Barreiro que Futuro

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oBjectiva BARREIRO

Nยบ1 DEZEMBRO 2010

BARREIRO QUE FUTURO? WWW.BARREIROWEB.COM


Nº1

OBJECTIVA

Revista digital de opinião e Historia Local

NOVEMBRO / DEZEMBRO 2010

Temas

Edição digital com publicação bimestral de distribuição gratuita e subscrição

TGV - SUSPENSÃO DO TROÇO LISBOA

Edição www.barreiroweb.com

ESTUÁRIO DO TEJO: UM MAR DE OPORTUNIDADES

BARREIRO Nº1 DEZEMBRO 2010 Editor José Encarnação Redacção: Armando Teixeira Manuel Fernandes Dulce Reis Luis Batista Nuno Soares

Luís Santos Batista .... 3

Manuel Fernandes.... 5 NÃO PODE SER ASSIM! Armando Teixeira .... 7 AFINAL, A CULPA NÃO É DOS SALÁRIOS DOS TRABALHADORES! Dulce Reis .... 9 LIÇÕES DE MESTRE Nuno Soares .... 10 A MORTE ANUNCIADA DA ÚLTIMA FÁBRICA DE CORTIÇA DO BARREIRO José Encarnação.... 12

Montagem e Fotografias José Encarnação

Contactos: Barreiroweb@barrreiroweb.com

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TGV - SUSPENSÃO DO TROÇO LISBOA - POCEIRÃO querer servir apenas os interesses estabelecidos do lobby económico que se alimenta do sector dos transportes rodoviários e que, apoiados por alguns partidos (PSD essencialmente), tanta força têm feito para que se acabe de vez com a opção ferrovia, bem como com o transporte de mercadorias por linha-férrea. Portugal é hoje um país com um leque enorme de desafios pela frente. Esses desafios que se concentram essencialmente ao nível das grandes obras, passam por planear e construir as grandes infraestruturas de transportes, nomeadamente a construção de um novo aeroporto, uma nova travessia sobre o Tejo e a rede de alta velocidade (RAV). É exactamente no planeamento que as coisas se figuram pouco claras e impregnadas por interesses políticos que, podem transformar uma oportunidade única para Portugal num autêntico fracasso com gastos em obras supérfluas, sem serem estruturantes e que serão tão-somente, pequenas emendas. Toda esta efervescência de interesses paralelos parece

A dura realidade é que entre a crise anunciada, a suposta crise instalada e o combate efectivo à crise que se dilatou em todos os sectores da sociedade, Portugal tem um PEC para cumprir com cinto bem apertado e com duras medidas de austeridade impostas pela União Europeia. As regras são bem claras e limitam, expressamente, o endividamento sectorial cujo crescimento não pode ultrapassar os 7% em 2010, 6% para 2011, 5% em 2012 e finalmente 4% em 2013. Portanto, face a este apertado quadro, houve a necessidade de fazer uma forte revisão ao nível do planeamento e dos investimentos previstos, principalmente nas grandes obras. Assim, e segundo o despacho 14505/2010 de 17 de Setembro, ficou legalmente assumido cancelar

o concurso público internacional designado por “Concessão RAV Lisboa-Poceirão”, com a consequente revogação da anterior decisão de adjudicação constante do despacho conjunto dos signatários de 27 de Março de 2009. Esta decisão do governo é suportada com o argumento da progressiva queda da conjuntura económica e financeira do país, decorrente da grave e conhecida crise financeira mundial, que culminou na alteração do rating do Estado Português e que se traduziu em dificuldades acrescidas na obtenção de fundos pela iniciativa privada e no agravamento do custo associado à obtenção do próprio financiamento. A realidade que Portugal enfrenta neste momento e face aos últimos acontecimentos, passa por conseguir assumir um desafio que se define em traços gerais pelos seguintes princípios: Ser de cariz Estruturante, Integrado e Sustentável. Estruturante porque vai condicionar o ordenamento das infra-estruturas de transporte no país nas próximas décadas, Integrado porque a interligação entre as obras poderá, de uma forma

