Controle e subversĂŁo (Vila Rica)
CONTROLE E SUBVERSÃO EM VILA RICA Produto final do Estudo de Campo de Ouro Preto - 2018
Texto Antigo Obra ficcional que contempla conteúdos das áreas de Ciências, Geografia, História e História da Arte
Antônio Milad, Davi Sakamoto, Francisco Mele, João Vitor Garcia, Laura Nicolace, Sara Alves, Tainá de Barros e Theodoro dos Reis - 8°B Escola Miró - Ribeirão Preto/SP
26 de outubro de 1791 -Vila Rica (Minas Gerais) Olá, meu nome é Francisco Gomes de Santes tenho 48 anos e estou escrevendo esse diário para relatar minha história frente a esses ocorridos relacionados à Inconfidência Mineira. Acho que talvez possa ser usado como fonte para futuras pesquisas e estudos sobre essa fase, porém vou começar contando um pouco da minha história e depois relatar os acontecimentos do dia a dia. Nasci no dia 1 de setembro de 1741, no Brasil. Porém, sou filho de um português e uma Italiana, que vieram para o Brasil em busca de melhores qualidades de vida. Tive uma infância boa, meus pais nunca passaram dificuldades financeiras e, como filho único, herdei tudo o que era deles. Eles morreram há pouco tempo mas, como dediquei minha vida a eles, nunca me casei ou tive filhos. Por isso hoje moro sozinho, quer dizer, sou eu e meus escravos, é claro! No começo do ano, eu tinha 70 escravos, alguns trabalham em casa, mas a maior parte trabalha na minha mina, mas hoje 20 tiveram que ser vendidos.
5 de novembro de 1791 - Vila Rica (Minas Gerais) Há pouco tempo, comecei a apoiar os Inconfidentes, que é um grupo que se rebela contra o governo para não pagar os impostos cobrados pela Coroa Portuguesa (o quinto). É claro que os apoiava indiretamente, emprestando um local em minha casa para as reuniões, pois confesso que tenho medo da Coroa descobrir e nos punir. Foi por esse motivo que vendi 20 dos meus escravos, pois foi cobrado de mim a derrama e, como não tinha como pagar tudo de uma vez, eles ameaçaram tirar todos os meus bens materiais. Comecei a apoiar os inconfidentes por indicação de um dos meus amigos de infância, Joaquim Silvério dos Reis. Nossas mães sempre foram grandes amigas e, consequentemente, nos tornamos muito próximos. Também, fomos vizinhos até a adolescência, quando ele se mudou para o centro da cidade e nos afastamos um pouco. Mas uns quatro anos atrás, quando minha mãe morreu, nos reencontramos e voltamos a nos falar, quando também revi a mãe dele, por quem tenho grande consideração como uma segunda mãe pra mim.
6 de abril de 1791 - Vila Rica (Minas Gerais) Hoje, mais cedo, teve uma reunião secreta da Inconfidência nos fundos de casa. Não assisti a quase nada e não tenho nem ideia do que foi falado, talvez algo sobre um protesto que ocorrerá ou algo do tipo. Veio mais gente do que eu esperava, em torno de umas 25 ou 30 pessoas. Se o grupo continuar crescendo, não sei se vou querer que eles continuem se reunindo aqui. Muita gente vai chamar atenção do governo, que pode acabar descobrindo e me matando. Mesmo fazendo parte do grupo da inconfidência, não deixo de pagar o Quinto, um imposto que pede um quinto de todo o ouro que ganho na mina e é mandado para a Casa dos Contos onde as pepitas de ouro são transformadas em barras de ouro e é colocado o selo português para ser mandado para a Coroa.
7 de abril de 1792 - Vila Rica (Minas Gerais) Hoje de manhã, fui à missa na Igreja São Francisco de Assis. Fazia tempo que não ia em uma missa. Foi até interessante, mas nem prestei muita atenção. Semana que vem terá outro encontro dos inconfidentes em casa. Joaquim disse que queria me encontrar antes da próxima reunião, pois tinha uma coisa muito séria para me dizer. Insisti para ele adiantar o assunto, mas ele disse que não podia e teria que ser uma conversa totalmente particular. Estou um pouco apreensivo sobre o que ele vai dizer. Vou à sua casa hoje à noite tentar fazer com que ele me diga o que sabe.
