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Renda de Bilros Cole巽達o do Museu Arthur Ramos Valdelice Carneiro Gir達o

Fortaleza 2013

Valdelice Carneiro Gir達o

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Meus agradecimentos; A funcionária, na época, do extinto Museu de Antropologia Maria Lúcia Prata Girão pelo minucioso trabalho de confecção dos álbuns da coleção Luisa Ramos, agora fotografados. Aos professores Marinez Alves e André Scarlazzari, responsáveis para que esse trabalho viesse a lume. Muito obrigada.

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Renda de Bilros Cole巽達o do Museu Arthur Ramos Valdelice Carneiro Gir達o

Valdelice Carneiro Gir達o

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Equipe Textos Professora Valdelice Carneiro Girão

Coordenação Editorial Marinez Alvez André Scarlazzari

Projeto Gráfico e Editoração Isabel Schreiber R. Scarlazzari

Fotografias Delfina Rocha Acervo do Museu Arthur Ramos

Consultoria junto ao acervo Átila Saraiva Revisão histórica e digitação Diego Morais

Revisão ortográfica e digitação Regina Almeida

Apoio técnico Nonato Gomes Bárbara Costa

Secretariado Marta Ribeiro

Agradecimentos Museu Arthur Ramos

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Sumário Apresentação ................... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Introdução ....................... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Técnica de fabrico .............. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Bilros . . ........................... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 Nomenclatura ................... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 Centros de produção ............ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Decadência ....................... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Tipos de pontos.................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 Coleção Luisa Ramos ........... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Coleção Rendas do Ceará...... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179 Coletadas por Valdelice Carneiro Girão

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O Livro Valdelice Carneiro Girão acrescenta à antropologia brasileira mais uma fonte para estudos sobre a arte do fabrico de Renda de bilros. As pesquisas e estudos, por ela desenvolvidos e aqui apresentados, foram originalmente produzidos na década de sessenta, quando a autora como funcionária do Instituto de Antropologia* da Universidade Federal do Ceará, abraçou o desafio de organizar e classificar o material coletado por Luiza Ramos, adquirido pelo referido Instituto. A jornada foi cansativa, pois além das leituras de trabalhos sobre o assunto, fez pesquisa de campo, se deslocando para vários municípios cearenses, onde em contato com as rendeiras adquiria conhecimento para classificar o material já existente realizando ainda coletas de raros e inéditos exemplares de rendas cearenses. Catalogados e exibidos ao lado da coleção Luiza Ramos, as novas aquisições preencheram lacunas existentes complementando a tipologia que depois de incorporada ao acervo principal do Museu Arthur Ramos viria a ser uma referência nacional para pesquisadores. Todo esse trabalho de dedicação e pesquisa, alavancado pela tenacidade pessoal, resultou na publicação de RENDAS DE BILRO, de 1984, um volumoso catálogo contendo amostras de renda do Brasil e exterior. Além dessa publicação, também foi organizado para a consulta e deleite de

pesquisadores e estudiosos, belos álbuns contendo exemplares catalogados de rendas, que passaram a compor definitivamente o acervo do Instituto de Antropologia* Não foi fácil a publicação original vir a público em 1984, foram necessários 16 anos de espera e superações dos entraves burocráticos para a impressão. O catálogo, finalmente impresso em branco e preto, teve vida longa e coloriu por anos o universo de pesquisadores e curiosos ao tema até então pouco analisado. Em 2010, as dificuldades não foram diferentes, a autora, com um novo projeto em mente e contando com o apoio do Instituto do Ceará, inicia nova cruzada editorial enfrentando algumas das mesmas dificuldades na busca de apoio. Seu objetivo era trazer novamente a tona o tema das Rendas de Bilros e apresentar o acervo do Museu Arthur Ramos através de uma nova publicação, versão inédita, reorganizada e atualizada do catalogo original de 1984, para mais uma vez ofertar um relevante estudo antropológico aos pesquisadores e estudiosos. Em 2013 esse sonho se realiza. Após três anos de trabalhos, o livro harmoniosamente se materializa. Os leitores passam a ser privilegiados por terem em mãos esta publicação, pressupondo que vão se deliciar, daqui para frente, na degustação visual das mais belas rendas, modelagens e técni-

Rendeira em pleno processo de produção de renda de bilro.

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cas, daqui e de outras terras, próximas e distantes, reunidas em uma única publicação em cores e em grande formato.Trata-se portanto de um primoroso registro antropológico deste fazer feminino, narrado aqui através de pontos, emaranhados e trançados organizados como numa fala mansa e ritmada de rendeira. Não é exagero reverenciarmos repetidamente a autora. Valdelice Carneiro Girão é uma incan-

sável guardiã da cultura cearense,uma intelectual que milita nas belas causas, mulher de trato doce, guerreira que derramou generosamente seu olhar e sua verve intelectual por sobre os afazeres dessas mulheres esquecidas, de mãos tão habilidosas. Fazendo uso da “franqueza sertaneja” típica da autora, expressamos nosso prazer e satisfação em termos colaborado para a realização desse projeto editorial. Coordenação Editorial *Criado em 1958, tendo à frente o enge­nheiro Thomaz Pompeu Sobrinho, um estudioso do Ceará e que, ao longo de sua vida, publicou dezenas de trabalhos de cunho antropológico. Foi extinto em 1968.

Detalhe de uma fotografia de uma antiga almofada de bilros. Coleção Museu Arthur Ramos.

