Jornal Aspas Colaborativo

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Aspas Colaborativo + Setembro 2013

Editorial Nos últimos 10 anos, as políticas públicas de transferência de renda e de incentivo ao crédito do governo federal moldaram o discurso da ascensão de uma nova classe média no cenário brasileiro. Este discurso é muitas vezes criticado por especialistas, pois apenas o aumento de renda e a capacidade de consumo limitariam a perspectiva, desconsiderando problemas estruturais que apontam para desigualdades históricas. A mídia, não se pode negar, tem um papel importante na construção deste discurso. Não se trata de negar a mudança, visível a todos, pela qual o país vem passando, mas de entender que esta mudança é interpretada e construída de forma que, muitas vezes, se apagam os conflitos e as contradições. Este número do Aspas Colaborativo traz um pouco do recente boom de consumo da chamada “nova classe média” em alguns dos principais setores produtivos e mostra também a visão de especialistas sobre o assunto.

Expediente Edição de Arte

Edição

Lia Alcântara

Mônica Fontana

Diagramação

Reportagem

Bruno Cavalcanti Caio Spinelli Camila da Luz César Pam Giovanna Monteiro Nany Ferreira Thaiane Araújo

Ilustração Bruno Cavalcanti Caio Spinelli Camila da Luz César Pam Gabriela L’Amour Giovanna Monteiro Nany Ferreira Thaiane Araújo

Aline Pereira Camila Marques Carolina Fonseca Domingos Sávio Fábio Callado Fernando Lima Luma Lima Marina Moura Nathalia Calih Raiany Oliveira Thuany Laisy

Aspas Colaborativo – Jornal Laboratório dos cursos de Jornalismo e Design Gráfico das Faculdades Integradas Barros Melo. Faculdades Integradas Barros Melo Direção: Ivânia Maria de Barros Melo dos Anjos Dias Direção de Planejamento: Izabella Barros Melo Coordenação do curso de Jornalismo: Prof ª. Monica Fontana Coordenação do curso de Design Gráfico: Prof ª. Lia Alcântara Av. Transamazônica, 405, Jardim Brasil II – Olinda-PE Fone: (81) 2128.9797

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Sumário C de consumismo p. 04 Moda a reboque p.05

Novos turistas p.06

A caminho da universidade p.07

A nova classe dominante p.08

Vem ver quem tá na tv p.10

Bolso cheio, mesa farta, quilos extras p.11

Você e eu, eu e você, Comprando! p.12

Ilustração por César Paim

Pa$$atempo p.15

Entrevista : Desejo, necessidade e vontade. p.13


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Classe C incrementa consumo nos shoppings centers

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Como o universo das tendências e passarelas enxerga esse novo segmento de consumo. A nova classe conquistou o direito de consumir. Trata-se de uma questão de oportunidade e rentabilidade. A diversificação de produtos, serviços e até das lojas de atacado e varejo em todo o país e as variadas formas de pagamento e prazos abrem um leque de opções para estes novos consumidores. Eles não são mais um segmento de mercado para o qual eram enviados produtos de qualidade inferior e, consequentemente, mais baratos. Atualmente eles são o mercado. No ano passado, a classe C deu ao Brasil um potencial de Produto Interno Bruto superior aos PIBs da Colômbia e da Argentina somados, tornou-se um mercado específico, alvo para indústrias de todos os segmentos, criando oportunidades para todos. Um dos setores que mais tem se beneficiado com este novo filão é o de confecções de roupas e acessórios. Se antes a produção de estilistas era voltada para um público mais abastado e copiado pelos menos favorecidos, agora se busca justamente nesse estilo mais

despojado e barato, referências para recriar as tendências das passarelas e os guarda-roupas de quem diz o que é e o que está na moda. Algodão cru, tecido usado por sertanejos por ser mais barato e resistente, foi e ainda é alvo de alguns estilistas que não produzem exatamente para sertanejos, só para citar um exemplo. Outro bom exemplo são as músicas vindas de ambientes periféricos que, às vezes, combinados com elementos mais sofisticados, por assim dizer, ou mesmo apenas veiculados em meios massivos atingem as classes superiores. Por causa dessa mobilidade das informações, podese observar adolescentes de classe média e classe média alta ouvindo músicas como funk, pagode, samba entre outros. Artistas como Gaby Amarantos, cantora de tecnobrega, chegou ao gosto tanto da classe C, como da B e da A por causa da redemocratização de informações. Segundo a jornalista e crítica de moda Renata Pires, o estilo “piriguete”, da menina que usa roupas curtas, salto alto, pelos dourados, piercing no umbigo e maquiagem muito forte deixou de ser exclusividade de favelas e comunidades carentes. Esse modo de se expressar e vestir pode ser observado em diferentes contextos, de forma que algumas vezes chega até a camuflar a classe social. É o que podemos chamar de ressignificação de conceitos. Outro segmento da moda que tem aproveitado essa oportunidade é o de

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Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas, no ano passado, a renda mensal das famílias da classe C ficou entre R$1.734,00 e R$7.475,00. Estas pessoas vieram das classes mais baixas (D e E). Muitos, pelos esforços de famílias para aumentar a escolaridade dos seus filhos ou por ações de empreendedorismo social. Mesmo movimentando a economia e comprando muito, estes consumidores emergentes ainda sofrem preconceito. Muitas pessoas olham torto para eles nos lugares a que antes muitos não tinham acesso. “Às vezes eles chegam e nenhum dos vendedores dá atenção, achando que não vão comprar nada... quando na verdade são os que mais compram”, revelou a vendedora Carolina, que cita um exemplo. “Outro dia, uma mulher, mal vestida, chegou à loja para comprar roupas. Ninguém dava nada por ela. No final, ela saiu com roupas que custaram mais de R$350 e, detalhe, tudo pago à vista”.

