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Orion, uma constelação
Orion, uma constelação fascinante
Sónia Lopes . Professora de Física e Química
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Há muito tempo que o homem olha o céu. Os Babilónios, há cinco mil anos, construíram edifícios para o observar. Estes eram altos para poderem estar mais perto das estrelas. Para os Egípcios as estrelas estavam no corpo da deusa Nut. No céu, o homem projetou as suas crenças. Com linhas imaginárias uniu as estrelas e viu heróis, deuses, animais míticos… Hoje em dia a ciência e a tecnologia evoluíram muito e os astrónomos perscrutam o céu com potentes telescópios. Orion é uma das 88 constelações que constituem o nosso céu. Uma constelação começou por ser uma região da esfera celeste onde as estrelas parecem desenhar figuras. Atualmente, os astrónomos, aproveitando as figuras já imaginadas, dividiram o céu em 88 regiões ou 88 constelações passando a palavra constelação a denominar uma região do céu objeto de estudo. O gigante Orion era caçador e no céu está acompanhado pelas constelações do Cão Maior e do Cão Menor, à sua direita. À esquerda está a constelação do Touro, uma das doze constelações do zodíaco. Por baixo de Orion está a constelação da lebre e por cima do Touro há um conjunto de estrelas, as Plêiades, também conhecidas por Sete Estrelo, que são as “moscas” do Touro. Para os iniciados na astronomia, a constelação de Orion é muito interessante, não só por todo o cenário que a envolve, mas também porque tem muitos pormenores astronómicos interessantes. A sua cintura é desenhada por três estrelas denominadas Três-Marias ou Três Reis Magos. Por cima destas encontram-se duas estrelas que serão os ombros e um pouco mais acima, a meio, uma outra estrela, a cabeça. Abaixo das Três-Marias outras duas estrelas marcam a posição dos pés. No ombro esquerdo está a estrela Betelgeuse e, se olharmos com atenção, verificamos que é de cor vermelha. Na realidade é uma gigante vermelha, uma estrela velha. No fim da vida as estrelas expandem-se e arrefecem adquirindo uma tonalidade vermelha.
A estrela do pé direito é Rigel, uma estrela de cor azul. É uma estrela jovem e, por isso, muito quente e azul. As cores das estrelas são observáveis a olho nu. Vão do vermelho ao azul passando pelo laranja, amarelo e branco. A sua cor dá-nos indicações da temperatura e da sua idade. Quando observamos o céu as estrelas parecem estar todas no mesmo plano, como se uma manta cobrisse a Terra mas estivesse desgastada e cada buraquinho fosse uma estrela. Na verdade estão afastadas de nós a distâncias bem diferentes. Mesmo as estrelas que fazem parte de uma constelação estão a diferentes distâncias. A Betelgeuse encontra-se a 420 anos-luz de nós e a Rigel a mais do dobro, 1050 anos-luz. O anoluz é a distância que a luz percorre num ano. E ela desloca-se à velocidade de 300 000 km/s, isto é, a cada segundo, a cada pi do relógio, a luz está 300 000 km à frente. Isto para explicar que um ano luz corresponde aproximadamente a 10 biliões de quilómetros, 10 000 000 000 000 km (ou 10 x 1012 km). Dizer que Betelgeuse está a 420 anos-luz de nós significa que a sua luz demora 420 anos a cá chegar. Então, a luz que vemos agora é a luz que saiu de lá há 420 anos atrás. Nós estamos hoje a vê-la como ela era há 420 anos atrás. Por isso se diz que quando olhamos para o universo estamos a olhar para o passado. E Betelgeuse está a morrer. Quando der o seu último suspiro, quando libertar o seu último raio de luz este demorará 420 anos a cá chegar o que significa que durante 420 anos nós ainda estaremos a ver a estrela e ela já não existe. Muitas das estrelas