Revista CREATIVE Typography

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Este DVD contém: 1. Revista em PDF 2. Apresentação de Dino dos Santos 3. Entrevista em Vídeo

Este trabalho foi produzido e realizado pelo grupo de Tipografia constituído por: Mariana Teixeira : 41885 Roberto Ramos : 42477


dino dos santos

// introdução Uma breve apresentação de Dino dos Santos e da sua carreira até à actualidade... // entrevista Um exclusivo do type designer português, Dino dos Santos para a CREATIVE TYPOGRAPHY. // fontes A partir desta página mostramos o catálogo de fontes de Dino dos Santos até aos dias de hoje.

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tipografia // índice // editorial

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// editorial Nota de um dos autores relativo ao trabalho desenvolvido neste projecto.

Ficha Técnica «02 03»

TEXTO & ENTREVISTA Mariana

Teixeira DESIGN & FOTOGRAFIA Roberto Ramos

FOTO / MONTAGEM CAPA Roberto Ramos LOGÓTIPO DSTYPE / TIPOGRAFIA USADA NO TRABALHO Dino EZZO LIGHT // EZZO BLACK // LEITURA SANS GROT-1 // LEITURA SANS GROT-4 // ESTA PRO www.dstype.com

dos Santos (DSTYPE)


DSType de qualidade tipográfica

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oi numa sexta-feira que a CREATIVE TYPOGRAPHY se deslocou ESAD pra conhecer Dino dos Santos em pessoa, um verdadeiro type designer português, que amavelmente aceitou falar connosco sobre o seu trabalho e opinar sobre a realidade da tipografia em si, sobretudo em Portugal. O interesse neste tema foi intenso, devido ao facto de ser um desafio podermos realizar um trabalho deste tipo e qualidade, e sobretudo aproveitarmos o facto de conversarmos frente-a-frente sobre a tipografia. Através da sua entrevista pudémos ouvir a opinião de um dos mais conceituados e prestigiados type designers a nível internacional, opinião esta que nos ajudou a compreender o que é ser um tipógrafo, as questões que surgem nele, as suas preocupações, o tempo dispendido para a criação das suas fontes... «um ano para se fazer um trabalho tipográfico em condições com famílias de fontes completas, com ligaturas, etc...» revelou-nos Dino dos Santos, no entanto afirma que se «pode criar em dois meses também, mas é algo muito simples». Não é fácil a vida de typeface designer, mas o mérito de se ser distinguido pelo trabalho desenvolvido compensa essa dificuldade. A equipa não quer deixar de agradecer a disponibilidade do nosso entrevistado, Dino dos Santos, quer a nível de entrevista, quer a nível de fornecimento de material de forma a podermos realizar um trabalho como este. É sempre gratificante podermo-nos relacionar com alguém experiente em tipografia e sobretudo reconhecido internacionalmente. // Roberto Ramos


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Sobre o Type designer...

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tipografia // introdução

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ino dos Santos nasceu em 1971, na cidade do Porto. Licenciou-se em Design de Comunicação pela Escola Superior de Artes e Design (ESAD), Matosinhos, em 1994. Obteve o seu Mestre em Arte Multimédia com uma dissertação sobre tipografi fiaa digital em ambientes multimédia no ano de 2002 pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Actualmente lecciona a disciplina de Estudos de Tipografi fiaa na ESAD - Matosinhos. Possui trabalho tipográfi ficco publicado em diversas revistas nacionais e internacionais, com destaque para a Computer Arts (UK), Creative Review (UK), Publish (PT), Page (DE), Page (PT) entre outras. O seu trabalho encontra-se referenciado no Klinspor Museum de Offenbach na Alemanha e em diversas publicações relacionadas com tipografi fiaa e design. Desenhou algumas tipogr afi fiaas que se notabilizar am: ANDRADE (vencedora do Creative Review Type Design Award, para o melhor revival tipográfi ficco); ESTA (Best Serif Font of 2005 para o MyFonts e Favourite Fonts of 2006 para o Typographica.org); ESTILO (Favourite Fonts of 2006 para o Typographica.org); ESTILO SCR IPT (B est Retro Font of 2006 para o MyFonts); NER VA (Notable Releases of 2005 para o Typographica.org) e VENTURA, premiada com o Certifi ficcate of Excellence in Type Design pelo Type Director s Club of New Yor k em 2008. Participou na ATypI Lisbon 2006 com uma conferência sobre caligrafi fiaa portuguesa. É membro do Type Directors Club e da ATypI - Association Typographique Internationale. Contribui regularmente em confer ências, seminários e workshops. Fundou a DSTYPE Foundry em 1994, projecto que continua a dirigir (www.dstype.com).



