Desenvolvimento de espaços públicos sustentáveis em São Carlos: Agricultura Urbana e Educação Ambiental
Trabalho de Graduação Integrado I Barbara Oliveira Silva Instituto de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo 2017 CAPS David Moreno Sperling Joubert Jose Lancha Lucia Zanin Shimbo Luciana Bongiovanni Schenk Coordenador GT Tomás Antonio Moreira
Architects’ drawings show no roots, no growing, just green lollipops and buildings floating on a page, as if ground were flat and blank, the tree an object not a life. Planners’ maps show no buried rivers, no flowing, just streets, lines of ownership, and proposals for future use, as if past were not present, as if the city were merely a human construct not a living, changing landscape. - ANNE WHISTON SPIRN, The Language of Landscape
imagem disponível em: <www.levelframes.com>
í ND I CE
PREFÁCIO INTRODUÇÃO O PROGRAMA A LUZ DO LUGAR A PROPOSTA REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA
P RE F Á C I O
Quando
pessoas pensam em cidades certas coisas já aparecem em suas mentes. Pensam, por exemplo, em edificíos, ruas, arranha-céus, carros barulhentos. Mas, quando eu penso em cidades eu penso em pessoas. Aonde as pessoas vão e onde elas se encontram são os pontos cruciais para que uma cidade funcione. Então, mais importante do que os edifícios em uma cidade, seriam os espaços públicos que os entremeiam. Por que então não existem mais espaços públicos nas cidades? Lugares talvez com bancos para se sentar, conforto e vegetação. Por muitos anos, plazas como apresentada na imagem ao lado, eram construídas, entre outras razões, por possuírem aparência elegante, que geralmente associamos com arquitetura moderna. Planos de concreto, superfícies lisas e uniformes. Porém, pessoas costumam evitar ficar em espaços como estes. Além de muitas vezes transmitirem uma sensação de insegurança, vejamos, onde pessoas poderiam se sentar? E o que se poderia fazer ali? Mas, muitos arquitetos os adoram e para aqueles que tomam conta do local, são espaços ideais. Nada precisa ser aguado, pouca manutenção é necessária, e não é preciso se preocupar com pessoas indesejadas. Mas esse espaço não parece ser um desperdício? Espaços livres em cidades são oportunidades. Sim, são oportunidades para investidores comerciais e imobiliários, mas também são oportunidades para o bem comum. Geralmente, estes dois pólos são opostos um do outro. Então, aí jaz o conflito. As cidades crescem, não só em área, mas em número de habitantes. Por isso, os espaços públicos acabam sendo deixados em segundo plano. Entretanto, embora realmente exista esta questão, é fundamental retomar que são os espaços públicos que dão vida às cidades, que fazem diferença na vida das pessoas. São eles que dão lugar a encontros e que ficam registrados
nas mentes das pessoas. São espaços democráticos em que tanto ricos quanto pobres podem fazer uso do mesmo local, um ao lado do outro, proporcionando um ponto positivo no que diz respeito às relações entre diferentes classes sociais. Então, os interesses comerciais estarão sempre lutando contra a instauração de espaços públicos. Os investidores comerciais vêem parques e logo pensam em retirar o verde e instalar lojas ao longo de toda a área, como aconteceu com o High Line Park em Nova Iorque. Inclusive, até hoje este parque é muito estimado pelos órgãos privados. Então estes podem argumentar que com a instalação de lojas muito mais capital seria gerado para a cidade. Bom, então o local se tornaria um centro comercial e não um parque. Poderia ser, realmente, que mais dinheiro fosse gerado para a cidade e movimentasse a economia. Mas é preciso ter uma visão mais ampla, à longo prazo. Uma visão em que seja dada a devida importância para o bem comum. Devemos prezar pela qualidade de vida e lutar
em que seja dada a devida importância para o bem comum. Devemos prezar pela qualidade de vida e lutar por espaços que nos oferecem esse atributo. Não importa quão popular um espaço público seja, este nunca deve ser tomado por garantido. É necessário que sempre haja alguém que assegure que estes espaços sejam realmente para todos e que não permita que sejam violados, invadidos, abandonados ou ignorados. Estes espaços podem mudar o modo como vivemos na cidade, o que sentimos sobre ela e se a escolhemos em detrimento de outra. Amanda Burden, diretora do departamento de urbanismo de Nova Iorque, disse em uma conferência que a questão não se trata apenas sobre o número de pessoas que se utilizam dos espaços públicos. Se trata do número ainda maior de pessoas que apreciam mais a cidade em que moram somente por saberem que eles existem. Como ela, penso que cidades são como festas. As pessoas só decidem ficar por estarem gostando de estar lá.