8 de abril de 1792 - Vila Rica (Minas Gerais) Consegui encontrar Joaquim ontem à noite. Tivemos uma longa e assustadora conversa. Tem muita coisa sobre ele que não tinha ideia. Ele me disse que estava me contando porque ele e sua família tinham uma consideração muito grande por mim e minha família. Me disse que estava traindo os inconfidentes. Claro que não disse com essas palavras, mas foi isso que quis dizer. Disse que o governo o procurou e pediu que delatasse os envolvidos em troca do perdão de suas dívidas. Disseram que todos aqueles que fizessem parte dos inconfidentes seriam punidos com a morte. E me disse para quebrar qualquer relação com eles para que não fosse punido.
12 de abril de 1792 - Vila Rica (Minas Gerais) Hoje contei aos inconfidentes que não poderiam mais se reunir em minha casa e que não queria mais ter qualquer envolvimento com o grupo. Eles acharam muito estranho, queriam explicações. Falei que era só isso que iria dizer, e acho que desconfiaram um pouco. Me sinto mal por não contar para eles. Sabe, eles foram tão bons comigo, mas sei que não posso contar para não trair Joaquim, que confiou em mim e ainda me dará uma quantia do dinheiro. Só não queria ser visto como traidor.
17 de abril de 1792 - Vila Rica (Minas Gerais) No início desta noite, os inconfidentes se reuniram novamente, claro, não em minha casa, mas em algum lugar bem escondido. Não tenho nem ideia de onde possam ser. Mais tarde da noite, a Coroa invadiu o local e prendeu a todos. Não tiveram muitas testemunhas, então o que sabemos são só boatos. Mas depois daquele dia todos os inconfidentes sumiram, dizem que eles foram exilados. Porém, Joaquim José Da Silva Xavier (o Tiradentes), que era o mais simples socialmente, um homem com pouco dinheiro, mas um homem de honra, foi usado pela Coroa talvez para assustar o resto da população. Ele foi morto e as partes de seu corpo foram espalhadas pelas principais estradas da região, e a sua cabeça foi posta no alto do meio da principal praça da cidade.
20 de abril de 1792 - Vila Rica (Minas Gerais) Ontem, encontrei Joaquim, meu velho amigo, que me deu a quantia do dinheiro. Não foi uma quantia muito grande, mas tudo bem. Na verdade nem precisava do dinheiro, porque ele já me salvou da morte ou mesmo da prisão. Não sei se vou encontrá-lo novamente, ele me disse que ia se mudar logo porque já estava sendo visto como traidor e que seus pais estavam decepcionados com o que ele fizera por dinheiro, o que também era um motivo para se mudar. Me despedi dele e disse que sentiria saudades.
21 de abril de 1792 - Vila Rica (Minas Gerais) A cabeça de Tiradentes não ficou por lá muito tempo. Sua exposição durou só uma noite. Ela foi roubada pelos Inconfidentes que não aceitaram que o humilhassem de tal forma. Desde então, não foi mais vista. Talvez ainda tenham membros dos Inconfidentes soltos ou nem todos eles foram mortos. Sorte a minha de ter sido avisado para sair do grupo. Não consigo nem me imaginar em tal situação.
Controle e subversĂŁo (Ouro Preto)
CONTROLE E SUBVERSÃO EM OURO PRETO Produto final do Estudo de Campo de Ouro Preto - 2018 Texto Novo Obra ficcional que contempla conteúdos das áreas de Ciências, Geografia, História e História da Arte
Antônio Milad, Davi Sakamoto, Francisco Mele, João Vitor Garcia, Laura Nicolace, Sara Alves, Tainá de Barros e Theodoro dos Reis - 8°B Escola Miró - Ribeirão Preto/SP
17/O4/2016 Oi, meu nome é Enzo Vilani da Silva, tenho 17 anos e moro em São Paulo. Moro com meu pai, pois minha mãe faleceu quando eu tinha sete anos. Ela tinha câncer e já estava muito cansada, mas nunca desistiu de lutar. Enfim, vim passar o final de semana na casa da minha avó em Ouro Preto, pois é o aniversário de 72 anos dela, e ela mora em uma casa antiga e bem grande. Hoje pela manhã estava mexendo em umas caixas com coisas velhas, pois minha avó pediu que pegasse em livro de receitas para ela, quando encontrei um livro que parecia bem velho. Por curiosidade, abri o livro e percebi que era um diário. Levei-o comigo. Depois que comecei a ler, vi que era de alguém chamado Francisco, ele contava sobre sua participação na Inconfidência Mineira, e lembrei até que tinha estudado sobre isso na escola. Foi quando encontrei esse diário que resolvi escrever meu próprio diário de relatos e escrever também coisas relacionadas à história que li no diário de Francisco.