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A Abrasce divulgou, recentemente, um aumento de 10,2% nas vendas. De acordo com a Associação, as maiores vendas são nos artigos de perfumaria e nas lojas de alimentação. O que também se destaca no levantamento é a taxa de ocupação nos shoppings – mais de 98%. A nova classe emergente vem chamando a atenção. Na televisão, esteve presente em novelas recentes. Na política, os candidatos a cargos públicos, estão atentos a este novo consumidor/eleitor. Nos shoppings centers, não só os de Recife, como os do restante do país, a presença da classe C é enorme e seu poder de compra e de consumo cresceu e continua crescendo. Para o vendedor da Exclusive Line, João Neto, 23, o comércio está se adaptando de forma natural para esta nova realidade. “Isso acontece por vários fatores. A maioria dos produtos pode ser dividida no cartão e a compra fica bastante facilitada. O resultado dessas vendas faz com que os lojistas invistam mais na qualidade do serviço”, explicou. De acordo com o vendedor, as vendas são maiores para a classe C do que para classe A. “Quando o pessoal da classe A vai comprar, eles adquirem mais de um produto, enquanto que o pessoal da classe C vai constantemente. Normalmente, eles pegam um item, mas a rotatividade de pessoas é maior”, ressaltou. A vendedora da loja Toli, Carolina Oliveira, 25, afirmou também que vende mais para a classe C. “Eles não são pirangueiros”, confessou. Segundo ela, as lojas já estão preparadas para receber esses novos consumidores. “Metas precisam ser batidas. Então qualquer público é bem vindo em qualquer loja, seja de qual classe for”, disse.

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Pernambuco possui 12 shoppings, seis na capital, de acordo com a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). Dentre os seis, três se destacam com a maior presença da classe C: um no bairro de Santo Amaro, um na Boa Vista e outro em Boa Viagem. O aumento do consumo nesta classe se deve ao aumento de renda das famílias, aos programas do Governo, que ajudam nas compras, e ao aumento da escolaridade.

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Adriana Nascimento, 38, administradora de empresas, faz parte do que a mídia vem chamando de “nova classe média”. O que a atrai mais num shopping center é o conforto. Para ela, apesar dos shoppings e do centro da cidade oferecerem os mesmos produtos, a primeira opção é mais confiável, pois “lá existe mais variedade, mais espaço e mais segurança”. A estudante Eny Alves, 26, também prefere os shoppings. Segundo ela, “as promoções, a mobilidade e o fácil acesso às compras é o que chama a atenção num shopping center”. Eny se confessa uma consumidora assumida. “Não resisto a uma promoção. Quando acho que vou me dar bem com uma compra, não penso duas vezes... e se puder dividir no cartão, aí que eu compro mesmo!”, revelou.

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Por Fábio Callado, Raiany Oliveira e Camila Marques Ilustrações por Thaiane Araújo

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por Nathalia Calih ilustração por Gabriela L’Amour

brechós e bazares, vendendo peças usadas por preços mais acessíveis. O costume, iniciado na Europa, se consolidou no Brasil, formando uma nova imagem do que antes se pensava ser um lugar para comprar roupas velhas que ninguém mais queria. Esse segmento aproveita-se também da onda verde de sustentabilidade e do uso dos 3 R’s (reduza, recicle, reutilize) que é exatamente o que se faz em lojas voltadas para esse tipo de comércio.

“O consumo é uma adaptação, como toda atividade humana.” Para a professora e coordenadora do curso de Design de Moda da Barros Melo, Clarissa Soter, a classe C sempre foi uma “parte representativa da movimentação do comércio e dos lucros do país e a tendência é aumentar”. Ela faz uma comparação entre o novo consumista e uma criança que nunca comeu bolo de chocolate: “observamos que ela vai comer até passar mal, ela deve ser instruída sobre como e quanto deve comer para que não tenha problemas indigestos, o mesmo acontece com o consumidor”. Sobre como alguns intelectuais vêm interpretando este fenômeno recente, Clarissa dispara: “Eu só tenho medo de alguns profissionais que saem por aí escrevendo sobre uma realidade que muitas vezes eles não vivem e daí constroem uma série de teorias a respeito de um assunto que sequer foram a campo pesquisar”.Para Clarissa, “o consumo é uma adaptação, como toda atividade humana”, e é preciso saber dos riscos que o consumo sem consciência e com exagero pode gerar.


