belga Franz Maryssael e executado pela casa Mac-Hardy. A partir de 1910 o largo já começava a deixar de lado essa imagem arborizada para dar lugar a uma “proposta que contemplava a instalação de imagens escultóricas e uma relação de continuidade com a cidade, que facilitava a circulação dos pedestres” (UHLE, 2006, P.91). Assim em 1912, a herma de César Bierrembach é a primeira peça escultória a ocupar esse largo, no lugar de algumas árvores e canteiros. Em seguida, em 1932 o Monumento à Campos Salles toma o lugar da herma (transferida para a Praça Carlos Gomes e hoje localiza-se no Largo do Carmo) e do chafariz (transferido para o Largo do Pará), se tornando peça central da praça, que fora modificada para receber tal obra. Com isso o jardim fora destruído por funcionários da Prefeitura, dando lugar a um piso decorado por mosaicos portugueses em estilo art nouveau, porém durou somente um ano, já que no ano seguinte, em 1935, o Largo foi novamente remodelado. Mas cabe ressaltar, que conforme Ana Rita Uhle diz: “A estátua de Campos Sales ficou posicionada de costas para a Igreja do Rosário e para a Estação (que ficaram de frente para a alegoria de Campinas), virando-se o estadista para a Rua Barão de Jaguara. Essa disposição obedece à própria lógica dos monumentos da região central, que em sua maioria estão de costas para a Estação (Catedral, antigo Teatro Carlos Gomes, Igreja do Rosário). Campos Sales ficou voltado para a área mais nobre da cidade – bairro Cambuí, praça Carlos Gomes -, para a parte comercial – especialmente a rua Barão de Jaguara – e de costas para a região da Vila Industrial, onde estavam instalados o matadouro municipal, o curtume e as vilas operárias.” (UHLE, 2006, p.94). Voltando a nova modelação da praça, ela sofreu uma diminuição para a circulação nas ruas laterais além de criar um espaço para estacionamento e em seu piso no lugar dos mosaicos, motivos geométricos foram colocados. Isso mostra que as modificações que a praça vem sofrido é um reflexo das mudanças na cidade, que caminhava para um estilo moderno. Com isso cabe agora citar o Plano de Prestes Maia, o Plano de Melhoramentos Urbanos de Campinas executado pelo engenheiro Francisco Prestes Maia. Esse plano consistia em fazer novos projetos urbanísticos para a cidade em crescimento, e um deles era alargar duas avenidas centrais, sendo elas a Francisco Glicério e a Campos Salles para solucionar o problema de 10


congestionamento na área central. Porém para executar essas “melhorias” seria necessário demolir a Igreja do Rosário, o que foi feito. Não só as ruas sofreram mudanças, o Largo do Rosário também sofreu uma nova reformulação com o projeto do arquiteto campineiro Renato Riguetto, que projetou uma praça como novo centro cívico de Campinas, com a construção de marquises e um palanque para comícios. Logo, era evidente que nessa nova praça o monumento já não tinha mais espaço, assim em 1956 iniciava-se o processo de transferência da obra. A solução foi a rotunda (Praça Heitor Penteado), idealizada nos projetos de Prestes Maia, no início da Avenida Doutor Campos Salles.

Fotos do Largo do Rosário em suas diferentes fases descritas acima.

Porém, alguns problemas surgiram como a impossibilidade de caber o monumento original por ser muito grande e a rotunda muito pequena. Assim sem consultar o idealizador da obra, Yolando Mallozzi, a base (com 80 centímetros de altura) do monumento foi suprimida. Isso gerou muita indignação na época, mas principalmente pelo escultor que entrou com uma ação na justiça pela reparação da base do Monumento a Campos Salles. “O objetivo era exigir a reconstituição da base, conforme o projeto original, no prazo de dez dias após a condenação, a indenização ao escultor por danos morais e o pagamento dos honorários advocatícios.” (UHLE, 2006, p.127). O escultor Mallozzi acabou ganhando a causa, e o juiz determinou que a base deveria ser recomposta no prazo de dez dias sob pena de multa diária, mas não considerou necessário a indenização por danos morais já que ele não havia sofrido nenhum prejuízo financeiro. Porém mesmo com a decisão judicial a base nunca foi reconstituída.

Fotos da Praça Heitor Penteado, mostrando as mudanças sofridas desde 1960 até hoje.

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Foto ampliada da Praça Heitor Penteado tirada em 2014. Foto de abril de 2014.

Propriedade: Monumento Público de propriedade da Prefeitura Municipal de Campinas.

Número do Patrimônio: O monumento a Campos Salles foi tombado pelo Condephaat por volta dos anos 90.

