Quando cheguei lá em Carazinho, já estava pronta a ideia do livro. Depois eu fiz. (Depoimento para esta pesquisa.)
Araci Amaral (em Vigiano, 1986, p.34) observa essa diferença de atitude estética. Se a Pequena história de um sorriso é indicativa de uma preocupação social através de suave ironia, já Momento vital (1979), de natureza concreta, nos remete como observador como uma fusão com o autor do trabalho, em experiência singular, sobretudo em suas primeiras páginas, onde não há margem para dicotomias que romperiam o “segredo” dessa íntima relação autor/leitor.
A presença da decifração como fundamento da relação entre a obra e o fruidor oferece a “coerência interna da trajetória dos trabalhos de Vera”, segundo Icleia Cattani. Mas a construção de tais jogos passa pela desconstrução da imagem de partida: da totalidade faz-se fragmentos que, decifrados, permitirão reconstituir a imagem. Com uma sutil diferença: a imagem reconstruída guardará para sempre os cortes dos fragmentos, como cicatrizes. Sua “unidade” será a reconstituição de seus pedaços. (Kern, Zielinsky e Cattani, 1995, p.189)
Difícil desconstruir o tempo, é muito mais fácil a metáfora através da desconstrução do corpo físico ou imagético do livro. Esse é, portanto, um momento de passagem entre tempo e espaço. É a confirmação no livro, bem como neste esforço de entendimento, do exercício de sua esquize: ativação e personificação dos seus diferentes tempos na fundação de um só corpo.
Vera Chaves Barcellos, Momento vital, 1979.
Vera Chaves Barcellos, performance com Momento vital, 1979 (Espaço NO, p.10).
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