O Mundo do Trabalho em São João da Madeira

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O Mundo do Emprego em São João da Madeira

Área de Projecto


Livro do Projecto

O Mundo do Emprego em São João da Madeira

Livro do Projecto “O Mundo do Emprego em São João da Madeira” São João da Madeira, Maio de 2011 Escola: Escola Básica e Secundária Oliveira Júnior Ano Lectivo: 2010/2011 Autores: Grupo constituído pelos seguintes alunos da turma D do 12.º ano:  Daniel Diaz (n.º 5);  Diogo Moreira (n.º 8);  Hélder Reis (n.º 11);  Ricardo Teixeira (n.º 20);  Ricardo Oliveira (n.º 21);  Rúben Sousa (n.º 22). Disciplina: Área de Projecto Professor: Henrique Silva Apoio: Professora Bibliotecária Luísa Correia; Direcção do Agrupamento de Escolas Oliveira Júnior 2


Índice

Livro do Projecto

Índice

Prefácio

pág. 4

Capítulo I – Introdução ao tema do projecto

pág. 5

Capítulo II – Inquérito à população sanjoanense empregada

pág. 11

Capítulo III – Características principais do emprego na cidade

pág. 17

Distribuição do emprego pelos sectores de actividade

pág. 18

Qualificação dos empregos na cidade

pág. 24

O problema do desemprego e do emprego precário

pág. 29

Migrações pendulares de e para SJM: causadas pelo emprego?

pág. 34

Capítulo IV – Casos de destaque no sector empresarial sanjoanense

pág. 39

Oliva

pág. 40

Creativesystems

pág. 46

Netos

pág. 52

Fepsa

pág. 58

Olmar

pág. 63

Viarco

pág. 68

Capítulo V – Instituições importantes para o mundo do emprego em SJM

pág. 74

Sanjotec

pág. 75

Centro de Formação Profissional da Indústria do Calçado

pág. 81

Capítulo VI – Perspectivas políticas acerca do emprego na cidade

pág. 87

Perspectiva da Câmara Municipal de SJM

pág. 88

Perspectiva dos partidos da oposição

pág. 93

Conclusão

pág.100

Bibliografia

pág.101

Anexos

pág.102

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O Mundo do Emprego em São João da Madeira

Prefácio

O nosso projecto, “O Mundo do Emprego em São João da Madeira”, teve como objectivo caracterizar o mercado laboral e empresarial da cidade onde se insere a Escola Secundária Oliveira Júnior. A escolha deste tema deveu‐se ao facto de nos permitir aumentar o nosso conhecimento acerca das áreas profissionais com mais oportunidades e empregabilidade na nossa região e, por outro lado, aplicar os conhecimentos das várias disciplinas leccionadas ao longo do ensino secundário, no nosso curso de Ciências Socioeconómicas. Na primeira fase do projecto (que correspondeu ao 1º e ao 2º períodos), optámos por fazer o estudo deste tema através da elaboração dos nossos textos semanais, onde, a partir de pesquisas, entrevistas e do nosso inquérito, abordámos as várias dimensões do nosso tema/problema. Optámos por criar duas versões dos nossos textos semanais. Uma delas, a mais resumida, foi publicada semanalmente no nosso blogue, em http://emprego‐ sjm.blogspot.com/, com o objectivo de divulgarmos o nosso projecto à cidade e de tornar possível a interacção com a comunidade local. Já a segunda versão foi feita tendo em vista a criação, na segunda fase do projecto (que correspondeu ao terceiro período), deste livro, que constitui uma compilação de todos os textos feitos ao longo da 1ª fase do projecto. Ao juntarmos todo o nosso trabalho de pesquisa e investigação neste documento e ao oferecê‐lo às bibliotecas escolar e municipal, pretendemos dar o nosso humilde contributo para o fundo local, tornando esta informação acessível a todos os que, no futuro, pretendam procurar dados sobre a economia e o emprego em São João da Madeira. Esperamos que o leitor considere a informação presente neste livro relevante e que aprecie este que é um dos produtos finais do trabalho de projecto do nosso grupo!

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Cap. I ‐ Introdução

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Capítulo I

Introdução ao tema do projecto

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A cidade de São João da Madeira situa‐se na região (NUT II) Norte, sub‐região (NUT III) Entre Douro e Vouga. Pertence à Grande Área Metropolitana do Porto (GAMP) e ao distrito de Aveiro. Tem 21 762 habitantes (estimativa para 2008). É o menor município português em área (apenas 8,11 km²), que correspondem à área da cidade, bem como da freguesia de S. João da Madeira. Tem, portanto, uma elevada densidade populacional, que é de 2601,97 hab/km² – é um dos nove municípios portugueses com densidade populacional superior a 2000 hab/km2. Apesar da população da cidade de S. João da Madeira ser de 21 762 habitantes, a população da sua área urbana é bem superior, aproximando‐se dos 50 000 habitantes, pois o crescimento da cidade fez com que esta tivesse que crescer para além dos seus míseros 8,11km2 de área, expandindo‐se para freguesias dos concelhos de Oliveira de Azeméis e Santa Maria da Feira, como Cucujães (cuja população é cerca de 11 000 habitantes), Arrifana (cerca de 8000 habitantes), S. Roque (cerca de 5000 habitantes) e Milheirós de Poiares (cerca de 4000 habitantes). É a maior cidade do chamado “Eixo Urbano do Entre Douro e Vouga (EDV) ” – a zona mais dinâmica do EDV, que corresponde ao contínuo urbano Santa Maria da Feira ‐ S. João da Madeira ‐ Oliveira de Azeméis, onde as três cidades se complementam entre si. Quanto aos transportes, a nível rodoviário a cidade é atravessada pelo IC2 (antiga EN1). Está a 8km da A1 e a 10km da ex‐SCUT A29. Brevemente terá uma ligação directa ao Porto sempre por auto‐estrada, com a construção da A32 (Carvalhos – Oliveira de Azeméis) e do ramal que a liga ao concelho de S. João da Madeira. A nível ferroviário, é atravessada pela linha do Vouga. Distâncias de S. João da Madeira para algumas cidades portuguesas:      

Santa Maria da Feira: 6,2 km Oliveira de Azeméis: 8,6 km Ovar: 14,5 km Porto: 35 km Aveiro: 48,5 km Lisboa: 288 km

Economia e emprego na cidade: No concelho de S. João da Madeira, o emprego distribui‐se pelos sectores de actividade da seguinte forma (dados de 2005): o sector primário contribui praticamente para 0% do emprego (pois todo o concelho corresponde a área urbana); o sector secundário contribui para 62% dos empregos da cidade; o sector terciário emprega 38% dos que trabalham na cidade. A taxa de desemprego no concelho, 6


Cap. I ‐ Introdução

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segundo uma notícia do jornal SOL de 7 de Maio de 2010, é de 10,2%, estando em linha com a média nacional da taxa de desemprego. O sector secundário, que é muito forte na cidade, é dominado pelas PME, que concentram 74% do emprego do concelho. Está organizado em quatro zonas industriais: Travessas, Orreiro, Devesa Velha e Oliva. Existe também o Centro Empresarial e Tecnológico (CET), inaugurado em 2008, que é uma incubadora de empresas com base tecnológica, nomeadamente empresas relacionadas com as áreas da Robótica, Automação Industrial, Biotecnologia, Química, Design e Tecnologias da Informação. Pertence à Sanjotec, uma entidade que resultou de uma parceria entre a Câmara Municipal de S. João da Madeira, a Universidade de Aveiro e outras entidades. Contudo, a indústria que predomina na cidade é a do calçado. São João da Madeira está legalmente registada, no Instituto Nacional da Propriedade Industrial, como “Capital do Calçado”. Em 2008 existiam na cidade 68 fábricas de calçado, que corresponde à quinta maior concentração destas fábricas no país; estamos apenas atrás, respectivamente, dos concelhos de Felgueiras, Oliveira de Azeméis, Santa Maria da Feira e Guimarães. S. J. Madeira é a sede do Centro Tecnológico do Calçado (CTC) e do Centro de Formação Profissional da Indústria do Calçado (CFPIC), ambos com filiais em Felgueiras. E o que distingue as indústrias de calçado sanjoanenses das restantes? De acordo com Vasco Eiriz, investigador da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho e autor de um estudo sobre a indústria de calçado em Portugal, a indústria sanjoanense é a mais antiga e, por isso, a mais vocacionada para o fabrico manual, sem recurso a tecnologias. Todavia, produz calçado de um elevado nível de qualidade, que se destina aos segmentos de mercado superiores, pois o seu preço é alto. Desta forma, as fábricas de calçado sanjoanenses são competitivas e complementares com as do resto do país, e têm resistido relativamente bem à crise, já que os seus produtos destinam‐se, na sua maioria, aos mercados externos. A indústria da chapelaria também é um prato forte em S. J. Madeira. A Fepsa é a única empresa em Portugal no fabrico dos feltros que são utilizados para a produção dos tradicionais chapéus de feltro; cerca de 20% da produção mundial de feltro é feita nesta empresa. Os feltros sanjoanenses são reconhecidos mundialmente, tendo já sido utilizados por Johnny Depp num dos filmes que protagonizou. Por tudo isto, a Fepsa foi reconhecida pelo IAPMEI, em 2008, como uma PME Líder, prémio que reconheceu esta empresa pelo contributo que dá à economia nacional. Por outro lado, o Museu da Chapelaria mostra‐nos o lado histórico do fabrico dos chapéus no concelho. Instalado no antigo edifício da Empresa Industrial da Chapelaria, que já foi uma das principais fábricas de chapéus na cidade, este museu é

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único na Península Ibérica e preserva as memórias de uma indústria que muito contribuiu para o progresso de S. João da Madeira.

Figura 1 – O Museu da Chapelaria É também de referir que localiza‐se nesta cidade a Viarco – Indústria de Lápis, Lda., que é a única fábrica de lápis que existe no nosso país, nos dias de hoje. Fundada em 1907, em Vila do Conde, esta empresa centenária transferiu‐se entretanto para o concelho. É mais um caso de uma empresa sanjoanense que contribui para o dinamismo da economia da cidade e também do país. Passemos ao sector terciário. Apesar de este concentrar apenas 38% dos empregos existentes em S. J. Madeira (segundo dados de 2005; desde então esta percentagem terá certamente aumentado com a construção do C. C. Oitava Avenida), apresenta um grande dinamismo: é o maior pólo de comércio do EDV, tendo uma oferta comercial que se complementa com a das cidades de Santa Maria da Feira e Oliveira de Azeméis. O centro histórico da cidade (Praça Luís Ribeiro e zona pedonal em redor) continua a ser uma zona fortemente comercial, apesar de já não ter a força que teve outrora. A avenida Renato Araújo tem‐se afirmado como a nova zona comercial da cidade, quer na zona mais central onde existe bastante comércio tradicional, quer na zona sul da avenida onde se localiza o Centro Comercial Oitava Avenida. Este centro, que 8


Cap. I ‐ Introdução

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pertence à Sonae Sierra, foi inaugurado em Setembro de 2007. Tem 133 lojas, 21 restaurantes, 5 salas de cinema e um hipermercado. É o maior da região do EDV. Apesar do dinamismo económico da cidade, os salários auferidos pelos sanjoanenses não são os melhores. Segundo dados do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social (MTSS), que dizem respeito a 2008, o salário médio de um sanjoanense era de 865,60€. Estes valores estavam bem abaixo da média nacional, que então era de 1071,60€. Já região do EDV, este é o segundo valor mais baixo: no EDV o concelho de Vale de Cambra era o que ganhava mais, com um salário médio de 931,50€; atrás de S. João da Madeira apenas estava o concelho de Arouca, com um salário médio mensal de 666,60€. Este é um dos problemas principais do emprego na cidade, que iremos brevemente analisar com maior profundidade. Qualidade de vida na cidade:

Figura 2 – O parque do Rio Ul Tendo em conta as características da cidade de São João da Madeira a vários níveis, um estudo do Instituto de Tecnologia Comportamental (INTEC), em parceria com o jornal SOL, realizado entre Dezembro de 2009 e Março de 2010, distinguiu o concelho sanjoanense como o melhor município para se viver, entre os 20 concelhos analisados pelo estudo. Este é um resultado que muito orgulha todos os sanjoanenses.