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à reas Principais: A: 21,12 m²; H: 9 m (Considerando o estado atual do monumento)

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Histórico______________________________________________________________ Biografia do Dr. Manoel Ferraz de Campos Salles - Homenageado

Fotografia de Manoel Ferraz de Campos Salles

Manoel Ferraz de Campos Salles, nasceu em Campinas no dia 13 de fevereiro de 1841. Ao chegar à adolescência foi para São Paulo, na Faculdade de Direito de São Paulo, em busca de grades mestres de Direito, sendo estes não só exímios jurisconsultores, mas também notáveis estadistas. Dentre estes destacou-se José Bonifácio, Martim Francisco, Gabriel Jose Rodrigues dos Santos e João Dabnei de Avelar Brotero. Campos Salles se viu envolvido nas lutas acadêmicas, revelando desde o principio a sua predileção pelas discussões científicas, fazendo parte da “Associação Culto à Ciência”. Mais que isso, por volta de 1862 filiou-se ao Partido Liberal, e neste mesmo ano redigiu, com Francisco de Paula Belfort Duarte e Quirino, o jornal politico liberal, “A Razão”. Em 1865 casou-se com sua prima D. Ana Gabriela, filha de José Campos Salles, fundador do partido republicano em Campinas, união esta que teria influenciado sobre toda sua vida. Quatro anos depois de ter se formado em direito (1867), apresentava-se já Campos Salles candidato a uma cadeira na assembleia provincial pelo 7ºdistrito eleitoral da sua província, era um lugar na câmara do município de Campinas. E desde já era um dos primeiros iniciadores das mais avançadas ideias democráticas, como tornar o ensino livre e a aprendizagem obrigatória. Assim, antes de se proclamar republicano, Campos Salles o era de fato. Um ano depois, em 1868 filiou-se ao partido radical, contra os partidos monárquicos coligados, e venceu, ocupando o lugar de vereador. 14


A repercussão de seus ideais republicanos foi grande e se deu principalmente em São Paulo com a fundação de novos clubes republicanos. Já no ano de 1873, Campos Salles fundou o Partido Republicano Paulista (PRP). Com a reforma eleitoral de 1881, Campos Salles se apresenta candidato à Assembleia Geral, mas não consegue a vitória. Entretanto, cinco dias depois é eleito deputado provincial. Com a dissolução da Assembleia Geral em 1884, novas eleições foram feitas e Campos Salles é eleito deputado pelo Partido Republicano, juntamente com Prudente de Moraes e Alvaro Botelho. Com discursos favoráveis a libertação, e posição indiferente aos outros dois partidos, o Liberal e o Conservador, acabou culminando a uma nova dissolução do Parlamento, voltando Campos Salles a ocupar seu antigo posto de deputado provincial. Porém, em 15 de Novembro de 1889, cai a Monarquia e nasce a República. “E é ai que Campos Salles vai revelar-se um dos mais notáveis homens de Estado” (ALVES FILHO, 1940, p. 18). Porém, com duas barreiras a serem ultrapassadas, a politica e a financeira. Com a proclamação da República, foi instituído um Governo Provisório republicano com o marechal Deodoro da Fonseca como Presidente da República e chefe do Governo Provisório e o marechal Floriano Peixoto como vice-presidente. Campos Salles foi então elevado a Ministro da Justiça (entre 1889 e 1891) deste novo governo e teve uma atuação muito importante. Sua primeira reforma social foi a de instituir o casamento civil (pelo decreto 181, de 1890), também iniciou a elaboração de um Código Civil e reformulou o Código Criminal. Mas durante esse mesmo período como ministro foi também senador pelo estado de São Paulo na Assembleia Nacional Constituinte entre 1890 e 1891. Em 1892 partiu para viver na Europa onde atuou como colaborador do jornal Correio Paulistano até 1893. De volta ao Brasil, Campos Sales exerceu o cargo de governador de São Paulo de 1894 até 1898, quando ocorreram as eleições diretas para a Presidência da República, na qual saiu vencedor assumindo o posto no dia 15 de novembro de 1898. Na presidência, sucedendo Prudente de Morais (1894-1898), o campineiro se deparou com um quadro inflacionário e também de inúmeras dívidas do país adquiridas das gestões anteriores. Assim, antes de sua posse, Campos Salles viajou para a Europa a fim de realizar negociações com a casa bancária inglesa Rolschild & Sons e os demais credores do Brasil, acordo este denominado "funding loan" 4. Mais que isso, para combater a inflação e a desvalorização da moeda, o então presidente não permitiu mais emissão de papel-moeda, retirou grande quantia de circulação, fez cortes orçamentários, aumentou os impostos e criou novos. Essa nova política sanou as finanças, mas afetou negativamente a indústria, o comércio e a população em geral, que vivendo em condições inadequadas de vida e muita pobreza não aceitou bem o peso da carga tributária. 4

Tipo de moratória onde o país fazia empréstimos e postergava o pagamento da dívida e dos juros, novos e anteriores.