I NTRODUÇ Ã O
A arquitetura constrói espaços para amparar a imprevisibilidade da vida, não para determinar comportamentos. Paulo Mendes da Rocha, carta capital, 2007
Esse Trabalho de Graduação Integrado surgiu a partir de
reflexões sobre questões que permeiam as atuais conjunturas urbanísticas das cidades contemporâneas brasileiras. As cidades muitas vezes crescem sem um planejamento que englobe espaços verdes e públicos. Corpos d’água são ignorados, APP’s são invadidas e desrespeitadas, o desenho urbano simplesmente desconsidera o relevo, e áreas permeáveis e drenantes são cada vez mais escassas.
Mas, afinal, qual é o conceito de sustentabilidade? O sociólogo britânico John Elkington em 1990 amparou o conceito de desenvolvimento sustentável em três elementos que devem ser vistos com pesos iguais. Ele nomeou este conceito como Triple Bottom Line - o tripé da sustentabilidade, o qual é formado por três elementos: econômico, ambiental e social (BOGUCHESKI; CARVALHO; MAZZUCCO; 2013)
De acordo com Raquel Tardín (2008), espaços livres são vistos por boa parte das cidades e sociedades ocidentais, como áreas residuais ou então como reservas para sua eventual ocupação. São vistos como áreas não ocupadas por assentamentos urbanos ou infra-estruturas viárias. Esse modo de pensar pode gerar descontinuidade, heterogeneidade e fragmentação à medida que as cidades ampliam seus territórios, ocupando o espaço de forma desigual e descontínua. Além disso, nos próximos 30 anos as cidades dos países em desenvolvimento ganharão mais de 2 bilhões de habitantes, direcionando essas regiões a sérios impactos ambientais e socioeconômicos, à poluição, ao consumo e ao esgotamento de recursos naturais, entre outros efeitos catastróficos para o convívio humano e a qualidade de vida. O Brasil chegará a atingir 30 milhões a mais de habitantes nos próximos 30 anos (IBGE, 2008 e 2010), dos quais a grande maioria habitará em centros urbanos. A partir destes dados fica claro que o planeta Terra apresenta um quadro cada vez mais agravante no que diz respeito à questão ecológica e ambiental. Apenas após a compreensão de que a busca por recursos sustentáveis é algo necessário e não opcional é que as consequências geradas ao meio ambiente e às futuras gerações podem ser amenizadas.
A arquitetura sustentável é aquela que busca minimizar os impactos do meio ambiente, sendo ecologicamente correta, também deve promover o desenvolvimento social e cultural e deve ser viável no âmbito econômico.