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Neste estudo foram analisados dez domínios respeitantes qualidade de vida. Este concelho liderou nos domínios da felicidade, ensino/formação e acessibilidades/transportes. Já nos restantes domínios o concelho posicionou‐se no top 10, com a excepção dos domínios diversidade/tolerância e urbanismo/habitação. É de notar que no domínio da economia/emprego esta cidade posicionou‐se no 5º lugar do ranking, o que se deve ao dinamismo que os sectores secundário e terciário dão ao emprego na cidade. No entanto, os baixos salários praticados no concelho impedem uma posição mais cimeira no ranking. Em suma, São João da Madeira é uma cidade com uma boa qualidade de vida e um mercado empresarial competitivo. No entanto, ainda há muito por onde melhorar!

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Cap. II – Inquérito à população sanjoanense empregada

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Capítulo II

Inquérito à população sanjoanense empregada

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Este inquérito foi realizado pelos elementos do nosso grupo de Área de Projecto, entre 31 de Outubro e 4 de Novembro de 2010. Foi conduzido através da entrevista a vários elementos da população empregada (só estes foram considerados elegíveis para este inquérito), em diversos pontos do concelho de S. João da Madeira. A amostra é distinta consoante a questão, variando entre 109 e 159 pessoas (isto deve‐ se ao facto de este inquérito ter sido dividido em três partes, para que não fosse maçador para os inquiridos). O objectivo deste inquérito foi a obtenção de dados estatísticos actualizados para uma melhor análise ao tema do nosso projecto, já que não encontramos esses dados na nossa pesquisa feita até à data. Aqui ficam, portanto, os dados recolhidos e algumas conclusões da nossa investigação. Dados recolhidos no inquérito: A primeira pergunta, onde questionámos a população acerca das suas habilitações literárias, foi a que apresentou os dados que mais nos surpreenderam, pois não esperávamos que estas fossem tão baixas como são: 

 

60,6% da população tem um nível de escolaridade igual ou inferior ao 3º Ciclo do Ensino Básico (9º ano), dos quais 20,2% dos inquiridos têm apenas o 1º Ciclo, 23,9% afirmaram ter o 2º Ciclo e 16,5% responderam que têm o 3º Ciclo; 23,9% tem o Ensino Secundário concluído (12º ano); Apenas 15,6% possuem um curso superior.

Habilitações Literárias 1º Ciclo EB 2º Ciclo EB 3º Ciclo EB Ensino Secundário Ensino Superior 0

5

10

15

20

25

%

Figura 3 – As habilitações literárias da população empregada sanjoanense

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Cap. II – Inquérito à população sanjoanense empregada

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Contudo, houve um dado positivo nesta questão: nenhum dos entrevistados respondeu que era analfabeto. Mesmo assim, esta falta de instrução da população é o factor que se revelou mais preocupante no inquérito, uma vez que condiciona a criação de certos tipos de emprego na cidade. Como evitar que os salários sejam tão inferiores à média nacional com estes níveis de qualificação da população? Será uma questão a responder num dos próximos subtemas do projecto. Passemos à situação laboral dos sanjoanenses. Os trabalhadores por conta de outrem são os que predominam, com 87%; já os trabalhadores por conta própria são 13%. No grupo dos trabalhadores por conta de outrem, 84,3% encontram‐se na situação de efectivos, 15% estão contratados a termo certo e apenas uns irrelevantes 0,8% trabalham a recibos verdes. Isto mostra que felizmente o problema do emprego precário ainda não é muito preocupante na nossa cidade e que a maioria dos sanjoanenses terá, em princípio, o seu emprego seguro por vários anos. Este facto foi corroborado quando perguntámos directamente aos entrevistados se pensam que têm o seu emprego seguro por vários anos: 2 3 afirmaram que sim, valor que corresponde aproximadamente ao dos que responderam estar efectivos no seu emprego. Na questão seguinte pretendíamos saber qual o concelho onde trabalhavam os entrevistados (que decerto corresponderão, na sua maioria, a habitantes no concelho de São João da Madeira). São João da Madeira foi a resposta de 60,4% dos inquiridos; Oliveira de Azeméis de 16,4%; Santa Maria da Feira de 15,1%. Apenas 8,2% afirmaram trabalhar em concelhos que não o sanjoanense e os limítrofes. Tendo em conta estes dados, não nos pareceram demasiadamente intensas as migrações pendulares na região. Este é outro factor a analisar em pormenor num dos subtemas que se seguem. Questionámos também a população acerca do sector de actividade onde trabalham. Como seria de esperar numa cidade/região bastante urbana, nenhum dos inquiridos disse trabalhar no sector primário (agricultura). Mas a surpresa veio nos sectores secundário e terciário: o secundário (indústria e construção civil) emprega 33,9% dos inquiridos e o terciário (comércio e serviços) 66,1%. No entanto, na introdução que fizemos anteriormente apresentámos dados de 2005 que referiam que 62% dos sanjoanenses trabalhavam no sector secundário e 38% no terciário. Esta enigmática inversão nos dados relativos aos sectores de actividade é outro dos subtemas que iremos analisar em pormenor. Quando fomos mais ao pormenor e perguntámos o ramo de actividade da empresa dos inquiridos, surgiram dados interessantes: no grupo dos trabalhadores na indústria, 18,9% trabalham em fábricas de calçado e 16,2% trabalham na indústria têxtil; no grupo das empresas do sector terciário, 36,1% trabalham em estabelecimentos comerciais e 63,9% em outras actividades deste sector. 13


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Na questão do número médio de horas que trabalha por semana, uma parte significativa dos entrevistados, 49,3%, afirmou trabalhar de 38 a 43 horas semanais, o que está em linha com o horário normal de trabalho das 40h semanais. Quanto à população que trabalha menos que o horário usual, os que trabalham menos que 32h semanais são 5,5% e os que trabalham entre 32 e 37h semanais são 9,6%. Mas os valores relativos à população que trabalha mais do que o habitual já não são tão baixos: 35,6% dos inquiridos trabalham mais do que 43 horas semanais, sendo que 8,2% dizem mesmo que trabalham mais do que 55h semanais.

Figura 4 – O número médio de horas de trabalho semanal dos trabalhadores sanjoanenses Torna‐se, portanto, evidente que muitos habitantes da região fazem frequentemente horas extraordinárias na sua firma. Outros, para fazer face às despesas, têm mais do que um emprego: 8,3% dos inquiridos afirmaram à nossa investigação que tinham 2 ou mais empregos. Uma das questões mais importantes do nosso inquérito foi a do número de pessoas que trabalham na mesma empresa dos entrevistados. 42,7% dos inquiridos responderam que a empresa onde trabalham emprega menos de 10 pessoas, ou seja, é uma microempresa. Já 52,2% dos inquiridos afirmaram que na empresa trabalham de 10 a 250 pessoas, situação que corresponde às PME (pequenas e médias empresas). Os trabalhadores de grandes empresas são uma minoria, pois são só 5% os que responderam que a empresa tem mais de 250 trabalhadores.

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Cap. II – Inquérito à população sanjoanense empregada

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São, portanto, as micro‐PMEs que dominam nesta região, mais do que no resto do país (considerando todo o país, as PME contém aproximadamente 75% do emprego nacional), o que torna a estrutura empresarial desta região bastante peculiar. Pretendíamos também saber se os horários de trabalho dos sanjoanenses são predominantemente fixos e à semana ou se trabalhavam por turnos, à noite, ao sábado ou ao domingo. 11,6% dos inquiridos trabalham por turnos; 15,1% trabalham à noite; 30,8% trabalham ao sábado e 17,1% ao domingo. Os horários de trabalho fixos e à semana são, portanto, a maioria, como era expectável. No entanto, não nos deixou de surpreender o elevado número de pessoas que dizem trabalhar ao fim‐de‐ semana, o que estará relacionado com a terciarização da economia do concelho. A questão que se seguiu permitiu‐nos averiguar o peso do Estado no emprego da cidade: 18,9% da população trabalha no sector público e 81,1% no sector privado. Numa economia onde cada vez mais mudar de emprego é frequente, interrogámos também os sanjoanenses acerca do número de empregos que já tiveram durante a sua vida. O maior valor relativo foi o dos que apenas tiveram um emprego, com 32,2%. Já 24,7% dos entrevistados responderam que tiveram dois empregos; 16,4% que tiveram três empregos; 11,6% quatro empregos e 5,5% cinco empregos. Os restantes 9,6% afirmaram já ter tido mais do que cinco empregos na sua vida. Concluímos que o problema da instabilidade laboral não é muito grave no concelho, sendo necessários esforços para que este não se agrave.

Figura 5 – O número de empregos que os entrevistados já tiveram na sua vida activa

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O Mundo do Emprego em São João da Madeira

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Passando à parte final do inquérito, 78,6% dos inquiridos dizem gostar do seu emprego, 98,2% têm um bom ambiente de trabalho na sua empresa e 80,1% pensam que a sua empresa não está em dificuldades financeiras neste momento. São factores bastante positivos do emprego da cidade/região, que nos fazem acreditar que o mundo empresarial da nossa região é, apesar de tudo, muito sólido. Esperemos, então, que a recessão que se avizinha não tenha efeitos muito graves nesta zona do país. Conclusões finais da investigação: Este inquérito revelou que o mundo do emprego em São João da Madeira é ainda bastante tradicional e tem resistido a algumas tendências actuais da economia nacional, devido: • • • • •

Aos baixíssimos níveis de escolaridade da maioria da população; Ao predomínio dos trabalhadores por conta de outrem na situação de efectivos; Ao facto da maioria dos entrevistados fazer o horário normal das 40h semanais; Ao enorme peso das micro, pequenas e médias empresas no total do emprego da cidade/região; À preponderância dos horários de trabalho fixos e à semana, que ainda se verifica.

De entre estes factores, os quatro últimos são benéficos, devendo ser feitos esforços para que se mantenham assim, uma vez que contribuem para o grande dinamismo do mercado laboral da cidade/região. Só o primeiro factor é preocupante, sendo que o principal desafio para o mercado laboral da cidade é tentar aumentar as habilitações escolares e as qualificações profissionais da população. É caso para dizermos aos responsáveis: “Mãos à obra”!

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Cap. III – Características principais do emprego na cidade

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Capítulo III

Características principais do emprego na cidade

Tendo nós já feito, na introdução a este tema, uma abordagem inicial à estrutura sectorial da actividade económica no concelho de São João da Madeira, vamos neste texto pormenorizar essa abordagem, descrevendo e analisando a situação a que assistimos nos dias de hoje, para cada um dos sectore

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Distribuição do emprego pelos sectores de actividade

O sector primário: Sendo São João da Madeira um concelho urbano, não é de estranhar que este sector (onde se inserem actividades como a agricultura, a silvicultura, as pescas, a pecuária e a caça) empregue 0% da população residente, segundo os dados recolhidos no nosso inquérito. No entanto, existem na cidade algumas explorações agrícolas de pequena dimensão e bastante fragmentadas, cuja produção se destina maioritariamente ao autoconsumo. Dadas as características destas explorações, praticamente todos os agricultores do concelho estão em pluriactividade e plurirrendimento (o cultivo dos campos é apenas um part‐time, pois estes agricultores têm um emprego no sector secundário ou terciário).

