Do Chamado ao Campo

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O swaldo P rado & P aulo F eniman

Em busca de um relacionamento saudável entre a igreja e o candidato ao ministério missionário

2ª edição


SUMÁRIO

Apresentação ...................................................................................... 7 Prefácio do autor | Oswaldo Prado.................................................. 11 Prefácio do autor | Paulo Feniman.................................................... 15 Introdução | Oswaldo Prado............................................................ 17 1......................................................................................................... 23 Compreendendo o chamado missionário........................................... 23 Oswaldo Prado 2......................................................................................................... 31 Um pouco de história para entender nossa visão missionária................ 31 Oswaldo Prado 3......................................................................................................... 41 "Recebi o chamado: o que faço agora?"............................................. 41 Oswaldo Prado 4......................................................................................................... 51 Os chamados missionários de nossos dias.......................................... 51 Oswaldo Prado 5......................................................................................................... 57 Relacionamento entre a igreja local e o vocacionado às missões........... 57 Oswaldo Prado 6......................................................................................................... 67


Relacionamento entre a organização missionária e o vocacionado às missões...................................................................... 67 Paulo Feniman 7......................................................................................................... 73 Parceria entre a igreja local e a organização missionária................... 73 Paulo Feniman 8......................................................................................................... 79 Dimensionando a caminhada até chegar ao campo.......................... 79 Oswaldo Prado 9......................................................................................................... 93 "Cheguei, e agora?"............................................................................ 93 Paulo Feniman 10....................................................................................................... 99 A missão de Deus: compromisso inalienável da igreja...................... 99 Oswaldo Prado Apêndice | Oswaldo Prado............................................................. 109 Os autores........................................................................................ 133


PREFÁCIO DO AUTOR Oswaldo Prado

A

pós ser desafiado nos últimos anos a publicar outra vez este pequeno livro, que escrevi há mais de dez anos, resolvi finalmente aceitar. Estou fazendo isso basicamente por duas razões principais. Primeira: o livro estava esgotado, e não havia mais possibilidade de adquiri-lo. Segunda: o tema continua relevante, mas o contexto atual é bem diferente. Não podemos viver de saudosismo, mas é importante registrar o que me levou a escrever este texto anos atrás. O inusitado despertamento missionário ocorrido no Brasil, especialmente a partir dos anos de 1980, fez com que igrejas, pastores, líderes, vocacionados,


do chamado ao campo

agências e organizações se lançassem ao cumprimento da missão de Deus, todavia sem entender bem o processo. Na época, eu pastoreava uma igreja local e também me incluía entre aqueles que, desejando ver a glória do Senhor espalhada por toda a terra, não sabiam direito como proceder, especialmente com relação aos que me procuravam afirmando que haviam recebido um chamado missionário. Em outras ocasiões, pregando em conferências e congressos, jovens e casais ofereciam-se no altar declarando a decisão de se tornar missionários. O passo seguinte era a inevitável e persuasiva pergunta: “Oswaldo, o que faço agora?”. Confesso que em várias ocasiões a mesma pergunta ecoava em meu íntimo: “Senhor, o que devo responder a esta pessoa que se diz chamada para te servir nas missões?” Quando essa questão era solucionada, surgiam outras: “Como confirmar se esta pessoa teve de fato um chamado ou se ocorreu apenas uma reação emocional?”; “De que formação esta pessoa necessitará para estar devidamente capacitada a servir?”; “E a igreja local? Qual o papel dela quanto aos vocacionados?”; “A igreja está apoiando esse chamado?”. Ao longo dos últimos anos, muitas dessas perguntas foram respondidas. Passamos a entender melhor o processo de chamado, capacitação, envio e cuidado pastoral. As igrejas se organizaram para atender a essa realidade por meio dos departamentos missionários. Pastores e líderes mostraram-se mais abertos e declararam apoio às igrejas, de modo que passassem também a contemplar os campos que branquejavam para a ceifa. Com isso, entramos numa nova etapa, e tudo parecia caminhar bem, sem dúvida com erros e acertos, mas com um compromisso que parecia avançar e se solidificar. Nesse meio-tempo, o Brasil saía de uma grande crise institucional e econômica, quando o povo ganhou poder de compra, e a inflação baixou a níveis internacionais. Foi também uma fase de franco e inusitado crescimento de evangélicos. A conclusão óbvia era que, em condições tão favoráveis, avançaríamos muito como igreja missionária. Ledo engano, pois nem tudo que estava acontecendo perdurou e amadureceu, como esperávamos. O compromisso missionário caminhou na contramão do 12


