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3.7 – A Liberdade e as Significações Difusas
Casal de mestre-sala e porta-bandeira da Império Serrano no carnaval de 1969. Foto: Agência O Globo. Fonte: http://extra.globo.com/noticias/carnaval/carnaval-historico/poetas-imperianos-capitulo-1-seriemostra-importancia-do-imperio-serrano-11560127.html
3.7 – A LIBERDADE E AS SIGNIFICAÇÕES DIFUSAS
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Significações difusas, neste trabalho, são aquelas em que não conseguimos localizar, com precisão, o substantivo a que a liberdade se refere. Talvez pudéssemos definir esses casos como a liberdade em seu sentido mais amplo, indefinido, porque não se relaciona a nenhum regime, evento, gênero, etnia etc. O samba-enredo Rapsódia Folclórica31, escrito pela Escola de Samba Unidos de Lucas, em 1969, é um dos exemplos dessa nossa tentativa de classificação do emprego da palavra liberdade como significação difusa. Apesar de os compositores apresentarem elementos folclóricos em que sugerem a superação de um momento de extrema dificuldade em Valentes amazonas, Negrinho do pastoreio e Príncipe Obá, a liberdade é inscrita como o lado bom de todos os contos e lendas de nosso folclore:
31 Acerca do contexto de difusão dessa Rapsódia Folclórica, da Unidos de Lucas, vejamos as considerações de Alberto Mussa e Luiz Antônio Simas: “Parece que as autoridades estavam mais preocupadas em descobrir mensagens cifradas de subversivos em vez de atentar para manifestações patentes. Porque não consta registro de que tenham impedido ou tentado impedir o desfile da Unidos de Lucas (...) que desceu com o samba Rapsódia folclórica. A letra inseria, aparentemente sem motivo, depois de uma introdução que falava de contos, lendas e da exuberância do cenário, o refrão: “esclarecendo em alto som/ que a liberdade é o lado bom”.” (MUSSA e SIMAS, 2010, p. 76)
Contos que o poeta vem cantar Do céu, da terra e do mar Do sol, das nuvens e do luar Esclarecendo em alto e bom som Que a liberdade é o lado bom. (Anexo 17)
Que liberdade seria essa? A liberdade ampla, de forma plural, que vinha dos contos cantados por um poeta, mas que não se referia a nenhum sujeito específico. Prosseguindo, a Paraíso do Tuiuti, em 1984, com o samba-enredo 1984, escrevia sobre um contexto de avanço tecnológico, denunciando os problemas sociais daquele tempo, especialmente a violência e o custo de vida. Verifiquemos, assim, que a liberdade adquiriu significados difusos nesses versos:
Vamos computar No computador Para mostrar Existe liberdade Alegria, paz e amor Tem bangue-bangue nas televisões. (Anexo 31)
Ao apresentar esses versos críticos, o autor garante que “Ainda há carnaval no Brasil”, sugerindo que a festa é o que compensa os problemas daquele tempo. Igualmente, no mesmo ano, a Unidos do Jacarezinho, com o samba-enredo Ziguezagueando no zunzum da fantasia, inscreveu a palavra liberdade de maneira difusa e o compositor também convidou o povo a festejar o Carnaval, sambando, sorrindo e brincando.
Eu vivo buscando a minha paz Não tenho mágoas da realidade Hoje no berço da liberdade Eu quero encontrar felicidade. (Anexo 32)
A União da Ilha do Governador, em 1985, desfilou com o samba-enredo Um herói, uma canção, um enredo (Anexo 37) em que celebrou a liberdade, rememorando travessias e expondo sensualidade “E vi o cais a sorri/ O mulherio vibrando de alegria”; a denúncia política “A mentira veio no fantasma da anistia”; a religiosidade “Yemanjá sentiu o ar/ O cheiro do Brasil”; a cultura “O samba hoje impera/ Frevo e bumba-meuboi”; ao final, uma homenagem à grande Elis Regina “Taí, Elis, taí? Olha o feitiço negro/ Na Sapucaí”. A liberdade é inscrita em “O mar nunca afogou/ As ondas que agitam a liberdade”.