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Dino dos Santos: referência internacional

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tipografia // entrevista

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CREATIVE TYPOGRAPHY foi à ESAD, ao encontro do nosso entre-

vistado, Dino dos Santos, que logo após a uma conferência de Daniel Eatock, aceitou falar-nos sobre si e a actualidade tipográfica... Em 1994, quando terminou a sua licenciatura em Design de Comunicação Visual, sentiu a necessidade de criar os seus próprios tipos de letra pois havia pouca oferta. Que pensa da oferta de hoje? A relação entre quantidade e qualidade é proporcional? Não faço ideia! Nós hoje temos uma certa mágoa quando falamos na quantidade, como se a quantidade fosse, por si só, uma coisa má… E não é! É evidente que existem muitas coisas más, existem coisas menos boas e existem muitas coisas boas. O problema é que quando existia pouca oferta, os designers gráficos estavam, por assim dizer, um pouco a salvo de cometerem erros. Porquê? Porque como a oferta era pouca, geralmente era concentrada e ela era bastante boa, de facto, mas definitivamente também acho que o trabalho dos designers gráficos não se distinguia por aí além. Hoje, com a quantidade de oferta que existe, é evidente que se nós pensarmos bem, existem muitos tipos de letra, mas eu tenho ideia que isto, por si só não é, digamos assim, um problema. É um pouco como nós irmos a uma garrafeira que tenha cinco mil garrafas de vinho e nós termos de escolher uma para o jantar. Se não percebermos nada de vinho podemos optar por escolher a mais barata ou a mais cara, o que não significa que sejam melhor do que uma de preço intermédio. Se nós percebermos bastante daquilo, nós vamos fazer uma escolha dedicada àquilo que vai ser, por exemplo, o jantar, as pessoas que vão jantar a casa, ... e a nossa



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percepção modifica-se. Passa-se exactamente o mesmo com as fontes! Se nós conhecermos muito bem o cliente, o propósito do trabalho, torna-se muito mais fácil fazermos a escolha tipográfica desse trabalho, e não nos sentimos minimamente afectados pelo facto de existirem muitas fontes. Existirem muitas fontes, é necessariamente uma coisa boa. Agora, que tenha surgido rapidamente um elevado número de fontes e não tenha surgido com a mesma velocidade uma capacidade dos designers para escolherem bem

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O problema não é das fontes em si, é de quem ainda está a definir as suas capacidades e as capacidades para escolher os tipos de letra...

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fontes, aí estamos a falar de facto de um problema. O problema não é das fontes em si, é definitivamente de quem ainda está a definir as suas capacidades e as capacidades para escolher os tipos de letra. Poderia ser mais confortável para mim dizer que, de facto, existem muitos tipos de letra, que havia algumas pessoas que deviam parar de desenhar letras, mas isso poderia ser visto como uma tentativa de aniquilar qualquer tipo de concorrência, ou então estar simultaneamente a dizer mal de mim. Há muita gente que considera que provavelmente não tenho um bom trabalho. Até eu, de vez em quando... Desde cedo se interessou por tipografia e pelas possibilidades que o texto oferecia. Considera que há um menosprezo desse poder? A tipografia tem sido explorada e potenciada,