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Teoricamente, o desenvolvimento sustentável parece ser um conceito simples de ser executado. Entretanto, viver em harmonia com o meio ambiente gera certos limites com relação ao uso de materiais e energia. Portanto, é fundamental o conhecimento desses limites e saber quais são as soluções mais adequadas de acordo com as características de cada projeto e seu contexto ur-
bano. Para isso, o ideal é que sejam feitos levantamentos sobre a demanda de energia gerada pelo aquecimento e iluminação artificial e pela ventilação mecânica nas obras, e a partir disso projetar soluções sustentáveis. Além do viés energético, é importante ressaltar também o cuidado que se deve ter com os recursos hídricos, pois, como já sabemos, a água é um elemento natural que está mundialmente mais e mais em escassez. Por isso creio ser fundamental que estratégias de racionamento e tratamento de água sejam levadas em consideração. Ainda mais tratando-se de arquitetura e urbanismo. O desenho urbano possui grande impacto sobre fluxos hídricos, pois é ele que determina a porcentagem de solo permeável na cidade. Outro fator significativo que auxilia na criação de projetos mais sustentáveis é deter conhecimento sobre a conservação dos materiais utilizados na obra e seus respectivos ciclos de vida. O ciclo de vida do material abrange desde o momento de sua extração até o final de sua vida útil, pós-demolição. Os resíduos que são gerados deverão ser considerados durante a concepção do projeto. Portanto, durante esse processo inicial é necessário maior consciência e domínio sobre esta questão, focando em planos que contenham estratégias de prevenção, redução e reciclagem dos materiais. Então, ao se adotar a arquitetura sustentável como padrão de construção, benefícios como a ampliação do conforto ambiental e economia de recursos naturais, como água e energia elétrica, entre outros, são promovidos. Contudo, é possível que haja empecilhos por conta de empreendedores, os quais podem questionar se o custo da adoção de tecnologias de construção mais sustentáveis compensariam para eles. Em resposta a este conflito Carreira et al.
(2009) diz que “possivelmente a tendência é que este tipo de construção se torne cada vez mais viável, a partir do momento que a diferença no valor inicial da construção for reduzida. Isso pode ser feito mediante o emprego de tecnologias limpas, o uso de materiais reciclados e/ ou adaptados às condições locais, comportamentos aliados à preocupação de não exaurir os recursos naturais, que são limitados” (CARREIRA, NUNES, RODRIGUES, 2009). Grandes conferências mundiais foram realizadas, como a RIO 92, no Rio de Janeiro, em 1992, e a Rio+10, em Johannesburgo, em 2002, com o intuito de firmar protocolos e elaborar mecanismos para o desenvolvimento sustentável, como medidas que efetivamente viabilizem esse recurso. Embora houve esforço para uma mudança, fazendo-se um balanço dos resultados, o propósito dessas reuniões acabou sendo de disputas ideológicas e econômicas. Muitos problemas ambientais não foram resolvidos (DUARTE; GONÇALVES; 2006). Mesmo assim, as Conferências das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento continuaram ocorrendo. A última delas, Rio+20, em 2012, realizada no Rio de Janeiro, visou o desenvolvimento de objetivos e metas que facilitassem a busca do desenvolvimento sustentável por meio de ações focadas e coerentes. Os objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) discutidos são constituídos por 5 P’s (PNUD, 2015):
Pessoas: Erradicar a pobreza e a fome de todas as maneiras e garantir a dignidade e a igualdade. Prosperidade: Garantir vidas prósperas e plenas, em harmonia com a natureza. Paz: Promover sociedades pacíficas, justas e inclusivas. Parcerias: Implementar a agenda por meio de uma parceria global sólida. Planeta: Proteger os recursos naturais e o clima do nosso planeta para as gerações futuras.
O tema da sustentabilidade vem influenciando, então, abordagens de projeto na arquitetura contemporânea, dando ênfase às questões de conforto ambiental e suas relações com a eficiência energética, recursos para a construção e a operação do edifício, tais como materiais, energia e água. Em relação à escala urbana, esse tema vem abordando questões como adensamento populacional, transporte público, resíduos e reciclagem, otimização do consumo de recursos como energia, água e materiais, e a qualidade ambiental dos espaços internos. Nesse contexto, de acordo com Duarte e Gonçalves (2006), existe uma nova geração de projetos de edifícios no mundo que foram pensados para responder aos desafios ambientais e tecnológicos da sustentabilidade. Estes, fazem a síntese entre projeto, ambiente e tecnologia, dentro de um determinado contexto ambiental, cultural e socioeconômico, a uma visão de médio e longo prazo, em que tanto o idealismo como o pragmatismo são fatores fundamentais nesse processo. O economista Paul Ekins destaca exatamente isso: O desenvolvimento sustentável também necessita tanto de pragmatismo como de idealismo. São necessários [...] projetos e experimentos que nos darão confiança para olhar para frente, para um novo milênio, o qual nós podemos estar certos de que será o milênio da escassez dos recursos naturais. Grande parte do planeta já está poluído, e até a metade deste século que se inicia haverá dez bilhões de habitantes na Terra, habitantes que o planeta terá que sustentar. Isto é apenas concebível com sucesso se nós utilizarmos tanto nosso olhar visionário como nosso pragmatismo.