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Introdução As rendas de bilros do Museu Arthur Ramos da Universidade Federal do Ceará estão divididas em duas partes: Coleção Luísa Ramos e Coleção Rendas do Ceará. A primeira compreende o material de rendas antigas, reunido por D. Luísa Ramos, e consta de valiosas amostras de rendas de bilros da maioria dos Estados brasileiros e de alguns países estrangeiros; a segunda, pesquisada e adquirida in loco, contém amostras de produção recente. Com a aquisição do referido material, foi-nos entregue a tarefa de organização e classificação, que obedecem às técnicas museológicas, além de outros estudos. Como a bibliografia que trata deste assunto não é muito vasta, recorremos a questionários, anotações e, principalmente, ao trabalho A Renda de Bilros e sua Aculturação no Brasil de Luísa e Arthur Ramos. Fatores independentes de nossa vontade impediram-nos de alargar nossas observações a outros Estados, para examinar melhor o problema das rendas no próprio local de produção, de modo a solucioná-lo em contato com as artífices especializadas em tal setor. Nossa experiência se limita, pois, ao Ceará. As observações que obtivemos de estudiosos no assunto não foram suficientemente esclarecedoras, em particular no tocante à nomenclatura dos pontos. Para suprir estas falhas, resolvemos

empregar os termos usados no Ceará, fazendo-os acompanhar de notas explicativas. A outra coleção, Rendas do Ceará, ainda em início, virá complementar o nosso estudo sobre o artesanato tão difundido no Nordeste Brasileiro, principalmente no Ceará, que se destacou, entre os Estados da Federação, como centro rendífero. O presente trabalho representa um estudo da renda nos municípios cearenses feito em contato com a rendeira, para aprender com ela os segredos da arte, suas características mais importantes no campo folclórico, sua semelhança com as de outras regiões brasileiras, e mesmo estrangeiras, assim como para saber os motivos de sua decadência. Desse modo, o Museu Arthur Ramos, nas suas pesquisas, procura estudar a renda de bilro e a rendeira em todos os aspectos que possam interessar à ciência antropológica. A carência bibliográfica, já referida, não nos permite apurar quando teve início esse artesanato entre nós. É-nos permitido, porém, afirmar, com relativa segurança, que a renda foi trazida por mulheres portuguesas, vindas com suas famílias da mãe-pátria, onde tradicionalmente se dedicavam a esse mister. Assim, veio aculturar-se e difundir-se entre nós nas zonas do litoral e do sertão e por meio da mulher do povo, tornandose uma cultura de folk.

Bilro de madeira clara, de uma só peça, bem torneado e liso. Peça feita em torno. Adquirido por D. Luísa Ramos.

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Nos inícios do século XVII, essa arte adquiriu feição nitidamente nacional, assim se conservando até hoje, como se pode notar pelos nomes dados aos seus diferentes tipos. A região, por excelência das rendas de bilros no Brasil, é o Nordeste, e, mais particularmente, o litoral e o sertão do Ceará. Podemos dizer, sem favor, que a nossa terra chegou a se tornar um dos maiores e mais famosos centros produtivos. Sua reputação foi, de certo modo, desfavorável à indústria-família de igual tipo existente em vários outros Estados da Federação, como Alagoas, Rio Grande do Norte, por exemplo, que viam o produto de seu artesanato preterido, no mercado nacional, pelo oriundo do nosso Estado. Alertado pela excelência de nossa produção, o comércio sulista voltou suas vistas para o rendoso negócio. Fizeram-se, então, transações muito lucrativas em todo o Ceará. Foi uma época de prosperidade para as nossas artesãs. Ainda em 1940, tem-se notícia de grande exportação de nossas rendas para o Sul do Brasil. Crescendo o movimento comercial, haviam surgido casas especializadas no ramo, que faziam das rendas cearenses o seu slogan. Essas firmas chegaram a ter representantes neste Estado e, por intermédio deles, realizavam suas negociações, vendiam linhas especiais da

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casa a que pertenciam, como o fio “industrial”, por exemplo, que era apresentado em enormes meadas, depois transformados em novelos menores pelas rendeiras, antes de o utilizarem. Era um fio mercerizado e brilhante, de várias grossuras, que chegou a formar uma das características da renda do Ceará. Os representantes fornecedores da linha compravam toda a produção das rendeiras. Há notícia de comerciantes de ascendência espanhola e francesa que muito incrementaram entre nós, a produção de rendas. Visitavam o Ceará duas ou três vezes por ano, quando aqui punham em ordem seus negócios. Entravam em contato com as rendeiras e distribuíam modelos de novos tipos de renda que desejavam obter. Herman Lima nos fala de senhora da sociedade que, durante anos, distribuiu por duas centenas de rendeiras os papelões com modelos de renda por ela mesma preparados em papel Bristol. Podemos também citar sacerdotes comerciantes de renda, que tinham artesãs a seu serviço. Escolhidas entre as melhores, trabalhavam para eles, recebendo o papelão picado. Era-lhes proibido utilizar os seus modelos em trabalhos para outros comerciantes do ramo. O modelo “Pequeno-grande” pertencia a um deles, e, pelo nome, verifica-se a influência do fator religioso. O certo é, porém, que, apesar de todas as providências dos interessados, encontra-se, no Cea-


rá, “Pequeno-grande” dos mais variados tipos: largos, estreitos e médios, com variadíssimas formas – com traça, trança, besouro, pano, etc. Somente o pano-meio-trocado, em diagonal, deve ser constante para caracterizar o tipo de renda. As artífices, com sua inata capacidade artística, passavam para o papelão, como é chamado no Ceará o cartão perfurado – o desenho que lhes era fornecido. Isso, aliás, não constituía mistério para elas, pois estavam habituadas a fazê-lo. Desde cedo, com efeito, aprenderam a picar seus papelões, tomando como modelo motivos que vão desde a estampa da fazenda aos produtos de nossa flora e fauna, sem falar nas linhas sinuosas,

quebradas, losangos, quadrados, etc. Tudo fazem como que por instinto, pois, na maioria das vezes, não conhecem sequer o alfabeto. Antigamente as rendeiras costumavam vender as suas rendas diretamente ao consumidor. O desenvolvimento do comércio desse gênero de mercadoria despertou, porém, como era natural, a ganância e, assim, apareciam em todo o Brasil os intermediários. Eram indivíduos que iam de vila em vila, ou pelo menos povoados praianos, buscando as artesãs em suas humildes casas, para adquirir o produto de seu trabalho, o qual revendiam com grandes lucros, fosse diretamente ao freguês, fosse a novos atravessadores.