ou é usada com poucos critérios? Eu acho que o que acontece é que a tipografia, de facto, é extremamente importante. Na minha opinião, consegue fazer toda a diferença num trabalho gráfico. De facto, o grande interesse contemporâneo é na imagem, de preferência na imagem do movimento, ou seja, na capacidade da incorporação da imagem, no som, no movimento, da animação, no vídeo, etc, nos quais a tipografia é muitas vezes relegada para um plano absolutamente secundário, quase como legenda. Isso, se calhar, faz parte de uma condição pós-pós-moderna, em que não sabemos muito bem o que devemos fazer. Tenho a ideia de que a tipografia é definitivamente algo de muito importante. Afirmou numa entrevista que “em Portugal continuamos a conseguir sentar todos os designers tipográficos numa pequena mesa de café”, mas que a qualidade do trabalho nacional é elevada. As novas gerações estão mais despertas para a tipografia? Vamos começar por fazer uma distinção. Os ingleses fazem essa distinção muito bem e para nós é mais complicado. Os ingleses fazem a distinção entre o typographer e o type designer. O typographer é, no fundo, aquele que utiliza primordialmente fontes para desenvolver o seu trabalho gráfico, o type designer é aquele que desenha fontes. Aqui em Portugal o que é que acontece? Acontece que muitas


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Eu tenho a ideia que não há um único type designer português que esteja a pensar no mercado português. Nem quer saber!

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das vezes as disciplinas que começam a existir agora e cujo o nome é qualquer coisa como Tipografia, são vocacionadas muito mais para uma componente mais teórica, mas não para uma componente de projecto, de facto, tipográfico, ou seja, de desenvolvimento de tipos de letra e nesse sentido, nós continuamos a conseguir sentar os type designers numa mesa de um café. Eu recordo-me que na semana passada estive em Lisboa com alguns type designers e já não disse isso porque estávamos lá três! Eu, francamente, a trabalhar profissionalmente, conheço três. Estávamos lá três, eu inclusive, e se caísse uma bomba três quartos dos type designers portugueses faleciam instantaneamente. Eu tenho a ideia que não há um único type designer português que esteja a pensar no mercado português. Nem quer saber! O mercado português é mais um! Hoje, paradoxalmente, o mundo abriu-se de uma forma extremamente ampla perante os nossos olhos, voltando a implodir sobre si mesmo, unificando muito mais as pessoas dessas diversas localizações. Há aqui uma dicotomia entre aquilo que é o psicológico e o geográfico. Continua a ter o mesmo tamanho que tinha há 100 anos atrás; hoje parece muito mais contido. Isto significa que quando estou a desenhar um tipo de letra, estou a pensar naquilo que eu poderia querer utilizar enquanto designer se tivesse alguma vez de comprar o meu trabalho. No fundo, podemos dizer que é um trabalho um bocado umbilical porque trabalho dentro de um espaço muito contido,



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muito fechado. Por outro lado, julgo que o facto de conseguir pegar numa trindade psicológica e cultural que eu acho bastante interessante que é: como que eu pego numa informação e essa informação é completamente globalizada e a trago para o meu espaço? Como é que eu pego nessa informação e a filtro? Nós trazemos isto do global para o local, e no local podemos trabalhar as coisas de uma outra forma. Quando fazemos isso, é a nossa capacidade, a nossa sabedoria – que aí já não se prende com o global nem com o local, mas sim com o pessoal, ou seja, é aquilo que eu consigo atribuir ao meu próprio trabalho, num determinado momento, dentro de um contexto. Nesse sentido, julgo que, de facto, o type designer português não fica nada atrás daquilo que se faz por esse mundo fora. Acho que há coisas muito interessantes feitas cá em Portugal que poderiam ser feitas num país qualquer, exactamente pela capacidade de juntar esses diversos universos.

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Pode-se falar numa identidade portuguesa? Falar de uma identidade portuguesa é estar a ser um bocadinho optimista porque estamos a falar de uma certa identidade portuguesa no que concerne ao type designer ou à tipografia. Os portugueses, de facto, nunca foram um povo de ficar fechado sobre si próprio, mas também nunca foi um povo capaz de subjugar pela força os outros povos – daí se calhar vem a expressão “português suave”. Temos essa capacidade de trocar, de mestiçagem, de misturar uma série de coisas. Por um lado é bom, porque abre um conjunto de perspectivas, por outro lado poderá ser visto como algo pernicioso no sentido em que o que era estritamente cultural e estritamente português foi levado para outros sítios e foi