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Novos Turistas

As mudanças na economia atingem também o setor de turismo, que procura se adaptar ao novo público. Boa parcela dos brasileiros nunca imaginou poder jantar ao som de um tango na Argentina, mas arriscar alguns passos ao som de Carlos Gardel aos poucos vem se tornando realidade. Atualmente as agências de turismo oferecem formas de pagamentos mais flexíveis que, em parceria com o aumento da capacidade de endividamento das famílias, resulta numa classe C que viaja. Antes, os pacotes de viagens custavam mais caro e ofereciam estadias mais longas. Os destinos são os mais diversos e estão alavancando o turismo interno, mas não param aí, os novos consumidores também estão interessados em conhecer outros lugares, fora do país. Luiz Maia Filho, doutor em economia, professor do IBMEC e da UFRPE, explica o momento que o mercado turístico está vivendo no Brasil. “O salário cresce acima da inflação e a taxa de desemprego continua caindo. Pessoas recebendo salários maiores têm poder de compra maior. A multiplicação de linhas de crédito com taxas mais baixas e reduções expressivas nas taxas de juros formam um cenário favorável para compra de serviços mais caros. Com uma renda fixa e maior, é possível financiar uma viagem que custe cinco mil reais. Quem antes nem pensava poder entrar num avião agora pode. É uma mudança de paradigmas, uma conquista importante”, disse. O economista também explicou que a maioria dos produtos e serviços levados ao mercado passam a ser destinados à grande massa da população, é o que se chama de “economias de massas”, como acontece com os pacotes turísticos de agências que oferecem destinos mais próximos, com prazos de permanência mais curtos que são um terço mais baratos.

Para Luiz Maia, este cenário é interessante por movimentar a economia local. “Cidades como Recife e Fortaleza, por exemplo, têm turismo forte e movimento no comércio de forma mais intensa”, explicou. A indústria do turismo não lucra apenas com as vendas de bilhetes aéreos. Quando o turista chega ao seu destino, ele paga por serviços de transporte, alimentação, artesanato, hospedagem, entre outros. A partir de uma estratégia bem montada de turismo,

é possível dinamizar diversos setores do comércio de uma cidade. Para o futuro da economia do país, que receberá dois grandes eventos nos próximos anos, a expectativa é de tirar proveito de resultados mesmo depois que eles passarem. O professor explica que é importante para o turismo local que o dólar esteja alto, dessa forma o Brasil se torna um destino do interesse de quem vem de fora.

A caminho da

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Para tirar bom proveito da Copa do Mundo de Futebol, em 2014 e das Olimpíadas do Rio, em 2016, de acordo com Luiz Maia Filho, é preciso dar um salto de qualidade nos serviços oferecidos. Assim, o país continuará sendo atraente para os turistas estrangeiros e para os próprios brasileiros. A economia interna continuará crescendo e o brasileiro poderá testemunhar a consolidação desta nova classe emergente. O empresário Temístocles Vasconcelos, dono de uma agência de viagens há três anos, notou o crescimento do interesse da classe C por viagens nos últimos anos. O pagamento ainda é feito de forma parcelada, no cartão, mas os novos turistas realizam muitas viagens internacionais, tendo os países da América do Sul, como Argentina e Chile, como seus destinos preferidos. E não viajam só de avião, procuram bastante por cruzeiros marítimos. “No futuro isso só tende a crescer, essa nova classe C deixará de ser classe C e novas pessoas irão subir para esta classe. A economia do turismo está muito aquecida e isso só irá melhorar”, disse o empresário. As empresas organizadas e atentas a este fenômeno estão investindo na adaptação ao novo público que vem crescendo dia a dia. As viagens se encaixam no novo padrão de consumo da classe emergente e aparentam ser um mercado que promete crescimento. Companhias aéreas estão se adaptando ao bolso dos brasileiros e oferecem produtos cada vez mais atraentes. Com planejamento e um bom parcelamento, cada dia mais turistas de primeira viagem estarão prontos a desembarcar nos destinos mais diversos. por Carolina Fonseca e Aline Pereira Ilustração: Nany Ferreira

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universidade Programas como FIES e ProUni garantem acesso mais democrático ao ensino superior O número de pessoas da nova classe média nas universidades privadas é cada vez maior segundo pesquisa realizada em 2012 pelo Instituto Data Popular. Os dados apontam que 55% dos brasileiros com idade entre 18 e 25 anos da classe C são alunos de cursos superiores. Em 2004, eram apenas 42%. O motivo de tanta procura são os custos das mensalidades, que estão bem mais baratas que antes. Além disso, o governo também criou programas de auxílio ao estudante na hora de cursar uma graduação, tais como o ProUni (Programa Universidade para Todos) e o FIES (Fundo de Financiamento Estudantil), os quais oferecem, respectivamente, bolsas de estudo para os universitários e financiamento dos estudos em instituições privadas. O ProUni, lançado pelo Ministério da Educação (MEC), em 2004, já beneficiou, desde a sua criação, mais de 1 milhão de estudantes de baixa renda no País. Tem como finalidade a concessão de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação e sequenciais de formação específica em instituições privadas de educação superior. É direcionado a estudantes concluintes do ensino médio em escolas da rede pública ou da rede particular na condição de bolsistas integrais, com renda per capita familiar máxima de três salários mínimos. Para Leonardo Lemos, que estudou Jornalismo em uma universidade privada com ajuda do ProUni, o programa é importante pois oferece bolsas de estudos para alunos de escolas públicas que não têm condições de se sustentar em escolas privadas ou até passar em Federais, mas que têm conhecimento suficiente para ser um bom aluno nas instituições pagas. “Se o ensino na escola pública fosse bom, facilmente passaríamos numa Federal e não precisaríamos do programa. Logo, é necessário melhorar o ensino público, para que um dia nenhum de seus alunos precise de ajuda com bolsa de estudos para ir à Universidade”, disse.