Figura 6 – Uma das áreas rurais da cidade (junto à Rua do Vale do Vouga) A maioria dos campos agrícolas concentra‐se nas zonas mais periféricas do concelho, nomeadamente em Casaldelo. 18


Cap. III – Características principais do emprego na cidade

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É de referir também a relevância da Cooperativa Agrícola da Feira e São João da Madeira, que proporciona um importante apoio aos poucos agricultores do concelho. O sector secundário: Este sector (que engloba a indústria transformadora, a construção e a produção de energia) emprega 33,9% dos sanjoanenses (dados do inquérito). Caracteriza‐se pelo predomínio das PME, estando as indústrias organizadas em quatro zonas industriais. O peso da indústria no emprego do concelho tem diminuído bastante, devido à terciarização da economia: segundo um trabalho de investigação de Maria de Lurdes Torres (docente do Isvouga), SJM e os restantes concelhos do EDV assistiram “a uma redução da importância relativa da indústria transformadora na estrutura produtiva ao nível das principais variáveis” e “a um reforço do peso relativo de algumas actividades de serviços, designadamente das actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas e da saúde e acção social”. Mesmo assim, a indústria continua a ser fulcral para o concelho, pois as indústrias transformadoras contribuem para 61,7% do volume de negócios em SJM. Os ramos das indústrias do calçado e das indústrias têxteis destacam‐se na estrutura industrial da cidade: segundo dados do nosso inquérito, 18,9% da mão‐de‐obra industrial do concelho trabalha no primeiro ramo e 16,2% no segundo. Relativamente à indústria do calçado, que se destaca, a cidade de SJM é detentora da marca “Capital do Calçado” e é a sede do Centro Tecnológico do Calçado – que apoia as empresas deste ramo a aumentarem a qualidade dos seus produtos, bem como a inovação tecnológica nos seus processos de fabrico – e do Centro de Formação Profissional da Industria do Calçado – que responde às carências das empresas deste ramo em termos de formação profissional, qualificando a sua mão‐de‐obra. Contudo, apesar dos esforços destas entidades, a inovação tecnológica e a formação dos trabalhadores deste ramo ainda são muito deficientes, sendo o fabrico de calçado predominantemente manual e a produtividade deste ramo relativamente baixa. Mesmo assim, esta indústria consegue produzir calçado de elevada qualidade e valor acrescentado, cuja produção é feita essencialmente para exportação (sendo notório o crescimento das exportações para o espaço extracomunitário). Logo, é a procura externa que tem feito com que as empresas deste sector mostrem uma grande resistência às adversidades, continuando com grande força no concelho. Mas nem só de sapatos e têxteis se faz o sector secundário do concelho: têm emergido novas indústrias, dos ramos da metalúrgica, borracha, plásticos, produtos metálicos, máquinas, equipamentos, entre outros. Estas unidades industriais apresentam uma dimensão e produtividade bastante superior às das indústrias tradicionais, contribuindo para uma maior competitividade do concelho. 19


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Figura 7 – A Molaflex, uma das indústrias presentes no concelho São também de referir, pela sua importância histórica, as indústrias da chapelaria e dos lápis: SJM tem a única fábrica de feltros para chapéus (Fepsa) e a única fábrica de lápis do país (Viarco). A indústria da chapelaria tem uma grande importância na história do concelho, pelo que é em SJM que se localiza o Museu da Chapelaria. Pelo que já foi exposto por nós, é fácil concluir que, apesar da diversidade e força do sector secundário neste concelho, este sector tem como grande problema actual o baixo nível de investimento em inovação tecnológica e em Investigação e Desenvolvimento (I&D), o que se deve à excessiva concentração da indústria em sectores tradicionais e aos fracos níveis de escolaridade e de formação profissional da mão‐de‐obra e dos empresários. E como inverter esta situação? Destacamos duas das iniciativas que as várias entidades locais e regionais têm desenvolvido para a resolução deste problema: 

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Criação do Centro Empresarial e Tecnológico (CET) – Inaugurado em 2008, é uma incubadora de empresas com base tecnológica. Tem como missão “Contribuir para a promoção e o aumento da produtividade e competitividade do concelho e da região, através do apoio ao desenvolvimento e modernização das empresas existentes e na implementação de projectos empresariais inovadores, desempenhando um papel de agente facilitador e dinamizador na


Cap. III – Características principais do emprego na cidade

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aproximação entre o tecido empresarial e a comunidade científica”. Este projecto tem‐se revelado um sucesso, pois no edifício de CET estão instaladas 28 empresas com base tecnológica e dois núcleos de I&D industrial, onde foram criados 120 postos de trabalho, dos quais 70% pertencentes a quadros com cursos superiores. Está para breve a construção do segundo edifício do CET, estando já adjudicada a obra. Projecto Sanjonet: rede de inovação e competitividade – Este será “um sistema integrado de actores urbanos, promotor do desenvolvimento de uma cidade viva e empreendedora ao serviço do conhecimento e da inovação tecnológica”, integrando vários parceiros, que vão desde a autarquia às escolas secundárias das cidades, passando pelas associações de empresários. Nas acções que serão desenvolvidas por esta rede, destacamos: o “Living Lab S. João”, que impulsionará o desenvolvimento de indústrias tecnológicas em sectores como o automóvel, o do calçado, a robótica, o design e as nanotecnologias; o “INOVSHOECLUSTER”, uma entidade que dinamizará a inovação e o empreendedorismo no cluster do calçado existente na região; e a “Academia de empreendedorismo e inovação”, que visa a promoção da qualificação da mão‐de‐obra industrial e o fomento da cultura de empreendedorismo junto das escolas secundárias.

Esperemos, então, que estes projectos consigam inverter este problema, fortalecendo a economia e o emprego no nosso concelho! O sector terciário: Este sector (o sector dos serviços, onde se incluem actividades como o comércio, o turismo, os transportes e as actividades financeiras) emprega, de acordo com os dados do nosso inquérito, 66,1% da população sanjoanense. Em SJM, a actividade que se destaca neste sector é a do comércio: 36% das empresas do concelho são comerciais, segundo dados do INE. Também se destacam neste sector as empresas imobiliárias (correspondem a 18% das empresas do concelho), as empresas de alojamento e restauração (6% das empresas), as de educação (5% das empresas) e as de saúde e acção social (5% das empresas). Como referido previamente, tem‐se assistido, quer em SJM quer no restante EDV, a um aumento do peso deste sector no emprego e na criação de riqueza. Esta dinâmica deste sector de actividade no concelho deve‐se principalmente: 

Ao potencial geográfico da localização de SJM – esta cidade ocupa uma posição central no “Eixo Urbano do Entre Douro e Vouga (EDV) ”, situando‐se entre os concelhos de Oliveira de Azeméis e Santa Maria da Feira. Isto faz com que seja um local com enorme potencial para projectos comerciais, como o Centro Comercial 8ª Avenida. De facto, este centro, inaugurado em Setembro 21


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de 2007 e localizado numa das principais avenidas da cidade (Av. Dr. Renato Araújo), serve uma população de mais de 300 000 habitantes numa área de influência de 20 minutos. Com 133 lojas, este centro foi premiado nos "ICSC (International Council of Shopping Centre) Awards" 2009. Contribuiu, sem dúvida, para o aumento da terciarização e do peso do comércio na economia sanjoanense. À existência de uma variada gama de serviços qualificados no concelho – O facto de o concelho e a região concentrarem um grande número de indústrias da fileira tradicional do calçado levou ao surgimento de várias empresas prestadoras de serviços relacionados com este ramo industrial. Assim sendo, são abundantes na cidade não só os serviços destinados ao ramo do calçado em particular (como a fotografia publicitária, o CAD/CAM, o design/modelismo, o trading e a comercialização de máquinas para o calçado) mas também os serviços relacionados com a indústria em geral (como a auditoria e a consultadoria na área da gestão e da organização).

Figura 8 – O Continente, um dos maiores empregadores da cidade, no que aos serviços diz respeito SJM é, portanto, cada vez mais a cidade do comércio e dos serviços, que se destinam não só ao próprio concelho mas também a todo o EDV e mesmo a concelhos que não

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Cap. III – Características principais do emprego na cidade

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pertencem a esta sub‐região, como Ovar e Estarreja, o que permite compensar, de uma certa forma, o declínio do sector industrial na cidade. Conclusão: Esta cidade, que se insere numa sub‐região com bastante relevância económica para o país, o EDV, que está patente no facto de absorver 8% do emprego da região Norte e de ser a origem de cerca de 17 por cento das exportações desta região, tem todas as condições para crescer e desenvolver ainda mais o seu sector secundário e terciário. Porém, isto só é possível se os empresários da cidade/região se mentalizarem que o investimento em inovação tecnológica e I&D, bem como em capital humano (através da qualificação escolar e profissional da mão‐de‐obra) é a única forma de aumentar a produtividade das suas empresas e o valor acrescentado criado pelas mesmas. É esta a missão dos nossos empresários, das entidades responsáveis e, no fundo, de cada um dos sanjoanenses.

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Qualificação dos empregos na cidade Neste subtema iremos analisar em maior detalhe a qualificação dos empregos e da mão‐de‐obra de SJM e da região onde se insere, desde os problemas até às soluções. Os problemas: Como já referimos em momentos anteriores, a população activa sanjoanense caracteriza‐se por ter baixos níveis de escolaridade e de qualificações, o que comprovámos aquando da realização do nosso inquérito. Recordemos, então, os dados da questão relativa às habilitações literárias dos sanjoanenses:     

20,2% dos entrevistados completou o 1º Ciclo do Ensino Básico; 23,9% completou o 2º Ciclo; 16,5% possui o 9º ano de escolaridade; 23,9% fez o Ensino Secundário; Apenas 15,6% possui um curso superior.

E não se pense que este é o único problema do concelho ao nível das qualificações… Segundo o Plano Estratégico do Desenvolvimento Local da Câmara Municipal de SJM, também se verifica:  

 

A falta de articulação entre “o sistema nacional de educação e formação profissional” e as empresas; A desvalorização do “ensino técnico, profissional e tecnológico” em detrimento de “percursos educativos generalistas”, bem como o “défice de cursos profissionais na região”; As dificuldades das PME em “dispensar colaboradores para a frequência de acções de formação”; As resistências à formação profissional, “quer por parte dos empresários quer por parte dos trabalhadores e da população desempregada”;

Todos estes factores fazem com que a mão‐de‐obra sanjoanense se caracterize pela “obsolescência dos saberes adquiridos”, sendo que o conceito de aprendizagem ao longo da vida tarda em ser posto em prática. Todavia, convém referir que esta situação não é exclusiva do concelho de SJM nem do EDV: infelizmente assiste‐se a estes problemas em toda a região Norte e, no fundo, um pouco por todo o país. O concelho de SJM até está melhor neste campo do que muitos dos restantes concelhos do país, o que se reflecte no facto de o concelho ter 24


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sido considerado o melhor concelho do país no domínio do ensino e formação, de entre os 20 municípios analisados no estudo “O Melhor Município para se Viver, feito no início deste ano pelo Instituto de Tecnologia Comportamental (INTEC), em parceria com o jornal SOL. Mesmo assim, face aos problemas apresentados, há muito por onde melhorar!