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Técnica de fabrico Para a confecção da renda de bilros são exigidos apetrechos especiais, a saber: Almofada – A almofada brasileira, mais ou menos uniforme, é uma adaptação da almofada portuguesa; pode ser cilíndrica ou arredondada, variando de dimensões conforme as regiões e o tipo de renda a executar. São confeccionadas de qualquer tecido, como tanga de rede usada, lona, estopa, etc., dependendo a escolha apenas das posses pecuniárias da rendeira. As de melhor qualidade são feitas de algodãozinho encorpado, medem mais ou menos 80 cm de largura e suas extremidades são cosidas, formando um cilindro oco. Na orla do pano, fazem-se duas bainhas, em cada uma das quais se introduz um cordão grosso que serve para franzi-las. As porções franzidas recebem o nome de cabeceiras. Estes sacos, assim cheios de capim ou palha de bananeira, têm, como se disse, a forma de um cilindro com mais ou menos 50 cm de altura e 15 cm a 30 cm de diâmetro. Os pequenos orifícios situados nas cabeceiras, chamadas ouvidos, servem de depósito para os bilros excedentes, novelos de linha, tesoura, etc. Bilros – São constituídos por pequenas hastes de madeira, cilíndricas e terminadas em umas das extremidades por uma esfera. Seu comprimento

varia de 12 cm a 17 cm. Podem ser inteiriços, de uma só peça, como os usados antigamente, ou por duas peças. Esses são atualmente mais comuns. Encontramos bilros feitos de uma pequena peça de madeira, servindo de canela, e de uma esfera de coco de buriti (Mauritia vinífera, Mart.), macaúba (Acrocomia sclerocarpa, Mart.), etc. A canela é geralmente de madeira branca e fina: angélica (Funkia subcordata, Spreng), pitiá (Caseira simila coffea) e marmeleiro (Croton hegiargyreus, Muell). A noz, que se utiliza para fazer a parte dilatada ou esférica do bilro, é alisada e perfurada num dos lados, onde se fixa a haste. Preparado, não raro, pela própria rendeira, os nossos bilros são muitos rústicos, contrastando, assim, com os belos espécimes portugueses antigos trabalhados em pau-preto, osso ou marfim. Fios – Empregados na confecção da renda, devem ser previamente enrolados na canela do bilro, que desempenha o papel de bobina. Para essa operação, as rendeiras têm uma arte especial. Uma laçada, de tipo particular, termina o enrolamento, possibilitando à obreira soltar a linha quantas vezes forem necessárias. Papelão – O papelão, chamado pique em Portugal e em muitos Estados do Brasil, faz-se de um cartão grosso, perfurado com o modelo da renda.

Bilro de madeira, de uma só peça com almofada e papelão exibindo o desenho da renda a ser confeccionada. Coleção Museu Arthur Ramos.

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É, em alguns municípios cearenses, trabalhado de modo especial; emprega-se, para isso, jornal disposto em várias camadas, até alcançar a espessura de 1 mm, e cobre-se, depois, com o papel madeira. Em outros municípios, utiliza-se o papelão retirado de caixas de sapatos ou qualquer outro cartão grosso. Para fazer o papelão propriamente dito, recortam-se os papelões em tiras, dandolhes a largura que varia conforme o tipo de renda desejada. Os mais comuns medem de 20 cm a 40 cm de comprimento, havendo alguns que chegam a contornar a almofada. O preparo do papelão – Prontas as tiras, é necessário picar ou pinicar o papelão, o que significa passar para o cartão o desenho da renda que se deseja obter. Isto é feito, geralmente, colocando-se sobre ele a amostra da renda, e com uma agulha, incrustada na extremidade de pequena haste de madeira, vai-se furando o cartão, seguindo-se, desse modo, os pontos da renda. Pode-se, também, colocar o papelão novo sobre o antigo e com a agulha cobrir os furos já feitos. Por meio dos buracos existentes nos modelos, abrem-se outros correspondentes no novo papelão. Muitas vezes o papelão é picado pela rendeira que vai executar a renda, mas existem rendeiras especializadas na tarefa, exímias nessa arte, que modificam os modelos e criam novos.

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Os desenhos são acentuados a lápis, principalmente onde deve passar a linha mais grossa, chamada cordão, bordão ou regalho. As amostras de renda, assim como os papelões, são peças cuidadosamente guardadas pelas rendeiras. O fabrico propriamente dito – Cheios os bilros e preparada cuidadosamente, a almofada logo é coberta com pequena toalha bem alva e de tecido mais fino que o do cilindro, colocando-se sobre ela o papelão preso com a ajuda de quatro alfinetes ou espinhos grossos, um em cada extremidade. Aí é sentada a renda. Sentar a renda significa montar o papelão em volta da almofada, nele fixar os bilros já cheios, formando pares, prendendo-os com espinhos ou alfinetes. Inicia-se, então, a tarefa do fabrico da renda, que consiste em cruzar os bilros, torcendo-os e imprimindo-lhes movimento de rotação entre o polegar e o indicador, e fazendo-os passar uns por sobre os outros. Para prender a porção da renda recém-feita ao papelão, usam-se alfinetes ou longos espinhos que, no Ceará, são retirados do xique-xique (Pilocereus gounellei, Web.) ou do mandacaru (Cereus jamacaru, P. DC) e que vão sendo colocados, sucessivamente, nos furos convenientes do desenho. Isso se repete até serem alcançados os últimos furos do cartão, que é logo reiniciado, operação repetida tantas vezes quanto


