4 minute read

4.12.2 – Zumbi e Outros Referentes Negros

2003 – Mocidade Independente de Inhaúma: Ilê Saim à nação malê: “Glórias à princesa que, afinal, assinou a redenção/ Sou livre, sou negro, sou raiz/ Nessa folia sou um rei, sou feliz/ Nas asas da liberdade/ Vou voar com a mocidade”. (Anexo 140) Assim percebemos que nos anos subsequentes ao centenário da Lei Áurea, 1989, 1991 e 2003, a memória da Princesa Isabel, no que se refere à inscrição da liberdade, permaneceu enaltecida. Há de se considerar, também, que falar sobre ela é falar sobre a memória do Rio de Janeiro e da escravidão. E essa fala, essa escrita, por mais que possam ser questionadoras, com relação à permanência das desigualdades étnicas e raciais, não visam a reduzir o valor da carta assinada pela Princesa. Parece-nos que, para os compositores, ela cumpriu o seu papel, por exemplo, igual a Cabral diante da “descoberta”, Tiradentes, na Inconfidência, Dom Pedro I, no grito da Independência.

4.12.2 – ZUMBI E OUTROS REFERENTES NEGROS

Advertisement

Do mesmo modo que a Princesa Isabel, Zumbi permanecerá como uma referência importante na luta contra a escravidão, especialmente na memória coletiva dos compositores dos sambas-enredos. Abaixo, apresentamos quatro textos a ele aludidos no emprego da palavra liberdade. Nessa perspectiva, também inserimos, no contexto das personalidades negras, Ganga Zumba, Chico Rei, Rainha Ginga (africana de Angola) e Agotime (da Casa das Minas, em São Luís do Maranhão). 2003 – Paraíso da Alvorada: Revoluções e revoltas no Brasil de Palmares: “Enfim, raiou o sol da liberdade/ E assim surge o Quilombo de Palmares/ E Ganga Zumba sucumbiu, surgiu Zumbi/ (...)/ A Alvorada é o meu Quilombo/ Paraíso é liberdade/ Rei Zumbi é estrela guia”. (Anexo 141) 2006 – Mocidade de Vicente de Carvalho: África, alma gêmea brasileira: “Zumbi guerreiro valente/ Conquistou terras no Brasil colonial/ A liberdade foi a voz da igualdade”. (Anexo 168) 2008 – Acadêmicos da Rocinha: Rocinha minha vida, nordeste minha história: “Lutas, em cada canto uma esperança, uma razão/ Zumbi valente não se rende à opressão/ E vai buscar a liberdade”. (Anexo 186) 2010 – Unidos de Vila Santa Tereza: Que rei sou eu/ Do castelo real à corte do carnaval: “No mundo animal manda o leão/ Na mata Oxossi é soberano/ Candaces não

perderam a majestade/ Zumbi só quis pro negro liberdade/ Rei momo abre as portas pra folia”. (Anexo 208)

Importante registrarmos que Zumbi e Isabel foram as personalidades que mais se destacaram nos três ciclos que constituem essa pesquisa. Ao longo dos 70 anos de abrangência dos nossos estudos, o líder maior do Quilombo de Palmares e a Princesa que assinou a Lei Áurea foram homenageados em vários sambas-enredos que trataram desse nosso objeto de estudo. Um homem negro do período colonial que comandou o maior quilombo de nossa história e uma mulher do país de economia independente, que ainda mantinha a indústria da escravidão, mas que contribuiu, politicamente, para o seu fim, ao menos em documentos oficiais.

Mencionar essas duas personalidades, ao longo dos tempos, é reconhecer a importância do papel desempenhado por elas, cujo comparecimento nos escritos supera outras personalidades históricas, como Cabral, D. Pedro I, Deodoro, por exemplo. Em 2001, a Acadêmicos do Engenho da Rainha, com 51 anos, uma boa ideia, um samba-enredo que homenageou os cinquenta e um anos da escola, rememorou Carlota Joaquina, Carlos Cachaça, o povo carioca e Ganga Zumba, líder palmarino “Fui Ganga Zumba/ Sou grito de liberdade/ Ecoando pela cidade”. (Anexo 115) Chico Rei foi homenageado pela Boi da Ilha do Governador, 1997, no sambaenredo Galanga no Congo, Chico em terras de Vila Rica, com esses versos “Cativando esse povo/ A luz da liberdade floresceu/ Na congada e na religião/ Coroado pelas mãos que o nobre mereceu”. (Anexo 91) A Rainha Ginga, Nizinga Mbande Ngola Kiluanji (1582 a 1663), que também adotou o nome português Dona Ana de Sousa, foi soberana dos Jagas em Angola. Firmara um pacto de paz com portugueses e holandeses em seu tempo. É uma das personalidades negras reverenciadas no carnaval e nas congadas. Dessa forma, a Unidos do Bangu, 1991, com “Ginga, Palmares e liberdade”, escreveu sobre essa líder africana “Ginga, rainha negra linda de Angola/ Ginga liberdade ou morte/ (...) / Liberdade, liberdade/ Rainha Ginga/ Sonho de felicidade/ Oh, luz infinita!”. (Anexo 68) Em 2001, a Beija-Flor com o samba-enredo A saga de Agotime, Maria Mineira Naê, homenageou Agotime, outra rainha africana, de Daomé, quem conhecia e praticava, segundo relatos da tradição oral, cultos dos Voduns e rituais dançantes dos povos Djeje. A Casa das Minas, terreiro histórico do Maranhão foi o local em que os valores culturais e religiosos trazidos por Agotime e seus descendentes foram estabelecidos. Eis os versos sobre a líder política e religiosa, no contexto da liberdade: “Maria Mineira Naê/ Agotime do clã de Daomé/ (...) / Chegou nessa terra santa/ Bahia viu a Nação Nagô ô ô/ E através

This article is from: