O pregador e a pregação

Page 1

NELSON SALVIANO

O PREGADOR E A PREGAÇÃO A arte de preparar e proclamar mensagens bíblicas

165 ESBOÇOS DE SERMÕES


SUMÁRIO Apresentação 9 Prefácio 11 Introdução 13 1. A pregação cristã: uma nobre tarefa A primazia da pregação bíblica A autoridade da pregação bíblica Os efeitos da pregação bíblica O preparo e a entrega da pregação bíblica: a homilética

15 18 21 24 26

3. Conteúdo da pregação: um enfoque no estudo do texto bíblico A leitura regular da Bíblia Meditação no texto bíblico a ser pregado A interpretação do texto do sermão

47 47 50 51

2. O perfil do pregador Quem é o pregador cristão Aspectos vitais da espiritualidade do pregador Cuidados necessários: perigos a evitar

31 32 34 43

4. Preparação do sermão: elementos básicos 63 Propósito ou objetivo do sermão 64 Texto bíblico básico de um sermão 66 Introdução do sermão 70 Interpretação: passagem da introdução para o tema do sermão 76 Tema (ou ideia central) do sermão 78 Divisão em tópicos: conjunto de argumentos do sermão 80 Conclusão do sermão 91 Aplicação da mensagem pregada 96 Uso de ilustrações no sermão 108 Apelo 117 Esboço ou esquematização do sermão 122


5. A entrega de sermões: como falar e ler em público Leitura da Bíblia em público Formas de apresentação ou entrega do sermão Domine o medo de auditório Fale de modo claro e simples: adaptando a forma e o estilo Fale de forma audível e com boa dicção Cuide da expressão corporal durante a pregação

125 125 129 133 137 147 153

TIPOS DE SERMÃO

157 157 160 169 170 172

7. O sermão textual Vantagens do uso do sermão textual Particularidades do sermão textual Como desenvolver o esboço para o sermão textual 15 exemplos de esboço de sermão textual

175

177 178 178 179 181

6. Considerações importantes Compreensão do ambiente social dos ouvintes Diversificação ou variedade das mensagens Avaliação do sermão Hinos e cânticos relacionados com a pregação Erros a serem evitados pelo pregador

8. O sermão expositivo Vantagens de pregar o sermão expositivo Particularidades do sermão expositivo Características e requisitos do sermão expositivo Como estudar o texto para o sermão expositivo Como organizar as divisões principais do sermão expositivo 15 exemplos de esboço de sermão expositivo

9. O sermão tópico ou temático Vantagens de pregar o sermão tópico ou temático Cuidados necessários no uso do sermão tópico ou temático Como desenvolver o esboço para o sermão tópico ou temático 15 exemplos de esboço de sermão tópico ou temático Anexo: Modelos para avaliação 120 ESBOÇOS SUGESTIVOS PARA A PREGAÇÃO – Apêndice Bibliografia consultada e sugerida

209 213 213 214 215 217 220

249 250 251 251 253

281

295

345


APRESENTAÇÃO

Sentar-se no banco de uma igreja diante de um habilidoso pregador é um privilégio que não desprezo. Um pregador que tem importantes verdades a transmitir e as comunica talentosamente, com singeleza e poder, não deixará de ser solicitado. Quem sobe ao púlpito hoje tem um enorme desafio pela sua frente: “Como posso comunicar fielmente a mensagem bíblica? Qual a maneira mais eficaz de suscitar interesse no auditório pela Palavra de Deus e conseguir motivar os ouvintes a colocá-la em prática?”. O escritor Nelson Salviano será um excelente mestre. Seus conselhos, oferecidos com sabedoria e tato, serão bem-vindos entre pregadores iniciantes e bem experimentados. Basta ao palestrante pôr em prática as sábias sugestões do autor para ficar surpreendido com a reação positiva de seu auditório. Seus ouvintes serão bem mais receptivos e se beneficiarão muito mais das mensagens preparadas e comunicadas nos moldes recomendados por este livro.