se fizerem necessárias. A operação citada é conhecida pela rendeira como levantar o papelão. Para realizá-la, a rendeira reúne os fios que sustentam os bilros, segurando-os com uma das mãos, enquanto com a outra retira os espinhos que devem prender novamente a renda ao início do cartão picado, para prosseguimento do trabalho. Os papelões não ultrapassam geralmente a 50 cm, e, assim, a rendeira está sempre os levantando. Em outros casos, algumas rendeiras quando trabalham em rendas mais largas, não costumam levantar o papelão; preferem colocar no seu seguimento um outro de aproximadamente 20 cm, picado com idêntico modelo e que lhe é adaptado. Alcançada a parte final do papelão suplementar, retira-se da almofada o grande que é, já agora, colocado no seguimento do menor, e as-

sim sucessivamente, até o término do trabalho. A parte da renda retirada do papelão será anexada à porção que já se encontra cuidadosamente dobrada e protegida por um papel qualquer. O lavantamento do papelão será repetido até que seja executada a parelha, nome dado entre nós a 10 metros de renda e 10 metros de bico, de modelo semelhante. A quantidade de bilros empregados pode ser considerável; seu número depende da largura e modelo da renda. Qualquer que seja, porém, a quantidade, só quatro trabalham de cada vez: dois não mão direita e dois na esquerda (são os dois pares necessários ao trocado). O Trocado é o ponto básico da renda, e a qualidade desta depende da perícia da rendeira e nas linhas empregadas.

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Bilro de madeira, de uma só peça, muito antigo. Feito a mão.

Bilro de madeira de uma só peça. Cabeça e canela bem torneados e lisos.Peça feita a máquina, em Alagoas. Oferta de D. Georgina Ramos Casado à D. Luísa Ramos, em abril de 1946.

Bilro: rendas 0627 Bilro de côco catolé, de duas peças, feito à mão. Adquirido na cidade do Ipu, no ano de 1963.

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Bilro de madeira, sucupira, numa só peça, feita em torno. Cabeça, canela e cabo torneados e bem alisados, com linhas horizontais circulando o cabo e a canela. Peça executada em Pilar - Alagoas. Oferecida à D. Luísa Ramos por Olímpia, em novembro de 1945.

Bilro de madeira de uma só peça. Cabeça, canela e cabo bem torneados, com características de muito uso. Bilro feito no torno, em Teresina – Piauí, no ano de 1904.

Bilro de madeira de duas peças. A canela é tosca, introduzida na noz de um coquinho (Buriti Coco curicuri), alisada e perfurada num dos lados, a fim de permitir sua fixação. Bilro feito a mão, em Fortaleza, Ceará. Adquirido por D. Glória Campo Ribeiro, em fevereiro de 1947.

Bilro de madeira, de cor clara, numa peça inteiriça de formas regulares. Cabo fino e alongado. Peça idêntica ao modelo francês, do livro – La Dentalles aux Fuseaux, 1ere série, Biblioteque D.M.C., p. 7, figura 3.

Bilro de madeira clara, de uma só peça torneada e cabeças de materiais diversos.Peça feita em torno. Adquirido por D. Luísa Ramos.

Bilro de marfim de uma só peça. Adquirido por D. Luísa Ramos, no Antiquário do Sr. Sebastião de M. Barreto – Galeria São Pedro. Arrematado por aquele Sr. no leilão da Marquesa de Canela (Elisa Larena de Canela), em 1838 aproximadamente.


Bilro de duas peças. A canela é tosca, introduzida na noz de um coquinho (buriti – coco ouricuri), alisada e perfurada em um dos lados, a fim de permitir a sua fixação. Bilro feito à mão, em Fortaleza, Ceará.

Bilro de duas peças. A canela é tosca, introduzida na noz de um coquinho (Buriti – Coco curicuri), alisada e perfurada num dos lados, a fim de permitir sua fixação. Bilro feito a mão.

Bilro de madeira escura numa peça inteiriça. Cabo alongado, que liga se liga à canela, relativamente fina, na sua parte inferior, depois de uma chanfradura circular que rodeia o diâmetro da canela. Apesar da falta de informações precisas quanto à procedência da peça, percebese que se trata de bilro estrangeiro.

Bilro de madeira, sucupira (Ormosia coccínea, Jacq Robinia coccínea, Aubl Fam. das leguminosas). Peça feita a mão, em Alagoas, oferecida à D. Luísa Ramos por D. Olímpia, em novembro de 1945.

Bilro de duas peças. A canela é tosca, introduzida na noz de um coquinho (tucum), perfurada num dos lados, a fim de permitir sua fixação. Bilro feito a mão.

Bilro de madeira de uma só peça. Cabeça e canela bem torneadas e lisas. Peça feita a máquina, em Coimbra, Portugal. Oferta de D. Ernestina Coelho de Sousa à D. Luísa Ramos, em novembro de 1945.