prefácio

desenvolvimento do país e do espantoso crescimento numérico das igrejas. Inebriadas do próprio crescimento, muitas igrejas passaram a se olhar como objetos de desejo e fixaram seus limites de atuação ao redor de si mesmas. Além disso, as igrejas passaram a abraçar vários modelos de crescimento, na maior parte adaptados de outros países, que a princípio pareciam corretíssimos. Esses modelos e seus autores tinham a intenção de implantar processos para promover um número maior de membros nas comunidades e ao mesmo tempo estabelecer uma nova hierarquia de comando sobre as igrejas. Isso fez com que “novos títulos” fossem acrescentados à liderança. Com isso, o missionário passou a ser uma espécie em risco de extinção, porque importava mais agora a imagem de uma igreja em pleno crescimento. Nos últimos anos, depois de mentorear e promover treinamentos para pastores e líderes, percebo que eles estão sobrecarregados, sem tempo para cuidar da família e sem saber mais o que é descanso e lazer. Eles fazem parte de uma estrutura que precisa crescer sem parar, mesmo que isso pareça muito mais um empreendimento comercial e menos uma igreja simples, bíblica e missionária. Assim, para se adequar ao novo momento, este livro foi reeditado com quatro novos capítulos. Desta vez, tenho a colaboração preciosa de Paulo Feniman, um grande amigo que tive a oportunidade de discipular por muitos anos, quando morava em Londrina (PR). Atualmente, ele é o diretor executivo da Missão para o Interior da África (MIAF) e atua como um dos líderes do movimento de Alianças Estratégicas Missionárias. Agradeço muito a ele e à MIAF por permitirem esta nova edição. Minha oração é que, ao ler este livro, seu coração seja tocado uma vez mais pelo compromisso com a missão de Deus no mundo. Não há nada de novo que possamos fazer. Na verdade, você precisa estar em plena sintonia com o que o Senhor já está fazendo ao redor do planeta e se engajar a Ele por meio de sua vida e de sua igreja local. Boa leitura! 13



PREFÁCIO DO AUTOR Paulo Feniman

M

eu coração encheu-se de alegria quando, numa conversa em meu escritório, Oswaldo Prado e eu começamos a sonhar com a reedição de Do chamado ao campo. Eu mesmo já havia sido profundamente inspirado por este livro no início da minha carreira missionária. Seus ensinamentos e a abordagem simples e direta ensinaram-me o que depois de algum tempo seria minha vivência até os dias de hoje. Ser convidado a escrever meus pensamentos e ideias forjados ao longo de mais de quinze anos de ministério é um grande privilégio. Isso é resultado da convivência com Oswaldo, que tem me acompanhado e dedicado sua amizade como verdadeiro companheiro de ministério.


do chamado ao campo

Os capítulos que escrevi são o reflexo de minha vida e de minha caminhada ministerial. É um pouco daquilo que vi e observei durante todos esses anos mobilizando, treinando e enviando missionários para a África. Minha oração é a mesma de Oswaldo. Oro para que, de alguma forma, as ideias e conceitos apresentados aqui possam ajudar o leitor vocacionado às missões. Desejo também que você, como pastor ou líder de missões, esteja cada vez mais comprometido em ajudar os membros de sua igreja a cumprir o chamado do Mestre.

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INTRODUÇÃO Oswaldo Prado

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embro-me perfeitamente do dia em que um jovem médico da igreja que eu pastoreava procurou-me após o término de nossa primeira conferência missionária. Ainda vestido com seu uniforme branco, pois acabara de chegar do consultório, entrou em minha casa e disse: — Algo aconteceu comigo ontem, durante aquela conferência. Acredito que o Senhor está me chamando para ser missionário. A declaração dele deixou-me atordoado, mas tentei dar a impressão de que tudo estava normal, embora por dentro me perguntasse: “E agora, Senhor, o que faço?” Sem me dar tempo para refletir melhor, ele prosseguiu:


do chamado ao campo

— Há um detalhe importante que eu também gostaria de compartilhar. Sabe aquele mapa-múndi colocado bem atrás do púlpito? Claro que eu me recordava, e respondi afirmativamente. Ele continuou: — Pois bem, durante o culto de ontem à noite não consegui enxergar outro país, a não ser um deles. Já ansioso e, claro, curioso pelo fim da história, apressei-o a responder: — E qual é esse país? — Quando olhava para o mapa, havia sinais de fogo em volta da Espanha, e não consegui ver mais nada, só esse país — ele respondeu. Enganei-me imaginando que a história encerraria ali. Logo em seguida, o jovem implorou: — Por favor, pastor, me explique tudo o que aconteceu comigo! Confesso que eu estava confuso e experimentava um sentimento que contemplava uma gratidão imensa por Deus estar agindo de uma forma incrível, mas também o temor imenso quanto ao que fazer diante daquela declaração. Então me lembrei de que havia orado durante algum tempo para que o Senhor chamasse alguém de nossa igreja para ser enviado ao campo missionário e agora podia ver com os próprios olhos a resposta de Deus. Enquanto louvava ao Senhor do fundo de meu coração, diante do jovem médico que me questionava em busca de respostas, sentia-me temeroso e despreparado quanto à experiência que passara algumas horas antes. Naquele momento, pouca coisa pude lhe dizer. Mas oramos juntos. Ele se despediu e foi embora. Depois disso, fui pedir ajuda a alguns pastores e líderes de missões que já estavam desenvolvendo a tarefa missionária em suas igrejas. Olhando hoje para trás, reconheço que muitos deles foram verdadeiros conselheiros para mim, quando havia tantas perguntas e tão poucas respostas. Depois de algum tempo, após se filiarem a uma organização missionária, concluírem a formação missionária e serem avaliados e aprovados pelo conselho missionário de nossa igreja, o jovem médico e sua esposa partiram para uma das regiões menos alcançadas pelo evangelho em 18


introdução

terras espanholas. A família, pioneira entre outras que foram enviadas mais tarde, permaneceu no campo cerca de quinze anos. Em meio a um crescimento numérico nunca visto em sua história, a igreja evangélica brasileira vê-se diante de enormes desafios nos dias de hoje. Tudo que acontece à nossa volta parece trazer não só euforia, mas também grande preocupação. Os templos estão repletos, mas essa gente, em sua maioria, só passa ali de duas a três horas por semana. O que essas pessoas mais querem, depois desse tempo, é voltar para casa e desfrutar aquilo que realmente lhes apetece o coração. Então, algumas importantes questões precisam ser respondidas. Que rumo a igreja está tomando? Ela continuará a servir a si mesma? As teologias da contramissão continuarão atropelando e comprometendo a missão de Deus? O que Deus tem reservado para sua igreja neste país? Como já disse, um fenômeno incomum ocupou espaço durante alguns anos na vida da igreja evangélica brasileira. Estamos falando da erupção missionária verificada nos mais variados segmentos eclesiásticos de nosso país, especialmente a partir do início da década de 1980. À semelhança do fermento, que existe para expandir a massa, o despertamento da igreja para as missões espalhou-se de maneira densa e até mesmo incontrolável nas últimas duas décadas do século XX, e um grande número de jovens e casais manifestaram clara disposição de deixar seu espaço, igreja, família e amigos para servir o Reino em lugares onde o evangelho ainda não havia chegado ou era incipiente. Um tempo inesquecível. Essa visão missionária espalhou-se praticamente por todo o território nacional e alcançou as mais variadas denominações, até as chamadas “comunidades” e “igrejas independentes”. Em decorrência disso, jovens e casais dispuseram-se a servir ao Senhor de modo integral, onde quer que Ele os enviasse. Se você conversasse com qualquer liderança eclesiástica, ordenada ou não ordenada, ouviria que as vocações missionárias estavam presentes em suas igrejas. Mas perceberia também tensões ainda não resolvidas, tanto da parte dos que se confessavam chamados, quanto da dos que lideravam o rebanho do Senhor. Afinal, tudo era novo, e não havia como responder a tantas perguntas. 19