The Green Apocalypse, 1997 (tradução)
Partindo disso, em um cenário ideal, a busca pela arquitetura sustentável deve acontecer em três escalas: a do edifício, a do desenho urbano e a do planejamento urbano. Os edifícios devem, então, ser planejados de uma forma que contribuam para a diversidade de usos e classes sociais, a socialização do espaço público, e eficiência da infra-estrutura urbana e a qualidade ambiental do ambiente construído. E não devem levar em conta apenas ao seu entorno imediato, mas pensar na cidade como um sistema em que o urbano e o meio ambiente são interligados. No livro Morte e Vida de Grandes Cidades (2000), Jacobs explica que os princípios do planejamento urbano devem evoluir para a compreensão das cidades como um sistema orgânico. No caso deste trabalho, a prática de agricultura urbana urban farming - também estaria inclusa como parte deste sistema. De acordo com Lidiane Alves (et al., 2009), a agricultura urbana é entendida como a realização de atividades agrícolas em áreas pertencentes ao perímetro urbano. Esse tipo de prática promove a diminuição da pobreza e a geração de renda, através da comercialização, mesmo que em pequena escala, a qual assegura melhores condições socioeconômicas das famílias que praticam tais atividades. A autora também diz que este recurso é a garantia do equilíbrio do ecossistema urbano, uma vez que através desta atividade torna-se possível a concretização do desenvolvimento local, a manutenção da biodiversidade, o escoamento e infiltração de águas de chuvas, além de outros benefícios.
Esse Trabalho de Graduação Integrado se estruturou por
meio da QUESTÃO que o projeto aborda, o OBJETIVO do mesmo e quais aspectos o LUGAR do projeto deveria levar em conta.
QUESTÃO
Revelar a natureza física na cidade para uso comum, criando-se um sistema de
espaços públicos que se conectam com o ambiente urbano, de forma que os ciclos/fluxos da natureza e da cidade sejam valorizados. Visar a sustentabilidade, a qual engloba as esferas: social, econômica e ambiental.
OBJETIVO
Proporcionar maior interação entre pessoas e o meio ambiente; conscienti-
zação e educação ambiental, otimização de energia, água e material, e aproveitamento de resíduos. Também oferecer oportunidades de emprego para a população menos privilegiada.
LUGAR
Leva em consideração a densidade demográfica e renda da população; equi-
pamentos em geral, mas principalmente educacionais; potenciais comércios colaborativos para o sistema sustentável (supermercados, restaurantes, entre outros) e acessibilidade.
o programa
RESÍDUOS para UNS SÃO NUTRIENTES PARA OUTROS...
O termo sustentabilidade está associado à gestão racional de recursos energéticos, tratamento de efluentes, aproveitamento de resíduos, bioclimatismo e o impacto das tecnologias inovadoras na qualidade de vida humana. Associa-se, ainda, entre outros, à produção urbana de alimentos, permacultura, educação ambiental e elementos de legislação para controle ambiental. (PALERMO, 2009)
A frase chave para se entender o programa é esta: RESÍDUOS PARA UNS SÃO NUTRIENTES PARA OUTROS. O quadro o qual o mundo apresenta hoje é lastimável. Os recursos naturais estão sendo cada vez mais visados, mas se não houver uma mudança no modo de se viver na sociedade, o quadro irá de mal a pior. Quando se diz modo de se viver na sociedade tudo é englobado, inclusive o modo de se projetar e pensar arquitetura.
