Uma pesquisa da Organização Internacional ACTIONAID (2016), durante a campanha Cidades Seguras para as Mulheres, mostra que o Brasil lidera o assédio de mulheres em espaço público, trazendo dados que 86% das mulheres brasileiras ouvidas durante a pesquisa já sofreram assédio em público. Além de que 70% das mulheres têm medo de assédio ao caminhar nas ruas brasileiras, assédios esses que são sofridos de diversas maneiras, como foi ilustrado na Figura 4. Sendo assim, é crescente a segregação dos espaços urbanísticos, onde existe a posse visual de espaços públicos predominantemente masculinos, como praças, bares e construções, havendo o medo como indivíduo comum durante o ir e vir das mulheres nas cidades, justamente por vivermos em cidades sobretudo pensadas por e para homens, brancos da classe média alta, onde são privilegiados. A arquiteta e urbanista Cândida Zigoni declara que: É possível afirmar que a mulher se encontra dentro de um espectro observador, mas também de sujeito que sofre as consequências das decisões do poder público na construção de cidade, esse, majoritariamente composto por homens. Portanto, a posição desse espectro sugere a percepção das mulheres como uma ferramenta de análise urbana (ZIGONI, 2017, p. 12).
Lima (2020), acredita que na medida em que se dá ao homem o posto de superioridade, automaticamente é imposto um caráter passivo e afetivo, e para que essa dominação dos homens sob as mulheres seja arruinada, é necessária a alteração da relação da posição cultural dos homens. a Arquiteta e Urbanista Terezinha de Oliveira Gonzaga (2011) reforça está ideia, ao afirmar que: Para ocorrer mudanças, é necessário que as mulheres cheguem em todos esses espaços, já que são as mais prejudicadas em relação ao espaço público e político. Onde a visão machista/patriarcal forma os componentes da sociedade que compõem os partidos que direcionam as políticas públicas. Ao ressignificar esses lugares e paradigma, as alterações intraurbanas, podem ser mais alcançadas nas questões da mulher. (GONZAGA, 2011)
Segundo Melo (2017), “a mulher é cidadã plena do ponto de vista legal e formal, porém, sob a perspectiva da sua condição na sociedade, pode-se dizer que ela ainda é uma cidadã de “segunda classe”. O direito de ir e vir é dado, mas, na vivência do urbano, não ocorre de maneira fluida e afetiva”, dito isso, Peccini (2016) fortifica que, “a insegurança no espaço público é um tema que toca a todas as pessoas que vivem a cidade, mas é extremamente importante considerar que há perigos e medos vividos exclusivamente ou mais intensamente pelas mulheres.”