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Lembrando que Campos Salles era um representante da oligarquia cafeeira do Estado de São Paulo, para garantir o apoio do Congresso à sua política financeira e buscando gerar uma estabilização politica que favorecesse as elites estaduais, criou a chamada Política dos Governadores 5. Em 1902 terminou o seu mandato sem o apoio popular e com bom prestígio entre as elites do país. Mas mesmo assim, conseguiu que o Conselheiro Francisco de Paula Rodrigues Alves, o candidato que indicou para sucessão, vencesse o pleito eleitoral. Retornou a vida pública em 1909 para assumir o mandato de Senador de São Paulo até 1912, ano em que tornou-se ministro plenipotenciário do Brasil na Argentina. O nome de Campos Salles chegou a ser lembrado pelos republicanos para a disputa presidencial de 1914, mas no dia 28 de junho de 1913 faleceu repentinamente na cidade de Guarujá, onde enfrentava dificuldades financeiras.

Biografia Yolando Mallozzi - Autor Yolando Mallozzi nasceu em Atibaia, cidade do interior de São Paulo, em 5 de julho de 1901. Filho de Sylvio Mallozzi e de dona Vicentina Januzzi Mallozzi, ambos imigrantes italianos e comerciantes. Antes de ingressar no mundo artístico, Yolando trabalhou como auxiliar de barbeiro, mas depois em sua cidade natal começou a se aproximar das artes aprendendo mais sobre esculturas, gesso e mármore, no atelier de Francisco Marinho. A partir dai seus aprendizados começaram, tendo também como professor, Nicola Rola, em 1917. Em 1922 matriculou-se no Liceu de Artes e Ofícios, permanecendo ali até 1926, período este que praticou escultura com Amadeu Zani, Elio de Giusto, Pinto do Couto e Celso Antônio. Porém, como não conseguia se manter como escultor em São Paulo naquela época, trabalhava também como datiloscopista no Gabinete de Investigação da Capital. O primeiro concurso público que Yolando prestou foi para a execução do Monumento a Ramos de Azevedo, com edital publicado em 1929, na cidade de São Paulo, porém não se classificou. Mas no mesmo ano e na mesma cidade recebeu uma encomendo para executar uma herma de Luis Gama, que foi inaugurada dois anos depois, no jardim do Largo do Arouche, por iniciativa do jornal “O Progresso”. Nessa mesma época ganhou o concurso para a construção do Monumento a Santos Dumont, em Curitiba, patrocinado pelo aeroclube. Em 1930 ganhou o concurso para a execução do Monumento a Campos Salles, em Campinas e participou também em 1937 do concurso para a construção do Monumento ao Soldado Paulista. Durante esses anos de concursos, ganhou o prêmio a Grande Medalha de Prata dos salões paulistas em 1934. 5

Consistia em um acordo entre coronéis, governadores estaduais e o presidente, onde todos sairiam favorecidos. 16


Entretanto, por conta de uma doença desconhecida o escultor se aposentou de seu trabalho como datiloscopista no gabinete e se isolou por dez anos. Depois disso voltou a trabalhar, mas somente como escultor, voltando também a concorrer por grandes prêmios ganhando em 1953 o prêmio Pequena Medalha de Ouro e o Prêmio da Prefeitura de São Paulo, em 1956 ganhou o prêmio do Governo do Estado e em 1961 o prêmio Viagem ao País. Mas no dia 31 de Maio de 1968 o patrono Yolando Mallozzi faleceu em São Paulo, Capital. Percebe-se que Yolando ganhou alguns concursos importantes, mas não conseguiu se destacar no campo da escultura pública, produzindo a maior parte de suas obras em Atibaia, onde o escultor fez alguns bustos e estátuas em homenagem a personalidades da elite local.