Arquitetos e urbanistas devem pensar primeiramente nas pessoas, antes de pensar em edifícios e paisagens. Então, devido a esses fatores a sustentabilidade deve ser buscada. Se o presente não visar o sustentável, o futuro não há de vir. O programa deste projeto se resume a CICLOS. Quanto maiores os ciclos e a mutualidade, mais perto de se atingir um bom resultado. A realização de agricultura urbana, mais precisamente a implementação de agroflorestas, é um ato vantajoso no que diz respeito à sustentabilidade, pois é no meio urbano que o solo se encontra acimentado, onde a taxa de permeabilidade do solo é baixa e onde as pessoas se encontram aglomeradas. É muito comum hoje em dia ouvir da boca de crianças perguntas tais como a da imagem: “o leite nasce na caixinha?”. As pessoas estão se afastando tanto da natureza física que seus filhos se tornam alienados e indiferentes em relação ao meio ambiente. Então, trazer AGROFLORESTAS e HORTAS para perto das pessoas, em ESPAÇOS PÚBLICOS, pode ser um meio de aumentar o contato das pessoas com a natureza. Para complementar ainda mais a conscientização ambiental, CENTROS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL forneceriam conhecimento sobre ecologia e inclusive cursos profissionalizantes, sendo um recurso a mais para pessoas que necessitam de emprego. Além disso, a matéria produzida pelas agroflorestas e hortas poderão servir de renda para os trabalhadores que os cultivam e para a própria subsistência do centro ambiental e do espaço público em que se insere.
Este espaço público servirá como ponto de encontro de pessoas, ou como um lugar para descanso e relaxamento,
para se passar o tempo, ou simplesmente para passar. Um espaço de lazer e bastante vegetação.
Agora, retomando os ciclos, este processo se inicia desde a plantação das primeiras árvores da agrofloresta e das hortas. Agroflorestas é um ótimo recurso para enriquecer e dar vida ao solo. Existem plantas que são propícias para se plantar no início do crescimento de agroflorestas, por se desenvolver melhor em solos ácidos, etc. E logo que estes nascem e geram frutos, seus frutos podem ser comercializados ou então servirem de alimento. E este alimento pode ser rentável também. A implementação de um RESTAURANTE que se nutre do que for produzido nas agroflorestas e hortas pode oferecer alimentos mais orgânicos e baratos para a população de baixa renda, ou quem quiser frequentar o local. Inclusive, com a existência de VIVEIROS DE ANIMAIS, estes podem servir de alimento para o restaurante, lazer para as pessoas que frequentarem o espaço, e aexcrementos de nimais como coelhos e galinhas enriquecem o solo. Todos os restos orgânicos formados pelo restaurante ou produzidos na própria plantação, podem servir como ótimos nutrientes para o solo, aumentando, assim, a produção de orgânicos. Com isso, FÁBRICAS DE CRIAÇÃO DE ADUBO são outros elementos que incrementam as ofertas de empregos à população. Com restos orgânicos é possível também produzir ENERGIA, por meio de digestores anaeróbios. A eletricidade gasta no sistema pode ser gerada pelos próprios elementos do sistema. E por que não extender esse caráter de mutualidade e ciclos à nível municipal? Comércios na cidade, que produzem restos orgânicos e que ao final do dia precisam encontrar meios para se livrar do lixo, podem entregá-los a este sistema sustentável e os restos se destinariam à produção de energia, adubo ou alimento para os animais. Os ciclos são diversos e garantem maior sustentabilidade não somente para o espaço de projeto, mas também para a cidade como um todo. Então, o programa consiste em elementos fixos e alguns mutáveis dependendo do contexto e lugar do projeto. São eles:
F I -XAGROFLORESTA O - POMAR - HORTA - VIVEIRO DE ANIMAIS - ENERGIA RENOVÁVEL - CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL - ESPAÇO PÚBLICO DE LAZER
M UT Á V EL - RESTAURANTE
- VIVEIRO DE MUDAS - ESCOLA DE ENSINO BÁSICO - FÁBRICA DE ADUBO
A luz do lugar
O projeto deste TGI se instaura na cida-
de de São Carlos. Meu interesse por esta cidade média em expansão foi suscitado em razão do potencial de transformação considerável que a mesma apresenta. Muito maior do que, por exemplo, a cidade de São Paulo, que detém um caráter muito mais consolidado. Foram feitos, então, vários levantamentos da cidade, tais como densidade demográfica, renda da população, equipamentos em geral, mas principalmente educacionais; potenciais comércios colaborativos para o sistema sustentável (supermercados, restaurantes, entre outros) e acessibilidade, provindos, em grande parte, do plano diretor de São Carlos. O objetivo é que a partir destes levantamentos, as áreas de projeto se mostrem, se acendam.