Financiar é preciso

O Ministério da Educação também conta com um programa de financiamento, o FIES, cuja finalidade é facilitar ao universitário o pagamento das mensalidades em instituições privadas do ensino superior. Em 2010, o programa sofreu importantes mudanças que

proporcionaram maiores facilidades para o estudante poder contratar o financiamento, que pode ser de 50% a 100%, a juros de 3,4% ao ano. Após concluir o curso, o estudante tem até 18 meses para começar a pagar e pode quitar o financiamento num prazo três vezes superior ao da duração regular do curso. Podem solicitar o FIES os estudantes regularmente matriculados em cursos de graduação em instituição privada. A inscrição no financiamento poderá ser feita em qualquer período do curso. As facilidades de financiamento mudaram a visão dos aspirantes a um curso superior. Dados do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) mostram que poucos jovens da classe C planejam prestar vestibular em universidades públicas, pois encontram muita concorrência nos cursos desejados. É o caso da estudante de jornalismo Palloma Viana, 19 anos, que optou pelo FIES: “A mensalidade do curso é muito cara, então foi a única saída para a realização do meu sonho, ser jornalista”. Ela confiou no programa por conhecer diversas pessoas que se formaram com a ajuda do FIES.

Informações Importantes

Com intuito de prestar acompanhamento aos bolsistas, as faculdades criaram uma comissão de assistência social, que tem como objetivo acompanhar, averiguar e fiscalizar ações relacionadas aos ProUni na instituição. Segundo Luciene Barros Silva, Coordenadora geral do PROUNI das Faculdades Integradas Barros Melo, o próprio MEC escolhe o número de vagas para cada instituição de ensino com base no número de alunos pagantes e devidamente matriculados. “A cada ano existe um número de bolsas para cada instituição, neste ano a Barros Melo ofereceu 38 bolsas de estudo, divididas para os cursos da instituição”, disse. Ela ainda informa que para entrar no programa a faculdade deve atender alguns requisitos, como oferecer vestibular. Os alunos contemplados com as bolsas devem ter, no mínimo, 75% de aprovação nas disciplinas, sob risco de perder a bolsa se não atender aos critérios estipulados pelo MEC. Por Fernando Lima Ilustração por Giovanna Monteiro


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A Nova

Classe Dominante Em 10 anos, a classe C adquiriu poder aquisitivo e agora transforma a economia do país. “Trabalhei muitos anos como diarista, sustentava seis filhos sozinha com dificuldade. Hoje, sou beneficiária do INSS e quatro dos meus filhos se casaram. Minha renda melhorou muito. Hoje em dia posso comprar eletrodomésticos, reformar minha casa, posso dizer que pago contas de telefone fixo, celular, cartões de crédito e ainda sobra pra gastar com roupas e calçados, tudo isso com dinheiro em espécie. A única coisa que ainda não consegui foi comprar uma casa do meu agrado, mas espero ter isso em breve.” Edna Mendonça dos Santos, 55 anos, diarista aposentada. Casos como o de D. Edna se tornaram cada vez mais comuns na conjuntura atual. Isso se deve ao resultado de fatores combinados como o controle da inflação, a diminuição nas taxas de juros, as políticas para facilitação de financiamento de bens duráveis e de consumo e políticas públicas para redistribuição de renda. Esse aumento na quantidade de pessoas que se enquadram na terceira faixa de rendimentos deu margem para a ideia de “ascensão da classe C” que, de modo prático, trata-se da mobilidade social de pessoas mais pobres que aumentaram sua renda e passaram a ter mais acesso aos serviços e bens de consumo.

Esta relativa mobilidade econômica transformou a pirâmide social em um losango, já que o crescimento da classe C representa 54% do total de brasileiros, segundo o censo 2012 do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Dados apontam que entre 2010 e 2011 cerca de 2,7 milhões de brasileiros se tornaram novos membros da classe C. Em 2005, ela era composta de cerca de 63 milhões de brasileiros. No ano passado, esse número havia subido para 103 milhões. Atualmente, a classe C já representa quase metade dos brasileiros. Esta nova realidade não trouxe transformação apenas para a economia.

O espaço atualmente ocupado pela classe C se evidencia no incômodo que as classes A e B demonstram pelo fato dos novos emergentes passarem a consumir produtos e serviços antes acessíveis apenas à elite. O sociólogo Matthew O’Connor, estudioso da sociedade brasileira, acredita que todo o problema é uma questão de convivência que provoca a relutância. Segundo ele, a característica que prevaleceu no Brasil durante o século 20 era a desigualdade, e uma desigualdade radical em relação às outras nações do mundo, quando as elites eram uma minoria com seus espaços de lazer e bens de consumo exclusivos.