Figura 9 – Um emprego que não exige elevados níveis de qualificação As soluções: Felizmente muitas são as instituições e as iniciativas que contribuem para a inversão desta problemática falta de qualificação da população da cidade/região. Aqui ficam algumas delas: Requalificação da Escola Básica e Secundária Oliveira Júnior e novas instalações da Escola Secundária João da Silva Correia: A nossa Oliveira Júnior está, desde o Verão de 2009, em obras de requalificação. No final das obras, aumentará a capacidade da escola, que passará a poder albergar 65 turmas. Mas a maior evolução será no campo das tecnologias: todas as salas terão videoprojector e um terço delas vão estar equipadas com quadro interactivo. Depois deste investimento de 12 milhões de euros, esta será uma escola dedicada principalmente à área científica, passando a dispor de dez laboratórios e três salas de informática. 25


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Já a João da Silva Correia vai ter casa totalmente nova. Será transferida já no fim deste ano de 2010 das actuais instalações em Fundo de Vila para as novas, na Mourisca. Oferecerá excelentes condições para a sua comunidade escolar: 22 gabinetes para professores, vários laboratórios, um pavilhão que poderá ser utilizado por toda a comunidade… São dois excelentes projectos que farão com que SJM tenha capacidade para aumentar o número de alunos que frequentam as suas escolas, qualificando os seus jovens! Centro Tecnológico do Calçado (CTC) e Centro de Formação Profissional da Indústria do Calçado (CFPIC): Como referimos no subtema anterior, estas instituições respondem especificamente às necessidades de formação do ramo do calçado, tendo a difícil missão de qualificar os trabalhadores deste sector tão tradicionalista! O CTC tem um sector de formação que se orienta principalmente à mão‐de‐obra das fábricas de calçado. Desenvolve formações em colaboração com empresas da região, qualificando técnica e tecnologicamente os seus recursos humanos. Já o CFPIC faz formações não só destinadas à população activa mas também aos jovens estudantes, dinamizando cursos com equivalência ao 9º ano (CEFs) e cursos com equivalência ao secundário (cursos profissionais), pois acolhe um Centro Novas Oportunidades. A grande qualidade da formação que desenvolve está patente no facto de esta instituição ter conquistado, em 2005, cinco dos dez prémios principais no concurso internacional de design de calçado “Sulle Orme del Cuoio”, realizado em Itália. É de facto notável que esta escola se tenha destacado desta forma num concurso onde participaram oito escolas de vários países, o que nos mostra que o sector do calçado na cidade pode vir a ter um grande futuro à sua espera, desde que aposte na qualificação! Crescimento dos cursos profissionais na cidade: Em linha com o que se passa um pouco por todo o país, os estabelecimentos de ensino sanjoanenses oferecem um número cada vez maior de cursos profissionais aos seus alunos. Estes são cursos de dupla certificação, uma vez que permitem aos alunos fazerem o ensino secundário ao mesmo tempo que obtém uma qualificação profissional de nível 3. Assim sendo, estes cursos são vantajosos, já que “quando terminamos o 12º ano estamos aptos para trabalhar e se quisermos prosseguir estudos também o podemos fazer. Eu sou exemplo disso, fui para um curso profissional e depois fui para a faculdade” (Joaquim Valente, director do Centro de Educação Integral).

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A oferta formativa das escolas ao nível destes cursos é definida pelas escolas da cidade em parceria com a autarquia local e com empresas locais, tendo em vista que cada aluno tenha um local onde possa realizar a sua Formação em Contexto de Trabalho e que cada curso tenha verdadeiramente saídas profissionais com emprego na região. Em consequência, a maior parte destes cursos têm uma ligação muito próxima com as áreas comercial, informática, electricidade, apoio à infância, cuidados de beleza, administração, calçado, electrónica, contabilidade, gestão, design e saúde. A nosso ver, esta é uma aposta muito positiva: permite evitar que os alunos que não queiram frequentar o ensino superior possam, mesmo assim, ter qualificações suficientes para arranjar um emprego minimamente bem pago. É uma oportunidade de fugir ao desemprego, que a geração anterior não teve! Escola Superior Aveiro Norte (ESAN): A ESAN é a única instituição superior pública na região norte do distrito de Aveiro. Inaugurada em 2004, é uma escola politécnica vocacionada para sectores de actividade económica com grande importância na economia regional: moldes, componentes automóvel, metalomecânica, calçado, cortiça, etc. Está actualmente instalada provisoriamente no centro da cidade de Oliveira de Azeméis, estando em curso as obras que darão origem às instalações definidas da ESAN. Esta escola tem na sua oferta formativa uma licenciatura em Tecnologia e Design de Produto. No entanto, a ESAN especializou‐se na oferta de Cursos de Especialização Tecnológica – cursos pós‐secundários não superiores que visam a aquisição do nível 4 de formação profissional. Estes funcionam não só na sede da escola mas também nos concelhos de SJM, Estarreja, Ovar, Albergaria‐a‐Velha e Sever do Vouga. É mais uma instituição que está a dar o seu contributo para a difícil tarefa de qualificar a população desta região. Esperemos que com as novas e maiores instalações, a inaugurar em 2011, aumente o número de cursos e, assim, a quantidade de licenciados a sair desta instituição! Centro Local de Aprendizagem (CLA) de SJM da Universidade Aberta (UAb): Muitos não sabem mas “a UAb é uma instituição de ensino superior público e é a única no país vocacionada para o ensino a distância” (Cátia Lemos, coordenadora do CLA sanjoanense). Funciona em regime de e‐learning e disponibiliza licenciaturas e mestrados a todos os que teriam dificuldade em frequentar uma licenciatura ou um mestrado da forma convencional e em horário laboral, isto é, está vocacionada para a formação dos que já se encontram a trabalhar, promovendo o processo de aprendizagem ao longo da vida.

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Este CLA está instalado na Sanjotec – Centro Empresarial e Tecnológico – e tem como objectivo aproximar a UAb de toda a população do EDV, aumentando as qualificações de toda esta região. Esperemos que o consiga fazer!

Figura 10 – Instituto de Línguas, instituição que contribui para a qualificação dos sanjoanenses Em conclusão… Face aos problemas que o concelho, a região e o país enfrentam, são indispensáveis todas estas iniciativas das entidades responsáveis. No entanto, ainda está a faltar um ponto que talvez seja o mais importante: a actuação na mudança das atitudes e das mentalidades de grande parte da população em relação à formação profissional, pois grande parte da população activa ainda pensa, como diz o povo, que “burro velho não aprende línguas”. Não basta a existência de cursos e acções de formação, é também necessário que a população se inscreva neles! Esperemos que os responsáveis não se esqueçam disto, para que os níveis de instrução e formação da população aumentem. Só assim será possível aumentar a produtividade dos trabalhadores, criar mais valor acrescentado nas nossas empresas e, assim, inverter o facto de os salários desta região estarem abaixo da média nacional, aumentando ainda mais a qualidade de vida dos sanjoanenses! 28


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O problema do desemprego e do emprego precário na cidade

Estes são dois problemas sociais que, infelizmente, estão muito presentes não só na nossa cidade de SJM e na sub‐região do EDV mas também, de forma mais ou menos intensa, em todo o país, consequência da crise económica que se verifica em Portugal e no Mundo desde 2008. Analisemos, então, estes problemas no contexto regional, começando pelo primeiro. O desemprego: Como já referimos na nossa introdução, a taxa de desemprego do concelho de SJM, segundo uma notícia do jornal SOL de 7 de Maio de 2010 (em que os dados apresentados são relativos a 2009), é de 10,2%. Comparando esta taxa com a dos restantes concelhos do EDV, o desemprego em SJM é maior do que em Arouca (onde a taxa de desemprego é de 6,7%), do que em Vale de Cambra (taxa de desemprego de 7,0%) e do que em Oliveira de Azeméis (taxa de desemprego de 7,7%). No entanto, SJM está melhor que o concelho de Santa Maria da Feira (SMF) em termos de desemprego (pois SMF tem uma taxa de desemprego de 12,0%). A região onde SJM se insere – a região Norte – tem uma taxa de desemprego de 11,9% (dados de finais de 2009), bem acima da sanjoanense, sendo a região do país com a maior taxa de desemprego. Quanto à taxa de desemprego média nacional, essa era, no fim de 2009, de 10,4% (dados do Eurostat). SJM está, portanto, inserida numa sub‐região em que o desemprego é inferior à média da região Norte e à média nacional, o que espelha o dinamismo económico do EDV (que poderia ser superior se não se sucedessem as falências de empresas em SMF). No entanto, tem um desemprego ligeiramente superior à média do EDV, pois a crise também tem atingido bastante alguns ramos de actividade da cidade. Um dos casos mais marcantes de empresas sanjoanenses atingidas pela crise que tiveram mesmo que fechar portas é a Oliva. A “Oliva 1925 – soluções de fundição, SA” empregava 184 trabalhadores antes do seu encerramento (mas nos seus tempos de glória chegou a empregar muitíssimos mais), trabalhadores que, desde Abril, engrossam os números do desemprego no concelho e no país, depois do processo de insolvência da empresa ter ditado o encerramento das suas portas. 29


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Figura 11 – Centro de Emprego de São João da Madeira Este e muitos outros casos de falências e desemprego na cidade/região têm motivado grandes filas no exterior do centro de emprego de SJM. Este é um cenário frequente no período matinal que se deve ao facto de este centro de emprego ser o único a dar resposta a uma população de cerca de 300 mil habitantes, dos municípios de SJM, Oliveira de Azeméis, SMF, Arouca, Vale de Cambra e Castelo de Paiva. Apresentamos agora outros dados (de Fevereiro de 2009) relativos ao desemprego na cidade:    

56,4% dos desempregados são mulheres; 28% estão inscritos no centro de emprego há menos de um ano; A maioria (42,3%) tem idade compreendida entre os 35 e os 54 anos; Quanto às habilitações literárias, 27,8% dos desempregados têm o 1º ciclo, 18,9% o 2º ciclo, 19,1% o 3º ciclo, 20,8% têm o ensino secundário e 8,4% têm um curso superior. Já os restantes 5% dos desempregados nem sequer completaram o 1º ciclo de escolaridade; 92,9% dos sanjoanenses inscritos no centro de emprego estão à procura de um novo emprego, enquanto que 7,1% procuram o primeiro emprego.

