ENTRE haikais e imagens - 8°B

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ENTRE haikais e imagens


Produções dos estudantes do 8°ano B em Escrita Criativa e História da Arte (Org.) Professores Felipe Nassar e Beta Ricci Escola Miró, Ribeirão Preto/SP, abril/2020 Capa: Ilustração com edição fotográfica da obra “Monumento Mínimo” de Néle Azevedo


ENTRE haikais e imagens



PREFÁCIO “Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo” escreveu Carlos Drummond de Andrade em seu famoso poema “Sentimento do mundo”. A questão estava assim posta para ele: o que um poeta deve fazer, durante a Segunda Guerra mundial? Deve deixar a poesia de lado e lutar no front, como qualquer outro trabalhador? Deve escrever uma poesia-entretenimento, para aquecer os corações e fazê-los esquecer da cabeça, da razão, contribuindo assim para o descanso e para a alienação? Drummond discorda de todas essas “perguntasrespostas”. Seu eu lírico afirma, no mesmo poema, que não há como fugir da realidade, embora ele se sinta “disperso, anterior a fronteiras”, pede perdão ao leitor por não acreditar no objetivo de uma guerra, na qual, sabemos, nunca haverá vencedores. Nossos alunos podem se fazer a mesma pergunta: qual o papel do poeta em uma época de Pandemia? Nunca é demais lembrar que a situação é absolutamente nova, nenhuma geração viva passou por isso antes (exceto as poucas pessoas que estavam vivas em 1918, na gripe espanhola). Como será que se sentem nossos jovens, vendo pela internet, meio sem querer, às vezes até na forma de memes e “figurinhas”, covas sendo construídas em excesso em todos os lugares do mundo? Sim, nossos pré-adolescentes também têm “apenas” duas mãos, ou seja, o lugar do poeta é um lugar impotente: ele não eliminará a guerra, talvez não conforte nem questione ninguém. No entanto, não nos esqueçamos: eles também carregam consigo todo o “sentimento do mundo”, e isso não é pouco: toda poesia, de qualquer época, se propõe a ser universal a partir do trabalho com a própria subjetividade; ou seja, só atingiremos o mundo e as coisas dos fatos reais se conseguirmos olhar para dentro. A solução se apresenta aqui, com “Haikais” (ou Haicais), poesia de tradição oriental reformulada ao sabor da literatura moderna brasileira: são três versos, como a poesia que capta um instante, como falar pouco para significar muito, a partir de três temas determinados pelo professor. Sigamos o caminho proposto por Drummond: diante das agruras do mundo, a solução não passa pela negação nem pela aceitação irrestrita e sem crítica, mas sim pela procura do próprio olhar, pela costura entre fios do discurso, pela escolha subjetiva e complexa de poetar. Felipe Nassar Observação: o livro traz dois haikais e duas imagens criadas por cada aluno – uma fotografia editada da obra “Monumento Mínimo” de Néle Azevedo e um autorretrato nada tradicional. Alguns alunos, infelizmente, não participaram.



TRANSITORIEDADE

MONUMENTO MÍNIMO (NÉLE AZEVEDO)


O presente é agora O agora já passou E o futuro que é agora já passou também. (Tiago)

Tudo que existe tem seu tempo Pessoas vão e vem E nada é possível fazer. (Eduardo)

Na vida o tempo passa Passa tão rápido que Não se dá conta, que já foi à óbito. (Pedro B.)

Nós sem percebermos, Somos todos prisioneiros, Do tempo, e até onde ele nos levar. (Helen)


Um dia serei incrível Um dia serei grande Um dia deixarei de existir (Alice)

Amar é um elo Entre o azul E o amarelo. (Ana Luiza B.)

Estou crescendo Estou amadurecendo Mas não sei se quero isso (Leonardo)

Você está dentro De uma máquina do tempo Só que ela não é controlada por ninguém (Nina)


O corona por aqui veio transitar Mas se transita não é eterno Então sorria, lave as mãos, vai passar (Ana Clara B.)

As pessoas vão para lá E para cá Mas nunca saem do lugar (Fábio)

A vida é transitória Então aproveite bastante Pois ela é apenas uma (Júlia)

Viva a vida Pois antes que veja Ela já foi embora (Maria Fernanda)


Ter, não ter Ser, não ser Movimentar é viver! (Sophia)

A vida é uma viagem Uma viagem sem volta E sem tempo para arrependimentos (Manuela)

Um homem solitário que tem um vazio dentro de si. (Joaquim)


(Giovana)

(Ana Clara B.)