Apartamentos, veículos, eletrodomésticos serviços de turismo e lazer – artigos antes tidos como de luxo – eram metas alcançáveis para a maioria nos países ricos da Europa ocidental ou nos Estados Unidos desde os anos 60, enquanto no Brasil sempre foram o padrão de consumo de uma minoria. “Esta desigualdade vai além do financeiro, é de privilégio, educação, status”, comenta o sociólogo. Para o professor, é perceptível nesta nova configuração social um preconceito, ainda que latente. “A pessoa talvez não vá assumir o preconceito, mas a linguagem que usa no dia a dia para descrever lugares, pessoas e hábitos está muito carregada de preconceito de classe. ‘Lugar bem frequentado’, ‘gente bonita/gente feia’, ‘aquele povo’, etc. Até mesmo esse negócio de camarote e área VIP em shows vale a pena ser estudado de um ponto de vista crítico também. A própria mídia tem preconceito muito bem satirizado nas personagens de TV como Caco Antibes, no Sai de Baixo, e Christian Pior, no Programa Pânico.” Matthew ressalta que isso não é exclusividade dos brasileiros. “Na Inglaterra, bairros inteiros, instituições de ensino e lazer e destinos turísticos são mais procurados pela suposta elite para fugirem dos common people (pessoas comuns)”, comenta.

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O’Connor cita o sociólogo brasileiro Jessé de Souza para reforçar seu ponto de vista: “Como regra geral, as classes superiores se veem sempre como as ‘classes do espírito’, da personalidade refinada e sensível, e percebem as classes baixas como as ‘classes do corpo’ e, portanto, rudes, primitivas e sem refinamento”.

Matthew diz que vale a pena consultar o trabalho de Souza: “Ele recusa chamar a classe emergente de nova classe média. Opta pelo termo ‘batalhadores’. Eu acho esta descrição digna de muita gente hoje em dia com apartamento, graduação, veículo conseguido através de muito esforço e pouco privilégio”. Sobre a classe C como nova força econômica do país, o sociólogo britânico comenta que atualmente o Brasil está com a demanda superaquecida: “Se eu fosse um empresário ou investidor, meu público alvo seria a classe C, e acredito que isso já é o caso. VA novela recente, voltada para um público classe C, chegou a ser notícia na imprensa britânica como exemplo da mudança na realidade socioeconômica brasileira.” Para o pesquisador, se o consumo tem crescido no país, ainda há um descompasso entre poder de compra e informação, sempre em prejuízo dos mais fracos. “Esperamos que o direito do consumidor seja fortalecido e exercido nos próximos anos”, conclui.

por Luma Lima e Thuany Laisy ilustrações : Caio Spinelli e Camila Luz


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Vem ver quem tá na

TV

Não é de hoje que as classes menos favorecidas figuram nos roteiros de humorísticos e outros programas de entretenimento. Desde sempre ouvimos falar em núcleos de novelas. Os pobres e os ricos, a divisão de classes, a ambição por galgar uns degraus no disputado – e restrito – espaço social dos privilegiados, a mútua admiração e repulsa de uma classe pela outra. É possível que não nos familiarizássemos tanto com uma narrativa se ela não se aproximasse de alguma forma do estilo de vida da nossa sociedade. E isso se encaixa em quase todas as programações a que estamos acostumados a assistir. Sempre houve o pobre, o catador de lixo, o mendigo, a empregada doméstica negra ou nordestina, ou ambas, e o novo rico: escrachado, mal educado, que fala gritando, que come demais. Sempre houve também o desafeto, as piadinhas indesejadas a respeito, o preconceito misturado a ciúme e inveja na trama. Nos humorísticos, o Caco Antibes de Miguel Falabella soltava farpas à classe C, seguidas de um seco, arrogante e alto “Eu tenho horror a pobre”. O jargão de Caco Antibes vem de outro personagem do humor televisivo, criado pelo comediante cearense Chico Anysio, já falecido. Justo Veríssimo e a sua “corruptocracia” viveram na fictícia Corruptolândia, lugar onde, nos assegurava o personagem, não haveria honestidade: “não haverá pobre, por que pobre é que tem essa mania de ser honesto”, disparava. A intenção de Chico Anysio era a crítica ao sistema político e aos governantes corruptos, mas o jargão permaneceu: “Tenho horror a pobre! Quero que pobre se exploda!” Inspirados, sem dúvida, nos personagens da vida real, como o ex-presidente da república João Baptista Figueiredo, autor da célebre frase “prefiro cheiro de cavalo a cheiro de povo”, os comediantes nos acostumaram a esse tipo de humor que expõe, pelo lado cômico, as tensões mais evidentes do confronto, muitas vezes velado, entre as classes sociais nas grandes cidades brasileiras. Atualmente é quase impossível construir uma novela, por exemplo, em

Nova classe média está cada vez mais presente nos programas de TV

que não se encontrem dos mais variados representantes de uma nova classe média em ascensão: do personagem mais falastrão ao mais humilde, de humor inocente; daquele que não tem papas na língua e dispara suas tiradas ácidas ao que dá conselhos recheados de ditos populares. A atriz Brenda Lígia Miguel (Bruna Surfistinha, As melhores coisas do mundo) destaca a importância da aparição de “empreguetes”, diaristas, faxineiras e o que essa retratação para a massa representa. “Particularmente pra mim, que sou atriz negra, é ótimo, porque tem muito mais campo, muito mais papel, muito mais mercado. E olha que eu nem sou de TV!” comentou, enfatizando que a televisão não é a única forma de entretenimento e arte que trata dessas questões. A importância da representação da classe C requer uma certa quebra numa estrutura antiga que vai além de brincadeiras e ultrapassa o limite do risível para acentuar um olhar crítico sobre as relações sociais, sendo essencial para o reconhecimento e afirmação de um novo público que se vê representado nas telas.