SÃO CARLOS De acordo com o IBGE (2016), São Carlos apresenta 243.765 habitantes, sendo que mais de 29.500 são graduandos e pós-graduandos. É considerada a 13ª maior cidade do interior do estado de São Paulo em número de residentes.
A cidade se extende por uma área de aproximadamente 1.141 km², sendo 1.073,75 km² área rural, e 67,25 km² área urbana. Desta última, apenas 6% é ocupada, ou seja, 33,25 km². Isso mostra que apesar da cidade estar entre as 15 maiores do interior do estado de São Paulo em números de residentes, ela ainda tem muito a crescer. Seu processo de urbanização se deu de maneira típica. A ocupação da área urbana ocorreu de forma descontínua e fragmentada, crescendo sobre áreas inadequadas, com graves problemas de erosão, de drenagem e de proteção de encostas e mananciais (PLANO DIRETOR, 2002). A lógica de ocupação do solo tem sido regulada pelo interesse do mercado imobiliário, não vinculada às condições de infra-estrutura, gerando problemas de mobilidade, moradia e degradação ambiental. É possível perceber claramente este fator ao analisar o mapeamento geotécnico de São Carlos. As áreas periféricas do sul, principalmente,
foram implementadas em solos inadequados para assentamento urbano, violando, também, áreas de preservação. Com o passar do tempo, por volta dos anos 70 o conflito entre a expansão urbana e as áreas ambientalmente frágeis se acentuou, principalmente com a instalação de vias marginais e a invasão de áreas de proteção ambiental à beira dos córregos. Dez anos depois, as áreas das periferias foram consolidadas. E ao virar o milênio, a população sancarlense e a área de ocupação do território dobraram seus valores. Em relação à densidade demográfica, e os padrões de ocupação, é fácil notar pelos mapas que a desigualdade sócio-espacial é grande na cidade. De início, houve um adensamento de moradores na periferia, reduzindo o uso residencial na região central de São Carlos. Consequentemente, esta mesma região sofreu um acréscimo no uso de comércio e serviços. Ou seja, quanto mais afastado do centro, menor a infra-estrutura. Então, a periferia, acaba sendo carente de equipamentos urbanos, exatamente onde os moradores de baixa renda se encontram, enquanto que as regiões mais centralizadas abrigam a população de maior renda. Ao longo do tempo, as zonas de extrema riqueza e pobreza tornaram-se mais delimitados e a mistura social que havia na malha urbana no começo já não ocorre mais.
Como um dos objetivos do projeto é de fornecer oportunidades de emprego para a população menos privilegiada, o lugar de intervenção deve se apresentar na PERIFERIA da cidade, próximo à habitações de PADRÕES mais BAIXOS, onde o uso RESIDENCIAL é maior e o SOLO é adequado.