Caracterização dos materiais e técnicas artísticas_____________________________ Granito O granito é uma rocha ígnea ou magmática plutônica. Ele se forma a partir da solidificação do magma a grandes profundidades, o que a classifica como rocha intrusiva. As rochas que o envolvem, impedindo a libertação do calor, não permitem um rápido arrefecimento do magma o que retarda a sua solidificação. Assim, os minerais que o constituem têm o tempo necessário para se desenvolver o que leva a uma textura granular em que estes constituintes são bem visíveis e identificáveis. Os principais minerais formadores do granito são o quartzo transparente, o feldspato e as micas (biotita escura): 1. O quartzo (SiO2) tem dureza 7 na escala mohs, o que lhe permite riscar o vidro por exemplo. Sua tenacidade é considerada baixa, o que o torna quebradiço e pouco resistente á flexão. 2. O Feldspato (KAlSi3O8) apresenta também tenacidade considerada baixa, o que o dá características similares ao quartzo, apesar de ser menos “duro”. 3. As micas podem ser encontradas nos granitos de diferentes formas, a mais comum é a biotita (K2(Mg,Al,Fé)6(Si2,Al)8 O20(OH)4). A biotita tem uma tenacidade superior a do quartzo e a do feldspato, o que a torna o mais elástico dos compostos do granito. As propriedades dos granitos são: estrutura-maciça, granulometria com grãos consideravelmente grandes, se comparados aos das rochas vulcânicas, densidade de 2,56g/cm³, absorção/porosidade relativamente baixas (sua capacidade de absorção é de 0,4%), resistência à compressão em torno de 131MPa (mais resistente do que o mármore) e resistência à flexão em torno de 8MPa (um pouco maior que a do mármore), muito resistente à choques e intempéries, dureza de 5 à 6 na escala Mohs. A coloração dessas rochas é principalmente influenciada pela cor dos feldspatos. E segundo uma classificação comercial existem 10 tipos ou cores, que são: vermelho, marrom, amarelo, azul, verde, preto, cinza, branco, bege, rosa. No caso do Monumento a Campos Salles o granito empregado pelo escultor Yolando Mallozzi é o cinza. 17


Bronze O bronze é uma liga metálica homogênea composta pela mistura de cobre e estanho, podendo conter porções de outros elementos, com objetivos específicos pra cada uso. Apresenta-se na forma de um metal quase dourado, é maleável e dúctil, possui características bastante peculiares. Quando exposto ao ar atmosférico por períodos prolongados é recoberto por uma camada castanha escura de óxidos dos metais envolvidos em sua composição. Como dito anteriormente alguns tipos de bronze são formados pela mistura de outros metais, porém sempre o cobre será o metal base em sua composição. Os metais presentes na composição do bronze são: Ligas do Bronze

Características e aplicações Contem cerca de 2% de zinco e seu uso é na fabricação de parafusos,

Cu + Sn + Zn

porcas e válvulas, após ser submetido a tratamento térmico adquirem resistência elevada. São soldáveis com eletrodos de bronze fosfatizado. Essas ligas variam na composição de chumbo possuindo 7%, 8%, 12% e 15% recebe também o nome de bronze vermelho, possui características

Cu + Sn + Pb

bastante peculiares como resistência mecânica, térmica e química sendo amplamente utilizada na fabricação de peças industriais artesanais entre outros usos que exijam as propriedades concernentes a liga. Contêm em média 6 %, 12% e 20% de alumínio sendo utilizadas na fabricação de equipamentos e válvulas que exigem alta dureza, resistência

Cu + Sn + Al

mecânica e química sendo utilizados para fabricação de peças resistentes ao atrito como canhões de irrigação agrícola, hélices, bombas d’água e equipamentos para aplicação de agrotóxicos. Contém em média 15% de manganês apresenta alta resistência química

Cu + Sn + Mn

sendo utilizado na fabricação de tubulações para esgoto, indústrias químicas e equipamentos utilizados no tratamento de água. Contem cerca de 16% de fósforo em equipamentos que exijam

Cu + Sn + P

lubrificação por tempo prolongados, apresenta propriedades superiores as do bronze com chumbo, é utilizado na fabricação de eletrodos para soldagem e reparo de peças de bronze.

Na execução de uma peça em bronze, existem certas técnicas de fabricação e são elas: moldagem, fundição, montagem e acabamento. Para a fabricação de uma obra em bronze não é só necessárias horas de trabalho, mas também da participação de diferentes profissionais como o escultor, o modelador, o moldador, o nucleador, o fundidor, o rebarbador, o cinzelador, o ajustador e o aplicador de pátina. Assim