adocicado. Se calhar é esse o carácter português, ou se calhar poderíamos arranjar outra expressão sem ser identidade. O processo de revitalização da tipografia portuguesa é um elemento fundamental no seu trabalho. Acha que se valoriza pouco a produção nacional, que não exploramos devidamente os nossos recursos? Acho! Acho que de facto nós não temos uma consciência exacta. Primeiro, uma grande lacuna que tem a ver com o ensino, depois, uma outra grande lacuna que tem a ver com os instrumentos que existem para investigação, aos quais eles se tornam completamente inacessíveis e nesse sentido eu julgo que as coisas se fazem muito mais pelo esforço particular. O investimento que eu faço em livros – fundamentalmente em livros impressos por tipógrafos portugueses ou desenhados por calígrafos portugueses dos séculos XVI, XVII, etc – é extremamente relevante para a minha própria análise do que é a tipografia. Não é fácil de ela ser feita porque isso implica um enorme investimento financeiro do qual não sabemos se vamos ter retorno. Estamos a falar de coisas que têm necessariamente de possuir uma grande cultura daquilo que é a História de Portugal que é outro dos grandes problemas. Há elementos estruturais da História de Portugal que nos passam completamente ao lado. No meu trabalho eu sinto isso! É extremamente necessário perceber bem quais são as raízes de alguns elementos, mas não tenho a certeza se consegui ou se irei conseguir, mas julgo que é possível fazer. Se com um trabalho meu eu conseguir levar o nome de um calígrafo português do século XIX, como por exemplo, o Ventura da Silva, e trazê-lo a lume e poder ser utilizado


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por uma série de outros designers, para mim é extremamente interessante e importante. Se vocês fizessem uma busca no Google antes de Setembro de 2006 sobre o Ventura da Silva, provavelmente teriam dois ou três resultados se, eventualmente, houvesse alguma coisa do Ventura da Silva a ser vendido num qualquer livreiro antigo. Hoje já conseguimos ter duzentos e tal resultados. Não são muitos, mas são alguma coisa. Isto significa que, pelo menos, em algum momento se começou a perceber – e também se calhar porque os type designers estão um bocadinho na moda – e começou a existir alguma procura. Trazer o Ventura para a conversa, podermos começar falar e quando começarmos a falar sobre a história da tipografia ou da caligrafia numa qualquer universidade, poder haver um aluno que em vez de ter a necessidade de fazer a recolha sistemática nesses livros caríssimos e raros de encontrar, poder recolher a informação sobre, por exemplo, o Ventura da Silva através de uma busca no Google, nesse sentido é extremamente importante. Essa falta de cultura sobre o nosso passado parte também daquela noção de que o que é português é mau? Eu acho que não. Acho que não é por aí. Acho que é mesmo por ignorância, sem sentido ofensivo. As pessoas ignoram! Não conhecem o Ventura da Silva, não conhecem o Andrade de Figueiredo, não conhecem outros grandes calígrafos! Não lhes interessa! Pura e simplesmente não têm interesse. Existe um certo sebastianismo latente no ponto de vista da análise histórica. Ainda estamos muito interessados em saber se afinal o D. Sebastião se perdeu no nevoeiro. Acho que são coisas que não acrescentam rigorosamente


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nada à História de Portugal, e depois perde-se tempo de debate para aquilo que é importante. Depois tem a ver com a própria investigação científica, ou seja, a investigação científica que se faz em Portugal está extremamente confinada. Ninguém quer dizer nada a ninguém! Quem estiver a fazer um doutoramento numa determinada área sobre um determinado autor, o mais certo é ocultar essa informação, até que a sua dissertação seja finalmente publicada. Não existe intercâmbio de informação, não existe esta capacidade como há nos EUA. Aqui existe pouco essa tentativa e não

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Ninguém quer dizer nada a ninguém!

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tem a ver com aquilo que é nosso não é bom, de facto desconhecemos o que é nosso. Quando fazemos uma viagem a outro país, fotografamos tudo e mais alguma coisa e provavelmente moramos em sítios onde existem letterings maravilhosos, mas os quais nunca olhámos porque passamos por lá todos os dias. Nós deixamo-nos fascinar por muito poucas das coisas que vemos. Penso que isso em dez anos não é muito mau, em oito séculos é terrível. Fontes como “Esta”, “Nerva” e “Andrade” foram alvo de críticas muito positivas e receberam prémios a nível internacional. Como se sente ao ver o seu trabalho distinguido? Eu estaria a mentir se dissesse que faço o meu trabalho para não ser distinguido. Eu faço o meu trabalho para ser distin-