atĂŠ 45 hab/ha 45 a 96 hab/ha 96 a 410 hab/ha
Densidade demogrĂ fica
residencial comercial industrial distrito industrial grandes plantas industriais incubadoras de empresas de base tecnolรณgicas
uso do solo na รกrea urbana
edificação de padrão baixo edificação de padrão médio edificação de padrão médio/alto edificação de padrão alto edificação popular edificação popular com origem de ocupação espontânea
inadequado para assentamento urbano razoável para assentamento urbano adequado para assentamento urbano área de mineração área de preservação
ÁREAS POR PREDOMINÂNCIA DE PADRõES HABITACIONAIS e mapeamento geoténico
EDUCAçÁO L
ocalizando-se as escolas existentes na cidade de São Carlos, nota-se que a maior concentração e diversidade de equipamentos de educação localiza-se na região central da cidade, assim como os maiores índices de escolaridade. Como dito anteriormente, infelizmente, as áreas periféricas têm apresentado as maiores concentrações populacionais e índices de precariedade em relação à formação educacional. E é esta formação que aumenta as oportunidades de emprego no mercado de trabalho. Portanto, são nessas regiões que existe maior demanda por um sistema educacional. Neste quesito os centros de educação ambiental inclusos no programa deste projeto são de grande valia. Eles não geram apenas maior conscientização ambiental para alunos que já frequentam escolas de ensino fundamental e médio, mas também oferecem cursos profissionalizantes voltados para o ramo ambiental, para qualquer faixa etária. Porém, devido à grande demanda por escolas na periferia, ou seja, nas redondezas das áreas do projeto, centros de educação ambiental, que complementariam o ensino dado nas escolas, não seriam suficientes para suprir a carência de um sistema educacional básico. Por isso, dependendo da necessidade, escolas são inclusas no programa.
MUTUALIDADE Além de ser feito o levantamento de equipamentos edu-
cacionais, foram registrados também os estabelecimentos alimentícios de São Carlos que podem auxiliar na arrecadação de resíduos orgânicos para o sistema sustentável.
estaduais e municipais escolas do futuro escolas privadas instituições de ensino previstos outros estabelecimentos de ensino
ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO E OUTROS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO
restaurantes, padarias e lanchonetes supermercados, varejĂľes, sacolĂľes
potenciais comĂŠrcios colaborativos
Considerando todos os levantamentos feitos, trĂŞs lugares foram
ACESOS, Ă noroeste, leste e sudoeste da cidade.
Jardim Ipanema
Parque Anhembi
Antenor Garcia
locais de projeto
LOCAIS DE PROJETO
O município de São Carlos é dividido em oito zo-
nas. De acordo com uma das revisões do Plano Diretor (2011), a zona a qual o bairro Jardim Ipanema se instala chama-se zona de uso multifuncional rural (parte da sub-bacia do Monjolinho e parte da sub-bacia do Chibarro); são caracterizadas como áreas de uso agrícola, extrativista ou pecuário, com áreas significativas de vegetação natural. Já o bairro Parque Anhembi, ao leste, situa-se na chamada zona de ocupação urbana conducionada (sub-Bacia do Monjolinho). Esta zona condiciona sua ocupação à implantação de infraestrutura necessária para se urbanizar como de saneamento e estrutura viária. A terceira área de projeto localizada ao sudoeste, ao lado do bairro Antenor Garcia, encontra-se na zona de ocupação urbana restrita (sub-bacia do Monjolinho), a qual é configurada pelas áreas em que predominam EHIS - empreendimentos habitacionais de interesse social, com fragilidade ambiental. É possível reparar como as áreas de projeto estão realmente bem distribuídas no ambiente urbano.
zona de proteção paisagística zona de uso multifuncional rural zona de produção agrícola familiar zona de proteção e recuperação de mananciais zona urbanizável zona de ocupação urbana restrita zona de ocupação urbana condicionada zona de ocupação urbana induzida
ZONEAMENTO DO MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS
EDUCAçÁO A
partir do conhecimento da localização das áreas de intervenção, é possível agora traçar quais são os equipamentos educacionais que se encontram próximos a elas. Os equipamentos deveriam se distribuir no meio urbano de modo que todas as moradias e bairros fossem atendidas por pelo menos uma escola de cada nível para que possuíssem fácil acesso a eles. As distâncias máximas recomendadas, em termos de raio de influência, para escolas de ensino de educação infantil é de 300m. De ensino fundamental é de 1500m, e de ensino médio é de 3000m (DUDZINSKA, 2009). As escolas de ensino infantil não foram contabilizadas, pois crianças de 0 a 6 anos não são públicos-alvos para o programa de educação ambiental do projeto. O programa atende alunos do ensino fundamental para cima. Além disso, foi usada a distância de raio para escolas de ensino fundamental por ser menor que a de ensino médio, deixando o levantamento mais preciso.
