que não passa de suporte para sinais gráficos convencionados. No segundo caso, a página tem a sua própria prolixidade, ela tem voz própria. Uma versão literária a esse entendimento foi dada por Ferreira Gullar ao definir o termo livro-poema. Chamo de livro-poema (ou poema livro) à tentativa de usar a página (o livro) como um elemento interior ao poema. [...] Na verdade, segundo cremos, a palavra, com seu peso, obriga a página a vencer o limite tátil, submerge-a na dimensão temporal da linguagem. A página é pausa, duração, silêncio. Um silêncio verbal. Cortando-a, justapondo-a, procuro tornar audível o lado mudo da linguagem, o seu avesso. (Citado por Pontual, 1971, p.33-34)
Em 1991, Gullar conseguiu enfim publicar O formigueiro, seu livro-poema escrito em 1955 e que até então permanecia inédito. Algumas páginas foram apresentadas na Exposição Nacional de Arte Concreta, em 1956, em São Paulo, e em 1957, no Rio de Janeiro. Inicialmente com a palavra “a formiga”, o livro prossegue pelo uso da sequencialidade desenvolvida pela desintegração do vocábulo, e pela Ferreira Gullar, O formigueiro, 1991. relação entre letras, palavras e frases de um novo núcleo verbal com o espaço da página e o ato de folhear. A arte-final e a capa também são dele, o que integra o trabalho. Gullar acredita que sua obra resgata a simplicidade do discurso poético, “em que pese a pretensão vanguardista daqueles anos e os maus resultados que esse tipo de poesia obteve”. Ainda na apresentação do livro, Gullar afirma que teria “tentado uma transfiguração do objeto verbal”. Para ele, em O formigueiro “a ordem gráfica usual é violentada”. Para Roberto Pontual, a busca de um novo livro é fruto da disposição para uma nova leitura. E entre os títulos que destaca está Flicts, de Ziraldo, para ele um livro-poema em que “cor e palavra se desdobravam unidas e mutuamente significantes” (p.37-38). Mas para Pontual, “salvo alguns exemplos de ruptura, mais ou menos drásticas, que a contemporaneidade vai se encarregando de diversificar, o livro permanece hoje fundamentalmente o mesmo”. Sim e não. O que não permaneceria o mesmo seria o espectro do livro de artista, ampliado por experiências matéricas mais agressivas e 165