guido não como prémio, mas para ser distinguido dos outros trabalhos que estão a ser feitos. Dá-me algum gozo ver que outras pessoas acharam exactamente o mesmo do que eu e sinto-me bem por perceber que em determinado momento posso ter estado no bom caminho, mas isso não significa que isso dure para sempre, nem nada que se pareça. Mas é bom, é claro! Como nasceu o projecto DSType? Eu acabei o curso em 1994 e tenho a ideia que, não querendo fugir à verdade, DSType era de uma assinatura que eu usava em 93. O problema é que na altura existiam mesmo muito poucas tipografias e não tínhamos acesso a nada. Quando surgia uma tipografia diferente no mercado pirata, como é lógico, era uma excitação! A tecnologia informática não era uma coisa que estivesse assim ao alcance de todos. Em 94 eu comecei a desenhar um conjunto de tipos de letra dos quais, vamos lá ver, eu não tenho exactamente vergonha, mas são uns tipos de letra muito bem contextualizados no seu tempo. Portanto, têm algumas tendências grunge e a mim interessava-me mais a destruição dos tipos de letra do que propriamente a construção dos tipos de letra. Hoje interessa-me muito mais a construção. Depois foi um projecto que foi progredindo muito lentamente e muito pela calada. Ninguém sabia o que eu estava a fazer. Julgo que até 2001 ninguém fazia a mínima ideia do que eu estava a fazer. Eu também não fazia ideia, porque definitivamente era um trabalho sem rentabilidade, ele não estava à venda, não estava publicado, mas depois com a Internet e com o facto de eu ter decidido dar uma grande volta nas coisas que fazia, portanto, ter definitivamente abdicado do design gráfico em


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prol de única e exclusivamente desenhar tipos de letra. Em 2003 comecei a desenhar as coisas de uma forma mais séria, ainda assim reformulando alguns tipos desde 94. Em 2004, dez anos depois de ter surgido a ideia, decidi colocar os meus primeiros tipos à venda, esperando que ninguém comprasse. Foi interessante verificar que na primeira semana consegui vender algumas coisas e uma das minhas interrogações foi: “porque é que me estão a comprar tipos de letra quando há pessoas tão boas a desenhar tipos de letra? Porquê os meus?” E foi assim. Continuei a desenhar e hoje só faço isso. Dá-me imenso prazer!

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O DSType abriu-lhe novas perspectivas porque saiu do espaço português e teve comunicação com outras áreas? Há um feedback ou é tudo numa base apenas comercial? Há muito feedback e é fundamental porque hoje nós vivemos num mundo muito aberto, mas muito próximo. Significa que eu numa semana posso vender licenças de tipos de letra para a África do Sul, Barbados, Brasil, EUA, Canadá, França, Inglaterra, Alemanha, Índia, Rússia e China. No fundo, estamos a falar de tipos de letra que não sei como, conseguem fazer a gestão dessa diversidade de sensibilidades. Por outro lado, em algumas situações, eu recebo muito feedback. Os ingleses têm duas expressões: os clients e os costumers. O costumer é qualquer coisa que também ajuda a construir parte do próprio trabalho. Eu gosto de ver os meus clientes


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como os meus costumers, porque muitas das vezes eu faço um trabalho e tenho uma ideia muito concreta onde é que aquele trabalho vai ser utilizado. Nesse sentido, eu posso negligenciar alguns aspectos desse trabalho. O trabalho não é todo perfeitinho, mas por exemplo, um asterisco: faz sentido haver um bold num asterisco? E quando alguém compra a fonte e quer utilizá-la como logótipo?... e depois não bate certo com o lettering porque o escolheu em black, e o asterisco não tem o peso suficiente para se comportar ali... Aí, é preciso voltar ao esquema e perceber que se calhar o ideal é fazer tudo o mais rigoroso possível. Quem fala do asterisco, pode falar dos símbolos matemáticos… Para mim também não têm significado nenhum, e não faz sentido terem diversos pesos. Por outro lado, recebo e-mails de pessoas que compraram tipos de letra e estão de visita ao Porto e querem falar comigo e mostrar os trabalhos que fizeram com os tipos de letra. Acho interessante gerarem-se essas coisas e é salutar. Há outro aspecto: agora com os tipos de letra OpenType, desenvolvemos tipos de letra com muitos, mas muitos acentos. Nós temos a capacidade de olhar para um C de cedilha e se ele tiver uma vírgula por baixo, continuamos a lê-lo como cedilha, mas para os polacos já não pode ser. Nesse sentido, as coisas tornam-se mais interessantes. Trazemos para cá uma série de conhecimentos e fornecemos também outros conhecimentos... Ao criar uma fonte qual é o seu ponto de partida? Segue algum esquema ou consoante a fonte assim o processo se vai formando? Antes de desenhar qualquer tipo de letra, determino uma utilização para esse tipo de letra. Quando são criadas, são


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criadas com um objectivo muito bem definido porque é a única forma que tenho de balizar a minha área de acção, ou seja, vou determinar muito bem como é que o tipo de letra vai ser construído porque sei quais as necessidades que vão ser criadas. Ora bem, estou a desenhar um tipo de letra para um livro que vai ter uma versão regular, itálica e bold. Não tem bold itálico e porquê? Porque é uma coisa para livro. Se algum designer projectar um livro e decidir utilizar um bold itálico, ele está errado, mas pode fazê-lo! Não há nenhuma

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Quando são criadas, são criadas com um objectivo muito bem definido porque é a única forma que tenho de balizar a minha área de acção...

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lei que proíba os designers de utilizar um bold itálico num livro. A única lei que o proíbe é que se ele quiser fazê-lo com a minha fonte, não pode! Vai ter de escolher uma outra fonte. Aquilo que eu faço é: vou analisar os livros impressos desde 1495 até 1650. Vou balizar muito bem a minha acção. Porquê? Porque posso definir que necessito de um tipo de letra que esteja inserido num contexto muito mais barroco. Não me interessa muito os tipos de letra que são desenvolvidos na segunda metade do século XVII. Interessa-me mais do século XVI, nomeadamente os tipos de letra do Garamond. A minha tentativa de compreensão é feita a partir da análise de observação de tipos de letra de livros, de modos de paginar e tentar perceber porque nunca existiria uma Garamond bold itálico! Quando é para fazer alguma referência, o itálico chega para se distinguir das outras letras pela sua


grande inclinação e depois ainda existem os small caps que também permitem fazer alguma distinção dentro do texto, portanto, o bold, digamos assim, é uma distinção que grita demasiadamente. É como fazer duas vezes a mesma distinção e isso sai do tom. Nos jornais, o bold itálico fica bem, mas num livro é diferente. Nós, por exemplo, vamos à FNAC ou Bertrand e em Portugal são publicados por dia, salvo erro, 26 livros. Isso


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é muito livro! Sempre achei curioso que os designers gostam muito de fazer livros, mas só fazem a capa, porque o miolo é um paginador que faz e depois é em qualquer tipo de letra!... Desde que seja uma Garamond, uma Bembo... um tipo de letra completamente normal! Eu não consigo trabalhar assim. Não consigo trabalhar se não tiver o controle total das coisas. Vão-me dizer: “ah, mas assim não se consegue fazer 26 livros por dia!”. E eu respondia: “mas será que é necessário 26 livros por dia?!”. Eliminavam-se uma série de porcarias e ficava-se com os livros muito mais bem paginados, sem grandes viúvas, sem rios, sem indentações completamente despropositadas, ... Cumprir-se-iam todas as regras que são as regras das boas maneiras quando se compõe um livro. Estes são alguns dos aspectos que me ajudam a compreender como é que o meu trabalho vai ser feito. Estou a falar para estes, mas para outros trabalhos as coisas são feitas de forma diferente. Tem muito mais a ver com economia de espaço; este tipo de letra para livro importa muito pouco relativamente a economia de espaço, mas um tipo de letra para jornal já interessa em economia de espaço. Interessa-me perceber se eu consigo fazer um tipo de letra que seja suficientemente compacto e ainda assim extremamente legível para conseguir meter num menor espaço físico a mesma quantidade de texto, permitindo aos designers gráficos uma maior liberdade, uma vez que sobra mais espaço branco, portanto, conseguir articular as imagens de uma forma completamente diferente. Isto interessame, de facto, mas tem a ver com cada trabalho é um caso e é por isso que muitas das vezes tra-


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balho duas, três, quatro tipos de letra em simultâneo, para que não seja cansativo. É um trabalho maçador e muito demorado e esse é um dos grandes problemas.