CICLOVIA Para assegurar mais um ponto de acessibilidade, foi feito
o levantamento do projeto cicloviário de São Carlos, bem como propostas de vias a serem projetadas e implantadas. A proposta levou em consideração o relevo, tentando ao máximo instalar vias para maior conforto ao ciclista. Existem caminhos os quais não foi possível chegar a um resultado ideal, mas que podem ser solucionados criando pontes ou transposições que facilitem sua passagem e a deixe mais confortável.
Bento Silva César E.E. Atília Prado Margarido
2 1 1. ACORDE 2. Centro Interescolar Paulino Botelho 3. E.E Prof. Antônio Militão de Lima 4. Salesianos São Carlos 5. OCA 6. E.E. Prof. José Juliano Neto 7. Educativa
3 4
5
6 7
E.E. Marivaldo Carlo Degan EMEB Arthur Natalício Deriggi público (1500m) privado (1500m) outros estabelecimentos de ensino (1500m)
RAIOS MÁXIMOS DE INFLUÊNCIA DE EQUIPAMENTOS EDUCACIONAIS
ciclovia em diretriz (prefeitura) ciclovia existente ciclovia proposta
projeto cicloviĂĄrio de sĂŁo carlos
Jardim Ipanema
Antenor Garcia
PROGRAMAs DAS Ă REAS DE PROJETO
locais de projeto
Parque Anhembi
A P RO P O S T A
Do sistema de três áreas de intervenção,
uma será vista a fundo, servindo como base para os outros dois lugares. Por meio de escolha arbitrária, a área localizada ao lado do bairro Parque Anhembi será melhor aprofundada. À princípio, uma visita foi realizada na área de projeto para se investigar qual seria a melhor localização do mesmo. Por não conter muitos limites, a decisão sobre seu formato e seu tamanho foi dificultada.
ÁREA DE INTERVENÇÃO | PARQUE ANHEMBI
1 2 3
ponto de visĂŁo
1
ÁREA DE INTERVENÇÃO | PARQUE ANHEMBI
2
3
4
5
6
4 ponto de visĂŁo
5
6
ÁREA DE INTERVENÇÃO | PARQUE ANHEMBI
linhas de ônibus | PARQUE ANHEMBI
residencial comercial serviços institucional público institucional privado misto áreas verdes não utilizado
USO DO SOLO | LOTE A LOTE
Um primeiro estudo de implantação em formato de croqui
croqui foi desenhado, mas era difícil prever os acessos sem que a área houvesse contato com a malha urbana nos sentidos leste e sul, muito embora se saiba que no futuro toda a área livre será loteada.
Um estudo de conexões entre as regiões ao redor do espaço livre foi realizado, levando em consideração as trilhas de fluxo pré-existentes, muito marcadas, como pode-se notar na imagem de satélite.
Conexões entre o existente e o vir-a-ser
E então, foi pensa-
do em se desenhar a malha urbana que envolverá o projeto no futuro. Esta malha possibilitará projetar de forma a pensar melhor nos acessos e contatos para com a cidade existente e a que há de vir.
ruas com fluxo de pessoas e automóveis ruas com fluxo apenas de pessoas
malha urbana proPosta
A malha viária buscou se aliar ao conceito de Mascaró (2003), em que ele diz que ”todas as ruas, com seus cruzamentos, formam uma rede de tráfego que possui uma lógica, uma função de origens e destinos”.
residencial comercial serviços institucional público institucional privado misto áreas verdes não utilizado ruas com fluxo de pessoas e automóveis ruas com fluxo apenas de pessoas
USO DO SOLO proPosta
mirante lazer pomar
moradias
escola e viveiro de restaurante animais venda
horta
diagrama de setores
referĂŞncias
referĂŞncias
CENTRAL PARK, NY
referĂŞncias
PIEDMONT PARK, ATLANTA
referências
MILLENIUM PARK, CHICAGO
B I BL I OGR A F I A
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