do chamado ao campo

Durante esse tempo, tive o privilégio de visitar inúmeras igrejas por todo o país, e foi gratificante presenciar jovens, homens e mulheres deixando tudo para trás, como fizeram os discípulos de Cristo, para se dedicar à obra missionária. No entanto, apesar do sentimento de profunda alegria, sempre me perguntava: “O que será deles agora? Como esta igreja cuidará desses vocacionados até chegarem ao campo missionário? De que maneira a liderança distinguirá os falsos chamados dos genuínos? Será que alguns com verdadeiro chamado irão se perder pelo caminho por falta de orientação da igreja?”. Certa vez, conversando com uma jovem que afirmava ter um chamado específico para servir num país da Ásia, aconselhei-a: — Procure seu pastor e converse com ele a respeito. — Já fiz isso algumas vezes — ela respondeu. — E a resposta dele é sempre a mesma: “Vá se preparar adequadamente para um dia ser enviada”. Depois de concluir a faculdade e um curso missiológico, ela procurou a liderança da igreja outra vez, e a resposta foi: — Agora não sabemos mais o que fazer com você! Frustrada, aquela moça, extremamente qualificada, não conseguiu chegar ao campo para o qual havia sido chamada. Uma vocação que se perdeu no decorrer do tempo! Hoje, passados mais de trinta anos, situações semelhantes ainda se repetem nas igrejas de todo o Brasil. As pessoas chamadas para servir no campo missionário tornam-se “estranhas” no meio da congregação, pois, tendo consciência de que um dia irão deixá-la, não sabem como agir diante de seus pastores e líderes. O inverso também ocorre, pois a liderança da igreja se sente impotente diante dos desafios que se apresentam quando as vocações surgem no meio do povo de Deus. Minha intenção, neste livro, é passar ao leitor um pouco do que tenho presenciado ao conhecer de perto igrejas, pastores e líderes de missões. Desejo também compartilhar de minha “horta”, ou seja, os acertos e também o erros que cometi pastoreando uma igreja local que queria ser acima de tudo missionária. Foram momentos mesclados de 20


introdução

profunda alegria e angústia: alegria ao ver o Espírito Santo chamando pessoas para as missões e angústia por me sentir incapaz de viabilizar projetos para aquelas pessoas tão especiais. Não pretendo, de maneira alguma, ser exaustivo ao tratar da questão do vocacionado e de sua relação com a igreja à qual está vinculado. Minha preocupação será fornecer algumas ferramentas que o ajudem a ter mais sensibilidade para reconhecer as vocações missionárias presentes em sua igreja e cuidar delas de maneira eficaz e com carinho e amor nunca vistos. Se cremos verdadeiramente que a igreja existe para os seus “não-membros”, como disse acertadamente o arcebispo William Temple, então nosso esforço deveria ser formar discípulos capacitados para servir ao redor deste mundo. Nada mais do que isto. Mas, também, nada menos do que isto. A igreja evangélica brasileira precisa resgatar urgentemente sua cumplicidade irrestrita com o vocacionado para missões e, quem sabe, esquecer um pouco as questões internas (às vezes sem nenhuma relevância para o Reino) e olhar para os que estão dispostos a ir e plantar novas igrejas aonde o evangelho ainda não chegou. Para isso, analisaremos em primeiro lugar a dimensão bíblico-teológica do chamado missionário. Iremos também relembrar um pouco de nossa história, no que se refere à inserção do protestantismo no Brasil, pois entendemos que muitas de nossas reações e posicionamentos atuais estão arraigados à nossa herança. Pretendemos também considerar o relacionamento entre o vocacionado e sua igreja, muitas vezes repleto de tensões, e a caminhada deste até sua chegada ao campo. Por fim, queremos deixar claro que o compromisso missionário de uma igreja local é um caminho sem volta. Não há outra opção oferecida pelo Senhor da igreja. Ela existe fundamentalmente para cumprir a missão de Deus no mundo, para que a glória do Senhor seja vista em toda a terra. Assim, o Senhor espera que a igreja se espalhe alcançando cada etnia do mundo. No apêndice, apresentamos alguns modelos de treinamento de vocacionados na igreja local. 21


do chamado ao campo

Meu desejo é que a igreja evangélica brasileira, em suas variadas vertentes teológicas e diferentes formas de governo e ainda sem uma longa história na tarefa missionária, adquira maturidade suficiente para encaminhar aqueles membros chamados a desenvolver uma vocação específica no campo missionário transcultural e para cuidar deles da maneira correta.

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