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2.4.2 – Castro Alves
Sabemos que as diferenças raciaisainda permanecem muito acentuadas no Brasil. Por outro lado, devemos ponderar quanto ao fato de o tempo do carnaval, o da escrita e o do desfile ser um outro que projeta expectativas em momentos festivos. O “valor profundo” talvez seja o desejo de superar todas as mazelas do passado ainda presentes naquele presente. E só poderiam fazê-lo em um momento único e especial, na festa do povo, na festa da liberdade. Nesse sentido, é imprescindível destacarmos que a memória é instrumento indispensável para a significação dos enredos. Memória em que está vinculado o sentido na passagem do tempo; “orientação em mão dupla, do passado para o futuro, de trás para frente, por assim dizer, segundo a flecha do tempo da mudança, mas também do futuro para o passado, segundo o movimento inverso de trânsito da expectativa à lembrança, através do presente vivo”. (RICŒUR, 2012, p. 108)
2.4.2 – CASTRO ALVES
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Foi com seu Navio Negreiro que a Salgueiro, em 1957, homenageou o poeta Antônio Frederico de Castro Alves, o “altruísta e defensor tenaz da gente de cor”15. Aqui, há o reconhecimento da escrita do poeta dos escravos, principalmente no que diz respeito a sua voz contrária à escravidão. Semelhante ao “Navio Negreiro” do poeta baiano, esta canção denuncia a situação pela qual se encontravam os escravizados durante o período em que vigorava aquele regime “negros abandonados e acorrentados/ em cativeiro no porão da embarcação/com a alma em farrapo de tanto maltrato/vinham para a escravidão16” sugerindo que antes aqueles homens eram livres. Vejamos outro trecho da canção:
15 Antônio Cândido de Mello e Souza, em Formação da literatura brasileira, momentos decisivos, afirma que Castro Alves “logrou uma visão larga e humana do escravo, que não é para ele apenas caso imediato a ser solucionado, mas símbolo de uma problemática permanente, termo e episódio do velho drama da alienação do homem, que ele sente, como bom romântico, em termos da luta perpétua entre o bem e o mal.” (CÂNDIDO, 1969, p. 269-270) 16 O poema O Navio Negreiro foi escrito por volta de 1865, em uma época de efervescência dos ideais abolicionistas. Castro Alves contava 21 anos de idade e estava engajado naquela campanha. Com o subtítulo de “Tragédia no mar”, o poema foi concluído em São Paulo, em 1868 e declamado no dia 07 de setembro daquele ano, durante sessão comemorativa da Independência do país, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Vejamos o diálogo intertextual do samba enredo da Salgueiro com o referido poema: “Era um sonho dantesco... o tombadilho/ Que das luzernas avermelha o brilho/ Em sangue a se banhar. / Tinir de ferros... estalar do açoite.../Legiões de homens negros como a noite, / Horrendos a dançar...” (ALVES, 1996, p.)