Contudo, convém não esquecer que todos os dados do desemprego que apresentamos até agora escondem certo tipo de situações, como as pessoas inscritas 30


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em acções de formação profissional, as pessoas que desistiram de procurar emprego, entre outras. Nestes casos, a população não é considerada como desempregada mas sim como inactiva. SJM apresenta a quarta maior taxa de actividade do país (tem uma taxa de 66,2%; apenas os concelhos de Albufeira, Vizela, Sintra e Guimarães têm uma taxa de actividade superior) o que, para além de revelar que SJM é um concelho com baixo índice de envelhecimento, mostra também que as situações que referimos têm menos expressão nesta cidade do que no resto do país. Em suma, SJM, apesar de todo o seu dinamismo económico de que temos dado conta, tem registado, tal como todo o país, um aumento da sua taxa de desemprego. São, mesmo assim, de salientar os dados positivos quanto à taxa de actividade do concelho, que fazem com que SJM esteja melhor que o resto do país em termos de emprego! O emprego precário: Recordando uma vez mais o inquérito que realizámos, dentro do grupo dos trabalhadores por conta de outrem entrevistados, 84,3% encontram‐se na situação de efectivos, 15% estão contratados a prazo e 0,8% trabalham a recibos verdes. A isto corresponde uma taxa de precariedade de 15,7% na cidade/região de SJM. Comparando estes dados com a taxa de precariedade nacional, que é de 22%, isto mostra‐nos que o problema do emprego precário está em SJM mais controlado do que no país em geral. Contudo, este não deixa de ser um problema preocupante, principalmente porque se tem agravado bastante nos últimos anos. Este agravamento não deixa de ser compreensível em tempos de crise económica, em que o clima de incerteza quanto ao que o futuro reserva está instalado pelos empresários. Estes quando necessitam de contratar trabalhadores, optam, prudentemente, por contratar a prazo ou mesmo, em certos casos, a recibos verdes, com o objectivo de não ficarem “presos” à opção que fizeram de contratar trabalhadores da mesma maneira que ficariam se efectivassem os trabalhadores. Segundo a CGTP, há 3 locais que se destacam no concelho por terem um elevado número de trabalhadores precários nos seus quadros: o centro comercial 8ª Avenida, a Faurecia e a Trecar. Contudo, a Faurecia, em 2008, vinculou à empresa cerca de 30% dos seus trabalhadores precários e justifica o facto de ter um grande número de trabalhadores a contrato pela forte variação do volume de encomendas que existe no ramo automóvel, onde a empresa se insere. De facto, os contratos a prazo foram criados para este tipo de situações e não para situações em que os trabalhadores desempenhem funções permanentes, pelo que é nossa opinião de que não tem justificação o facto das lojas do centro comercial 8ª Avenida recorrerem tanto ao trabalho temporário, agravando o problema da precariedade na cidade.

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Figura 12 – A Adecco, uma das ETT presentes na cidade Este crescimento da precariedade é também visível no aumento das inscrições nas empresas de trabalho temporário (ETT) da cidade. A delegação da Adecco de SJM tinha em Abril de 2008 11 040 inscrições, das quais metade foram feitas entre Maio de 2007 e Abril de 2008. Mas as empresas também procuram cada vez mais os serviços das ETT, face às razões que já apresentámos, o que faz com que algumas das ETT digam que “há emprego, há trabalho, as pessoas é que não querem”. Será uma parte do problema do desemprego na cidade motivado pela inércia e preguiça de alguns dos desempregados, ou pela sua excessiva selectividade no emprego que pretendem? Estas afirmações das ETT, mesmo tendo sido feitas antes da recessão de 2009, levam‐ nos a crer que sim. Para terminar, realçamos o facto de, segundo o nosso inquérito, apenas 0,8% dos sanjoanenses trabalharem a recibos verdes. Tendo em conta que se estima que a nível nacional a percentagem de trabalhadores que trabalha a recibos verdes seja de 10%, o concelho sanjoanense está muito abaixo da média nacional a este nível, o que é de louvar, uma vez que os recibos verdes são uma forma de trabalho com um nível de precariedade inaceitável. É mais um facto que mostra a competitividade das empresas da cidade, que não necessitam de recorrer a este tipo de contratação, e que, por isso, muito nos satisfaz. Em conclusão… No concelho de SJM, em linha com o que se sucede um pouco por todo o país, o desemprego e o emprego precário são um grave problema social que afecta grande 32


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parte das famílias. Todavia, o importante é não desistir. Não desistirem os desempregados, uma vez que há ramos de actividade na cidade que por vezes necessitam de contratar trabalhadores e não os encontram: o importante talvez será ser menos selectivo na procura do emprego, pelo menos nestes tempos de crise. Não desistirem os trabalhadores precários, desempenhando exemplarmente o seu trabalho para convencerem os seus patrões a efectivarem‐nos no final do contrato. E não desistirem os responsáveis nacionais e locais de fazerem tentativas de mitigar estes problemas sociais, não obstante a tão necessária contenção orçamental!

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Migrações pendulares de e para SJM: causadas pelo emprego? Neste subtema abordaremos o subtema das migrações pendulares de todos os que trabalham no concelho de SJM mas residem fora dele, ou vice‐versa. Na nossa análise incidiremos principalmente nas migrações pendulares que têm como destino a cidade do Porto. Isto deve‐se à sua grande importância no dia‐a‐dia do concelho sanjoanense. Esta é apenas comparável com a importância das migrações para os concelhos vizinhos (Feira e Oliveira de Azeméis), que não vamos abordar, uma vez que são de muito curta distância. Causas das migrações pendulares para o Porto: Para muitos dos sanjoanenses, a rotina diária das idas e voltas para o Porto começa na entrada para a universidade. Isto porque a Universidade do Porto (UP) é a maior universidade portuguesa: tem 14 faculdades, em que são leccionados 701 cursos (35 dos quais são licenciaturas e 18 mestrados integrados), estando actualmente inscritos na UP 30 898 estudantes. E existem ainda mais instituições do ensino superior no Porto: o Instituto Politécnico do Porto, pólos da Universidade Católica e Lusófona, entre outras. Todos estes cursos e instituições contrastam com a situação no EDV, em que o ensino superior encontra‐se muito pouco desenvolvido. Assim sendo, a UP acaba, naturalmente, por atrair uma parte muito significativa dos alunos que saem, após o 12º ano, das secundárias do concelho, procurando formação superior. Mas não é só nos tempos de estudante que os sanjoanenses se deslocam diariamente para a cidade Invicta… Face ao dinamismo económico do Porto e arredores, muitos dos sanjoanenses optam por trabalhar nessa cidade ou em concelhos como Gaia, Matosinhos ou Maia. Isto é principalmente notório na população que possui mais qualificações, o que se deve não só ao facto de muita dessa população ter estudado no Porto e, portanto, ter conseguido um emprego nessa cidade, mas também à notória falta de empregos qualificados e especializados em SJM e restantes concelhos do EDV (já no Porto esses empregos existem em muito maior número). São entre 35 e 45 quilómetros diários (consoante o percurso escolhido e a zona da cidade do Porto para que cada um se destina), que nem todos fazem da mesma forma… Partimos agora para uma análise a essas mesmas formas possíveis dos sanjoanenses se deslocarem para o Porto. 34


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Ir para o Porto de automóvel:

Figura 13 – Uma das vias rodoviárias que atravessam o concelho São muitos, provavelmente a maioria, os que optam por fazer esta viagem através do seu automóvel. Mas nem todos optam pelo mesmo percurso, pelo que abordaremos agora cada um dos percursos mais frequentemente utilizados para chegar à zona do Porto. Um dos mais utilizados desde sempre foi a auto‐estrada A1. Os automobilistas utilizam a N223 para chegar de SJM até à Feira, onde entram na A1, em direcção ao Porto, optando depois, consoante o seu destino, pela ponte da Arrábida ou pela do Freixo. Contudo, este trajecto apresenta dois problemas: tem uma portagem de 1,30€ e é um percurso onde o trânsito é bastante congestionado, nomeadamente no percurso SJM – Feira da N223, devido aos semáforos de Sanfins. Todavia, a construção das Scut A29 e A44 veio retirar algum tráfego a esta alternativa. Isto porque estas estradas permitiam percorrer o trajecto Feira – Gaia também sempre em auto‐estrada (sendo que a distância percorrida é apenas 1,5km superior), mas não pagando qualquer portagem. Esta situação acabou a 15 de Outubro de 2010, com o início da cobrança de portagens na Scut Costa de Prata (onde se inserem a A29 e a A44). Assim sendo, percorrer este último percurso passou a implicar o pagamento de uma portagem de 0,45€, pelo que 35


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o número de automóveis a fazer SJM – Porto desta forma é agora inferior. Mas esta redução não é muito significativa… Na nossa opinião, o facto de muitos condutores continuarem a optar pela A29/A44 deve‐se:  

Ao facto deste percurso continuar a ser bastante mais barato do que a A1: a portagem cobrada na A1 é quase três vezes superior à cobrada na A29; Às isenções concedidas pelo governo: o concelho de SJM beneficia do regime de isenções criado pelo Estado para minimizar o impacto da entrada em vigor destas portagens, por ficar a menos de 10km da A29. Logo, as populações e empresas sanjoanenses têm direito a isenção nas primeiras 10 viagens mensais por este trajecto, bem como a um desconto de 15% nas viagens mensais seguintes. No entanto, note‐se que para ter estes benefícios é necessário adquirir uma Via Verde ou um Dispositivo Electrónico de Matrícula; À localização do pórtico de portagem na A29: no percurso que os condutores têm que percorrer da A29 e A44 existe apenas um pórtico de portagem, localizado em Francelos (concelho de Gaia). Muitos optaram, portanto, por continuar a utilizar a A29, mas contornando o pórtico de portagem, poupando 0,45€ por trajecto. Basta sair da A29 no nó de Miramar ou Gulpilhares, cumprir um curto trajecto de 2km nas ligações secundárias de Francelos e entrar, depois, no nó de Francelos da A44, continuando novamente por auto‐estrada em direcção ao Porto!

Figura 14 – O IC2, uma das vias mais utilizadas nas deslocações à cidade Invicta 36


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Outro trajecto bastante utilizado pelos sanjoanenses é o IC2/N1. Os condutores vão pelo IC2/N1 desde SJM até Grijó, dirigindo‐se, depois, para a A1 em direcção ao Porto. As vantagens deste trajecto são duas: os condutores não pagam portagens, pois apenas percorrem o troço da A1 em que não são cobradas portagens; é o trajecto mais directo para o Porto, em que são menos os quilómetros a percorrer. Mas tem desvantagens: é necessário percorrer 20km fora de auto‐estrada, o que aumenta consideravelmente o tempo da viagem; o trânsito do IC2/N1 aumentou bastante nos últimos tempos, devido à introdução de portagens nas Scut. Actualmente são estas três as alternativas mais utilizadas para chegar ao Porto, mas brevemente surgirá uma nova: está a ser construída a A32, auto‐estrada Carvalhos – Oliveira de Azeméis, que terá uma ligação, também em auto‐estrada, ao concelho de SJM. Assim, os condutores poderão entrar, no IC2 (na zona do Parrinho), para o ramal de ligação à A32 (já em auto‐estrada), seguindo depois para a A32 propriamente dita no nó que se localizará junto a Pigeiros. Na A32 passarão pelas freguesias de Guisande, Louredo, Gião, Canedo e Vila Maior (concelho da Feira) e de Sandim, Olival, Pedroso e Vilar de Andorinho (concelho de Gaia), até chegarem à A20, onde facilmente poderão seguir, sempre por auto‐estrada, até à ponte do Freixo ou da Arrábida. Com esta auto‐estrada, cuja construção teve início em Outubro de 2009 e tem fim previsto para Outubro de 2011, a cidade ficará coberta pela rede nacional de auto‐ estradas e finalmente será possível algo que era há muito reivindicado pelos sanjoanenses: ir de SJM ao Porto sempre em auto‐estradas. É uma grande mais‐valia para o concelho, mesmo tendo em conta que esta auto‐estrada será portajada. Ir para o Porto de transportes públicos: Para todos os que não possam ou não queiram deslocar‐se de automóvel para o Porto, e face à falta de ligações ferroviárias minimamente viáveis para o trajecto SJM – Porto, as carreiras da Transdev são a única opção existente para fazer SJM – Porto de transportes públicos. Mesmo assim, não deixa de ser uma boa opção. A Transdev faz esta ligação de forma frequente, quer no percurso SJM – Feira – Porto (via A1), quer no percurso SJM – Lourosa – Carvalhos – Porto (via IC2/N1). A cada dia útil existe, no mínimo, uma carreira por hora entra as 7h e as 20h, sendo que nas horas de ponta o número de carreiras é bastante superior. Quanto aos preços, o bilhete simples custa 3,65€. Contudo, existe uma promoção que faz com que esse mesmo bilhete custe 2,50€ se for comprado um bilhete de ida e volta, 2€ se for comprado um pré‐comprado de 5 viagens, 1,80€ se for comprado um pré‐comprado de 10 viagens e 1,59€ se for feito um passe social.