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integrada, melhorar o desempenho de cada uma delas, além de reduzir substancialmente o custo global dos projectos e, por último, Sustentável porque a realização dos mesmos tem como objectivo maximizar a sua sustentabilidade. Sustentabilidade essa que passa pela avaliação ponderada dos aspectos técnicos, sociais, económicos e ambientais. Face ao cenário de passividade impotência e desnorte, o continuar de costas voltadas para a Europa parece ser o panorama mais natural nos próximos tempos. UM PROBLEMA CHAMADO 3ª TRAVESSIA De acordo com as últimas decisões que suscitam preocupantes alterações para a ligação de alta velocidade entre Lisboa e Madrid, podemos agora assistir às primeiras réplicas que os receios e o não assumir corajosamente os desafios que, a seu tempo foram propostos, estão a desencadear. De uma forma anedótica, vamos mostrar aos nossos parceiros europeus que a ligação da alta velocidade inicialmente prevista até Lisboa, ficará apenas pelo Poceirão. Afinal um dos princípios orientadores que era a integração dos projectos caiu por terra e lá se hipotecou a sustentabilidade económica. De uma for-

ma inconsciente, ou não, dependendo da perspectiva de analisar esta problemática, o que estamos a assistir é a um corte no investimento quando o corte deveria ser na despesa, aliás matéria que o Estado, na esfera administrativa, já mostrou ser brutalmente despesista. O anular, nesta altura, a 3ª Travessia do Tejo poderá implicar, nesta primeira fase, o insucesso de todo o projecto, dificultar o êxito desenhado para o calendário de ligação do tráfego de mercadorias aos portos marítimos de Lisboa, Setúbal e Sines e consequente ligação à Europa. A segunda parte do problema que passa pela solução de ligar, provisoriamente, Poceirão e Lisboa pela Ponte 25 de Abril, encontrase em rota de colisão com os pressupostos básicos que justificam a aplicabilidade da rede de alta velocidade, ou seja; Só são rentáveis para velocidades superiores a 300 Km/h na ligação entre áreas metropolitanas com mais de um milhão de habitantes e com distâncias entre si na ordem dos 300 a 700 Km. Outro dos pressupostos afirma que essa ligação só se justifica se dispuser de comboios directos entre as referidas áreas metropolitanas.

Abril nos poderá oferecer será uma ligação onde escassamente se conseguirá atingir os 220 Km/h, para depois se introduzir, através de uma solução bi-bitola, comboios internacionais numa rede sub-urbana parca de recursos e muito próxima da saturação no ponto de ligação à outra margem. A capacidade da Ponte 25 de Abril para a circulação ferroviária é de 12 comboios/hora, a situação actual está nas 9 composições/hora e, se juntarmos os constrangimentos climáticos motivados pelos ventos fortes que inibe o cruzamento de composições com ventos na ordem dos 70 km/hora e proíbe a circulação de comboios quando os ventos ultrapassam os 90 Km/h, temos então o caos instalado. Quero ignorar ainda que esta solução pontual não receba contornos de definitiva e, confio que em 2017 a 3ª Travessia esteja efectivamente concluída e que cumpra com os objectivos definidos no projecto inicial, ou seja, que se assuma como um investimento que permitirá num futuro próximo resolver um conjunto de problemas de mobilidade da cidade de Lisboa, bem como aproximar esta do Sul do País e de toda a Espanha. Luís Santos Batista

Ora o que a solução Ponte 25 de Nº1 DEZEMBRO 2010

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ESTUร RIO DO TEJO: UM MAR DE OPORTUNIDADES

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do. Amado por alfacinhas, camarros e outros cidadãos que com eles partilham esta Baía Mater. Então se fomos condenados a viver dos serviços, saibamos aproveitar esta prenda da natureza, como vector estratégico de progresso e desenvolvimento aproveitando as suas belezas, os seus recantos, as suas penínsulas, ilhas e baías para mostrar aos turistas que nos visitam. Manuel Fernandes Há uns anos atrás, os nossos governantes, num processo que, na minha óptica, foi precoce, mal negociado e nunca referendado, fizeram-nos aderir à CE. Entregaram de bandeja a nossa produção às potências europeias, reduzindo-nos a um país produtor de serviços. País de funcionários de libré, vendendo sol e capilé. Pois bem, a natureza legou-nos um dos mais belos estuários do mun-