Nada é imutável. As mudanças são necessárias deixa mais leve, traz movimento, vida. (Gabriel S.)


(Leonardo)

(Manuela)

(Eduardo)


Essa imagem me faz pensar na impermanência, e por outro lado, no ângulo da fotografia as esculturas não parecem tão pequenas. (Fábio)

(Helen)

(Thaís)


Apagando pessoas, sรณ deixando o gelo. (Ana Clara Nana)

(Maria Fernanda)

(Tiago)


As pessoas estão olhando as esculturas como se fossem pessoas comuns como elas, sentadas, pensando no tempo como algo a ser alcançado. (Ana Luiza B.)

(Gabriela)

(Enzo)


A vida ĂŠ nĂłs que fazemos, e por isso precisamos ter respeito uns com os outros (Pedro B.)

(Julia)



NATUREZA

CARTÃO POSTAL (TARSILA DO AMARAL)


Queria ir pro mar Queria o mar em mim Mas eu fico tão longe assim (Sarah)

Ora rasteja Ora se fecha Voa, voa borboleta (Sophia)

Minha árvore Feita de Mármore Não é de verdade (Thaís)

Na floresta Que não é floresta Por que floresta não existe mais (Fábio)


No verão tem as praias No verão tem o sol No verão fico em casa (Alice)

O fogo queimou Alguns sobreviveram A vida teimou (Gabriel S.)

A natureza Algo extraordinário Que muitos ainda não sabem apreciar (Manuela)

A natureza é única Tadinha ela sofre muito Pois o ser humano a machuca demais (Júlia)


A abelha chegou Já logo sai Tenho medo de abelhas (Enzo)

Tudo é vida igual à morte, Tudo é luz com escuridão, Tudo é energia sem energia. (Gabriela)

Estou na floresta Os pássaros cantam E as arvores se mexem (Giovana)

Uma chama bem ardente Doí só de pensar E a mata está a queimar (Joaquim)


Contemplar a Lua NĂŁo ver o Sol A vida e a morte num tempo sĂł (Ana Clara Nana)



AUTORRETRATO

DIÁLOGOS COM CAMPONESES DE TIANGONGSI (CHEN SHAOFENG)


Meu retrato Na folha Me deixa caolha (Ana Clara B.)

O primeiro mergulho Trabalho duro Pรณdio! (Gabriel S.)

Me vi no espelho, Me vejo no retrato. Mas sรณ vejo o abstrato. (Gabriela)

Me desenho em um quadro Quando vejo Estou quadrada (Giovana)


Um quadro estou a pintar Em frente ao espelho Espelho do meu coração (Joaquim)

Veja você mesmo No fundo de sua alma Para que você não se perca nessa história (Maria Fernanda)

Os girassóis olham para o sol Eu fico sozinha e parada Olhando para o nada (Nina)

A menina se foi Não me reconheço Tropecei num espelho (Ana Clara Nana)


Gosto de jogar Gosto de programar Mas odeio esperar (Enzo)

Eu nunca saio de casa Mesmo nรฃo saindo A quarentena me deixa enjoado (Leonardo)

De ato frรกgil Diante do espelho Sou forte e รกgil. (Ana Luiza B.)

Na cadeira, na mesa Jogando ou pensando em cachorros Serรก que isso sou eu? (Tiago)


Meu desenho No espelho Remete-me ao vermelho (ThaĂ­s)

Olho pra janela A janela olha pra mim NĂŁo sinto nada (Sarah)

Nada me impede De um dia Ser casado com uma mulher rica (Pedro B.)

Uma ideia ruim depois da outra Eu finalmente vou fazer Algo que eu realmente amo. (Eduardo)


Eu com os meus cachorros e no celular, A única coisa que se tem para pensar. Quando será que está quarentena vai acabar? (Helen)


A minha imagem me traz um sentimento de eu estar dividida em dois mundos diferentes: O REAL/ O FICTĂ?CIO (ThaĂ­s)

(Ana Luiza B.)


(Gabriela)

Eu sou o barbante, sรณ fluindo, toda frouxa, sem controle de nada nesse mundo estranho (Nina)


(Ana Clara Nana)

Manuela


(Joaquim)

(Ana Clara B.)


(Sophia)

(Eduardo)


(Maria Fernanda)

Um papel amassado, sem inspiração. (Fábio)


(Helen)

(Julia)


(Pedro B.)

(Tiago)


Gabriel M.

(Giovana)




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