1 minute read
3.4 – Liberdade e Povo
3.4 – LIBERDADE E POVO
No fim do período ditatorial, duas escolas de samba inscreveram, em seus enredos, a palavra liberdade relacionada ao povo. A Viradouro com O sonho de Ilê Ifé25 celebrou, em uma manhã de Carnaval, a integração racial.
Advertisement
No limiar desta aurora de alegria Festejando a integração racial Hoje, a Viradouro canta a liberdade Nesta manhã de carnaval. (Anexo 33)
A segunda Escola que inscreve a liberdade ao povo é a Unidos do Cabuçu, em 1985, com A festa é nossa, ninguém tasca, ou quem ri melhor. Por quatro vezes, o vocábulo foi empregado. A primeira em sonho “Hoje vou sonhar com a liberdade”, a segunda em denúncia à exploração do país, índios massacrados e negros escravizados26
“Vi a luz da liberdade/ Se apagar na mão covarde/ De quem veio explorar”, a terceira é a crítica ao fato de a Independência ter sido feita pela aristocracia, sendo que o povo pagou a conta e “e até hoje a liberdade tão sonhada não chegou”. Por último, os autores reivindicam a liberdade para todos, em um tom contundente, notadamente, pela situação do Brasil naquela época:
Liberdade Para esse povo sofredor Que está de saco cheio De comer o pão que o Diabo amassou (Anexo 35)
Naquele fevereiro de 1985, já percebemos, pelos versos dessa canção, o desgaste do período militar e a postura clara dos compositores em criticar a realidade socioeconômica do Brasil. O “povo sofredor” são os compatriotas indignados com as injustiças e as desigualdades, desde o período colonial.
25 Esse samba-enredo também será discutido na seção destinada ao tema da escravidão. 26 A leitura dos versos desse samba-enredo “Os índios antes livres foram massacrados/ Trocaram sua tanga pela calça lee/ E o negro escravizado/ Em quilombos se refugiou” possibilita-nos compreender a maneira pela qual os silvícolas eram representados nesses escritos. Enquanto o índio massacrado é aculturado, sem oferecer resistência, o negro escravizado é rebelde e busca refúgio nos quilombos.