José Jorge Letria
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Paula Amaral
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José Jorge Letria
O Grande Continente Azul ilustrações de Paula Amaral
LIVROS HORIZONTE
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LIVROS HORIZONTE — 1985
Piano Gráfico: Estúdios Horizonte Montagem j Impressão j Acabamento: ALTAGRÃFICA-Mafra Novembro de 1985 Reservados todos os direitos para a lingua portuguesa
Eu sou a água do mar, a água de todos os mares, a água azul, verde ou cinzenta que liga os continentes, as ilhas, as línguas de terra onde o trigo cresce, onde os pássaros fazem ninho, onde as cidades despertam, onde as mãos amassam o pão, onde as plantas e as pedras se casam em manhãs de sol quando chega a Primavera.
Por cima da minha cabeça está o céu e quem diz o céu diz a noite e o dia, diz a manhã e a tarde, o lençol de nuvens que guarda a chuva, o vento e a geada.
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Sou habitada pelos peixes, que são os meus melhores amigos, os pequenos cavaleiros das ondas que viajam comigo até às praias, até às baías e voltam comigo para o fundo, enfeitados de algas e corais. Gosto dos peixes e eles gostam de mim como só os peixes sabem gostar, batendo as pequenas barbatanas quando estão contentes, quando querem que se saiba que estão felizes.
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Eu sou a agua do mar, a ĂĄgua de todos os mares, dos oceanos imensos ou dos pequenos mares quietos onde o sal ĂŠ tanto que faz arder os olhos sĂł de olharmos para eles.
Tenho alimento bastante para dar de comer a todos os meus filhos e também aos filhos da terra, às bocas que pedem mais pão. Habita em mim a riqueza: o ouro, o petróleo, o carvão. Por isso me cobiçam, me furam o corpo à procura de novas riquezas. Não quero para mim aquilo que as minhas águas escondem e protegem. Mas só darei ao homem aquilo que o homem souber usar, trabalhar, melhorar. Não quero o ouro para me adornar, o petróleo para me mover, o carvão para me aquecer. A minha riqueza é de todos, mas é preciso que saibam merecê-la, aumentá-la, amá-la.
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Há quem me chame grande continente azul e eu gosto deste nome, porque é bonito e porque gosto do azul que é a minha cor preferida. Azul de água e de vento de brisa e de espuma; azul do céu de junho reflectido nas escamas de prata dos peixes voadores.
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Gosto de ser continente, mas continente de água, o maior de todos, o mais fundo e secreto. Gosto das estrelas do mar, dos búzios e das conchas e tenho uma guarda de cavalos marinhos que me acompanha para onde quer que eu vá. S3333A
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333335SD É no meu rosto de água que as estrelas e os astros se vêem ao espelho, se miram e embelezam. É no meu rosto de espuma que as crianças constróem castelos de sonho e areia. E como eu gosto das crianças! Queria ser um grande, um enorme jardim verde para elas poderem brincar abrigadas de todas as tempestades.
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Se às vezes me zango e me torno temporal, acreditem que não é por mal É só porque não gosto que me sujem as águas com óleo de navios, que me estraguem o sono com ruídos de motores, que me manchem o azul com lixo e nafta.
Sou irmã dos ventos, dos astros e das estações, das quatro estações que o ano tem, dos doze meses em que elas se repartem. E digo: o que é meu também é vosso. Se estiverem comigo estarei convosco: com os pescadores, com os navegadores solitários, com os astros e as auroras boreais. Eu sou a água do mar, a água de todos os mares, de todos os oceanos, do Atlântico, do Índico, do Pacífico. Sou casa, celeiro, refúgio. Todos os dias aprendo novas coisas que vale a pena aprender: nomes de plantas, de rios, de cidades.
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Quero ter a cor do sonho, o cheiro da maresia e do peixe fresco. É em mim que começa o azul e também a viagem do sol à superfície das águas. A viagem dos homens à descoberta.
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PRÉMIO
"O Ambiente na Literatura Infantil" -1983
Colecção PÁSSARO LIVRE