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cabe explicitar as diferentes fases e técnicas que uma peça de bronze sofre para chegar no seu resultado final. 1) Modelo O modelo a ser executado em bronze é uma reprodução da obra original do artista, geralmente, em terra, que é moldado em gesso. A partir dessa impressão, o modelador cria o modelo, também de gesso, destinado ao fundidor. Esse modelo será utilizado somente uma vez, caso o escultor deseje uma obra única, ou dezenas de vezes como ocorreu no caso dos modelos de fundição artística. Em consequência da retração da peça fundida no momento de seu arrefecimento, o modelo deverá ter dimensões superiores de 1,5% em relação à obra desejada. O gesso é empregado de preferência para modelos esculpidos que apresentam certos relevos. Podendo ser cortado de forma melhor que a madeira, o material oferece ângulos mais vivos que são guarnecidos com a dureza necessária para resistir à moldagem, pela aplicação de uma camada de óleo sicativo. Em seguida é aplicado o elastômero, um polímero que possui propriedades elásticas, utilizado para copiar um modelo e permitir sua reprodução em ferro fundido por meio de técnicas simplificadas. Trata-se de uma tomada de impressão, em positivo, pela aplicação de elastômero a quente. 2) Moldagem A moldagem consiste na coleta da impressão da peça que se deseja reproduzir. A moldagem das peças artísticas em ferro fundido é feita com areia, argila ou terra. A moldagem das fundições artísticas é feita mais tradicionalmente: - Em areia verde: Executada à mão ou à máquina, a moldagem em areia verde consiste na utilização de um molde constituído de areia argilosa úmida comprimida. A expressão "verde" alude à presença de umidade na areia e indica que o molde não está seco nem estufado. Apesar de ser amplamente utilizado, o método não é adequado para as peças de grandes dimensões ou peso elevado. - Em areia dura: Esse processo é usado para peças de grande porte e consiste na utilização de areia dura. Tão logo o molde estiver confeccionado e o modelo retirado, pulverizase um produto refratário sobre a impressão do molde fazendo-o endurecer. No processo clássico de moldagem em areia estufada, a areia é endurecida por aquecimento do molde. No processo a frio, a areia seca, sem argila, é misturada a uma resina aglomerante acrescida de um catalisador que a faz endurecer em poucos minutos. O moldador, trabalhando com areia verde ou areia dura, trabalha da seguinte forma: enche dois chassis com molde de areia bem compactada. Em seguida, colhe a impressão da peça a ser produzida introduzindo o modelo a meia espessura (no plano de junção), lado dianteiro e lado traseiro, na areia de cada chassi. Após ter colocado o núcleo e traçado o canal de escoamento e 19


os dutos de escape dos gazes, preparado as masselotas (reservas de metal líquido que alimentarão a peça durante seu esfriamento), os chassis são perfeitamente encaixados. O molde pode então receber o metal em fusão que desposará exatamente os contornos da impressão deixada na areia. -Moldagem em blocos comprimidos: A moldagem em blocos comprimidos é utilizada para os objetos que apresentam concavidades em seus contornos e cuja desmoldagem não seria possível mesmo quando modelos e chassis estivessem decompostos. Nesta série, são incluídas principalmente as estátuas e as peças ornamentais em relevo. Nesse caso, a impressão dos elementos salientes ou côncavos, que podem ser braços, roupas, atributos ou certos detalhes do rosto, denominados contra-despojos, é colhida separadamente do conjunto, compactando-se areia, em blocos, nas partes complexas. - Moldagem de grandes estátuas: Quando se trata de moldar e fundir estátuas de grandes dimensões, a manipulação do modelo é impossível. Este é dividido em partes distintas e a moldagem de cada parte é feita quer de modo tradicional, quer em blocos comprimidos. - Moldagem a molde giratório: A moldagem em terra, moldagem a molde giratório, foi utilizada para grandes vasos e tanques: em torno do núcleo, circunda-se uma espessura de terra, denominada falsa peça, que representa com exatidão o objeto a ser fundido. Esta é recoberta por várias camadas de terra espessa que compõem a chapa. A falsa peça é então retirada, deixando o vão formado para a passagem do metal. Após aquecer, comprimir e enterrar o molde, é feita a corrida. Em se tratando de peças ornamentadas a serem moldadas em terra a molde giratório, grandes vasos ou tanques, devemos cuidar para restituir à falsa peça ornamentos em cera ou modelos em relevo, cuja impressão ficou retida pela chapa e que são derretidos ou retirados por ocasião da desumidificação. - Submoldagem: Quando o fundidor necessita refundir uma peça da qual ele nunca possuiu ou não possui mais o modelo, ele colhe a impressão diretamente na peça fundida. Esse processo não proporciona satisfação total visto que os motivos perdem nitidez e a peça obtida dessa forma é 1,5% menor que seu modelo em consequência da retração do metal. - Moldagem a elastômetro: A flexibilidade do elastômetro permite moldar contradespojos sem problema. Após a coleta da impressão, a areia é despojada do modelo, que é retirado como uma luva deixando intactos todos os relevos. 3) O núcleo Os núcleos são elementos de areia que foram endurecidos permitindo sua manipulação. São introduzidos no molde para constituírem as superfícies interiores da peça moldada ou para dar forma a uma superfície externa onde não é possível fazê-lo com a ajuda do modelo. A complexidade do núcleo depende da configuração interna da peça. O núcleo é geralmente constituído de areia siliciosa misturada com um ligante (óleo ou resina termo-endurecedora). Ele será compactado à mão dentro de uma caixa de núcleo ou à 20