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Nomenclatura No Nordeste Brasileiro, em geral, a palavra renda é denominação genérica para os trabalhos executados com bilros em almofadas; chamam-no também renda do Norte, renda do Ceará, renda da terra, renda de bilros, que é a nossa tradicional renda de almofada. Há, no entanto, nomes específicos para cada tipo de renda. Os mais comuns são: renda – o entremeio com duas ourelas, que se destina a ligar um tecido a outro, ao mesmo tempo com finalidades ornamentais. Sendo conhecido por entremeio no Sul do País e apegamento em Santa Catarina, é o entre-deux dos franceses; bico – renda que tem ourela de um só lado e ponta no outro e recebe dos sulistas a denominação de ponta; aplicação – “pilica”, entre as rendeiras cearenses, serve como bordado para o preparo de colchas, toalhas e trabalhos menores; toalinhas, paninhos, golas, matames, gregas, galões, etc. Pontos – Todas as rendas têm um ponto inicial denominado – trocado. Com o trocado, formando a combinação dos movimentos dos bilros, origina-se uma variedade imensa de cruzados e torcidos, que são conhecidos por pontos; são os elementos que constituem o desenho, como: traça, trança, tijolo, búzio, aranha, pano-fechado, pano-aberto, etc. Chama-se padrão o desenho formado pelos pontos: flor-de-maracujá, guipure, dezesseis-dados, etc.

A trança é nome comum em todos os Estados do Brasil e em Portugal. É a tresse dos franceses e treccia semplice dos italianos. Nas tranças, algumas vezes, é feita uma alcinha, conhecida no Ceará como ponto-de-espinho, tricô ou picot; pontosolto, em Alagoas; salpico, no Rio de Janeiro; é o mesmo picot dos franceses e pippiolini dos italianos. Assim, a trança com ponto-de-espinho, no Ceará, é o chamado tresse avec picot na França e treccia com pippiolini, na Itália. Acredita-se que a Gênova (Itália) se deve a invenção da traça. A traça é um ponto muito difundido e sempre apresentado nas rendas de melhor qualidade, tanto no Nordeste como em outras regiões brasileiras e estrangeiras. No Ceará, é a traça igualmente conhecida por barata, baratinha; em Sergipe, por palma; no Estado do Rio, por matachinha, bananinha. É bananinha também em Santa Catarina. Já em Portugal, tem o nome de pivide, e é o point d’espirit dos franceses e punto mazzolino dos italianos. Variante da traça é o dado ou tijolo, tijolinnho, cocada, no Ceará e em Alagoas; sopapinho, em Sergipe; ponto-solto ou laçada-frouxa, no Estado do Rio. Trocando ou cruzando os bilros, os fios se entrelaçam formando tecido que tem o nome de pano; pano-fechado, quando é mais compacto, e pano-aberto, quando o tecido mais é aberto, formado pelo meio-ponto. Tanto um como o ou-

Papelão perfurado conforme o desenho da renda. Coleção Museu Arthur Ramos.

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tro têm variedade imensa de nome: pano-fechado. Assim mais conhecido no Ceará, onde ainda é chamado paninho-corrido; é trocado inteiro em Alagoas; pano-fechado ou pano-batido em Sergipe e liso no Rio de Janeiro. Parece ser tramoia, em Santa Catarina. É chamado pano, paninho. Em Portugal, é Pano-tapado; é o point toile, da França, e fondo di tela, dos italianos. O pano-aberto ou pano-meio-trocado é assim denominado no Ceará e Alagoas; pano-aberto e meia pancada, em Sergipe, favo-de-abelha, em Santa Catarina; esteirinha, no Rio de Janeiro. Em Portugal também é chamado pano-aberto; na França, point de filet ou point grillé; e, na Itália, fondo reticella. Entre os pontos mais comuns, vamos encontrar o cordão, fio quase sempre de seda ou algodão mercerizado, que serve para formar desenhos, tais como: gregas, linhas sinuosas, desenhos, etc.; por cordão é conhecido em todo o Nordeste, mas, no Ceará, além de cordão, ainda o denominam de bordão ou rengalho. No Rio de Janeiro, chamam-no de linha-passada. Em Portugal, além de cordão, conhecem-no por guião, fita-do-pé ou torçal; é bourdon, na França e filettatura, na Itália. As amostras de renda existentes em nossa coleção desmentem, de maneira cabal, a afirmação corriqueira e errônea de que a renda brasileira é

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de tipo grosseira. Possuímos, na verdade, rendas de retículas tão perfeitas como as francesas e flamengas. Entre os tipos de retícula, temos o filó, conhecido em todo o Nordeste, e que no Ceará recebe ainda a denominação de ponto-de-ló, ló ou carreira-de-ló. São malhas hexagonais que servem de fundo ao modelo de renda. São comparáveis ao tulle europeu. Outro ponto que se destaca como fundo nas rendas é a sucessão de trocados presos com espinhos que formam malhas quadrangulares. É conhecido no Ceará como carreira; e pode ser aberta ou fechada. Em Alagoas é chamado coentro, onde há a variante coentro-trocado-dobrado (quando é apresentado em trocado-duplo); é ainda chamado trocado-inteiro ou trocado-cheio, em alguns municípios cearenses, e corresponde ao point torchon ou point réseau dos franceses e punto a reticulado da Itália. Grade é também ponto de retícula, de malhas quadradas regulares, feito em ponto de trança ou fio torcido. É conhecido por esta denominação em quase todo o Brasil, assim como em Portugal. Charrita, tringo e batuque no Ceará; é barafunda em Alagoas, batizando-o a Bahia de barafunda-enviezada e feitiço sendo feitiço também em Minas Gerais. É o point à la vierge simple dos franceses e que os italianos denominam de fondo acanniccio.


