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A Eutanásia
A Eutanásia Quanto vale uma vida?
Inês Carvalho . Aluna do 10º E
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Apesar da grande metamorfose que o mundo atravessa, certos temas como a eutanásia são ainda tabu na sociedade atual e desencadeiam bastante controvérsia. A única certeza que temos quando nascemos é que crescemos, envelhecemos e morremos. Nada podemos fazer contra a irreversibilidade da vida humana. É o nascer para morrer. Todo este processo faz parte da nossa constituição biológica. O homem está “programado” para nascer, viver e morrer. Se fôssemos eternos não daríamos valor à vida. Mas terá ela de facto valor? A eutanásia parece negar o valor da vida. Será assim? A palavra “eutanásia”, que surgiu em 1900, é um termo de origem grega (eu + thanatos) que significa “boa morte”, ou seja, morte sem dor. A eutanásia é o ato de proporcionar a morte sem sofrimento a um paciente atingido por uma doença incurável. No seu sentido amplo, a eutanásia implica uma morte suave e indolor e, no seu sentido restrito, implica o ato de terminar a vida de uma pessoa ou ajudar no seu suicídio. A eutanásia pode ocorrer por vários motivos: por vontade do doente; porque os doentes representam uma ameaça para a sociedade (eutanásia eugénica); ou porque o tratamento da doença implica uma grande despesa (eutanásia económica). Embora em alguns países como a Bélgica, a Holanda ou a Suíça a prática da eutanásia seja legal, este é ainda hoje um tema gerador de conflitos: uns defendem o direito de o doente incurável pôr termo à vida quando sujeito a sofrimentos físicos ou psíquicos intoleráveis. Outros, porém, não aceitam a eutanásia de forma alguma, como é o caso das ideologias religiosas Cristianismo e Judaísmo, que negam claramente esta posição por a considerarem um atentado à vida do ser humano, um verdadeiro homicídio. Dizer NÃO à eutanásia implica que ninguém tem liberdade plena de decidir pôr termo à vida, aliviando o sofrimento físico, psicológico e espiritual de um ser humano em pleno estado de incapacidade total. Quem pode dizer que determinado tipo de vida não é digno? Quem pode avaliar um determinado tipo de sofrimento como inultrapassável? Ou, então, que mensagem cultural estamos a passar se dissermos que certas vidas, certos estádios de vida, não são dignos de serem vividos? O que pensarão os que estão em idade mais avançada ou os que padecem de algum tipo de incapacitação ou, simplesmente, que são um estorvo? Como é possível consentir o «quero morrer», quando os psiquiatras procuram demover pessoas que pretendem suicidar-se? Se os futuros médicos no Juramento de Hipócrates se comprometem a defender a vida, não seria agora um paradoxo estarem dispostos a colaborar para pôr termo à vida? A campainha do alarme social tocaria estridentemente e a nossa confiança nos médicos seria completamente nula. Para todos os defensores não há um direito constitucional à morte, há, isso sim, um
direito à vida. Ao inferirmos sobre este assunto, impõem-se questões de diferente natureza: se a sociedade aceitasse a eutanásia, quais as consequências que daí poderiam advir? O doente deixaria de confiar nos profissionais de saúde e sentir-se-ia tremendamente inseguro quando tivesse de recorrer a eles? Os laços de confiança em que assenta a relação doente-médico quebrar-se-iam? Os defensores da eutanásia dizem SIM e argumentam que cada pessoa tem o direito à escolha entre viver ou morrer com dignidade quando se tem consciência de que o estado da sua enfermidade é de tal forma grave que não compensa viver em sofrimento até que a morte chegue naturalmente. Argumentam também que uma vida em estado vegetativo é “uma vida sem vida”: nenhum sentido faz continuar a mantê-la, além de que quem decide se a vida que está a viver é digna de ser vivida ou não deverá ser o próprio. Assim, se ele decide coloca-lhe um fim, a sua vontade deve ser respeitada. Voltando ao NÃO, aqueles que condenam a prática de eutanásia utilizam frequentemente o argumento religioso de que só Deus tem o direito de dar ou tirar a vida e, portanto, o médico não deve interferir neste dom sagrado. Para estes, é impensável qualquer forma de atentado à vida, seja a prática da eutanásia cometida de forma ativa (injeção letal, medicamentos em dose excessiva) ou passiva (falta de água, alimentos ou cuidados médicos). Sendo esta uma questão tão difícil e complexa, “in dubio pro vita” (na dúvida, a