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David Ellersten There Was Blood & The Harbour Intermission

David Ellersten é um fotógrafo sueco recém-formado. Concentrado na fotografia documental, David apresenta na OLD dois ensaios muito fortes, de maneiras completamente diferentes. There Was Blood e The Harbour Intermission. O primeiro choca pela força crua das imagens. O segundo pela solidão e pela tristeza do espaço apresentado. Um ótimo trabalho, no início de uma carreira muito promissora.

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David, para começar, nos conte um pouco sobre sua história na fotografia.

Meu interesse pela fotografia começou quando eu tinha 14 anos. A fotografia me parecia um bom instrumento para expressar sentimentos. Eu já havia tentado o desenho e a escultura antes, mas me dei muito melhor com a fotografia. Nos anos seguintes comecei a me encantar pela fotografia documental e achei que o mundo parecia tão interessante pelos olhos de Robert Capa, Cartier-Bresson, Anders Petersen e tantos outros. Fiz graduação em mídia documental na Universidade de Skovde, aprendendo muito sobre a história, as questões e os papéis dos fotógrafos e cineastas. Depois do primeiro ano percebi que deveria estudar só fotografia e me transferi para a Escola de Fotografia de Gothenburg. Lá conheci o fotógrafo e companheiro de classe Max Rantil, que como eu, se interessava muito pela fotografia documental. Nós costumávamos discutir problemas/soluções e compartilhávamos projetos. Neste mesmo momento comecei uma empresa com meu irmão designer/ tipógrafo. Nós nos concentrávamos em relacionar a fotografia com tipografia criando posters, capa de CD e afins. No último semestre da faculdade me mudei para Estocolmo para fazer um estágio com o fotógrafo Kristofer Samuelsson. Trabalhei com pesquisa, planejamento, assistência, edição e pós-produção, na maioria dos casos para revistas. Também fiz algumas reportagens e desenvolvi projetos autorais. Em setembro de 2012 voltei para Gothenburg e estou buscando a publicação de meus trabalhos.

Você está apresentando dois ensaios aqui na OLD: There Was Blood e The Harbour Intermission. Quais as histórias por trás de There Was Blood? Como surgiu o interesse em produzir esse trabalho?

There was Blood foi feito durante meu estágio em Estocolmo em 2012. Começou como uma fascinação pelo universo da luta livre, eu já tinha visto imagens deste esporte antes e tinha me interessado por fotografar a estrutura do evento como um todo, chegar perto dos lutadores e, se possível, fazer imagens de bastidores. Entrei em contato com Christoffer Sahlgren, o dono da Shtlm Wrestling, e expliquei o que eu gostaria de fazer.

Com isso comecei uma reportagem junto com a jornalista Kajsa Dragstedt focada no lutador El Duardo, que ainda faria sua primeira luta. Sua primeira luta seria no evento There Will Be Blood, que foi onde fotografei esta série. Além de seguir El Duardo no backstage gostaria de captar a estranha estrutura deste evento, me concentrando na violência surreal e na ambigüidade da platéia. Esse tipo de comportamento é um lado da Suécia que eu nunca tinha visto antes, era tudo tão não sueco [unswedish na resposta original em inglês]. Uma realidade fascinante e surreal.

There Was Blood apresenta um mundo próprio, que parece ser bastante fechado. Como você se aproximou dessa cultura?

Como foi o processo de produção dessas imagens?

Comecei a pensar também no contexto da violência como um esporte e de como ela foi vista, ao longo da história, como entretenimento. Mas isso não era violência, eram pessoas que haviam treinado e treinado para fazer parecer com violência.

Realmente é um mundo bastante particular e o projeto começou justamente do interesse genuíno em fotografar o esporte de perto.

Depois que eu conheci alguns dos lutadores eu me concentrei em Doden e Wrangel (dois dos lutadores que aparecem no ensaio) e ouvi que eles fariam uma luta, um contra o outro. Eles pareciam muito brutos e perfeitos para a minha ideia do que era a luta livre. Eles realmente eram personagens. Tudo aquilo começou a me lembrar do cinema, o que deixava tudo mais surreal.

Esse conceito era muito interessante. Eu fiz questão de acompanhar a luta dos dois enquanto acompanhava também a rotina de El Duardo. Achei que seria um desafio interessante, o que realmente foi. Geralmente eu não corro ou tento chamar a atenção enquando estou fazendo uma reportagem, mas isso era diferente, eu me sentia atrapalhando em todo o lugar - acho até que cheguei a ficar na frente de uma das câmeras de vídeo pelo menos umas

10 vezes - era uma situação intensa, eu fiz questão de capturar as reações da platéia, que variavam sempre entre fascinação e disgosto.