No Ceará, os originais pontos par-caído, pardescido, finagran e carreira-do-maranhão são conhecidos por ponto-de-rato ou melindre, em Alagoas e Sergipe, e correspondem ao punto di rosado dos italianos e ao point quadrillé croisé, na França. Pontos padrões – Em primeiro lugar temos aranha, besouro, búzio no Ceará. É a mesma mosca de Alagoas e Sergipe, onde é igualmente chamada pelo seu diminutivo. Passa a intitular-se caramujinho no Rio de Janeiro Pontas (Nomenclatura) – Modalidade que caracteriza do mesmo modo, as rendas são os modelos das pontas. No Ceará, por exemplo, há nomes originais: ponta-de-prata, conhecida também por rabode-pato, ponta-de-sobrancelha, casco-de-burro, casca-de-besouro, ponta-de-cadarço, ponta-de -arrebite, ponta-de-trança, ponta-de-leque, ponta-de-alfinete, etc. Os pontos mencionados contribuem, por sua vez, para a formação de uma variedade enorme de padrões de renda a que o modelo dá nome. A necessidade de classificação ou, melhor, de identificação fez nascer uma vasta terminologia que, por sinal, se mostra rica também no campo folclórico. Assim, vamos encontrar uma linha sinuosa no centro da renda para denominá-la tripade-porco; o losango, no centro dela, formado por

um tecido hexagonal, empresta-lhe a sugestiva denominação de urupemba, utensílio doméstico muito comum no interior cearense. A amostra vinda de Itapipoca recebeu, da terra de origem, o seu nome (Itapipoca), o mesmo acontecendo ao bico Maranguape, originário desse município. Mucuripe, decantada praia cearense, foi motivo para a denominação do bico Volta-do-mucuripe. Quatro traças, dispostas sobre um losango de pano-meio-trocado, caracterizam a renda mariposa pela semelhança com esse tipo de borboleta. Alegria-de-pobre é uma renda barata e acessível às pessoas menos favorecidas, pois apresenta modelo simples e de rápida execução. Sabão-comgás é bico que deve nome a sua fácil execução, e a tarefa, ligeira, torna-se bastante lucrativa, pois, com sua venda, a artífice consegue o dinheiro necessário à compra, na feira semanal, de sabão e gás (querosene), elementos indispensáveis à lavagem da sua roupa e à iluminação de sua casa. Um bico, ornado de traça e trança, e tendo uma ponta chamada “ponta-de-arrebite” (nome este que lhe vem do ponto solto), quando é constituído em grupo de três laçadas, recebe a denominação genérica de Carrapicho. Carrapicho (Bidens pilosus, Linn) é uma planta muito conhecida no Ceará. Acode-precisão é renda ligeira, de fácil execução e grande procura. A denominação vem-lhe da vantagem de se obter,

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Renda produzida sobre molde de papelão perfurado.Coleção Museu Arthur Ramos.

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com a venda de alguns metros, dinheiro para as pequenas necessidades. Desde que a renda entrou no Brasil, logo começou, como seria natural, a sua difusão. Transportada de um lugar para outro, foi sofrendo modificações de modelo e, principalmente, de nome. Tomemos como exemplos o caso do bico Peixinho, muito comum no Ceará e que, sendo de rápida e fácil manipulação, se presta admiravelmente à aprendizagem da arte rendeira.1 Em Limoeiro do Norte (Ceará), fomos encontrá-lo como o nome de Farinha-seca. Flor-de-goiaba é outro nome digno de nota: uma flor, formada de pano-aberto, circundada de cordão, sobre fundo de filó recebe, em Mundaú, em virtude de presumível semelhança com a flor do Psidium guajava Linn, o nome de flor-de-goiaba. Em Pacajus, por motivos idênticos, é conhecido por caju (Anacardium occidentale, Linn). Ainda no Ceará, vamo-nos deparar com muitas outras denominações para rendas: pau-nas-costas, costela-de-noiva, orelha-de-burro, retirante, chega-a-todos, compra-café, beiju, maria-bonita, boa-noite, lembre-se-de-mim, lacinho-de-noiva, cruzeiro-do-sul, pau-de-rede, cangalha, caminhodo-céu, vinte-e-dois, quatro-dados, cajá, corrente-encontrada, rosa-mesquita, muçu, colchete, galo-doido, pipoca, miss, pequeno-grande, fundo-de-tijela, etc.

Renda de Bilros

Em Alagoas, entre os mais originais, citemos: milindre-cacheado, tapioca-sem-coco, pontade-farofa, aranha-presa-na-corrente. Na Bahia, merecem destaque as denominações: penca-de -banana, flor-de-araçá, feixe-de-lenha, bico-doscarocinhos-de-dendê, estrada-do-bonfim, tou -lá-tou-cá (estou lá, estou cá), palma-de-arruda, bico-das-corriqueiras, etc. No Ceará, no Piauí, na Paraíba e em Pernambuco, existem modelos com dizeres: boa-noite, saudade, Maria, JHS e denominações outras, comuns aos estados nordestinos. No sudeste, temos Minas Gerais com: pipocão, torre-de-igreja, bico-de-feitiço, baratinha-torta, bico-do-povo, crolira, bico-de-sula, bico-de-ponta-de-trança, talhada-de-melancia, ajuda-pobre, etc. Em Santa Catarina aparecem: abacaxi, bocade-sino, favo-de-abelha, tramoia-em-quadrado, quadrado-de-margarida, etc. De Norte a Sul vemos, pois, uma quantidade imensa de denominações, algumas altamente descritivas, outras arbitrárias e pitorescas, mas sempre facilmente reconhecidas pelas rendeiras.

1 Este bico é, depois de executado o tru-tru e o dente-de-cão, sentado na almofada para as crianças se exercitarem. Sendo estreito, mas já com os pontos mais difíceis, o modelo é muito usado e, por isso, bastante divulgado.