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Tendo em conta estas promoções, a Transdev pode ser uma boa forma de poupar nestes tempos de crise, tendo ainda as vantagens de poder aproveitar o tempo da viagem e de ser benéfico para o ambiente! Em síntese…

Figura 15 – Placa que indica a saída do IC2 para o centro de SJM Para todos os que trabalham/estudam no Porto e residem no concelho ou vice‐versa, existem já boas alternativas, e melhores serão quando for inaugurada a A32. Mas continua a faltar uma alternativa muito importante: deveria existir uma ligação ferroviária entre a zona urbana do EDV e o Porto. É algo de que já se fala há muito tempo, mas que nunca foi para a frente, pois, incompreensivelmente, a ferrovia está algo esquecida no nosso país e aposta‐se, actualmente, em força nas estradas… Esperemos que, quando chegarem melhores dias, o EDV venha a ter um comboio para o Porto. É um investimento que, sem dúvida, a região merece!

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Cap. IV – Casos de destaque no sector empresarial sanjoanense

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Capítulo IV

Casos de destaque no sector empresarial sanjoanense

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Oliva

Iniciamos agora uma nova série de textos, em que abordaremos uma série de casos de empresas sanjoanenses que de uma forma ou outra marcam ou marcaram a economia do concelho. Começamos pela Oliva, uma empresa que chegou a ser uma das maiores do país. Foi um dos mais importantes motores do desenvolvimento de SJM, tendo contribuído para a afirmação do concelho a nível regional. Da fundação até aos “anos de glória”: Foi em 1925, mais concretamente a 31 de Julho, que SJM viu nascer uma nova empresa: a “Oliveira, Filhos e Cia. Lda”. A Oliva inicial dedicava‐se às indústrias da fundição, da serralharia, da serração e da carpintaria mecânica e mostrou uma grande pujança: um ano depois da sua criação já ocupava uma área de 2 mil metros quadrados. Não tardaria muito até que, em 1934, esta fábrica se aventurasse em novas áreas de negócio, passando a ser produzidos fogões de cozinha, ferros de engomar, radiadores e tornos de bancada. Aposta esta que se viria a revelar um grande sucesso, face à grande aceitação destes produtos no mercado, e que proporcionou o capital necessário à realização de novos investimentos, de que é exemplo a criação de uma unidade de produção de banheiras, em 1938. Dez anos passados a fábrica expandiu novamente as suas áreas de negócio, passando a produzir as míticas máquinas de costura Oliva. Estas lideraram o mercado nacional durante mais de 30 anos, batendo uma grande concorrente, de dimensão internacional – a Singer. Isto pode ser explicado pelo facto de as máquinas de costura Oliva terem sido postas à venda a um preço bastante acessível, até para os menos abastados. Mas tão ou mais importante do que isto foi a estratégia publicitária genial que a empresa pôs em prática: a Oliva tinha diversos pontos de venda exclusivos pelo país, organizava cursos de costura para domésticas, desenvolvia concursos de vestidos de chita, colocou reclames luminosos em locais estratégicos (como a Avenida dos Aliados, no Porto, o Rossio, em Lisboa e até a baía de Luanda, em Angola), entre muitas outras acções de marketing da Oliva que mais parecem do século XXI do que da década de 1950. Todo este sucesso teve como consequência o crescimento da área de laboração da Oliva, que passou a ser de 25 000 m2. Mas os grandes beneficiados viriam a ser os trabalhadores da empresa, uma vez que António José Pinto de Oliveira, o líder da 40


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empresa, considerava fundamental a existência de uma política social e cultural que valorizasse os trabalhadores, mantendo‐os motivados e produtivos. Assim sendo, os funcionários desta empresa beneficiavam de um rendimento acima da média, devido aos prémios de mérito e aos subsídios pagos. Para além disso, a Oliva tinha uma biblioteca e um posto médico, organizava colónias de férias e festas de natal para os filhos dos funcionários, apostou fortemente no desporto e criou uma cooperativa de consumo para os funcionários. São apenas alguns exemplos das inúmeras regalias de que beneficiavam os operários desta fábrica.

Figura 16 – A degradação em que actualmente se encontra a zona da Oliva Seguiram‐se novos investimentos por parte da Oliva. Nos anos 50 do século XX surgiu a Fábrica de Tubos de Aço, bem como a produção de torneiras. Foram os “anos de glória” da Oliva (1954 – 1969), em que a fábrica tinha uma área coberta de 35 000 m2 e empregava cerca de 3000 trabalhadores, um número deveras impressionante, pois o concelho de SJM tinha então apenas cerca de 12 000 habitantes. A decadência e a morte da Oliva: Apesar da força económica que a Oliva tinha nos anos 60, foi ainda nessa década que se deu o acontecimento que viria a despoletar o processo de declínio da Oliva: em 1969, a ITT (empresa americana) adquiriu todo o capital da Oliva. Foi então que António José Pinto de Oliveira deixou a Oliva, tendo a empresa alterado a sua 41


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estratégia. E, como se já não bastasse toda esta instabilidade, as perturbações políticas vividas no país na década de 1970 vieram agravar ainda mais todos estes problemas da empresa. Estes problemas continuaram na década seguinte, em que os novos gestores da empresa se revelaram incapazes de delinear um novo rumo para a fábrica, já que não possuíam as habilitações e qualificações necessárias para exercer o cargo que ocupavam. Já nos anos 90 do século XX, depois da total descapitalização da empresa, um conjunto de antigos funcionários da empresa iniciaram um projecto que visava trazer de volta a Oliva dos anos 60. Todavia, isso veio a revelar‐se impossível numa empresa sem capital, em que todos os projectos se deparavam com obstáculos diversos. Em 2003 a Oliva era, por tudo isto, uma empresa descapitalizada, sem investidores e sem responsáveis pela sua gestão. Factores que determinaram a sua mudança de nome para “Novolivacast” e, no ano seguinte, a sua aquisição pelo grupo Suberus. Mas nada disto resolveu os problemas da empresa.

Figura 17 – A Rua da Fundição, onde se situava a Oliva Seguir‐se‐ia nova mudança de nome da empresa: à “Novolivacast” seguiu‐se a “Oliva 1925”. Esta nova Oliva tentou ainda reestruturar a empresa, vendendo a sua unidade de produção de torneiras à Cifial e ficando apenas com a sua secção de tubos de aço. 42


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Contudo, os problemas chegaram a uma situação limite, o que levou a empresa a um processo de insolvência. Neste processo ainda surgiu a hipótese de viabilização da empresa, possível se surgisse um investidor disposto a investir 2,6 milhões de euros na empresa. Mesmo com todos os problemas da empresa, o administrador da insolvência garantiu que este investimento seria facilmente recuperado em pouco tempo. Porém, a proposta que viria a vencer a votação seria a de “encerramento do estabelecimento e actividade da insolvente e liquidação do activo da massa insolvente”, conforme declarado pelo Tribunal de SJM. Foi assim que, em Abril de 2010, os 184 trabalhadores que ainda trabalhavam na empresa ficaram desempregados, e que se deu a morte da Oliva, coisa que nos anos 60 ninguém diria que poderia vir a acontecer. A “Oliva Creative Factory”: Apesar da liquidação da “Oliva 1925”, a autarquia de SJM está empenhada em não deixar morrer o nome Oliva, através do projecto “Oliva Creative Factory”. Projecto através do qual “a Oliva continuará a ser uma fábrica. Já não de tubos, torneiras ou banheiras. Mas uma fábrica de criação” (Castro Almeida, presidente da Câmara Municipal de SJM). Esta estrutura tornará a cidade apta a receber todo o tipo de empresas: sendo que SJM já tinha estruturas para as indústrias tradicionais (as quatro zonas industriais da cidade) e para as empresas de base tecnológica (a Sanjotec – Centro Empresarial e Tecnológico), faltava uma para as empresas criativas, ligadas à arte. Para isso, será feito um investimento de 9,2 milhões de euros, apoiado por fundos comunitários, que visa a criação de uma incubadora de indústrias criativas e de um centro de arte contemporânea, no espaço que outrora foi a “zona 2” da empresa criada por António José Pinto de Oliveira. A Creative Factory será um espaço destinado a todos os que queiram criar empresas ligadas ao sector criativo, em áreas como as artes plásticas, o teatro, o cinema, a música, a dança, o design e a moda. Para apoiar devidamente estas empresas, o município sanjoanense prevê instalar nesta estrutura: • • • • • • •

Um espaço para a incubação de negócios criativos; Uma área para instalação de empresas de índole criativa com maturidade; Um espaço de instalação de oficinas de artes e ofícios; Uma área para execução de acções de formação profissional; Um estúdio/sala de ensaios; Uma área para formação artística; Uma residência de artistas; 43


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Espaços sociais para o desenvolvimento de actividades culturais e lúdicas complementares; Espaços expositivos e de demonstração.

Figura 18 – A famosa Torre da Oliva, que irá ser brevemente restaurada A Creative Factory terá também um forte elo ao Cluster de Indústrias Criativas, projecto que se encontra a ser desenvolvido em todo o Norte do país. Por outro lado, será uma estrutura em permanente ligação com a Casa das Artes e da Criatividade (que se encontra em construção no espaço do antigo Cinema Imperador): esta última será um espaço preferencial para a realização de diferentes tipos de espectáculos e outros eventos relacionados com a arte, que todos os que estejam a desenvolver projectos na futura Oliva terão ao seu dispor. Importa também referir que, tendo em conta o enorme valor patrimonial dos edifícios existentes na zona industrial da Oliva, a reconversão arquitectónica do espaço que outrora foi industrial é um aspecto fortemente valorizado neste projecto sanjoanense. As “presenças morfotipológicas caracterizadoras do ambiente fabril” serão mantidas e respeitadas, através da criação de uma área onde as funções urbanas se misturam e onde se combinam unidades industriais, residenciais, terciárias, de lazer… Na nossa opinião, estamos na presença de um excelente projecto, que poderá fazer com que o nome Oliva, que tanto fez pelo concelho no passado, possa contribuir ainda 44


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muito mais para o crescimento da economia da cidade. Esperemos que a obra comece no 1º semestre deste ano, tal como planeado, e que a nova Oliva seja um sucesso tão grande como é actualmente a Sanjotec – Centro Empresarial e Tecnológico!

