essência primária e complexidade orgânica da obra. Um meio significante em si mesmo nos seus usos cotidianos e não-artísticos (Guest e Celant, 1981, p.85-86). O livro é um objeto no sentido genérico, uma coisa que pode ser apreendida pela percepção ou pelo pensamento. Sendo material e ocupando um lugar no espaço, tem nas três dimensões a principal característica de ser um corpo físico matemático. Como corpo, portanto, possui a propriedade de causar impressões e estímulos nos seres humanos. Os dualismos corpo e alma, corpo e espírito, corpo e mente e outros semelhantes importam aqui de uma maneira acessória. Neste enfoque, o corpo é sensível e inteligível, através da relação entre o plano material e o plano mental e dessa possível identidade, pelo uso da leitura e/ou da percepção como ferramenta de compreensão ou apreensão. É pela percepção mais ou menos imediata (por vezes reflexa) da aparência que o livro que é obra de arte se instaura, mesmo naqueles que são bastante discretos. A leitura, o desfrute e a intelecção são processos de aproximação posterior. Para qualquer das etapas, é principalmente a sua eloquência como corpo físico que impõe o seu status de objeto artístico. Oscila entre o belo e o espalhafatoso, entre o livre e o imobilizado, entre a preservação da forma e a perversão de sua finalidade e função. Do deleite ao estranhamento, passando por suas possíveis gradações, até talvez a uma possível repulsa, é a eloquência da (ou pela) fisicalidade que institui a sua identidade. Eloquência porque é capaz de comunicação em grau complexo e marcante, seja de modelo visual, ou verbal, ou ambos. Eloquência, também, por portar mensagem, ou por ser (por sua própria compleição física) texto, fazendo da audiência e suas circunstâncias o contexto. Uma diferença a ser destacada entre o artista gráfico, que profissionalmente cumpre expediente em uma editora, e o artista plástico, que experimenta o livro de artista em suas formas mais livres, está no tipo de Doutor Frankenstein que cada um é. O primeiro constrói corpos – sempre. Não é de sua “função” desconstruí-los. A uma alma dada, desgarrada, ele dá o corpo, elaborado com a originalidade possível a sua profissão. Serão cotejados princípios já aceitos com novas soluções entrando na moda. Alguma ousadia poderá haver em seu trabalho, mas apenas com a tolerância das partes envolvidas. A individualização do criador afluirá com extrema dificuldade. Seu livro buscará ser, por princípio e norma, apolíneo. Veja-se, como rápido exemplo, um preceito de Douglas C. McMurtrie (1982, p.595): À pergunta “qual é o melhor tipo para todos os fins, desenhado desde o começo da imprensa até agora?”, não pode dar-se resposta duvidosa. O tipo foi desenhado e gravado por William Caslon e pode aplicar-se anos e anos para todos os fins sem enfadar o gosto. [...] O tipo Caslon é também o melhor tipo para livros que se tem fabricado, pois é legível no mais alto grau e não se torna monótono.
Este é um exemplo de proposição de norma estética. Ela tem sido confirmada por especialistas e editores. E um exemplo de aceitação dessa norma é este texto que está 122