máquina. Nesse caso, utiliza-se ar comprimido ou um gás frio que permitem, tanto um quanto outro, o endurecimento instantâneo do núcleo. Todas as peças artísticas em ferro fundido são ocas por razões de peso e principalmente para a uniformização do arrefecimento do metal. Para confeccionar o núcleo das estátuas, era necessário preencher a impressão exterior com areia compactada, endurecida por ocasião do estufamento. O núcleo era então retirado e lixado de modo a subtrair uma espessura uniforme e deixando um espaço vazio entre a impressão do molde e o núcleo. Após recolocar o núcleo, suspenso por traves no centro da impressão, era feita a corrida e o metal preenchia assim o vão livre já preparado. 4) Corrida do metal A corrida consiste no enchimento do molde com metal a 1.500º C. Este vai se introduzir no espaço já preparado e desposar fielmente a impressão externa e interna formada pelo moldador. As peças artísticas fundidas são geralmente vertidas num único jato. Caso sejam volumosas, duas ou três alimentações simultâneas podem ser realizadas através de dois ou três orifícios diferentes. Caso se trate de estátuas volumosas, cada molde é corrido em separado. As diferentes partes serão reunidas e montadas na oficina de ajustagem. A corrida por bolso é a mais utilizada. Os bolsos podem conter entre 30 kg e várias toneladas e são trazidos para baixo da canaleta de corrida do cubilô. Destampado o orifício, o metal derretido escorre para dentro do bolso que será transportado até o molde e inclinado de modo a verter o metal no molde. A velocidade da corrida, bem como a localização dos jatos, canais e respiradouros, desempenham um papel essencial para o êxito da operação. O ataque da corrida é geralmente colocado no plano de junção de modo a proporcionar alimentação uniforme na peça. No caso das estátuas, esse ataque é colocado nas dobras e nos detalhes dos corpos de modo a ficar invisível após o acabamento. Existem outras técnicas de corrida: - A corrida em queda livre consiste na alimentação dos moldes em ferro fundido a partir diretamente do alto-forno ou do cubilô, por meio de canaletas de corrida que descem para os canais e jatos de corrida do molde. Os canais se localizam na base do forno e são construídos em declives suficientemente angulados para alimentar o molde sem rapidez nem lentidão excessivas. Para facilitar a penetração do metal, os moldes são inclinados. - a corrida em chafariz: a peça é alimentada pelo fundo e o metal aflora até as masselotas localizadas acima da peça. - a corrida por centrifugação: o metal, introduzido num molde em rápida rotação, adere às paredes deste. A moldagem de tubos é feita dessa forma. - a corrida contínua, utilizada para fabricar mono-produtos derramados por gravitação numa matriz em grafite.

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- a corrida sob pressão, processo experimental permitindo a confecção de pequenas peças com altíssimo nível de detalhamento. 5) Acabamentos Após a corrida, a peça permanece no molde por um período suficiente para assegurar seu esfriamento. Este deve acontecer de modo progressivo. Em seguida, ocorrerão operações importantes e delicadas: - Separação e desenchimento: Separação consiste em extrair a peça de seu molde. Este é colocado sobre um aparelho que, por vibração, destrói o molde e evacua a areia. O núcleo, ainda retido no interior da peça, também é evacuado por fratura da areia em pedaços. - Areamento: A peça será limpa da areia que ainda adere na sua superfície por meio de projeção de areia, bilhas de aço ou escórias, que lhe proporcionará um aspecto liso e limpo. - Rebarbagem: A peça limpa será entregue ao rebarbador que irá suprimir rebarbas, imperfeições e excrescências de metal resultantes da corrida, bem como os jatos, respiradouros, canais de escoamento e masselotas. - Reparos: as aberturas (poços de evacuação do núcleo e saída das traves que suspendem o núcleo dentro do molde, por exemplo) são soldadas e vedadas e as asperezas e os pequenos defeitos aparentes são regularizados. - Cinzelagem: essa operação, efetuada pelo escultor ou pelos operários mais habilidosos, consiste em devolver vida e frescor à peça. Cinzéis e encalcadeiras são utilizados para suprimir todos os vestígios da corrida, apagar as junções, reavivar um olhar ou aprofundar a dobra de um vestido. - A montagem: a estátua é montada por meio de encaixe a frio. Este será consolidado por grampos fixados por rebites ou pinos aparafusados no interior da estátua. Em seguida, o cinzelador intervirá para "reacasalar o metal" e apagar qualquer vestígio da junção. - Polimento: antes de receber seu revestimento, o metal é polido de forma a proporcionar uma pele azul-prateada, muito lisa. - Pintura, galvanoplastia: em seguida, para protege-las da oxidação e, portanto, da ferrugem, as obras em ferro fundido são imediatamente recobertas de pintura, zinco ou bronze. Essa galvanoplastia pode ser efetuada tanto a frio, por depósito eletrolítico, como a quente, por imersão em banho.