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Creativesystems

Cá está mais um caso de uma empresa sanjoanense de sucesso. Fomos à Creativesystems entrevistar Pedro França, colaborador da empresa, e recolhemos informação sobre esta empresa que surpreende pelo crescimento que tem tido nos últimos anos e pela grande quantidade de tecnologia que utiliza nos seus produtos. A empresa: A Creativesystems (CS) nasceu em 2002 em Santa Maria da Feira, com o objectivo de melhorar e automatizar os fluxos de informação no sector industrial, através da identificação e rastreabilidade automática dos produtos ao longo de todo o ciclo de produção industrial. Tornando‐se mais fácil saber onde os produtos estão a cada momento, as indústrias ganham mais eficiência e aumentam os seus lucros. No início, a CS, para o desenvolvimento destes novos sistemas de informação, aplicava tecnologias convencionais, como os códigos de barras. Contudo, em 2004, surgiu uma nova oportunidade de negócio, que se tornou na grande aposta da CS – a tecnologia RFID (radio frequency identification). Esta tecnologia consiste numas pequenas antenas com chip, que são incorporadas em todos os produtos através de etiquetas. Estes chips são lidos à distância por um detector próprio, que consegue ler dezenas de chips numa questão de segundos. Com detectores nas várias fases de produção, a rastreabilidade dos produtos na empresa torna‐se total, o que permite a redução dos stocks da empresa e dos armazéns necessários ao seu funcionamento. A aposta da CS nesta nova tecnologia, que “faz com que os produtos falem”, deveu‐se também ao facto do potencial desta tecnologia não se esgotar na indústria: o retalho e a logística também teriam muito a ganhar com a aplicação de sistemas RFID. Surgiu o grande sonho da CS, que acredita que um dia será possível passar com um carrinho por uma caixa de supermercado sem tirar os produtos. Já no ano de 2008 a CS decidiu deixar Santa Maria da Feira e transferir a sua sede para o recentemente inaugurado Centro Empresarial e Tecnológico (CET) de SJM. Segundo Pedro França, o CET é uma mais‐valia para a CS, pois, por um lado, “permite que as empresas se localizem naquilo que vão fazer”, não tendo que se preocupar com outras tarefas como “a limpeza, as chamadas telefónicas, o correio”, pois estes serviços são disponibilizados pelo CET. Por outro lado, o espaço onde a CS está instalada potencia a interacção e interactividade entre as várias empresas presentes no CET, que partilham “as boas e as más experiências” de cada uma.

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Figura 19 – Pedro França, a ser entrevistado para o nosso projecto Em consequência da aplicação intensiva de tecnologia nos sistemas desenvolvidos pela CS, esta é uma empresa em que 95% dos cerca de 20 trabalhadores possuem formação superior. Apesar de termos constatado no nosso inquérito, publicado em Novembro de 2010, que a percentagem de indivíduos com formação superior no total da população sanjoanense é ainda insuficiente, Pedro França acredita que esta região tem os recursos humanos necessários a uma empresa como a CS, uma vez que a cidade de SJM tem “de um lado a (…) Universidade do Porto e do outro lado a Universidade de Aveiro”, e “quer uma universidade quer a outra disponibilizam ao mercado excelentes profissionais”. E são estes recursos humanos que permitem a forte aposta em inovação tecnológica e em Investigação e Desenvolvimento (I&D) que é feita na CS. Esta empresa quer estar na frente do desenvolvimento tecnológico, pelo que “investe fortemente e de forma regular no reforço das suas competências e no desenvolvimento das soluções state‐of‐ the‐art do futuro”, através da colaboração com reconhecidos Centros de Investigação Académica. Graças a todos os projectos em que a CS está envolvida e à aposta em I&D da empresa, esta tem tido um enorme crescimento desde que foi criada. Assim, a CS foi distinguida, em 2010, no “Deloitte Technology Fast 500 EMEA”, por ter sido a 110ª empresa com maior crescimento nos últimos cinco anos na região EMEA – Europa, 47


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Médio Oriente e África. Este ranking inclui todas as empresas públicas e privadas das várias áreas tecnológicas existentes nesta região, baseando‐se no crescimento percentual médio das receitas das empresas nos últimos cinco anos, que foi de 1338,05% na CS. Deste modo, o esforço e o sucesso de todos os que trabalham nesta empresa foram reconhecidos à escala mundial. Quando questionámos Pedro França quanto à receita para tão notável crescimento, a resposta foi a de que existem três vectores: “as ideias, o acreditar e o trabalhar”. Isto porque, por um lado, “se eu não tiver ideias, não vou trabalhar para nada porque não vou ver nada” e, por outro lado, “se eu não acreditar nos momentos difíceis, não vou conseguir chegar a lado nenhum”. Pedro França diz também acreditar que todo o “reconhecimento do mercado [da CS] é consequência do nosso trabalho, das nossas ideias e do nosso acreditar”.

Figura 20 – Pedro França, da Creativesytems, com Ricardo Oliveira e Ricardo Teixeira, elementos do nosso grupo Os projectos: Importa agora conhecer um pouco melhor dois dos projectos desenvolvidos pela CS: o Surfaceslab e o Magic Mirror.

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O Surfaceslab resulta da associação da CS à Vicaima, empresa situada também no EDV (mais concretamente em Vale de Cambra), e que é a líder na produção de portas interiores no nosso país. Esta tecnologia dirigida ao mercado do retalho – nomeadamente a lojas de calçado, vestuário, livrarias e bibliotecas – consiste em prateleiras especiais, capazes de detectar todos os produtos que estão em cima delas, desde que estes possuam as etiquetas RFID que já referimos. É, portanto, fulcral para o funcionamento deste sistema o facto de se ter conseguido que o software leia o que está numa prateleira sem que hajam interferências das outras prateleiras que estão acima, abaixo ou ao lado. Isto confere a máxima fiabilidade ao sistema, sendo a probabilidade de ocorrerem erros de leitura praticamente nula. Numa loja em que todas as prateleiras tenham estes detectores e em que todos os produtos tenham uma etiqueta RFID, abrem‐se novas perspectivas na gestão de stocks. A principal vantagem é a facilidade que passa a existir na realização do inventário da loja. Actualmente muitas lojas têm que fechar no fim do ano para fazer o inventário. Já num grupo de retalho em que seja implementado este sistema, passa a bastar carregar num botão para se ter o inventário de todas as lojas desse grupo.

Figura 21 – O Centro Empresarial e Tecnológico, sede da Creativesystems 49


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Mas existem outras vantagens: a reposição de stocks passa a ser imediata, pois quando o produto é retirado da prateleira o sistema envia um alerta aos colaboradores para que se faça a reposição. Para além disso, torna‐se mais fácil fazer estudos de mercado sobre um dado produto, como saber quantas vezes é mudado de sítio pelos clientes, quantas vezes é movimentado e depois acaba por não ser comprado… Tendo em conta todas estas vantagens, a Surfaceslab prevê que este sistema venha a revolucionar o sector do retalho, aumentando as vendas e fazendo com que se poupe bastante tempo. Cinco empresas – duas portuguesas, uma espanhola, uma inglesa e uma do Benelux – também já se aperceberam de todas estas vantagens e, por isso, estão a desenvolver com a Surfaceslab projectos para a aplicação deste sistema. Estamos convictos de que este excelente projecto, pela sua qualidade, certamente não demorará muito tempo até invadir o retalho português e, porque não, conquistar empresas um pouco por todo o mundo. Quanto ao Magic Mirror, este veio na sequência do projecto de introdução de etiquetas RFID nos produtos da marca portuguesa de vestuário Throttleman, que foi a primeira empresa na área da moda em Portugal a utilizar RFID e a terceira a nível mundial. Este projecto associou quatro empresas: a Throttleman, a CS, a Avery Denninson e a Sybase. Depois da total aplicação do RFID nos produtos da marca, e face aos excelentes resultados desta tecnologia na sua logística, a Throttleman e a CS desenvolveram uma nova tecnologia para tirar ainda maior partido das potencialidades do RFID: o Magic Mirror, que é nada mais nada menos que um “espelho mágico” equipado com um detector de etiquetas RFID, disponível na loja Throttleman do CascaisShopping. Este espelho, ao detectar qual o produto que o cliente está a experimentar, descreve a composição da peça, o preço, os tamanhos disponíveis, faz sugestões de outras peças de roupa que combinem com a que o cliente está a experimentar… Segundo Cristina Baldaque, directora de Marketing da Throttleman, é uma “experiência de compra diferente e inovadora”, possibilitada não só pelo RFID mas também por “inúmeras outras tecnologias de suporte, tal como um touch screen de elevada sensibilidade, display de alta definição, elevada capacidade de processamento digital, wi‐fi, ethernet e uma interface gráfico, que é interactivo e reage de acordo com os tags RFID identificados”. É uma revolucionária forma de comprar que agrada aos consumidores e que, portanto, teve um sucesso que é visível nos números: segundo a CS, os clientes que contactam com o Magic Mirror compram 46% mais do que os restantes. Foi um investimento com rapidíssimo retorno, que contribuiu para o sucesso e para a boa reputação da empresa em análise. Em suma… 50


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Este foi para nós um caso deveras surpreendente, pois a CS prova que a região do EDV não está condenada a ter apenas empresas dos ramos mais tradicionais da economia. Com “as ideias, o acreditar e o trabalhar”, tudo é possível. Aqui está uma empresa na qual a crise passou completamente ao lado, o que só foi possível porque investiram em I&D e não tiveram medo de arriscar. Com o RFID a banalizar‐se e a baixar de preço, muitas novas oportunidades surgirão para esta empresa que está em fase de internacionalização. Esperemos que a Creativesystems continue a crescer e a levar longe o nome de São João da Madeira!

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Netos

Continuamos com a nossa série de textos sobre casos de destaque no plano empresarial da cidade. Desta vez falamos da fábrica de calçado Netos, uma empresa com mais de 50 anos de história que contribuiu e contribui grandemente para que SJM seja e continue a ser a “Capital do Calçado”! Para sabermos mais sobre o passado, o presente e até o futuro desta empresa fomos entrevistar José Neto. Agradecemos a sua disponibilidade para a entrevista, sem a qual falar sobre esta empresa seria tarefa muito mais difícil.

Figura 22 – Ricardo Oliveira e Ricardo Teixeira, elementos do nosso grupo, com os representantes da Netos História da empresa: Foi em 1957 que a cidade de SJM, mais concretamente a zona das Fontaínhas, viu nascer a fábrica de calçado Netos, pela mão dos irmãos Augusto e Domingos Neto. Era, então, uma pequena empresa, que trabalhava apenas com o mercado interno e que produzia apenas 20 pares por dia de calçado infantil.

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Contudo, esta empresa tinha a ambição de crescer, o que a levou à busca de novos mercados para os seus produtos. Assim, em 1969, ano em que “o mercado interno estava com problemas”, a Netos começou a exportar para os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, nomeadamente para Angola e Moçambique, países para os quais a Netos chegou a ser uma das maiores exportadoras de calçado. Foi sem dúvida uma aposta acertada, sem a qual a Netos certamente não teria sobrevivido ao passar dos anos. Mesmo assim, a Netos, na década de 70, começou a aperceber‐se de que poderia vir a ter que deixar estes mercados, pois já se vislumbrava que a descolonização não iria tardar muito. Havia, portanto, que buscar novos mercados, e a Europa foi o continente escolhido. “Começámos na Inglaterra, em Londres, e fomos por aí fora, Alemanha, França, Itália”, afirmaram José e Domingos Neto. Esta aposta, enquanto foi possível, foi feita mantendo a exportação para as ex‐ colónias. Mas nos anos 80 confirmaram‐se as expectativas de descolonização dos PALOP, pelo que, com as privatizações que ocorreram na época, “o negócio [naqueles países] começou a ficar muito complicado”. Deste modo, foi necessário tomar a decisão de deixar aquele mercado de uma vez por todas, reforçando a aposta nos países europeus, com o início da participação da Netos em feiras internacionais de calçado.