Perguntei pra minha avó sobre o diário e ela disse que o comprou em uma loja de antiguidades, há muito tempo. Primeiro pensou ser um livro, depois percebeu que era um Diário. Ela não tinha conseguido ler, por isso não sabia do que se tratava, e também disse que poderia ficar com ele. 18/04/2016 Hoje li uma parte do diário que falava sobre os escravos de Francisco. Ao ler, tive uma sensação inexplicável, como uma pontada em meu estômago, e me fez chorar, pensar nessa dor e sofrimento, o medo de não saber se um dia reencontrariam suas famílias novamente. Com certeza, uma das piores sensações que já senti na vida. Apesar de saber que isso era normal naquela época, não faz sentido para mim um ato tão desumano como esse.
19/04/2018 Um ponto do diário de Francisco que mais me chamou atenção é com relação a traição que aconteceu. Joaquim Silvério dos Reis, amigo de infância de Francisco, foi o grande traidor de todo o grupo dos inconfidentes, por dinheiro, e também colocou Francisco nisso que, por medo, foi na onda dele e deixou os inconfidentes, que eram tão bons com ele, na mão; E o pior, por um dinheiro que confessa não precisar.
20/04/2018 Ler o diário me fez lembrar de um poeta que li na escola, de quem até tinha gostado de algumas de suas poesias, chamado Claudio Manuel da Costa, que viveu na mesma época da Inconfidência em Vila Rica. Pesquisei mais sobre ele e descobri que foi também advogado de prestígio, fazendeiro abastado, cidadão ilustre, pensador de mente aberta e amigo do Aleijadinho, a quem teria possibilitado o acesso às bibliotecas clandestinas que seriam mais tarde apreendidas aos Inconfidentes. Também tinha sido um dos Inconfidentes.
21/04/2018 Estava pensando e não sei se atualmente passamos por alguma subversão como essa no Brasil. Talvez possamos comparar com o impeachment que vivemos há pouco tempo, quando a população foi para a rua lutar pelo que queriam, e tirar do governo os políticos com quem não estavam satisfeita. Mas claro, não chega nem perto da violência que foi a Inconfidência Mineira, o que aconteceu com Tiradentes, por exemplo. Uma diferença do impeachment para a Inconfidência é que, naquela época, o modo de subversão deles foi não seguir mais as regras, e hoje as pessoas foram protestar para lutar pelos seus direitos nas ruas.
23/04/2018 Estava pensando o quão severo era o modo como a Coroa agia com os cidadãos, que se fizessem qualquer ação fora da lei já eram levados à morte. Com certeza, isso os amedrontava como na Idade Média, quando a Igreja usava o medo das pessoas de não “irem para o céu” como forma de fazê-los seguir as leis. Ainda bem que hoje temos liberdade de lutar por nossos direitos. É claro que se não cumprirmos as leis seremos punidos, mas de uma forma justa comparado ao que cometemos, e não de um jeito tão insensato como naquela época.
26/04/2018 Ontem fui com minha avó conhecer um pouco da cidade. Ela ficou muito feliz por eu ter demonstrado interesse pelo assunto da história da cidade, já que nunca antes tinha perguntado sobre isso. Ela me respondeu várias perguntas e me levou para conhecer a Casa dos Contos, onde tinham vários instrumentos e relatos interessantes relacionados ao diário de Francisco. Também visitei algumas minas e igrejas importantes da cidade. Gostei bastante da viagem e pretendo voltar mais vezes.