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Patologias e diagnósticos_________________________________________________ MATERIAL

BRONZE

GRANITO CINZA

FOTO

DENOMINAÇÃO/DEFINI ÇÃO DA PATOLOGIA PATINA VERDE – Corrosão do bronze devido a sua exposição prolongada aos componentes químicos presentes no ambiente. Complexo de sulfatos e carbonatos formados pela reação do metal com dióxido de carbono e dióxido sulfúrico. CROSTA NEGRA - A crosta negra forma-se em ambientes poluídos, a partir de materiais que se agregam em áreas porosas das superfícies líticas; trata-se muitas vezes de um processo de cristalização de elementos químicos alcalinos inicialmente em suspensão, e potencializados por meio de reações dessas partículas com a atmosfera ácida. Conforme se vai formando, ela pode incorporar partículas de poluição que dão a estes depósitos a sua característica cor negra. Estas crostas formam-se preferencialmente sobre as pedras calcárias, onde o carbonato de cálcio pode ser transformado em gesso em uma atmosfera rica em enxofre. MANCHA NEGRA - Fase preliminar do desenvolvimento da crosta negra. As manchas negras revelam grande aderência ao substrato pétreo, o seu aspecto é homogéneo e formam cobertura praticamente contínua sem elementos significativos em relevo. MANCHAS DE UMIDADE – Acumulo de água na pedra por absorção gerando uma coloração mais escura. Geralmente são manchas de duração curta ou média. Quando se fixam sobre a superfície estimulam o aparecimento de manchas negras e depois de crostas

CAUSA PROVÁVEL

TRATAMENTO

Falta de manutenção e ação de gases poluentes dos inúmeros carros que circulam em torno do monumento.

Após análise química dos constituintes dessas pátinas, limpeza química por meio de bandagens e se necessária reaplicação de pátina oxidante similar ao original.

Falta de manutenção, limpeza das superfícies e ação de gases poluentes dos inúmeros carros que circulam em torno do monumento.

Limpeza química (aplicação direta, escovação ou bandagem) com produtos neutros e detergentes especiais.

Falta de manutenção e ação de gases poluentes dos inúmeros carros que circulam em torno do monumento.

Limpeza química (aplicação direta, escovação ou bandagem) com produtos neutros e detergentes especiais.

Ação natural da umidade do ambiente e reação natural da pedra.

Procurar sanar infiltrações e umidades ascendentes; aplicar hidrorrepelentes na superfície pétrea.

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GRANITO CINZA

FANTASMA DE PICHAÇÃO – Restos da tinta que ficam incrustados nos poros da pedra devida a uma má limpeza das pichações.

Ação humana e má limpeza.

Limpeza química, a vapor ou limpeza a laser.

MANCHAS DE OXIDAÇÃO DA PÁTINA – escorrimento da pátina verde oxidada.

Falta de manutenção das superfícies de bronze.

Limpeza química (detergentes especiais) e limpeza a laser.

Falta de manutenção e aumento da porosidade da superfície.

Após limpeza química, aplicação de hidrorrepelentes apropriados.

Vandalismo ou dilatação térmica com diferenciais entre materiais ou superfícies.

É necessário fazer um preenchimento de nivelamento e colagem entre as partes.

Falta de limpeza e manutenção, queima de alguma material próximo ao monumento acumulando poeira desta queima.

Limpeza com água, e sabão/detergentes neutros associada à ação mecânica das esponjas e escovas ou mesmo o jateamento com controle de pressão.

Ação humana.

Produção de réplicas, próteses, e limpezas adequadas.

Ação natural do ambiente ou configuração original das pedras.

Tratamento intenso de proteção hidrorrepelente.

LIXIVIAÇÃO Erosão química da superfície rochosa devido a presença de alta porosidade e fragilidade do material e provocada pela percolação de chuva; quando remove sais e básicos das rochas deixa marcas brancas (eflorescências). FRATURA – Degradação estrutural ou superficial que se manifesta pela formação de soluções de continuidade no material, com ou sem afastamento relativo entre as duas partes fendilhadas. DEPÓSITO DE DETRITOS Acumulo de materiais estranhos de natureza diversa, tais como, por exemplo: poeiras, microrganismos, resinas vegetais, fezes de animais, etc. etc. Têm espessuras variáveis, geralmente com escassa coesão e aderência ao material subjacente. VANDALISMO – O vandalismo é toda ação humana que deprecia fisicamente e/ou esteticamente (pichação, roubo, uso inadequado, etc.) dos monumentos. POROSIDADE SUPERFICIAL – Trata-se da presença densa de poros na superfície das pedras, causada por má formação geológica ou LIXIVIAÇÃO.

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MANCHAS GORDUROSAS – acúmulo de gordura que em contato com a sujeira do local, gerando manchas pretas viscosas.

Ação humana, contato humano, contato com comidas ou detritos gordurosos.

Limpeza com água, e sabão/detergentes neutros associada à ação mecânica das esponjas e escovas.