Valdelice Carneiro Gir達o

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Renda de Bilros


Centros de Produção

Decadência

Embora as rendeiras estejam espalhadas por todos os recantos do Brasil, é nos Estados do nordeste onde se situam os maiores focos rendíferos. No Ceará, destacam-se pela sua produção, particularmente os municípios próximos à Capital, principalmente os da orla marítima e suas adjacências. A arte é praticada pela mulher do povo, em geral esposa e filhas de pescadores ou de lavradores. Quem visita regiões produtoras pode observar grupos de rendeiras ou labirinteiras, à porta de suas casas, sentadas no chão, de pernas cruzadas, à maneira oriental. Nenhuma frequentou escola profissional ou colégio, onde lhe fossem ensinados trabalhos manuais. Segundo tradição secular, aprendem umas com as outras, iniciando, aos sete anos de idade, o seu tirocínio. Aperfeiçoam-se gradativamente, por esforço próprio, até chegarem a exímias artesãs. Embora já idosas, não abandonam a sua arte.

A renda de almofada já representou, para a mulher do nordeste, principalmente para a cearense, o seu melhor ganha-pão. Hoje, a almofada é, em geral, usada apenas nas horas de lazer ou folga de suas ocupações profissionais. Impossível lhe é, com efeito, viver da arte de fazer renda. Um dia inteirinho se torna necessário ao feitio de uma simples aplicação (pilica), que será vendida, de ordinário, por quantia insignificante. Atente-se que, para esse feitio, utilizou ela uma meada de linha esterlina bastante cara, ficando-lhe irrisório lucro por um longo dia de trabalho especializado. Daí podemos dizer, com segurança, que esse artesanato se acha em completa decadência. As velhas rendeiras, por motivo econômico, estão abandonando a profissão, visando a misteres mais lucrativos. Algumas preferem entregar-se ao bordado a maquina; outras se fazem operárias de fábricas, empregadas domésticas, ou qualquer profissão. Os belos e artísticos modelos de outrora, que dependiam de tanto esforço, tempo e emprego de melhor material, estão sendo abandonados, simplificados ou substituídos por outros, de tipo mais grosseiro, de mais rápido preparo. E, assim, vão dando azo a que se extinga, pouco a pouco, um dos mais belos e artísticos tipos de confecção manual.

Mãos trabalhando com almofada de bilros de madeira torneada. Coleção Museu Arthur Ramos

Valdelice Carneiro Girão

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Tipos de Pontos

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Pontos – filó, pano-aberto, cordão, melindre

Pontos - traça, trança, ponto-solto

Pontos – coentro, pano-fechado

Pontos – aranha, pano-fechado, cordão, melindre

Pontos - mosquinha, pano-aberto, pano-fechado

Pontos - cordão, trocado, pano-meiotrocado

Pontos - grade, trança

Pontos - traça, melindre, trança, pontosolto, pano-aberto

Renda de Bilros


Pontos - feitiço-de-quatro ou barafunda, pano-aberto, pano-fechado

Pontos - traça, trança, picoti, pano-fechado

Pontos - traça, trança, ponto-de-espinho, pano-aberto

Pontos - traça, tijolinho

Pontos - cordão, ponto-de-rato ou fundo-de-melindre

Pontos - traça, trança, pano-aberto, pontode-espinho, batuque (tringo ou charita)

Pontos - trocado, torcido

Pontos - aranha, cordão, dois-trocados

Pontos - crivo, trocado

Pontos - trocado, pano-aberto, aranha ou besouro, ponta-rabo-de-pato

Pontos - traça, pano-aberto, batuque, ponta-de-prata

Pontos - trocado, pano-aberto, aranha ou besouro, par-caído ou carreira-do-maranhão

Valdelice Carneiro Girão

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Pontos - grade e palhetão

Pontos - dado, pano-fechado, carreira, ponta-casco-de-burro

Pontos – carreira, pano-aberto, cocada ou tijolinho

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Renda de Bilros

Pontos – traça, pano-aberto, corrido

Pontos – trança, pano-meio-trocado, ponta-de-trança

Pontos – traça, trança, pano-meio-trocado ou pano-aberto, ponta-de-arrebite

Pontos – trocado, pano-aberto

Pontos – trocados

Pontos – carreira, pano-aberto, cordão

Pontos – barafunda, trança, pano-aberto, pano-fechado

Pontos - dado, pano-aberto, carreira

Pontos – traça, trança, ponto-de-espinho ou ponta-de-alfinete


Pontos – carreira, cordão, pano-fechado, trocado

Pontos – traça, pano-meio-trocado, trança-com-picot, pano-fechado, corrido

Pontos – dado, búzio, meio-trocado, pano-meio-trocado

Pontos – besouro ou aranha, trocado, ponta-casco-de-besouro

Pontos – traça, trança, pano-meio-trocado, tringo, trinco ou picot, trocado

Pontos – traça-quadrado (dado), trocado, pano-meio-trocado

Pontos – bordão (cordão), trocado

Pontos – carreira-fechada, cordão, pano-meio-trocado

Pontos – carreira-aberta, dado ou cordão

Pontos – traça, trança, pano-meio-trocado, ponta-de-sobrancelha

Pontos – traça, charita, ponta-de-alfinete

Pontos – traça, trança, ponta-de-leque

Valdelice Carneiro Girão

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Pontos – dado, carreira, ponta-de-cadarço

Pontos – urupemba, paneira

Pontos – cordão, carreira, tringo, pontade-prata

Pontos – filó, paninho-meio-trocado, tringo, cordão

Pontos – besouro ou aranha, panomeio-trocado, trocado-cheio

Pontos – trocado, pano-fechado

Pontos – baratinha, trança, tijolinho

Pontos – barata, trança

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Renda de Bilros

Pontos – urupemba, peneira

Pontos – filó, cordão, peneira

Pontos – traça, par-caído, meio-trocado

Pontos – carreira, cordão, pano-meiotrocado


Pontos – esteirinha, traça-de-dois

Pontos – bananinha ou matachinha, torcidinho, esteirinha, pano-liso, trança-de-quatro