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Ocorre-lhe com frequência ver as suas fontes usadas de uma forma pouco correcta ou que não é a indicada? Não queria muito entrar por aí... Também já vi muitas vezes tipos de letra que são meus que estão a ser utilizados maravilhosamente! Fico, de vez em quando, algo surpreso por ver alguns dos meus tipos de letra utilizados em alguns locais. São escolhas… Não é grave...

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Que trabalho tipográfico realizado por si considera que o representa melhor enquanto type designer? Eu tento ter uma livraria tipográfica bastante vasta. Estamos a falar de um negócio e tenho de ter muito respeito por esse negócio, pois é ele que me ajuda a viver. Por outro lado, tenho de ter muito respeito pelo trabalho que eu faço e pelas coisas que eu gosto de fazer e que eu gostava de ter feito ou gosto de pensar em fazê-las. Por mais paradoxal que possa parecer, aquele trabalho que eu acho que tem mais a ver comigo, é um trabalho que é um revival de um trabalho de um calígrafo português. É paradoxal porque não é meu. Por outro lado, acho que tem muito a ver comigo porque eu gosto muito do período barroco. Acho que o período barroco é extremamente rico. A maior parte das vezes é completamente menosprezado; não é à toa que nós dizemos: isso é muito barroco! Eu adoro o barroco, pois possui uma grande alma. Se calhar, dentro de todos os meus tipos de letra, eu escolheria como sendo um dos mais sui generis a versão script da Andrade que é um revival. Livre, com alguma in-


terpretação pessoal, mas que também respeita muito os originais do Manuel Andrade de Figueiredo. É um tipo de letra com o qual me identifico. Adoro tipos de letra cheios de swaches, cheios de floreado. Sinto-me muito bem a fazer esse género de coisas, apesar de não ser grande adepto do design gráfico com essas características. Enfim… é estranho… A tipografia, como todos os elementos presentes numa composição visual, tem sofrido mutações, seguido correntes. Qual é o cenário actual? Está já num nível elevado de maturação, há alguma tendência?... Posso dizer desde já que nos próximos dois anos, os tipos de letra que mais vão andar por aí a ser vistos é a Avant Garde, fundamentalmente a Avant Garde Pro nas versões mais fininhas. O que está a dar agora é o extra light e depois slab serifs, todos os tipos de letra com slab serifs, toda a gente os quer. Há uma certa falta de lógica como os trabalhos são feitos, mas é por aí como as coisas vão. Vamos viver um ano e meio a dois anos à base de slab serifs. Já começou na Inglaterra e deve estar a chegar a Portugal. Muito finas, muito rigorosas, muito geométricas... Tenta manter-se à margem dessas correntes ou acaba por ser influenciado? Eu sou um observador atento do fenómeno tipográfico. Não me mantenho à margem; tento perceber esse fenómeno. Por outro lado, não me obrigo a mim mesmo a desenhar o que quer que seja só para entrar no mercado dos trezentos. Não faço isso e não vou fazer isso! Poderei fazer alguma coisa relativamente semelhante, mas não me estou a ver tão cedo a fazer alguma coisa dentro desse género, até por-


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que tenho trabalho que já tem algumas dessas características e que tem tido até algum sucesso, que é o meu tipo de letra Estilo pelo seu carácter geométrico. Acho que vou dar um passo em frente e fazer um tipo de letra que vai ser utilizado daqui a três anos, porque eu também sei que tipos de letra vão ser utilizados nessa altura. São todos os tipos de letra humanistas, tipo Eric Gill... São coisas que vão funcionar muito bem. Tem a ver com uma cadência lógica: depois de um rigor extremo das Avant Garde, vamos passar para um certo adocicar com um carácter mais humano do Eric Gill. É provável que eu lance daqui a um ano, um ano e meio alguma coisa que possa ter a ver com o trabalho do Eric Gill sob o ponto de vista de espírito e não morfológico. Tem sempre uma visão a médio prazo? Eu tenho trabalho pronto para 2010; já está tudo completamente previsto. Tenho de trabalhar a médio prazo porque são trabalhos que demoram muito tempo. Estou a desenvolver agora um tipo de letra com serifs para o mercado editorial, portanto, fundamentalmente para ser utilizado em jornais e revistas, que contém qualquer coisa como 170 tipos de letra. É uma coisa extremamente grande e estou a ver que só será publicada na segunda metade de 2010, mas espero que possa estar pronto antes. Tenho esquiços, já tenho coisas mais ou menos prontas, mas estou a procurar a tecnologia correcta para desenvolver aquilo tudo, queimando etapas intermédias porque é um trabalho muito moroso. A pirataria de fontes hoje em dia, vai crescendo. Não tem medo que as suas fontes sejam pirateadas? É impossível conseguir evitar a pirataria. Para isso, eu teria