Desafio assim as Empresas e instituições presentes a organizarem-se e constituírem uma empresa de Turismo Fluvial que assegure percursos atraentes aos nossos turistas. Não só para mostrar a beleza natural que o nosso Espelho de Água encerra, mas diversificando a oferta, garantindo também o acesso ao património industrial e cultural tão abundante nas vilas e cidades do Arco Ribeirinho. Proporcionando-lhes ainda a fruição da nossa hospitalidade e da nossa cultura. Da nossa gastronomia ribeirinha, da nossa música… do nosso fado.

Esta foi há muito tempo a decisão de cidades com Waterfronts. Amesterdão, Estocolmo, Helsínquia ou Veneza só para citar algumas, fazem-no com competência e óptimos resultados. Mesmo em Portugal, fazem-no já as cidades de Aveiro, Porto e até o Alqueva. Lisboa, a cidade das duas margens deve fazê-lo também. E nem precisa de mudar de nome como fizeram os de Buda e Peste ou como já alvitraram os de Porto e Gaia. Basta espraiar a vista, olhar mais longe e reparar que aqui na Margem Sul há encantos que esperam a oportunidade de ser vistos. Assim o queiram os responsáveis do poder central e local bem como os operadores turísticos e empresas de transportes fluviais que aqui têm uma óptima oportunidade de potenciarem ou diversificarem as suas actividades.

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NÃO PODE SER ASSIM! tem parado de diminuir desde os princípios de 2008, agravando-se em consequência as condições de vida das classes trabalhadores, que têm visto também reduzidos os seus salários. E em Portugal, como está a crise?

Amando Teixeira

Há números que falam como gente Estatísticas recentemente publicadas nos Estados Unidos (Economic Policy Institute ),mostram que os lucros corporativos -lucros do capital têm vindo a aumentar desde o último trimestre de 2008, atingindo no 1º trimestre de 2010, valores superiores aos do fim de 2007 quando começou a recessão económica. Concomitantemente o número de empregos na América do Norte, segundo o mesmo Instituto, não

Esta é também a realidade dolorosa para muitos povos na Europa e aplica-se « mutatis mutandis » ao nosso país. A perda de poder de compra das classes laboriosas tem conduzido à falência milhares de pequenas e médias empresas (desde o início do ano já se tornaram insolventes mais de 1700! ). Neste ciclo infernal aumenta o desemprego (já vai em 11% da população activa ),agravam-se as desigualdades sociais, pioram as dificuldades para muitas famílias, recrudesce a indigência. Entretanto os grandes bancos e grupos financeiros, as grandes empresas, alcançam lucros escandalosos e remuneram principescamente accionistas e gestores (nunca deixou de ser assim1) com valores obscenos e intoleráveis num país

dito democrático e com uma Constituição de cariz igualitário. Na nossa região, a realidade barreirense A região do Barreiro, deprimida economicamente pelo abandono capitalista da produção e montagem industrial, nos anos 80 /90, viu agravada a situação com os balões »- despedimentos colectivos -na Adubos de Portugal/Amoníaco, na Central Termoeléctrica, na Companhia Petroquímica, na Essence, na EMEF (redução). A empresa da família Mello, herdeira de Alfredo da Silva (que alguns saudosistas serôdios se esforçam por reabilitar ), rebaptizado de CUF -Adubos, depois de ter tido um lucro de 25 milhões de euros em 2008, fechou a fábrica de Amoníaco em Abril / Maio de 2009, única em Portugal, lançando no desemprego 150 técnicos e operários qualificados. A patriótica gestão familiar da « herança do grande patrão »,vendeu de seguida a espanhóis o resto da empresa de fertilizantes, criando-