favor da vida). Segundo o Código Penal, em Portugal é crime praticar a eutanásia. Qualquer médico que termine com a vida de um paciente por compaixão comete homicídio, visto que é um ato consciente e voluntário, logo tem de ser responsabilizado. O tema tem sido de tal forma polémico que recentemente os órgãos da comunicação social ainda o tornam mais arrebatador ao darem destaque às afirmações da Bastonária da Ordem dos Enfermeiros, que referiu que existe a prática nos hospitais públicos portugueses. Mais rios de tinta, mais vozes que se levantam à volta do problema, mais averiguações e inquéritos. Ao colocarmos o problema sob o ponto de vista da moral, questionamo-nos: será que a eutanásia não irá contra a nossa consciência moral - a nossa voz interior ou juiz que nos alerta, censura, sanciona, reprime? Se agimos de acordo com ela, sentimos uma certa paz e tranquilidade; se, pelo contrário, não a tivermos em conta, sentimos remorso, inquietação, desconforto e até arrependimento ou remorso. O que sentiríamos nós se ajudássemos um amigo a pôr fim à vida? Recordemos o filme Mar Adentro, baseado na história verídica de um homem que vai lutar na justiça pelo direito a pôr fim à sua existência e ao seu sofrimento: um acidente que teve no mar na sua juventude deixou-o tetraplégico e preso
Revista Sábado . 9 Dez 2015
a uma cama por longos 28 anos. Essa luta vailhe trazer problemas com a Justiça, a Igreja e até mesmo com os seus familiares. Apesar da sua convicção em pôr término à vida, duas mulheres vão ter um papel preponderante na sua luta: a advogada que o quer apoiar sua luta e uma vizinha do povoado que tentará convencê-lo de que viver vale a pena. Ele sabe que só a pessoa que o amar de verdade o ajudará a realizar essa última viagem. É, sem sombra de dúvida, um filme em defesa da eutanásia. E, a este propósito, ocorre-nos: pôr fim à vida será moralmente correto? A consciência moral não é inata, não nasce connosco. Ela vai-se adquirindo e desenvolvendo à medida que a criança vai interiorizando as noções de Bem e de Mal, as normas de comportamento. É através do contacto e interação com o outro que ela se vai construindo, que nos vamos construindo como sujeitos morais. Na nossa cultura ocidental, desde tenra idade, vamos assimilando a ideia de que a vida deve ser preservada. Como reagiria a nossa consciência se passássemos a apoiar a eutanásia, ajudando-a a pôr em prática? Ou, então, segundo o cristão, se Deus dá a vida, só Deus a pode tirar. Não haverá outra alternativa para os doentes terminais? É lícito referir que a preocupação dos familiares do doente é aliviar-lhe a dor, o sofrimento, proporcionar-lhe melhores condições de vida. No entanto, a Organização Mundial de Saúde em 2002 criou o tratamento em Cuidados Paliativos, a fim de melhor a qualidade de vida de pacientes e familiares diante de doenças que ameacem a continuidade da vida. Para tanto, é necessário avaliar e controlar de forma impecável não somente a dor, mas todos os sintomas de natureza física, social, emocional e espiritual. Uma equipe multiprofissional para ajudar o paciente a adaptar-se às mudanças de vida impostas pela doença, e promover a reflexão necessária para enfrentar tal condição de ameaça à vida para pacientes e familiares. O Estado tem o dever de criar instituições de qualidade onde os doentes sejam tratados com dignidade e com todas as condições necessárias. Não podia concluir esta minha reflexão sem deixar de perspetivar a minha opinião desfavorável à prática da eutanásia. Penso que, enquanto vivemos, deveremos tentar justificar a vida, isto é, encontrar soluções para todos os problemas metafísicos, ultrapassar obstáculos, enfrentar desafios, concretizar sonhos, o importante é sermos felizes porque um dia deparamo-nos com o absurdo da morte, e, aí sim, daremos o último suspiro, o último olhar e o último sentimento. Termino citando alguns versos de Madre Teresa de Calcutá no seu tão memorável Hino à Vida:
A vida é uma oportunidade: agarra-a. A vida é beleza: admira-a. A vida é felicidade: saboreia-a. A vida é um sonho: realiza-o. A vida é um desafio: enfrenta-o. (…)
Bibliogafia e Webgrafia:
P. Vasco P .Magalhães - in Observador Pedro Vaz Patto - in Observador Pedro Afonso-in Observador Novos Contextos -10º ano Porto Editora http://observador.pt/opiniao/eutanasia-resposta-um-manifesto http://www.rtp.pt/play/p2233/e224685/Pros-e-Contras http://observador.pt/2016/02/15/medicos-juristas-catolicos-pratica-da-eutanasia