Calih por Nathalia r Nany Ferreira po es çõ ra Ilust

Bolso Cheio,

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Mesa Farta,

Quilos Extras

O carrinho de compras andou engordando. Essa é uma das principais mudanças causadas pelo recente fôlego econômico adquirido pela Classe C. Antes acostumadas a comprar apenas o que era de caráter mais urgente e básico, os novos consumidores passaram a adquirir produtos tidos como supérfluos. Iogurtes, biscoitos, enlatados, refrigerantes e diversos outros tipos de alimentos pré-prontos tornaram-se figurinhas carimbadas na mesa de boa parte dos brasileiros. Essa mudança nos hábitos de consumo trouxe não só um aumento no valor do preço da feira do mês, mas também um aumento de peso e risco de aquisição de doenças provenientes de uma má alimentação. O tradicional feijão com arroz passou a dar espaço a alimentos ricos em sódio, açúcares e gorduras saturadas e trans. O reflexo desta mudança alimentar são os já alarmantes índices que apontam para uma população brasileira obesa, dentro de alguns anos, caso esse quadro não seja revertido. Algo semelhante ao que ocorreu em outros países que experimentaram um processo de ascensão econômica parecido. Sobre o assunto, o ASPAS Colaborativo entrevistou Ticiane Albuquerque, Nutricionista formada pela UFPE, que trabalha na área de Saúde Pública. ASPAS COLABORATIVO: Que classe social tem sido mais afetada pela nova dinâmica de consumo? Ticiane Albuquerque: Umas das classes sociais mais afetadas por esse consumismo é a classe C, nova classe média popular que se tornou o centro de gravidade da economia, da política e das relações sociais no Brasil. Essa classe por estar em uma situação financeira um pouco melhor, e também por não ter tempo por causa do trabalho, acaba consumindo produtos mais práticos como salgados, refrigerantes, massas, frituras entre outros, dando a justificativa que é mais rápido e que não dá tempo para comer bem.

corpo, deixam cabelos brilhantes, unhas fortes e pele macia. São encontrados em frutas, legumes e verduras. Por fim os energéticos, como arroz, milho, macarrão, pão, batata, macaxeira, farinhas, açúcares, bolos e mel, ou seja, alimentos que contêm carboidratos, que nos dão energia para trabalhar, estudar, brincar. Existem também os alimentos superenergéticos, que possuem grande quantidade de gordura, açúcar e, por isso, devem ser consumidos com moderação.

AC: Para ter uma alimentação saudável é indispensável dispor de tempo e dinheiro? TA: Para ter uma alimentação saudável, equilibrada e balanceada, não precisa ter condição financeira boa ou muito menos tempo, precisa apenas nessa alimentação conter alimentos classificados como construtores, reguladores e energéticos. Os construtores são por grupo dos alimentos ricos em proteínas, como leite, queijo, ovos, carne, frango e peixe, além de soja, ervilha, lentilha e feijão, fundamentais para o crescimento. Os reguladores são formados por vitaminas, fibras, minerais e água, que hidratam o

AC: O que as pessoas devem fazer para seguir uma dieta balanceada? TA: É preciso que se respeite um intervalo de 3 horas entre cada refeição. É muito importante saber que para uma alimentação saudável não é preciso tanto dinheiro, mas sim consciência dos alimentos corretos a serem consumidos. Alimentos que não sejam prejudiciais à saúde, a fim de evitar doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, hipertensão e câncer. Além de doenças que podem surgir no futuro, entre elas a obesidade.

por Domingos Sávio e Fernando Lima Ilustrações por Nany Ferreira


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Sites de compras coletivas vendem bens e serviços a preços baixos para vender muito e acabam atraindo a classe C o comprador recebesse o produto e que o site e o anunciante lucrassem, o Groupon passou a divulgar suas ofertas nas redes sociais, o que foi primordial para o sucesso da iniciativa nos EUA. Após o grande sucesso norteamericano, Andrew Mason percebeu que poderia, com a ajuda de colaboradores, expandir o seu projeto para outros países, de preferência as nações que tivessem um grande número de usuários da internet. Foi assim que o Brasil recebeu o seu primeiro site de compras coletivas e entrou na rota do segmento, contando hoje com mais de 300 sites semelhantes. Essas páginas virtuais caíram no gosto da classe que hoje impulsiona a economia brasileira, a nova classe C, que passou a utilizar os portais como ferramentas para adquirir bens e serviços a preços razoáveis. Aline Araújo, 23, estudante de jornalismo, se enquadra neste perfil. Ela conta que tem o hábito de pesquisar em diversos sites de compras coletivas e que nunca teve problema em nenhuma transação. “Normalmente compro serviços de estética e ingressos de cinema, nunca tive problemas com as compras. Costumo receber muitos feeds de notícia, principalmente pelas redes sociais. Às vezes, meus amigos me marcam em alguns anúncios, principalmente quando envolvem segmentos de alimentação”, comenta. Nem sempre a transação é tranquila. Há quem já tenha enfrentado problemas em compras coletivas. Um exemplo disso é Marina Santos, 29, desempregada. Ela relata que comprou um aparelho celular, fez o pagamento e não recebeu o produto, esperando ainda cerca de três meses para receber o estorno. “Comprei um celular no Groupon que