A fotografia congela, na maioria dos momentos, ações contínuas. No caso de There Was Blood isso altera a percepção da luta e poderia ter tirado a força das imagens, o que felizmente não acontece. Como foi retratar as lutas sem perder a intensidade do momento que você fotografava?

Muitas vezes quando eu estou fotografando eu tento criar um certo tipo de imagem estática. Todas as imagens acabam sendo desta forma por conta do meio em que foram produzidas, a fotografia, mas nem todas tem essa intenção intrínseca. Você pode congelar uma ação ou somar uma ação, criando uma situação. Tudo depende da sua intenção.

Em There Was Blood eu queria capturar o sentimento e a atmosfera da luta livre sueca.

Eu tentei adicionar a luta dentro de uma atmosfera de sentimentos, excitação, violência, medo, entretenimento. É impossível não congelar ações ao usar uma câmera fotográfica, mas eu escolhi momentos em que eu sentia que eram estáticos e de certa maneira icônicos para aquela cena. Quando eu comecei a fotografar este projeto eu tentei me manter calmo e concentrado na atmosfera que me rodeava, apesar de sempre me sentir como uma galinha em galinheiro pequeno demais.

Você já nos contou um pouco da história de There Was Blood. Agora nos conte sobre The Harbour: Intermission.

The Harbour: Intermission é meu trabalho de final de curso da faculdade de fotografia e era uma tema que eu já vinha desenvolvendo nos últimos dois anos, pois eu trabalhava em um lugar parecido na Noruega. No começo eu não tinha certeza sobre como abordaria o tema e nem que história eu queria contar.

Sabia que o ambiente teria um papel importante nesta história, mas ainda não sabia como. Comecei a caminhar pela área por onde os pescadores trabalhavam e percebi uma certa calma, com uma lembrança constante da presença humana, sem que houvesse uma presença visível de pessoas. A desolação e a solidão foram sentimentos fortes e tem grande participação nesta série. Para ter alguma interação com pessoas e fazer um contraponto para a vazies eu tive que chegar ao porto muito mais cedo do que antes. Sair da cama às

3 da manhã e ir para o porto me daria as imagens que precisava. Eu tentei chegar antes que os trabalhadores para que eu pudesse testemunhar a mudança naquele ambiente. Conversei muito com eles e depois de algumas visitas eles já pareciam estar mais confortáveis com a minha presença.

Decidi me concentrar em alguns trabalhadores específicos para manter a sensação de solidão que eu havia sentido, cortando essas figuras na composição, os transformando em sombras, o que contemplava minha ideia deste lugar duro, escuro e frio. Esse processo durou cerca de 4 meses. que o observador possa sentir algum tipo de conexão. Eu acredito que é importante para o espectador ter alguma maneira de se relacionar com aquilo que vê ou sente. Para fazer um contraponto a este sentimento eu tinha os portos vazios, escuros e desolados.

The Harbour... relaciona muito bem a importância do espaço e das pessoas dentro do ensaio. Você acha que seria possível contar essa história sem a presença de um dos dois? Para você, é mais interessante contar histórias através das pessoas ou dos locais em que elas estão inseridas?

Para mim é mais importante contar histórias através das pessoas, sem elas não há história. Mas quando você conta a história destas pessoas, você precisa de um contexto. Eu tento usar o espaço como este contexto. Você pode usar o ambiente como forma de contar a história de uma pessoa.

Neste caso eu acredito que seria difícil contar a história sem um dos dois elementos presente nela. Os dois são elementos vitais para o projeto. As pessoas são muitas vezes necessárias em uma série de imagens para

Neste ensaio o espaço é um lembrete de que pessoas utilizam estes espaços, mas que naquele momento não há ninguém na cena.

Isso torna as imagens mais poderosas e os espectadores são forçados a imaginar as pessoas dentro daquele contexto.

Você tem uma técnica de tratamento de cor bastante interessante, que tira um pouco da dureza das imagens e as deixa em um espaço diferente dentro da fotografia. Como você desenvolveu esse estilo? Ele acompanha toda a sua produção ou está presente somente nestes trabalhos?

Eu semprei gostei de uma abordagem cinematográfica para a fotografia, criando uma atmosfera, tanto na locação quanto na pós-produção, seja em reportagens documentais ou em outros ramos da fotografia. Mas não acredito que seja um estilo que eu escolhi conscientemente, foi algo que foi crescendo dentro da minha produção, que se encaixava em meus projetos e nas histórias que eu queria contar, que muitas vezes tem temas sombrios, que se encaixam bem nessa abordagem visual. Na pós-produção eu tento expressar o sentimento que tive durante a produção da imagem. Se você observar outros trabalhos meus há um fio condutor bastante claro.

Costumo usar uma luz dura, com uma escuridão rica, combinada com, quase que exclusivamente, luz natural.

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