O pregador e a pregação

Por ser a Bíblia a Palavra eterna de Deus, é de suma importância que seus ensinamentos sejam recebidos com prazer e avidez, pois a todos os que têm o alto privilégio de transmiti-los cabe fazê-lo com eficiência. Este livro é um manual capaz de orientar bem qualquer comunicador. Nelson Salviano, que atuou alguns anos como editor assistente da revista evangélica Raio de Luz, escreve com estilo atraente. Seguramente, suas muitas viagens e os frequentes contatos com o vasto mundo evangélico no Brasil e no exterior deram-lhe subsídios para preparar um livro que será muito útil aos que têm sede de aprender. Ele teve também a oportunidade de fazer especialização em pregação expositiva no Cornhill Training Centre, em Londres, Inglaterra. Recomendo este livro com muito prazer. Sei que será uma bênção para os pregadores e seus ouvintes. O obreiro que deseja seriamente ser aprovado por Deus e por sua congregação deve seguir as orientações desse professor, com toda segurança. Seu sucesso confirmará minha apreciação! A Deus toda a glória! Dr. Russell Philip Shedd

Professor, escritor, conferencista internacional.

Fundador das Edições Vida Nova e editor da Bíblia Shedd.

10


INTRODUÇÃO

A pregação é indispensável ao cristianismo, tanto para o evangelismo quanto para o crescimento saudável da igreja. A pregação no poder do Espírito Santo transforma vidas. O cristão procurará aperfeiçoar a arte de preparar e proclamar mensagens bíblicas. Aprenderá ainda mais preparando e enunciando os próprios sermões. Como qualquer outra arte, fazendo aprende-se melhor. Se o estudante buscar primeiro o Reino de Deus, amar as pessoas, estudar a arte da pregação e preparar-se para a eficiência no púlpito, poderá crescer ano após ano como pregador. Este livro sobre a arte de pregar parece-me o material mais importante que já escrevi, porque mostra meu aprendizado sobre pregação. Grande alegria sinto em poder, mediante este livro, prolongar no tempo e no espaço meu ministério de ensino e participar assim do preparo de mais cooperadores na gloriosa tarefa da proclamação da Palavra de Deus. O público que desejo alcançar consiste no melhor povo que conheço: evangelistas, seminaristas, aspirantes ao ministério


O pregador e a pregação

cristão, obreiros, missionários, professores de escola dominical e demais estudiosos da Bíblia. Depois de Deus, o futuro da igreja está nas mãos desses cristãos, pois levam o evangelho às pessoas. Não só procuro mostrar como preparar esboços, mas também apresento um método facilitado para levantamento de dados bíblicos e de outras fontes para elaborar o sermão. Mostro ainda como entregar de forma atraente a mensagem ao público, para assim se obter os melhores resultados. Procuro, sobretudo, incluir o máximo de prática e o mínimo de teoria. Ninguém se dedique a uma vida de pregação sem antes refletir e orar. No entanto, uma vez tomada a decisão de pregar ou atendido o “chamado”, esforço nenhum seja poupado na preparação.

14


1 A PREGAÇÃO CRISTÃ: UMA NOBRE TAREFA

A pregação merece destaque porque continua sendo o principal instrumento de Deus para alcançar as pessoas. “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?” (Rm 10.14-15). Nessa notável passagem bíblica, o apóstolo Paulo descreve como as pessoas entram no Reino de Deus. Elas não podem clamar a Deus sem crer; não podem crer sem ouvir; não podem ouvir sem que alguém pregue — e não se pode pregar sem o envio da parte de Deus. Paulo está dizendo que Deus especificamente usa a pregação como parte de seu plano de salvação e “envia” pregadores como seus representantes oficiais. Eis um excelente resumo disso: Primeiramente, Deus falou por meio de profetas e interpretou para eles o significado das suas ações na história


O pregador e a pregação

de Israel, e, ao mesmo tempo, mandou transmitir sua mensagem ao povo, quer pela palavra falada, quer pela escrita, quer por ambas juntas. Depois, e de modo supremo, falou por intermédio do Filho, sua “Palavra [...] que se tornou carne”. As palavras da sua Palavra foram transmitidas quer diretamente, quer mediante os apóstolos. Em terceiro lugar, fala por meio do seu Espírito, que pessoalmente dá testemunho de Cristo e das Escrituras, tornando-os reais para o povo de Deus hoje. Essa relação trinitária do Pai, do Filho e do Espírito Santo, que falam mediante a Palavra de Deus que é bíblica, encarnada e contemporânea, é fundamental para a religião cristã. É a fala de Deus que torna necessária a nossa fala. Devemos transmitir aquilo que ele tem falado. Daí a obrigação suprema de pregar.1