não existia em estoque. O site dizia que o problema era com a loja fornecedora do aparelho e a loja que o problema era do site. Até que eu pedi o cancelamento da compra pelo Grupon e foi resolvido. Só demorou o estorno, esperei 3 meses. Agora só faço compras nesses sites se for pelo pagseguro, pois o pagamento fica retido até o recebimento do produto”. O aumento dos sites de compras coletivas foi em grande parte estimulado pelo aquecimento do consumo na classe C que, se ganhou poder de compra, ainda procura por preços, promoções e prestações mais acessíveis a seu orçamento. Mas todo cuidado é pouco antes do clique entusiasmado para efetivar a compra. Além de pesquisar muito para não ser enganado, o novo consumidor deve apostar em sua educação financeira e estar preparado para não se enforcar nas próprias dívidas.

Por Domingos Sávio e Marina Moura Ilustrações por Caio Spinelli

Já imaginou passar duas noites em um luxuoso hotel na Barra de Santo Antônio – AL, um dos destinos mais procurados do nordeste, com café da manhã e passagens inclusas por apenas R$249,00? Ou se preferir uma viagem internacional, optar por outra bagatela, seis dias divididos entre Las Vegas, San Diego e Los Angeles, com café da manhã, carro de aluguel e passagens inclusas por apenas R$2.290,00? Esses valores são dos sites de compras coletivas Peixe Urbano e Groupon que, assim como diversos outros sites do gênero, aproveitaram o recente crescimento do poderio econômico da nova classe C brasileira para desenvolver estratégias que visam baixar preços e vender mais. O primeiro site do tipo a surgir foi o americano Groupon, criado em 2009 por Andrew Mason. No final de seus dois primeiros anos de vida o site já contabilizava um retorno financeiro de 1 bilhão de dólares, algo só conseguido em igual tempo por mais uma empresa, o site de hospedagem de vídeos YouTube. “O grande apelo do nosso site é que todos ganham. Nós ganhamos a comissão, os clientes pagam menos pelo produto e os parceiros conseguem um retorno em larga escala para seus serviços ou produtos”, disse Mason em entrevista à revista Época Negócios, em 2011. O Groupon funciona da seguinte forma: primeiro o cliente escolhe as ofertas que deseja analisar de acordo com cada localidade, depois realiza um cadastro e torce para que num determinado período de tempo um número x de pessoas se interesse pela mesma oferta que ele, pois para que a compra seja concretizada é preciso que exista um número mínimo de interessados. A fim de garantir que

DESEJO, NECESSIDADE E VONTADE

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Izabela Domingues, especialista em estudos do consumo, fala sobre a classe C e seus hábitos de compra. Por Domingos Sávio e Marina Moura As políticas sociais empregadas pelo governo brasileiro nos últimos 10 anos possibilitaram, ainda que de maneira tímida, que ocorresse no país uma redução das desigualdades sociais e uma maior distribuição de renda. Setores que antes eram alheios aos grandes movmentos de consumo em massa, agora podem participar de maneira efetiva da dinâmica de compra de prYodutos e prestação de serviços. No olho do furacão está a chamada nova classe C, parcela significativa da população brasileira que antes era considerada pobre e hoje integra a classe média. Esse público é responsável por 46% do total de compras e serviços realizados no país, tendo como principal aliado, nesse recente mundo de descobertas, o cartão de crédito. Assim como ocorre em todo novo fenômeno de consumo, é preciso descobrir como educar as pessoas para uma prática sadia de consumo e que atenda de maneira específica às necessidades e desejos de um novo público. Sobre o assunto, o Aspas Colaborativo conversou com Izabela Domingues, professora, coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda da Barros Melo e idealizadora do Grupo de Estudos do Consumo da instituição.

“O que vemos é não só o aumento de um público consumidor, mas o aumento também da parcela da população que tem acesso a educação e moradia.”