Pontos – traça

Pontos – cordão, pancada-inteira

Pontos – palma, trança, meia-pancada

Pontos – tijolinho ou sopapinho, pancada-inteira, grade

Pontos – pancada-inteira, meia-pancada- encaracolada (imitando cordão)

Pontos – esteirinha, traça

Pontos – tramoia, trocado

Pontos – favo-de-abelha, trocado

Pontos – bananinha, tramoia

Pontos – cordão, jasmim, pancada-inteira

Valdelice Carneiro Girão

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Pontos – cordão, pancada-inteira, meia -pancada

Pontos – cordão, pancada-inteira, pano-batido

Pontos - pancada-inteira, pano (em forma de cocada)

Pontos – cordão, coentrinho, meiapancada, pancada- -inteira

Pontos – pano-aberto, traça, tijolo, coentro-trocado-dobrado, cordão

Pontos – traça, pano-fechado, pano -aberto, trança

Pontos – mosca ou aranha, pano-aberto, coentro

Pontos – melindre ou ponto-de-rato, pano-aberto, traça

Renda de Bilros


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Renda de Bilros


Coleção Luísa Ramos

Valdelice Carneiro Girão

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Renda de Bilros

Renda de Bilros – Valdelice Carneiro Girão


Alagoas “Alagoas é um dos principais locais de produção rendífera nordestina. As rendeiras nesta região são geralmente mulheres dos trabalhadores das fazendas (rendeiros). Amostras de rendas de bilro – Rendas adquiridas por Alice Tibiriçá à Federação Alagoana pelo Progresso Feminino, para serem revendidas em São Paulo, em benefício dos Lázaros.”

Valdelice Carneiro Girão

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Renda de Bilros


1. BICO Nome – ignorado Pontos – pano-fechado, coentro e trança Bilros – 13 pares Largura – 50 mm Procedência – Alagoas, 1931 2. RENDA Nome – ignorado Pontos – trocado, pano-fechado Bilros – 14 pares Largura – 60 mm Procedência – Alagoas, 1946 3. BICO Nome – ignorado Pontos – trocado, pano-fechado Bilros – 14 pares Largura – 65 mm Procedência – Alagoas, 1931 4. RENDA Nome – ignorado Pontos – pano-aberto, traça, tijolo, coentro-trocado-dobrado, cordão Bilros – 35 pares Largura – 90 mm Procedência – Alagoas, 1946 5. BICO Nome – ignorado Pontos – traça, pano-aberto, coentro-trocado-dobrado, barafunda, tijolo, trança Bilros – 31 pares Largura – 90 mm Procedência – Alagoas, 1931

8. RENDA Nome – ignorado Pontos – traça, trocado, trança Bilros – 20 pares Largura – 70 mm Procedência – Alagoas, 1931 9. BICO Nome – ignorado Pontos – traça, trança, trocado, pano-fechado Bilros – 29 pares Largura – 100 mm Procedência – Alagoas, 1931 10. RENDA Nome – ignorado Pontos – traça, trança, trocado, pano-aberto Bilros – 23 pares Largura – 50 mm Procedência – Alagoas, 1931 11. BICO Nome – “Carolina” Pontos – traça, trança, pano-aberto, pano-fechado, trocado Bilros – 17 pares Largura – 50 mm Procedência – Alagoas, 1931 12. RENDA Nome – ignorado Pontos – traça, trança, pano-aberto, urupemba Bilros – 30 pares Largura – 70 mm Procedência – Alagoas, 1931

6. BICO Nome – ignorado Pontos – traça, pano-aberto, pano-fechado, tijolo, coentro-trocado-dobrado, cordão Bilros – 28 pares Largura – 85 mm Procedência – Alagoas, 1931

13. BICO Nome – ignorado Pontos – traça, pano-aberto, pano-fechado, barafunda Bilros – 28 pares Largura – 80 mm Procedência – Maceió – Alagoas, 1946

7. RENDA Nome – ignorado Pontos – trança, traça, pano-aberto, pano-fechado Bilros – 30 pares Largura – 80 mm Procedência – Alagoas, 1931

14. RENDA Nome – “Folha-do-mar” Pontos – traça, trança, pano-fechado, pano-aberto, trocado Bilros – 30 pares Largura – 70 mm Procedência – Maceió – Alagoas, 1946

15. BICO Nome – “Folha-do-mar” Pontos – traça, pano-fechado, pano-aberto, trança Bilros – 35 pares Largura – 100 mm Procedência – Maceió – Alagoas, 1946 16. RENDA Nome – “Folha-do-mar” Pontos – traça, trança, pano-fechado, pano-aberto Bilros – 30 pares Largura – 75 mm Procedência – Maceió – Alagoas 17. RENDA Nome – ignorado Pontos – pano-aberto, mosca ou aranha, coentro Bilros – 23 pares Largura – 60 mm Procedência – Maceió – Alagoas 18. BICO Nome - ignorado Pontos – mosca ou aranha, pano-aberto, coentro Bilros – 23 pares Largura – 60 mm Procedência – Maceió – Alagoas, 1946 19. RENDA Nome – ignorado Pontos – barafunda, pano-aberto Bilros – 18 pares Largura – 35 mm Procedência – Maceió – Alagoas, 1946 20. BICO Nome – ignorado Pontos – barafunda, pano-aberto, pano-fechado Bilros – 30 pares Largura – 80 mm Procedência – Maceió – Alagoas, 1946

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