que vemos são apenas “fantasmas” de estrelas que já existiram. Se traçarmos uma linha a unir as Três-Marias e a prolongarmos para a esquerda encontraremos a estrela mais brilhante do céu, a estrela Sírios. Ela faz parte da constelação do Cão Maior. É a sua estrela alfa (a estrela alfa é a estrela mais brilhante de uma constelação). Sírios é a estrela mais brilhante do céu, mas não é a mais próxima. A estrela mais próxima chama-se Próxima Centauro, está a 4,3 anos-luz de nós e não é visível a olho nu porque é muito ténue. A estrela Sírios está a 8,8 anos-luz de distância. Por baixo da cintura do Orion observa-se uma névoa, a Nebulosa de Orion, um berçário de estrelas a 768 anos-luz de nós. É uma nuvem de gases e poeiras onde estão a nascer estrelas. A luz
que de lá emana provém de estrelas acabadinhas de nascer. O nascimento de Orion está envolto em mistério. Para uns é filho de Hirieu, um mortal, viúvo e sem filhos a quem os deuses concederam este descendente como prémio da sua hospitalidade. Para outros é filho de Posídon com Euríale (uma das filhas do rei Minos). Segundo esta versão, o deus dos mares teria dado ao filho o poder de caminhar sobre as águas. Orion cresceu tanto que podia caminhar com os pés no fundo do mar e a cabeça fora de água. O seu maior prazer era caçar acompanhado do seu cão Sírio. Apaixonou-se pelas Plêiades (as sete filhas de Atlas e Plêione) e perseguiu-as durante cinco anos. Foram salvas pela intervenção de Zeus (o rei dos deuses) que as transformou em pombas e as elevou ao céu. Casou-se com Side, que, por se gabar que era mais bonita do que Hera (mulher de Zeus), foi por esta precipitada no Tártaro. Entretanto, viajou para a ilha de Quios e apaixonou-se pela filha do rei, Mérope. Como o pai se opôs ao casamento e louco de amores, irrompeu pelo quarto e tomou-a. Para se vingar e rei cegou-o. Disposto a recuperar a visão, Orion consultou um oráculo. A resposta que obteve foi positiva, mas teria que viajar para leste e virar os olhos em direção a Hélio, o Sol, no local onde este se ergue do oceano. Orion iniciou então uma epopeia e Hélio restituiu-lhe a visão. Entretando Eos, a aurora, apaixonou-se pelo gigante e foi correspondida. Ainda hoje continua a enrubescer com a recordação dessa paixão, o que explica a cor do céu ao amanhecer. Mas decidido a vingar-se de Enópion, pai de Mérope, persegue-os até Creta onde encontra Artemis, a deusa da caça, que o convence a desistir da vingança e a ficar com ela a caçar em Creta. Apolo, que conhecia a relação que Orion tivera com Eos e receoso que sua irmã Artemis também não resistisse aos seus encantos, vai ter com Geia (deusa da Terra) e conta-lhe que o gigante anda a matar os animais da Terra. Para o castigar Geia manda um escorpião. Este consegue espetar o seu ferrão em Orion, mas Orion, antes de morrer, desfere ao escorpião um golpe de morte. Zeus ao ver a injustiça que tinha sido cometida eleva os dois ao céu e põe um de cada lado. Orion e Escorpião (constelação do zodíaco) são dois inimigos mortais e nunca se encontram no céu. Quando observamos um não conseguimos observar o outro. Já os Sumérios, ao olhar o céu, viam na constelação o seu herói Gilgamesh, um gigante com peripécias parecidas com as de Orion. Mas não se distraiam com todas estas observações, é que a Terra rodopia no sentido contrário aos ponteiros do relógio a uma velocidade de aproximadamente 250 m/s (à nossa latitude) e as estrelas desaparecem sob a linha do horizonte à mesma velocidade. Rapidamente a constelação de Orion desaparecerá. Resta o consolo de haver outras constelações igualmente interessantes para observar e a possibilidade de poder voltar a ver Orion no dia seguinte.