FALTA DE REJUNTE |BORDA MANCHADA – Dissolução do rejunte devido a ação da água, levando ao escorrimento da solução.

Má aplicação do rejunte, e a existência de lacunas que permitem a entrada de água.

Limpeza com água, e sabão/detergentes neutros associada à ação mecânica das esponjas e escovas.

REJUNTAMENTO MAL REALIZADO – Excesso ou a falta de rejunte devido a sua má aplicação.

Má aplicação rejunte.

No caso da foto onde há excesso de rejunte aplicado é necessário a remoção do excedente com a ajuda de espátulas. Já nos locais onde há falta de rejunte é necessário reaplicar de forma correta.

VULCANIZAÇÃO REJUNTE PARTÍCULAS POLIMÉRICAS

Falta de manutenção e má aplicação do rejunte.

Substituição dos rejuntes depreciados.

Ação humana.

Limpeza química, a vapor ou limpeza a laser.

do

GRANITO CINZA DE COM

PICHAÇÃO – aplicação de tintas de várias naturezas, depreciando quimicamente e esteticamente os monumentos e seus componentes.

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Identificação dos materiais e patologias_____________________________________ LEGENDA - PATOLOGIAS

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Conclusão Assim considerando tudo o que fora dissertado nesta pesquisa, e que o objetivo era estudar e avaliar as metodologias de caracterização e diagnóstico para os Monumentos Públicos Artísticos, chegou-se a esse protocolo final que contempla todas as etapas de forma concisa e clara, capaz de ajudar nas políticas públicas de preservação dos bens culturais materiais artísticos urbanos e também em outros estudos futuros na Universidade. Este estudo contou com diversas passos sendo eles a documentação histórica, estudo da atual localização do monumento, a documentação fotográfica, caracterização dos materiais e técnicas, e diagnóstico/patologias. Cada etapa dessa é de total importância para o entendimento do monumento, seja ele qual for e serve também como diretriz para possíveis intervenções de forma fundamentada. Desta maneira esta pesquisa busca alertar a necessidade de ser promover um “inventário completo” dos monumentos existentes em Campinas, para estudos mais aprofundados e comparativos, pois se trata de um patrimônio de grande porte e essencial para a cultura local. Essa metodologia de caracterização e diagnóstico foi aplicado em um caso específico e significativo: o monumento a Campos Salles, localizado hoje no início da Avenida Campos Salles em Campinas, e que se encontra em um estado de conservação crítico, como podemos ver durante toda essa pesquisa. Logo, como base em toda essa análise podemos chegar à conclusão que este monumento precisa urgente da atenção pública, antes que ele perca cada vez mais suas características originais, tornando a sua recuperação irreversível.

Arquivos Centro de Memória da Unicamp Centro de Ciências Letras e Artes Arquivo Histórico Municipal de Campinas

Referências Bibliográficas ALVES FILHO, F. Rodrigues. Campos Sales: o propagandista da republica - o ministro - o presidente - a época. São Paulo. Cultura do Brasil, 1940. BADARÓ, Ricardo de Souza Campos. Campinas: o despontar da modernidade. Campinas. Área de Publicações CMU/UNICAMP, 1996. CARPINTERO, Antônio Carlos Cabral. Momento de ruptura: as transformações no centro de Campinas

na década dos

cinquenta. Campinas. Área de Publicações

CMU/UNICAMP, 1996. CARVALHO, Marcelo Soares de. A constituição de Campinas como grande centro urbano: Movimentos da cafeicultura e as ferrovias entre o primeiro Rush cafeeiro e a década de 1930. Campinas, 1997. Monografia UNICAMP. 31


CURRAN, Dr. Joanne. Glossário da degradação ambiental da pedra. Tradução por António de Borja Araújo, eng.º civil, I. S. T. Fevereiro de 2004. LIMA, Siomara Barbosa de. Os Jardins de Campinas: o surgimento de uma nova cidade(1850-1935). Campinas, 1998.

MONTAGNA, Dennis R.

Metals:

Conserving outdoor bronze sculpture.

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Agradecimentos Ao CNPQ/PIBIC agradeço pelo vital apoio financeiro. Ao meu orientador Prof. Dr. Marcos Tognon, pelas indicações de leitura, pela troca de idéias e sugestões sempre acertadas. Aos funcionários dos diversos arquivos e bibliotecas que consultei. Ao Hotel Opala Avenida que me permitiu registros fotográficos aéreos do monumento. Aos meus amigos da Unicamp que me apoiaram. Ao Leonardo Ilha pelo apoio, paciência e companheirismo. A minha mãe, Cristina dos Anjos pelo apoio emocional. E ao meu pai, Eduardo Roman Ortiz Ipac que me acompanhou em todas as visitas técnicas e me ajudou em cada etapa deste projeto.

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