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de estar a desenvolver um sistema muito pouco amigável para todas as outras pessoas que não vão piratear fontes. Vocês para fazerem a aquisição de uma fonte, eu fornecia a fonte com o instalador e aquele instalador só permitia instalar naquele computador. Daqui a um ano, o computador ao fim de um ano berrou, não tem recuperação possível e vocês teriam de estar a me pedir novamente para eu vos fornecer o instalador, coisa que eu não iria fazer, a não ser em troca de dinheiro. Isso era uma das formas de evitar a pirataria, mas mesmo assim, passadas duas semanas, ia haver alguém que ia criar um crack que ia tentar sacar aquilo. Agora, o único receio da pirataria é: primeiro, quem pirateia fontes provavelmente nunca vai usá-las, depois nunca me vai comprar também. Depois, há um outro problema que é: imaginem que eu faço um PDF, pirateiam as fontes pelo PDF e ao extraírem a fonte ela perde uma série de informação. Isso irrita-me porque ainda dizem mal! De resto, medo, medo não tenho da pirataria, mas imagino que uma grande empresa possa ter. Eu sei que pelo menos, há um pacote de 56 fontes que anda por aí na Internet. Eu já vi as suas fontes pirateadas… Eu sei! Também eu já vi e já pirateei as minhas próprias fontes para ver como elas estavam. Para ver se pelo menos, aquilo que estavam a piratear estava em boas condições. Que sentiria um tipógrafo ao ver uma


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fonte parecida à sua? Há muitas! Também faço fontes parecidas com as pessoas. É normal! É difícil estarmos a trabalhar com 26 letras e depois não poder fazer uma coisa que é fazer um C parecido com um W. Aquilo que eu faço geralmente é: informo-me muito bem. A minha biblioteca tem muitos livros antigos, tem muita informação aos mais diversos níveis. Tinha muitas vezes a mania de ir para sítios onde pudesse fazer a recolha de fontes e fiz isso em diversos sítios. Onde podia recolher letras, ia passar férias. Para compreender bem como as coisas são feitas. As fontes podem ser parecidas, mas também quanto mais conhecesses, mais informação visual tu tens sobre o que está a ser feito e o que já foi feito. Tenho uma pasta no meu computador que diz: “fontes interessantes”. São todas as fontes que eu acho que são super interessantes e quando estou a trabalhar poderei fazer alguma coisa que pode ter a ver com aquilo que está ali, então a primeira coisa que eu faço é verificar se está ou não. Outra das vezes, também posso mandar um e-mail a um gajo e lhe dizer que estou a fazer uma coisa, mas que há duas letras que estão parecidas com as dele e pergunto-lhe a opinião. Se ele não acha… Trocamos muitas vezes informação. Usa algum software especial para a criação das fontes? Uso. O FontLab Studio. E qual é o formato e o tipo de fonte que costuma converter? OTF ou TTF. Cada uma das minhas fontes por média têm sempre 870 caracteres e demora sempre muito tempo.


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Nas seguintes páginas apresentamos o leque de fontes que Dino dos Santos criou até aos dias de hoje. É de salientar que os seus tipos de letra podem ser encontradas em lojas online de tipografia como: MyFonts, Veer, FontHaus e TheTypeTrust.

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dino dos santos

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Este DVD contém: 1. Revista em PDF 2. Apresentação de Dino dos Santos 3. Entrevista em Vídeo

Este trabalho foi produzido e realizado pelo grupo de Tipografia constituído por: Mariana Teixeira : 41885 Roberto Ramos : 42477




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ai 08/29/06 mk


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