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se um monopólio adubeiro espanhol na Península Ibérica. Aumentaram os problemas sociais no concelho do Barreiro. O desemprego sem saída aos 50 anos, o trabalho precário, a falta de saídas profissionais para os jovens, a diminuição do salário real de quem (ainda ) trabalha, tem como consequência directa o aumento da pobreza 929 famílias carenciadas recenseadas), da pobreza envergonhada e da indigência, da solidão e da desadaptação social de gente que é velha para trabalhar e muita nova para se reformar. Indirectamente aumenta a criminalidade, a violência familiar e a delinquência juvenil. A culpa é do governo? Nada disto acontece por acaso. Prosseguindo uma orientação capitalista de cariz liberal, o poder central (ontem o Partido Social Democrata, hoje o Partido Socialista, quase sempre os dois em sintonia ) tem arrastado o País para uma profunda recessão estrutural, com a degradação do tecido produtivo industrial, a ruína da agricultura, a extinção da frota pesqueira, a falência do pequeno comércio. São estas fundamentalmente as razões do atraso de Portugal e da

persistência (agravamento! ) de uma enorme mancha de miséria, dois milhões de portugueses vivem com menos de 400 euros por mês. E o que faz o actual governo socialista? No primeiro instante da « crise financeira » exportada pelos Estados Unidos, injectou milhares de milhões de euros do erário público, para salvar a banca capitalista privada, trafulha e corrupta (BCP, BPN, BPP ). Num segundo momento, esquecendo as promessas eleitorais de combate à recessão económica e os seus efeitos nas classes mais fragilizadas, desata a aumentar os impostos, a agravar a carga fiscal, a congelar salários, a reduzir as prestações sociais. De cócoras perante as imposições ultraliberais de Bruxelas, impôs um PEC ( Plano de Estabilidade e Crescimento ), com o conluio do PSD, que agrava mais e mais a situação dos portugueses. Que futuro para Portugal e para a Humanidade ? É uma enorme hipocrisia política querer elidir as causas centrais da pauperização da população, com

os paliativos locais para a sua minoração. O governo procura alijar responsabilidades da Solidariedade Social consignadas na Constituição da República, sobrecarregando as Instituições Privadas, numa via de transformação da solidariedade condigna em caridadezinha. Por outro lado procura empurrar obrigações estatais para o poder local, sem os meios adequados, asfixiando as Autarquias já afogadas em mil e um projectos de melhoria da qualidade de vida da cidade, para os quais não têm recursos. Existe naturalmente uma margem de intervenção ao nível local, mais ou menos institucionalizada, mais ou menos conseguida, em resultado da acção esclarecida de eleitos, técnicos e cidadãos empenhados, que importa aprofundar. Sobretudo para o apuramento da cidadania critica e consciente de que é necessário lutar pela transformação desta sociedade de escândalo e injustiça. Isto não pode ser assim! Como está não há garantia do futuro equânime de dignidade e justiça de que a Humanidade necessita para a sua sobrevivência.

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AFINAL, A CULPA NÃO É DOS SALÁRIOS DOS TRABALHADORES!

Duce Reis Ouve-se e lê-se regularmente, a afirmação de que as reivindicações salariais dos trabalhadores comprometem a possibilidade de investimento estrangeiro em Portugal. Que a pouca flexibilidade das leis laborais, impedem o investimento. Que as greves só servem para impedir que os empresários invistam. Que o direito ao trabalho com direitos, pode provocar a deslocalização do actual investimento estrangeiro. Em suma, ouve-se e lê-se muitas

vezes que, não há investimento em Portugal, nem estrangeiro nem nacional, porque a culpa é dos trabalhadores, que são reivindicativos, combativos, grevistas, privilegiados, absentistas, pouco produtivos, desmotivados, etc…etc…

IRC - 21% dos inquiridos considera-o o segundo elemento menos atractivo;

Segundo a revista “Negócios”, em artigo publicado dia 25/11/2010, pela Jornalista, Marlene Carriço, a Ernst&Young levou a cabo um inquérito sobre os motivos que poderiam levar os empresários estrangeiros a investir em Portugal.

O inquérito confirma que 40% dos inquiridos tem a certeza de não investir em Portugal, com fundamento nos elementos menos atractivos referenciados acima.

