
4 minute read
Felipe Vellasco Dilge
Felipe Vellasco, também conhecido como Vellas, é um fotógrafo e diretor de cena, com base em São Paulo. Vellas dirigiu recentemente o filme publicitário da nova Leica M Monochrom, que fez muito sucesso entre os fotógrafos. Aqui na OLD nós vamos conhecer seu portfolio produzido na Turquia. Vamos ao papo!
uma cultura tão diferente?
Advertisement
Seu ensaio apresenta a cultura turca, que é um bocado diferente da nossa. Como foi esse contato? Como foi para você retratar
Fotografar outra cultura sempre tem seus desafios. Não importa muito se é fora ou dentro do país. Você nunca sabe como será recebido, se apontar uma câmera pra alguém pode ser ofensivo, se vão gostar, se exibir, enfim, é sempre uma incógnita. Na Turquia, pra minha surpresa, eles são bem receptivos com fotos, e a câmera não assusta tanto. Eu uso uma Leica analógica, que praticamente não faz barulho nenhum e é bem mais
“informal” do que uma DSLR digital, que é um canhão. Isso me ajuda bastante na hora de fotografar fora do país, ou mesmo em lugares mais afastados no Brasil, onde a cultura e os costumes são bem diferentes do Sudeste, onde vivo. A Turquia é um lugar com bastante turistas, então você precisa sair um pouco do circuito pra encontrar a vida como ela é, de verdade. O lado Asiático em Istambul é um desses pontos da cidade onde não se encontra um turista por um bom tempo, e isso ajuda às vezes.


Além de fotógrafo você também é diretor de audiovisual. Como essa relação com o vídeo influencia sua produção fotográfica?
Acho que é uma via de 2 mãos. Ser diretor, me ajuda na hora de fotografar, pois eu me sinto bem a vontade de conversar, me enfiar, pedir autorização para entrar em um edifício, pra fotografar a família de alguém, e as vezes, até dirigir uma foto. Acho que é uma “manha” que você vai adquirindo com a profissão e que ajuda na hora de fotografar na rua, sem qualquer produção. E ser fotógrafo me ajuda na profissão, pois acabo entendendo muito mais de lentes, distância focal, movimentos, enquadramentos e composição do que antes. Sou diretor de comerciais, e os filmes que produzo são geralmente filmes com uma pegada estética, de direção de arte, fotografia etc.
E a fotografia me ajuda a aprimorar e estar sempre testando coisas novas.


Seu trabalho é composto basicamente por imagens analógicas e em PB. Como começou sua relação com a fotografia de filme? Como foi a opção de usá-la para produzir este trabalho?
São alguns fatores. Eu fotografo só com filme. Tenho feito mais coisa em cor ultimamente, mas uso cor basicamente a noite. E PB de dia e de noite. Vez ou outra compro uns Fuji Provia (cromo) e tiro de dia também, depende um pouco de onde for usá-lo. Se for uma história que a cor ajude a contar, eu acabo usando cor. Mas geralmente uso PB. Como minhas fotos são bem documentais, eu acabo usando mais PB pois acho que passa mais emoção, as texturas e desvia menos o olhar do que fotos coloridas.
Eu não uso digital pois acho muito “liso”, muito limpinho. Não sei.. Gosto de fotos mais sujas, granuladas, como as do Pedro Martinelli, Mascaro, Tiago Santana, Trent Parke, Daido Moriyama... Acho foda. Eu sei que posso sujar e texturizar e manipular no Photoshop, mas tenho preguiça e sinto que estou roubando no jogo. Gosto do fato da foto estar ali, fisicamente, num negativo e não num HD. Gosto da espera, da dúvida se ficou bom ou não, se saiu ou não, se eu acertei a exposição, se estava focado... E gosto do fato de me desconectar emocionalmente da foto. Eu levo as vezes
2 - 3 meses pra mandar revelar um negativo, eu nem me lembro o que tem lá dentro. Isso ajuda na hora de editar.




Suas imagens apresentam um cotidiano urbano, típico de um dia a dia de cidade. Como foi o processo de encontrar essas imagens? E como foi a edição até chegar na seleção que vemos aqui?
O processo é bastante simples. Saio com a câmera e fotografo o que acho interessante. Ando randomicamente pela cidade, vou fazer o que quero fazer, ver o que quero ver e vou parando e tirando foto. Depois revelo, e faço um pré select. Depois mais um select e depois um select final. Ai eu me arrependo e faço tudo de novo. Na Turquia eu tirei bastante foto, mas menos do que achei que fosse tirar. Acho que voltei de lá com uns 20 rolos entre Istambul e Capadoccia. Nesse caso acabou sendo menos demorado.
Você produziu alguns retratos para esse ensaio. Como foi a abordagem desses personagens? Você chegou a estabelecer alguma relação com algum deles?
Ah, varia de caso pra caso, mas basicamente eu tirava a foto e fazia um “jóia” depois.. Não tive problemas. Acho que tenho mais problemas com essa técnica no Brasil do que fora. Aqui as pessoas são mais agressivas, tem mais medo, não sei. Eu fotografei na Tailândia na sequência da Turquia, e fiquei espantado como eles eram receptivos. Eu estava fotografando umas crianças e geralmente isso é meio difícil, porque os pais acham que você possa ser algum pedófilo freak e eu na verdade até entendo. Mas lá, eles chamavam os irmãos pra aparecer também. Os pais sentiam um certo orgulho de que tinha alguém interessado nos filhos deles. Era maluco. Lá foi o lugar mais receptivo que já fotografei na vida.
Você está trabalhando em algum outro projeto atualmente?
Sim, atualmente tenho 2. Estou fotografando as Ocupações do FLM (Frente de Luta por Moradia) em São Paulo, e devo acabar até o final de 2012. Já tenho bastante coisa, mas ainda quero ir em alguns lugares pra terminar. O outro eu já estou editando, sobre a Tailândia. Passei 20 dias pelo país, fotografando com minha esposa as cidades e o campo. Vou edita-lo nos moldes que editei o livro que contém este ensaio da Turquia, chamado “Dilge”.
