A página violada: da ternura à injúria na construção do livro de artista

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fotografias de homens e cavalos. Impressas em vermelho, azul e preto, as imagens são cortadas e estouradas até os pontos da retícula de impressão alcançarem a abstração. Cada litografia também contém um pequeno quadrado mostrando uma mão de mulher premendo um cronômetro e um breve mote de Kruger.

O Center for Book Arts, de Nova York, entidade sem fins lucrativos, desenvolve cursos de encadernação tradicional e artística, além de atividades correlacionadas. Por atender, também, uma parcela da comunidade de artistas plásticos que usam o livro como veículo de expressão, realiza eventos que possam experienciar as novas propostas. Entre elas, houve uma mostra em 1987, The Effects of Time, composta por livros tradicionais anteriores a 1600, que pretendia mostrar a estética produzida por insetos, roedores e... encadernadores, usuários, etc.! Naturalmente, era uma exposição crítica. Leonard Hansen e Richard Minsky, os curadores, iniciavam assim a sua apresentação: “Um dos grandes fascínios dos livros velhos é a sua história como artefatos. Quando olhamos para livros que têm centenas de anos nós vemos notas marginais de muitos leitores, buracos queimados por cinzas de charutos, emendas manuscritas para textos sumidos, e muitas outras indicações sobre onde o livro esteve e a que riscos ele sobreviveu”. Outra mostra, mais recente (1995), This Day in History... (com curadoria de Brian Hannon e 47 participantes), apresentava livros-objetos contemporâneos que lidaTed Purves, Rain work, 1994. vam com as transformações íntimas (pessoais) associadas com o livro em si, com a história e com a verdade objetiva, marcando a confiança no conhecimento intuitivo do dia-a-dia. O que ambas as exposições demonstraram, cada uma com uma ponta da corda, foi o desejo do homem que lida com livros de ver o tempo. 89


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Texto avulso Enzo Miglietta O ato estético da escrita

1hr
pages 287-319

Entrevista: Iolanda Gollo Mazzotti

7min
pages 279-282

Entrevista: Vera Chaves Barcellos

8min
pages 275-278

Entrevista: Anne Moeglin-Delcroix

8min
pages 283-286

Entrevista: Wlademir Dias Pino

20min
pages 267-274

Entrevista Lenir de Miranda

7min
pages 260-263

Entrevista: Neide Dias de Sá

7min
pages 264-266

Depoimentos

1min
page 259

Suplemento: Erguendo os olhos e olhando ao redor

19min
pages 250-258

A leitura agonizante

34min
pages 225-244

Considerações finais

11min
pages 245-249

Polimorfismo, desconstrução e destruição

42min
pages 203-224

Sequestro e aliciamento da aparência e da leitura

19min
pages 193-202

Mimese formal e funcional do corpo e da leitura

34min
pages 165-182

Sequestro e aliciamento da ordem e da função

16min
pages 183-192

Fronteiras com o livro e a literatura

21min
pages 153-164

Ingresso na gravura: objetificação em espetáculo solo

14min
pages 144-152

As artes do livro e a identidade do livro artístico

13min
pages 122-127

Até pode ser que isso não seja um livro de artista. Mas e se for?

30min
pages 128-143

Representação do confessional e do lúdico: memória real versus memória emulada

26min
pages 105-118

O livro como corpo físico

6min
pages 119-121

A exacerbação documental: passionalidade versus contrição

8min
pages 95-99

Presunção de verdade ou verossimilhança

9min
pages 100-104

Registro temporal e presentificação pelo documento

8min
pages 89-92

Memória e documento pela escolha da forma códice

4min
pages 93-94
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