Desse inquérito, ressaltam os principais inibidores do investimento estrangeiro em Portugal, classificando os elementos “menos atractivos”:

SISTEMA JUDICIAL - 16% dos inquiridos considera-o o terceiro elemento menos atractivo.

Afinal, não são os salários nem a alegada falta de flexibilização das leis laborais, que impedem o investimento estrangeiro em Portugal. A culpa não é dos trabalhadores, a culpa é de quem tem nas suas mãos o destino deste País!

INQUIRIDOS: 204 líderes empresariais internacionais. IVA - 51% dos inquiridos considera o valor do IVA como o elemento “menos atractivo” do mercado português;

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Lições de Mestre

ARTUR QUARESMA

Encontro 93-90 Dois amigos voltaram a encontrarse. Tenho para mim que a amizade é um encontro entre iguais, ainda que as suas condições sejam diferentes. O que mais admirei foi que estando frente a frente dois grandes artistas ambos mostraram uma simplicidade extrema, uma alegria contagiante, uma sincera amizade. Dão lições de Mestre. Ambos barreirenses que elevaram o nome do Barreiro bem alto.

ANTONIO PATACAS

Várias vezes internacional e capitão da equipa das quinas, fez a despedida de futebolista nas Salésias em 5 de Outubro de 1948, marcando dois golos a João Azevedo, portentoso guardião do Sporting. Agora,

um Portugal – França”. Eram os tempos da peste e dele restam velhos homens que trazem ao peito “medalhas” honrosas que ninguém vê. Recordá-los é preciso!”. Jornal O Jogo de 30.01.99

ANTÓNIO PATACAS

ARTUR QUARESMA

“Na década de 50 foi um ídolo do nosso futebol e campeão nacional pelo Belenenses.

com 81 anos, vive no Barreiro e. por vezes, lembra histórias, proibidas de contar até nascer a Liberdade de Abril. Há dias, quando se referia ao falecimento de Manuel Capela, seu companheiro no clube da cruz de Cristo, afirmou: “Nunca joguei com ele na selecção nacional porque fui afastado da equipa das quinas por me ter recusado a fazer a saudação nazi, aquando de

“Nasceu a 13 de Outubro de 1921, numa casinha do Beco de S. Francisco, Barreiro. Carlos e Maria de Assunção, seus pais, beirões, chegaram ao Barreiro com a Companhia União Fabril.

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“Se não fossem os alentejanos e os ratinhos o Barreiro não era nada”. “Na minha casa não havia refeições. Éramos 21 irmãos. Mas só me lembro de 12” Começou a ler, sem nunca ter frequentado a escola oficial. Fez a 4ª classe na tropa. Aos 8/9 anos começou a trabalhar numa fábrica de cortiça. Trabalhou depois no Herold na limpeza das caldeiras. Passou para a cordoaria do Nicola e depois para a CUF, quando tinha 11 anos, em 1932. “Entrei para os adubos, descalço, ranhoso e cheio de fome” Aos treze anos era servente nas obras. Quando caiu do andaime (ele e outros) magoou-se e foi transferido para o armazém dos Materiais e mais tarde para o Escritório Técnico do Barreiro. Reformou-se após 40 anos de serviço na CUF. Aprendeu a fotografar. Foi mestre nesta arte e Augusto Cabrita, dada a qualidade do seu trabalho, contratou-o. As suas reportagens fotográficas de casamentos, baptizados e outros eventos, são o orgulho de muitos barreirenses. Fez inúmeras reportagens desportivas para a Bola e outros periódicos, mas sem a sua assinatura. Fotografou o Barreiro, sua terra natal que tanto ama.

Faço tudo quanto sei Ao trabalho dou-me inteiro Tudo faço com amor Para o meu querido Barreiro Viu o Barreiro a preto e branco: “As casas eram brancas com uma barra cinzenta ou preta”. As suas pinturas são do Barreiro Velho. Fotografou os barreirenses, corticeiros, ferroviários, operários, rostos das gentes do Barreiro. Foi fotógrafo oficial da Câmara Municipal do Barreiro.

