Relato de Viagem - Controle e Subversão

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Relatos de Viagem: Produto Final do Estudo de Campo Ouro Preto – 2016 Bianca Avelino, Enrico Laguna, Fernanda Sanches, Pedro Tsunoda, Tamer Choaib e Vinícius Silva – 8°ano Ciências, Geografia, História e História da Arte Escola Miró – Ribeirão Preto/SP


Meu nome ĂŠ Bernardino Nogueira dos Santos Vianna. Nasci em 1691. Iniciei a escrita deste diĂĄrio em 1710.


Começo quando, de Portugal, parti em direção à terra do Pau-Brasil. Para chegar, por monstros e apuros passei. De Paraty, no lombo de meu burro segui. Meu destino? Villa Rica. Ao alcançá-lo, meu burro troquei por dois escravos e material para o garimpo.


A casa cedida a mim pela Coroa Portuguesa localizavase próxima ao rio, de onde o ouro era extraído diariamente. Em 25 de julho de 1710 começo a garimpar.


Não demorou muito para que o tão sonhado minério chegasse em minhas mãos. Mesmo com todos os impostos da coroa enriqueci muito desde que adentrei Villa Rica.



A Irmandade dos Portugueses se uniu em 1711 para a construção da Matriz Nossa Senhora do Pilar. Por sermos nobres e ricos, investimos muito ouro e contratamos os melhores artistas da época para a concepção das imagens.


Em 1714, a jovem Armelinda Cornélia de Alcantro dos Reis roubou meu coração. Admirado com sua beleza, passei a dedicarme inteiramente a conquistá-la.

B


Em 1715, finalmente consegui que seu pai aceitasse nossa união matrimonial. Apesar de toda a felicidade, o casório me trouxe também problemas. Recebi a notícia de que meu melhor escravo havia fugido. No jornal anunciei a fuga do mesmo e ofereci uma recompensa em dinheiro.



Após alguns dias, Galdinho foi devolvido e descobri que participava da construção da Igreja Santa Efigênia mesmo não sendo livre. Enquanto torturava-o, ele gritava tentando explicar o motivo da ajuda na construção: Seu desejo era a Carta de Alforria.


Acabo de receber a notícia de que estou com tuberculose. Sei que a morte está próxima, logo darei meu último suspiro. Ao reler minhas observações, percebi que Galdino, por sua fidelidade, merece a alforria. Isso farei. E tenho certeza de que meu filho, de agora treze anos, se orgulhará de mim.



Meu nome é Rubião. Nasci em 1740 e minha mãe me entregou este diário quando completei 18 anos, 5 anos após a morte de meu pai.


Li o diário e fiquei muito interessado, por isso, decidi continuá-lo. Estudei em Portugal, na Universidade de Coimbra, onde me formei em Direito. Após regressar a Villa Rica, adentrei a um grupo contrário a Coroa, e por ela éramos chamados de “Inconfidentes”.


Nesse grupo conheci um jovem dentista, de nome Joaquim, mas chamavam-no de Tiradentes. Lutávamos primeiro contra os altos impostos, mas também pela independência do país.


Estávamos sempre buscando uma forma de nos subvertermos à Coroa. Porém fomos descobertos. Eu era nobre, por isso fui exilado. Tiradentes, por sua vez, não teve a mesma “sorte”, seu destino foi a forca…


Mesmo exilado, percebi que corro risco e, por isso, deixarei de escrever. Ainda assim, feliz estou. Deixo Georgina Pereira Vianna gerando meu herdeiro - a ele deixarei este diรกrio para que minha histรณria continue a ser contada.



Meu nome é Lucca Vianna e tenho 25 anos. Estou indo para Ouro Preto para visitar os lugares por onde meus parentes passaram e escreveram neste diário que encontrei no porão há uma semana.


Gostaria de seguir o trajeto do meu tataravĂ´, indo de burro para Villa Rica. Mas pelo nome podemos perceber que muitas coisas mudaram, inclusive nossos meios de transporte. Por isso para Ouro Preto vou de aviĂŁo. Pousei no aeroporto de BH e segui de carro atĂŠ meu destino final.


Me hospedei no Hotel Colonial, próximo à praça Tiradentes e outros pontos visitados por meus antepassados.


Comecei visitando duas minas: a Mina do Chico Rei e a Mina da Passagem, representando o primeiro período da aventura de meu avô na cidade com a mineração. Ao chegar na Mina do Chico Rei, fui respeitado por causa de meu sobrenome que é muito conhecido no mundo da extração de minérios.


Vi muitos túneis construídos por crianças, e me senti mal, triste e envergonhado por minha família ter participado disso.


Para reconstruir a fase mais religiosa de meus parentes, visitei algumas das igrejas. Na Igreja do Pilar há muito ouro que, provavelmente, é fruto do trabalho escravo apoiado e praticado por minha família. Daí fui para a Santa Efigênia. É triste pensar que os escravos tinham de contrabandear ouro para construir um templo e fazer com que sua fé fosse concretizada.


Apesar de haver muitos detalhes e obras, há uma estrema diferença entre as igrejas frequentadas por escravos e pessoas de outras classes sociais. Pude perceber isso até pela localização. A Sta. Efigênia fica muito mais afastada da cidade do que a Igreja do Pilar.


Descobri que 60% das obras de Minas Gerais foram roubadas. É chocante que imagens que deveriam ser de todos são furtadas e vendidas de maneira ilegal.


Tive acesso a uma sala que antes era restrita.


Nessa obra – a pintura do teto da Sacristia – percebi que a mão da Santa estava invertida. Perguntei-me o porquê e após questionar o guia, este explicou que era uma forma de subversão. O artista quis passar uma mensagem para que as pessoas parassem de roubar.


Meu bisavô ainda teve sua fase de Inconfidente. Por isso visitei o Museu da Inconfidência. Vi muito sobre a oposição da época e quando sai encontrei uma manifestação. Pude ver o contraste entre a subversão antiga e a atual. Percebo também que o povo está muito frustrado pelo jeito agressivo da polícia resolver os impasses.



Infelizmente minha viagem está chegando ao fim, porém deixo meu diário para que meu filho continue com essa aventura.




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