Aspas Colaborativo: Para você a ascensão da classe C é um fenômeno econômico de fortes raízes ou passageiro? Ele seria semelhante aos efêmeros “milagre econômico” e Plano Cruzado? Izabela Domingues: Houve um trabalho do governo Lula no sentido de ampliar a possibilidade da classe C, considerada emergente, poder crescer. Eu não tenho uma análise do ponto de vista econômico, como um profissional da área certamente terá no sentido de fazer uma previsão sobre a consolidação ou não desse ritmo, mas tendo a crer que a partir da economia um pouco mais estável do país, a

tendência é que de fato esse quadro se solidifique, já que foram postas em prática medidas econômicas e sociais relevantes. O que vemos é não só o aumento de um público consumidor, mas o aumento também da parcela da população que tem acesso a educação e moradia, entre outros aspectos. Por isso, creio que o que diferencia a ascensão da classe C de fases como o “milagre econômico” e o Plano Cruzado é a maior distribuição de renda realizada no governo Lula. AC: Algumas pesquisas, dentre elas a do Sindilojas-PE (Sindicato de Lojistas


Aspas Colaborativo +Novembro 2012

Aspas Colaborativo + Novembro 2012

“Temos um movimento de troca, não existindo apenas uma tentativa de as classes mais baixas se aparentarem às mais altas, mas também um processo inverso. É de cima para baixo e de baixo para cima.” AC: 46% do total de compras e serviços dos brasileiros é atribuído ao consumo da classe C. A publicidade tem atendido bem a esse público? Que tipos de estratégias específicas de marketing podem ser desenvolvidas para a classe C?

ID: Esse é um público de qualidade e muito importante para as marcas. Uma prova real disso é o fato de marcas líderes, como, por exemplo, a Nestlé e a Danone, estarem buscando atingir com produtos específicos essa nova parcela de mercado, que até então não representava um público significativo. Principalmente para produtos como o iogurte, a classe C, ao aumentar um pouco mais o seu poder aquisitivo, passou a direcionar parte da renda para a compra de produtos supérfluos. De fato, a publicidade tem buscado trabalhar uma linguagem comunicativa mais próxima e valorizada pela classe C. Como exemplo, podemos nos referir à inclusão de ritmos como o funk e o brega, amplamente consumidos pelas classes emergentes, em anúncios de diversos tipos de produtos e serviços. O que não se deve fazer, de forma alguma, é tentar trabalhar uma comunicação para a classe C do ponto de vista de outra classe, pois isso aproximaria a comunicação da estereotipagem. Há uma aceitação, por parte do senso comum, de que a comunicação para um público mais popular deve conter cores mais fortes ou uma música mais animada. Mas isso nem sempre se reflete nas pesquisas de mercado. Observamos, sim, que o público popular muitas vezes se vê atraído por uma comunicação mais diversificada ou menos forte. Portanto, a comunicação não deve ser carregada ou caricata. AC: A maior parcela da nova classe C costuma realizar compras através do uso de cartões de créditos. Como educar esse público sobre o risco de endividamentos? ID: As pesquisas apontam que um dos públicos que mais paga suas contas em dia no Brasil é o público menos abastado. É como se o acesso aos bens de consumo para um cidadão de classe C fosse seu cartão de crédito, ele valoriza tanto esse acesso, que é extremamente bem organizado, pagando suas contas em dia, pois sabe que o acesso a esse universo dos bens de consumo está atrelado ao poder de parcelamento, para isso ele precisa estar com seu nome limpo na praça. Então, mais do que imaginamos, a classe C é extremamente bem organizada com suas contas.

AC: Quando alguns produtos antes exclusivos de setores mais abastados da sociedade passam a ser adquiridos por camadas economicamente inferiores, as classes mais ricas buscam uma forma de diferenciação. A ascensão da nova classe C tornou esse processo mais perceptivo? ID: Esse é um fenômeno que não é novo, na verdade, do ponto de vista histórico, ele existe desde a época das cortes, nos séculos 18 e 19, sendo evidenciado através da busca das classes mais populares por consumir produtos que fossem reproduções mais acessíveis dos produtos consumidos pelas classes detentoras de maior poder econômico. Nesse caso, temos dois tipos de movimentação, a “trickle down” e o “bubble up”. O primeiro diz respeito à incorporação por parte das classes mais baixas de hábitos comuns às classes mais elevadas, já o segundo diz respeito ao processo inverso, quando elementos comuns ao cotidiano das classes mais baixas passam a se inserir no dia a dia das classes mais elevadas. Portanto, temos um movimento de troca, não existindo apenas uma tentativa de as classes mais baixas se aparentarem às mais altas, mas também um processo inverso. É de cima para baixo e de baixo para cima.

PA$$ATEMPO

Ilustrações por Caio Spinelli

de Pernambuco), apontam que boa parte da considerada nova classe média não liga tanto para marcas, mas sim para a relação custo-benefício, você concorda com isso? ID: Depende do tipo de produto que está sendo analisado. Eu, inclusive, estou orientando a pesquisa de uma aluna que tem como tema o uso de marcas famosas, só que através de produtos falsificados. Se você for, por exemplo, em um lugar de comércio popular, como é o camelódromo do Recife, verá por parte de classes menos favorecidas, do ponto de vista econômico, a busca por marcas de luxo, sim. No entanto, representadas através de um produto que é na verdade um similar, uma cópia. Nós não podemos definir de forma generalizada que há uma busca somente pela qualidade, já que, dependendo do setor, existe uma valorização da marca. A compra nem sempre é realizada para satisfazer apenas uma necessidade prática, há em muitos setores sociais uma busca por distinção, por um estilo capaz de distinguir as pessoas. Isso varia de setor para setor.

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