A sua actividade artística passa também pelo artesanato. Expôs os seus trabalhos em várias exposições tendo ganho alguns prémios. Aderiu ao 25 de Abril, tendo sido o último Regedor da Freguesia do Barreiro – 19 de Junho de 1974 a finais de 1976, a convite de H. Fráguas. Foi fundador da Comissão de Acção dos Reformados do Barreiro e seu Presidente ao longo de 18 anos. Cultiva o amor pela vida e o afecto pelo Barreiro”.

Os dois falaram da sua vida e obra e, do seu Barreiro. Das ruas onde viveram, dos amigos que tiveram, dos seus irmãos, de um lado 21, do outro, brasileiros. Dos golos que marcaram ou das defesas que fotografaram. Um, das terras que conheceu como treinador, outro dizendo que raramente saiu do Barreiro. Um, das pessoas, seus pupilos, e dos seus dramas, outro dos dramas humanos que os rostos que fotografou transmitem. Dos diplomas e medalhas que exibem, ou do reconhecimento público, do Barreiro, que lhes falta fazer. Talvez quando morrerem. Um tem 93 anos, o outro 90. Foram muitos anos de vida, com muitos episódios à mistura que desfilaram ali em hora e meia. Coube-me a mim e à filha de um deles preparar este encontro. Estamos felizes por isso. ARTUR QUARESMA e ANTÓNIO PATACAS despediram-se sem esperança de se reencontrarem, mas a vida, palavras deles, é de encontros e desencontros. Pode ser que lhes pregue uma partida mais e se voltem a ver. Nuno Soares

Flash’s da sua vida e obra

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A MORTE ANUNCIADA DA ÚLTIMA FÁBRICA DE CORTIÇA DO BARREIRO É do conhecimento público, a última fábrica de Cortiça no Barreiro, onde funcionava a empresa: “Esence – Sociedade Nacional Corticeira SA, “morreu”. A empresa Corticeira foi declarada insolvente por decisão judicial proferida pelo Tribunal de Comércio de Lisboa em 4 de Julho de 2008. O seu património foi vendido em leilão, sendo que 3 empresas da área de actividade sucateira adquiriram o recheio da Fábrica, equipamentos, máquinas, ferramentas, etc…etc…, e o terreno foi adquirido pelo BCP. A imagem de desmantelamento da fábrica é desoladora, como é desolador observar o estado de degradação do Moinho de Maré ali existente. Ver todas as máquinas serem desmanteladas para serem vendidas como sucata, ver o conteúdo dos últimos produtos ali confeccionados, amontoados com destino a um qualquer contentor de lixo, é confrangedor. Tomar consciência, de que, todo aquele local que já fervilhou de vida, onde se produzia e gerava riqueza para o País, onde se empregavam famílias inteiras, que com os seus salários pagavam os impostos necessários ao desenvolvimento do Estado, verificar que boa parte da produção daquela fábrica se destinava a exportação, contribuindo assim para um maior equilíbrio entre as exportações e importações, não passa agora de um amontoado de lixo, é desolador. “Morta” a última fábrica de Cortiça do Barreiro, que memórias ficam para o futuro dos nossos filhos, desta Nº1 DEZEMBRO 2010

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actividade industrial, que, em tempos, foi deveras importante para o Concelho? Talvez se possam recolher algumas peças das que se destinam à venda como sucata para que se possa contar a história da indústria Corticeira no Barreiro; talvez se possa preservar algum daquele Património, tal como aconteceu no Concelho vizinho do Seixal, aquando da extinção da Mundet; talvez se possam recolher umas quantas peças que mais tarde, possam contar a história da cortiça, integrando um futuro Museu da Indústria no Barreiro. Diz o poeta que “O Homem sonha, a obra nasce”. Vamos sonhar que é possível escrever a história do Barreiro, incluindo a indústria que faz integrante do nosso Património, da nossa Memória, que queremos preservar para o Futuro dos nossos filhos. Vamos sonhar que é possível que no território de Alburrica, onde se encontra o terreno em causa, não vai nascer um condomínio privado, de luxo, composto por enormes blocos de cimento que cortem a vista para o rio, que destruam o último moinho de maré que existe no Barreiro. Vamos sonhar, porque, talvez sonhando, a obra nasça! José Encarnação

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