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A FOTOGRAFIA CHEGA ÀS TERRAS BAIANAS
from Offereço meu original como lembrança: circuito social da fotografia nos sertões da Bahia (1900-1950)
Depois que o pintor e inventor Louis-Jacques Mandé Daguerre apresentou ofcialmente, em 8 de agosto de 1839, os resultados do seu instrumento na Academia de Ciências de Paris, em pouco tempo o processo – que mais tarde ganhou o nome de “fotografa” – tomou conta do mundo (FREUND, 1976). Ainda que os primeiros experimentos exitosos de fxação das imagens da câmara escura tivessem sido realizados isoladamente na então vila de Campinas, no início daquela década, por Hercules Florence (KOSSOY, 2006), foi através da daguerreotipia que os brasileiros tomaram conhecimento da fotografa. O primeiro instrumento de Daguerre que atingiu o continente americano ocorreu em terras baianas, em 13 de dezembro de 1839, trazido pelo abade Louis Compte, um dos integrantes do navio-escola francês L’Orientale. Antes de partir para o Rio de Janeiro e fazer a famosa demonstração no Paço Imperial, no dia 17 do mesmo ano, a tripulação permaneceu em Salvador e, embora não tenha sido encontrado nenhum daguerreótipo daquela estadia na Bahia, há quem considere a possibilidade de sua existência.12
12 Foi o que sugeriu a fotógrafa e pesquisadora SAMPAIO (2006) e a historiadora
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VASCONCELLOS (2006).
A partir da segunda metade dos oitocentos, Salvador já contava com o atendimento de diversos fotógrafos em ateliês bem instalados, localizados em áreas privilegiadas como a freguesia da Sé e a de São Pedro Velho, em meio ao comércio elegante e residências de profssionais liberais, como médicos e advogados (VASCONCELLOS, 2006). Ao lado do Recife e do Rio de Janeiro, Salvador era um dos principais polos de produção da fotografa no Brasil oitocentista, sendo também ponto de afuência de muitos profssionais estrangeiros em busca de fazer fortuna com o recém-criado mercado da fotografa. Era comum o trânsito de pessoas dos sertões baianos pelos ateliês fotográfcos localizados em Salvador nos primeiros anos dos novecentos. Tudo leva a crer que no século passado isso também acontecesse. Por não haver estabelecimentos especializados em muitas cidades e vilas, era principalmente na capital que as elites sertanejas buscavam satisfazer seus desejos pelos retratos fotográfcos ou produtos correlatos, como cartões-postais e álbuns. As viagens para a “Bahia” representavam, entre outras coisas, uma oportunidade de acesso às novidades tecnológicas da contemporaneidade. As investigações em acervos particulares de famílias dos sertões baianos levaram à localização de dezenas de cartões de visita oitocentistas produzidos em famosos ateliês de fotógrafos em Salvador, como também em Buenos Aires e Paris. A onda de colecionismo de retratos, expandida nas grandes cidades, integrava também grupos sociais dos sertões. Entre as coleções