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4.2 – A Liberdade de Expressão

“República”, “Rui Barbosa”, “Semana de Arte”, “Sinhá Olímpia” e “Tereza de Benguela” possuem percentual menor que 3% no período de 1986-2013. Dessa forma, essas referências foram agrupadas como “Outros”, totalizando um percentual de 20,27%.

20,72%

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4,95%

4,50% 3,60% 3,60% 20,27%

9,01%

33,78%

Outros Carnaval Escravidão Independência Indígenas Povo Religiosidade Significações difusas

Figura 3: Referências sobre a palavra liberdade no ciclo 3.

4.2 – A LIBERDADE DE EXPRESSÃO

É de importância capital registrar que a palavra liberdade, atribuída à expressão do pensamento, das opiniões, das ideias, que muitas vezes podem ser distintas, ocorreu de forma explícita nesse período (1986-2013) de nossa pesquisa. Em 1987, a Acadêmicos do Salgueiro apostou em De poeta, carnavalesco e louco, todo mundo tem um pouco (Anexo 90), com os seguintes versos “Arte, ou será loucura? / A busca continua/ Em sua liberdade de expressão” em um samba-enredo que também tratou da imaginação criadora de poetas, pintores, escultores,envolvida em uma atmosfera de loucura que se desdobraria no próprio autor que se enlouqueceria pela cidade, com o seu amor e a sua escola de samba.

A Em Cima da Hora, no mesmo ano, com o samba-enredo Quem é você, Zuzu Angel? ... Um anjo feito mulher (Anexo 94) apresentou, poeticamente, uma das referências femininas que se opuseram à Ditadura Militar brasileira. Em sua memória, a

agremiação escreveu os versos seguintes “Me lembro das torturas, que horror! / Quantas noites acordada/ Procurando o seu grande amor”. A última estrofe dessa composição impressiona pelas leituras permitidas “Igualdade sim, violência não/ Deixa a luz da consciência/ Invadir seu coração”. Coração de quem? Da homenageada? Dos seus algozes? Do público? E o samba, dessa forma, se encerra, declarando que “A Em Cima da Hora é nossa/ Liberdade de expressão”. Liberdade que até então não podia ser dita ou vivida.

Zuzu Angel. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Zuzu_Angel#/media/File:Zuzu-real.jpg

Podemos afirmar que o samba da Em Cima da Hora, de 1998, foi um protesto “tardio” contra a Ditadura Militar. Ao atribuírem várias características positivas à estilista mineira, de Curvelo,reescreveram o contexto de opressão “Soldados bordados em rendas/ Tanques de guerra” (Anexo 94) e a confirmação, por parte daqueles autores, do desejo de somente democracia. Finalizando a canção, conclamam os espectadores a permitirem que

a luz da consciência (a razão) invada o coração (a emoção) e reivindica a igualdade, esse substantivo que, por variadas vezes, tem acompanhado este outro, a liberdade. A solidariedade para com os povos do Timor foi externada pela Unidos da Tijuca, em 2002, com os versos “Salve a luta do Timor/ Pela liberdade de expressão”, em O sol brilha eternamente sobre o mundo da língua portuguesa (Anexo 128), samba-enredo que enalteceu a nossa língua em forma de “aventura lusitana” pelos cinco continentes. A língua, epicamente descrita, transformara-se em poesia e em odisseia de amor. Esse contexto de louvação do idioma serviu também como expediente para se posicionar diante das questões políticas que afetavam o Timor, distante país asiático, cuja identidade para conosco era a língua. Em 2005, a Lins Imperial, elaborou o samba-enredo O bêbado e a equilibrista, o show tem que continuar... em que convida o Brasil a cantar a partir da trajetória “do homem sem direção/ Que afoga a tristeza na emoção/ No pôr do sol perdendo a razão”. O homem é anônimo, igual à equilibrista que, assim indefinida, nos faz imaginar que talvez seria a própria escola. A esperança, eterna companheira daquele malandro, incentiva o dia a dia dele, afinal

O sonho não foi perdido De homens bravos guerreiros Que lutaram pela liberdade E direito pela força de expressão Anda na corda bamba Balança, balança, faz rir para não chorar. (Anexo 156)

Merece atenção a maneira como esses sambas-enredos que tratam da liberdade de expressão foram elaborados. Em De poeta, carnavalesco e louco, todo mundo tem um pouco, da Salgueiro, em 1997, o autor escreve com orgulho a sua folia multicor, cuja escola encanta a passarela, em cores belas, irresistíveis, para o seu amor. “Salgueiro é felicidade”, demonstrando, mais uma vez a sua identificação e contentamento em desfilar na escola. Essa postura também foi evidenciada em Quem é você, Zuzu Angel ... Um anjo feito mulher, da Em Cima da Hora, 1998, quando o autor evoca a homenageada a vir no bailar da poesia e ser mais feliz com a escola dele, a escola que é a “liberdade de expressão”. De igual forma, o samba-enredo O sol brilha eternamente sobre o mundo de língua portuguesa, da Unidos da Tijuca, os autores afirmam também a importância da sua escola, fazendo alusão ao seu símbolo, o pavão. Finalmente, o samba-enredo O Bêbado e a equilibrista, o show tem que continuar, da Lins Imperial, as cores da escola, verde e rosa, são mencionadas para afirmarem a identidade dela, a agremiação dos

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