A igreja do Senhor Jesus Cristo “origina-se, vive e é perpetuada pela proclamação da Palavra de Deus. Pregar o evangelho significa despertar, confirmar, estimular, consolidar e aperfeiçoar a fé (Ef 4.11ss)”.2 A pregação foi dada por Deus para a instrução e a inspiração de seu povo e para a propagação do evangelho até os confins da terra (Mt 28.18-20; Tt 1.3). Por esse motivo, a pregação é a característica marcante do cristianismo. John Stott resume a base teológica do ministério da pregação com esta afirmação: Deus é luz, tem agido, tem falado e tem feito com que suas ações e suas palavras tenham sido preservadas por escrito. Por meio dessa Palavra escrita ele continua a falar poderosamente com viva voz. E a igreja precisa escutar

1 John Stott, Eu creio na pregação, p. 15-16. 2 Hans U. Reifler, Pregação ao alcance de todos, p. 19.

16


A pregação cristã: uma nobre tarefa

atentamente a Palavra de Deus, visto que dela dependem sua saúde e sua maturidade. Portanto, os pastores devem expô-la; é para isso que foram chamados. Sempre quando o fazem com integridade, é ouvida a voz de Deus, e a igreja fica convicta e humilhada, restaurada e revigorada, e transformada em instrumento para o uso e a glória de Deus.3

Deus usou os profetas no Antigo Testamento para anunciar sua Palavra (Is 52.7). No ministério de Jesus, a pregação ocupou o lugar central. Ele descreveu a si mesmo como divinamente ordenado “para pregar boas novas aos pobres. [...] para proclamar liberdade aos presos [...] e proclamar o ano da graça do Senhor” (Lc 4.18-19, NVI). Os evangelhos trazem cenas desse Pregador itinerante, nas sinagogas, nos montes, à beira-mar, indo de cidade em cidade, atraindo a si multidões maravilhadas com suas palavras de graça e com a autoridade de seu ensino. No Sermão do Monte, por exemplo, Jesus proclamou, evangelizou e ensinou. “A pregação, no sentido e propósito de Jesus, incluía todos os elementos calculados para estimular a mente em todas as suas funções e levar os homens a ver, sentir, avaliar e tomar decisões morais”.4 O Senhor Jesus ordenou aos seus discípulos que pregassem (Mc 3.14ss; 16.15; Mt 28.18-20). Essa ordem implica um propósito triplo: fazer discípulos, levar à confissão pelo batismo e instruir na vida cristã de acordo com os preceitos de Cristo. A Reforma envolveu um grande reavivamento da pregação, e desde aquele tempo até nossos dias, pregadores têm explicado e aplicado a Palavra escrita de Deus ao longo das gerações. O consenso cristão no decurso dos séculos tem sido engrandecer 3 John Stott, Eu creio na pregação, p. 141. 4 John A. Broadus, Sobre a preparação e a entrega de sermões, p. 5.

17


O pregador e a pregação

a importância da pregação como lugar central na vida da igreja. Essa consistente e ampla tradição abrange vinte séculos, a partir de Jesus e de seus apóstolos e por toda a história da igreja. O poder da Palavra de Deus continua manifesto na igreja atual. Desse modo, a pregação é essencial e indispensável ao cristianismo.

A PRIMAZIA DA PREGAÇÃO BÍBLICA

Pregar as Escrituras é esclarecer o texto inspirado com tal fidelidade e sensibilidade que a voz de Deus seja ouvida e obedecida. É capacitar seu povo a adorá-lo:

A Palavra e a adoração pertencem indissoluvelmente uma à outra. Toda a adoração é uma reação favorável, inteligente e amorosa à revelação de Deus, porque é a adoração do seu Nome. É impossível, portanto, a adoração aceitável sem a pregação. Isso porque a pregação é tornar conhecido o Nome do Senhor e a adoração é louvar o Nome do Senhor assim revelado. A leitura e a pregação da Palavra são realmente indispensáveis para a adoração. Nossa adoração é fraca porque nossos conhecimentos de Deus são fracos, e nossos conhecimentos de Deus são fracos porque a nossa pregação é fraca. Quando, porém, a Palavra de Deus é exposta na sua plenitude e a congregação começa a ver a glória do Deus vivo, todos se curvam em reverente temor solene e admiração jubilosa diante do seu trono. É a pregação que realiza isso — a proclamação da Palavra de Deus no poder do Espírito Santo. É por isso que a pregação é incomparável e insubstituível.5

5 John Stott, Eu creio na pregação, p. 88-89.

18


A pregação cristã: uma nobre tarefa

Certamente, Cristo deve ser o centro de nossa pregação, especialmente quando procuramos alcançar e tocar a vida daqueles que ainda não desfrutam a comunhão com Deus. “Nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos. Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Co 1.23-24). A cruz revela a extensão de nosso pecado e, ao mesmo tempo, o amor de Deus, que consumou a salvação e pagou esse pecado por meio da morte vicária de Jesus. O reformador Calvino afirmou: “Deus ordenou sua Palavra como instrumento pelo qual Jesus Cristo, com todas as suas graças, é dispensado a nós”. A pregação cristocêntrica consiste em aprender a ver toda a Palavra de Deus como uma mensagem unificada da necessidade humana e da provisão divina. Tendo isso em mente, levemos em conta a natureza, a importância, a eficácia e o propósito da pregação:

A natureza da pregação A pregação é a voz de Deus. É na condição de porta-voz, embaixador, representante comissionado por Deus, que o pregador fala (2Co 5.20). Agostinho afirmou: “Na pregação, o Espírito Santo usa as palavras do pregador como ocasião para a presença de Deus em graça e em misericórdia”.6 A pregação é um dos meios pelos quais Cristo se faz presente na igreja. A importância da pregação A pregação é o meio mais excelente pelo qual a graça de Deus é conferida aos homens. É a tarefa primordial da igreja e do pregador e a parte central do culto cristão, o núcleo da liturgia. Ela 6 Citado por Calvino, Institutas 4.1.6; 4.14.9-19.

19


O pregador e a pregação

se constitui marca essencial da verdadeira igreja e meio pelo qual o Reino de Deus é aberto ou fechado aos pecadores (Mc 16.16). A eficácia da pregação É Deus somente, na pessoa do Espírito Santo, quem torna eficaz a pregação. Ele atua tanto na preparação e entrega da mensagem quanto em sua recepção. Os pregadores devem laborar na interpretação da Palavra e transmiti-la fielmente. Os ouvintes devem receber com atenção, reverência, fé e obediência a palavra pregada. Contudo, só o Espírito Santo pode conferir eficácia à pregação, assistindo e capacitando o pregador, iluminando e convencendo os ouvintes do pecado e da graça de Deus em Cristo.

O Espírito de Deus torna a leitura, e especialmente a pregação da Palavra, um meio eficaz para iluminar, convencer e humilhar os pecadores; para lhes tirar toda confiança em si mesmos e os atrair a Cristo; para os conformar à sua imagem e sujeitá-los à sua vontade; para os fortalecer contra as tentações e corrupções; para os edificar na graça e estabelecer os seus corações em santidade e conforto mediante a fé para salvação.7

O propósito da pregação Com relação às Escrituras, o propósito da pregação consiste na fidelidade ao sentido, significado e propósito do texto que está sendo pregado. Com relação aos ouvintes, consiste na conversão e restauração da imagem de Deus neles. Com relação a Deus, consiste na promoção do Reino e da glória de Deus no mundo. Independentemente da resposta dos ouvintes, a genuína pregação do evangelho nunca é vã. 7 Catecismo maior de Westminster, 155.

20


A pregação cristã: uma nobre tarefa

Podemos dizer que o primeiro propósito da pregação é agradar a Deus. O cristão estuda a Palavra de Deus, prepara uma mensagem e a oferece a ele num ato de adoração. Isso tem implicações na disciplina pessoal e na preparação. Outro propósito geral é a salvação. Jesus veio buscar e salvar os perdidos. O pregador tenta unir o evangelho de salvação com as almas perdidas. A pregação deve também edificar a igreja, fortalecer o cristão no crescimento da fé. Assim, a pregação é evangelística (traz um apelo para a salvação) e doutrinária (traz ensino, correção e edificação). Cabe ao Espírito Santo aplicá-la segundo convém. O pregador cristão almeja restaurar o trono de Deus na alma dos homens. Busca não apenas informar os ouvintes, mas, por meio da exposição e aplicação das verdades das Escrituras, colocar pessoas diante de Deus e assim propiciar um encontro verdadeiro com ele. “Os alvos de toda pregação legítima são: avivar a consciência com a santidade de Deus, alimentar a mente com a verdade de Deus, purificar a imaginação por meio da beleza de Deus, abrir o coração para o amor de Deus, dedicar a vontade ao propósito de Deus”.8 Spurgeon dizia: “Você e eu somos constrangidos a pregar o evangelho, mesmo que nenhuma alma seja convertida por ele; pois o grande propósito do evangelho é a glória de Deus, visto que Deus é glorificado mesmo naqueles que rejeitam o evangelho”.9

8 William Temple, citado pelo pregador escocês James Stewart. 9 Citado por Paulo Anglada, “Vox Dei: a teologia reformada da pregação”. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/revista/VOLUME_ IV__1999__1/Anglada.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2015.

21


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.