Figura 23 – Um dos equipamentos utilizados na produção do calçado Netos 53


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Nos anos 90 do século XX e na primeira década do séc. XXI continuou esta estratégia de internacionalização da Netos, preferencialmente para os países europeus, devido à sua proximidade geográfica e à adesão de Portugal à CEE. Uma estratégia que tem tido grande êxito e que motivou as várias expansões de que a fábrica situada em SJM foi alvo desde a sua fundação. A Netos, na actualidade: Em consequência de todo o sucesso de que já demos conta, hoje em dia a Netos, nas suas ampliadas instalações, emprega cerca de 100 trabalhadores. Mas, para além disso, “Além da nossa produção ainda subcontratamos, dando trabalho para aí a 10 empresas; ainda temos uma responsabilidade de subcontratação de 40 ou 50 pessoas, além das que trabalham aqui”, afirmou à nossa entrevista José Neto. A grande maioria dos sapatos produzidos por estes trabalhadores destina‐se ao mercado externo. Quando questionámos os administradores da Netos sobre as razões para a empresa estar tão virada para o exterior e não apostar mais no nosso país, ficámos a saber que isto resulta do facto da Netos ter tido “muitas dificuldades em cobranças” nas encomendas destinadas a Portugal, o que não aconteceu no estrangeiro. “Nós estamos a entender‐nos bem com o mercado externo, e devido ao crescimento [da empresa] precisávamos de encomendas maiores do que as feitas pelo mercado interno. O nosso consumo, a nossa colecção vendia um número de pares insuficiente, que não correspondia à nossa capacidade produtiva, e isso é uma das razões que nos lançou para o mercado externo”, confirmou‐nos José Neto. Todas estas exportações da Netos destinam‐se, na sua maioria, a países como a Bélgica, a França, a Holanda, a Grécia e o Reino Unido. Mas esta empresa continua à procura de novos mercados, que lhe permitam o aumento da sua produção. “Vamos tentar a Rússia (…) e a América [EUA] ”, sublinhou José Neto, sendo que neste último país a Netos já está indirectamente presente através de um seu cliente holandês, mas pretende aprofundar as suas vendas para este importante mercado. Para esta busca de novos mercados reveste‐se de especial importância a presença da empresa em feiras internacionais de calçado. A Netos está presente não só na Micam, feira realizada anualmente em Milão, Itália, mas também na GDS, que se realiza todos os anos em Dusseldorf, Alemanha. São presenças que possibilitam à empresa o contacto com os seus clientes de todas as regiões da Europa e facilitam o acesso a novos clientes que possam também estar interessados em comprar o calçado desta empresa sanjoanense. E quais os tipos de calçado que a empresa produz e expõe nestas feiras? Ao contrário do que sucedia nos primeiros anos da história da empresa, a colecção da Netos já não se reduz ao calçado de criança. “Basicamente fazemos 70% calçado de senhora e 30% criança”. Isto porque, com o passar dos anos, a empresa teve que flexibilizar os seus 54


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sistemas de fabrico, passando a estar apta para produzir todo o tipo de calçado e a ter condições para corresponder a todos os pedidos dos seus clientes.

Figura 24 – O interior da fábrica de calçado Netos Todavia, há uma característica que é comum nos sapatos fabricados pela Netos: todos os sapatos são feitos com materiais que garantem um elevado nível de conforto a quem os calça. É isto que assegura o elevado valor acrescentado dos produtos produzidos pela empresa, o que se traduz uma grande mais‐valia para a empresa, pois salvaguarda‐a da concorrência dos países com mão‐de‐obra muito barata. “Trabalhamos com sapatos com muito conforto, em que o consumidor já não vai às lojas da China procurar calçado, vai às lojas onde nós vendemos”, garantiu José Neto. Questionámos também os administradores da Netos acerca das suas expectativas para este ano de 2011. Estes revelaram‐se bastante cautelosos nas suas previsões, uma vez que a crise que vivemos e os aumentos do preço das matérias‐primas a ela associados poderão obrigar a Netos a aumentar o preço do seu calçado. E um encarecimento dos sapatos “pode resultar em quebras de encomendas todos os dias”, pelo que a Netos vai desenvolver todos os seus esforços para não aumentar o preço do seu calçado neste novo ano. Já os problemas que a indústria de curtumes enfrenta actualmente são outro factor que pode afectar negativamente não só a Netos mas todo o ramo do calçado em 55


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Portugal. Isto porque fecharam muitas fábricas portuguesas da indústria de curtumes. Sendo assim, “nós agora temos que importar muito; mas a importar, os fornecedores não são certos e falham muito nas entregas, o que nos tem criado muitos problemas, a nós e a toda a indústria”, declarou José Neto. De resto, a Netos está confiante de que não vai registar uma quebra nas encomendas neste ano, uma vez que grande parte dos seus “clientes são de há 40 anos” e têm grande fidelidade à empresa, isto, claro está, desde que a Netos não faça grandes aumentos no preço do calçado. E toda esta fidelidade existe porque esta empresa sempre imprimiu a maior correcção nos negócios, obtendo parcerias que resistem ao passar dos anos. “Os clientes estão a trabalhar connosco há 40 anos, é porque há correcção e honestidade no relacionamento entre as empresas, e qualidade no produto que lhes vendemos”, asseguraram‐nos os administradores da empresa.

Figura 25 – O exterior da fábrica de calçado Netos Existe também outro factor que tem sido determinante para a resistência da Netos desde há mais de 50 anos: esta empresa tem sido, desde a sua fundação, sempre gerida pela mesma família. Assim sendo, a fábrica tem vivido em harmonia e tem estado longe de conflitos, e todos sabemos que os conflitos na gestão empresarial são por vezes o primeiro passo para a falência de muitas fábricas. “Acho que é um factor 56


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importante, é haver confiança, unanimidade dos sócios e união”, afirmou‐nos José Neto, factor este que tem tornado muito mais fácil ultrapassar os problemas que surgem na empresa. Em suma… Este é, sem dúvida, um caso de uma PME de gestão familiar, mas com muito sucesso, que prova que é nas PME que está o futuro da nossa economia. E todo o sucesso desta fábrica só foi possível porque a sua gestão nunca foi passiva, apercebendo‐se em boa hora dos momentos em que havia que expandir‐se para novos mercados ou que se retirar de mercados que se tinham tornado muito difíceis. Apercebeu‐se também de algo que algumas empresas em Portugal teimam em não querer ver: que o futuro da economia portuguesa está na exportação de produtos de elevado valor acrescentado, e que só com qualidade é possível sobreviver à ascensão dos novos países industrializados, onde a mão‐de‐obra é muitíssimo mais barata do que nosso país, mas onde não há capacidades para produzir em qualidade. Esperemos que todos os empresários do país se apercebam também de que produzir em quantidade é na China, mas que produzir em qualidade pode e deve ser em Portugal!

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Fepsa

Aqui está mais um caso de uma empresa sanjoanense de sucesso. Sendo SJM não só a “Capital do Calçado” mas também a cidade onde se situa o Museu da Chapelaria, decidimos esta semana falar sobre uma empresa tão ou mais exportadora do que a já abordada Netos: a Fepsa, que espalha a sua produção pelos quatro cantos do mundo. Comecemos, então, pela história desta empresa com já mais do que quatro décadas de existência no nosso concelho. História da empresa: A Fepsa nasceu em 1969, tendo resultado do esforço de quatro industriais da chapelaria, que então se associaram com vista à criação de uma empresa especializada no fabrico dos feltros, dos quais são fabricados os tradicionais chapéus de feltro. Os primeiros anos de existência desta empresa foram bastante prósperos. Contudo, as alterações políticas e sociais que o país viveu na década de 70 viriam a ter uma influência negativa na empresa, em virtude das alterações nos costumes dos portugueses que se verificaram à data, resultantes do surgimento da liberdade de expressão no país: “A Fepsa vingou, mas veio o 25 de Abril e destruiu‐a. Até ali ainda se ia de chapéu para o Alentejo, depois passou‐se a ir de boné. O próprio partido comunista ridicularizou o chapéu. Foi preciso mão forte mas segurámos a Fepsa.” (declarações do falecido Manuel Pais Vieira Júnior, que foi uma destacada personalidade do concelho, bem como um dos fundadores da Fepsa). Assim sendo, a Fepsa é a única resistente dos tempos em que SJM era a cidade das fábricas de chapelaria, tudo graças à boa gestão dos seus administradores. Ora, uma empresa que sobrevive a tempos de instabilidade, em que as suas vendas caem a pique, é uma empresa que, quando há estabilidade, cresce e afirma‐se a nível nacional e até mundial, como vamos ver de seguida. A Fepsa, na actualidade: Hoje em dia a Fepsa, situada na Zona Industrial do Orreiro, concelho de SJM, é a maior empresa mundial na área da produção de feltro, detendo 40% do mercado mundial do sector. Emprega 140 funcionários, um número que se tem mantido estável nos últimos tempos, não obstante a crise internacional que vivemos. Vende anualmente cerca de 400 mil feltros, tendo tido, em 2007, um volume de vendas de aproximadamente 7 milhões e 300 mil euros. Tem um só accionista – a família

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Figueiredo, à qual pertence o presidente da empresa, Ricardo Figueiredo – e o seu capital social é de 520 mil euros.

Figura 26 – O exterior da Fepsa Mas se a Fepsa resistiu à Revolução dos Cravos e apresenta actualmente estes dados económicos tão favoráveis, é porque em boa hora a empresa apercebeu‐se de que tinha que apostar no factor exportações. De facto, apenas 4% da produção da Fepsa fica em Portugal, sendo que os restantes 96% se destinam a nichos de mercado que permitem à Fepsa as encomendas de grande volume de que necessita para assegurar a manutenção dos seus postos de trabalho. E quais são estes nichos de mercado? São grupos étnicos – como os judeus ortodoxos, os cowboys, os australianos, os tiroleses (habitantes de uma região situada na fronteira entre a Itália e a Áustria), os povos dos Andes e uma etnia boliviana –, bem como entidades que utilizam determinados fardamentos específicos – a polícia inglesa, a Real Polícia Montada Canadiana, a Força Aérea da Nova Zelândia, os carteiros e funcionários da alfândega suíços… Para todos estes o chapéu de feltro continua a ser a regra, e não a excepção como passou a ser no nosso país. Para além destes mercados que permitem à Fepsa produzir em quantidade, esta empresa vende também feltros não só para certas casas francesas de alta‐costura de renome internacional mas também para produtoras de filmes de Hollywood, como 59


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vamos ver mais em pormenor em seguida. Encomendas estas que, apesar de serem residuais no total das exportações da Fepsa, conferem mais visibilidade à empresa, pois são elas que fazem com que personalidades conhecidas internacionalmente – como Johnny Depp, Robert de Niro, Clint Eastwood, Vladimir Putin, George W. Bush e elementos dos Black Eyed Peas – possuam chapéus feitos com feltro Fepsa. Contudo, se pensa que pode comprar um chapéu à Fepsa, está enganado. Isto porque a empresa apenas produz os feltros: “Não produzimos o produto final, mas apenas o feltro, porque não queremos ser concorrentes dos nossos clientes” (declarações de Ricardo Figueiredo, presidente da Fepsa). Desta forma, fica para os clientes a colocação de adornos no chapéu e, portanto, a sua finalização. Mesmo assim, alguns destes clientes que finalizam o produto são especiais, isto porque a Fepsa desenvolve também parcerias das quais resultam marcas de chapéus feitos com o feltro da empresa. É o caso da “UMU ‐ UMMAISUM, Lda.”, empresa resultante da associação da Fepsa com o designer Pedro Alves, cujos chapéus estão apenas disponíveis num número restrito de lojas do Porto e do Chiado. Isto porque estes não são uns chapéus quaisquer: é uma colecção que inclui bonés, fedoras, baseball caps com copas de chapéu, bonés e capelines, todos eles com padrões e detalhes exclusivos, como os cristais Swarovsky. Trata‐se de uma aposta em chapéus de luxo, com o cunho da Fepsa. É também de referir que a Fepsa é uma empresa premiada. Em 2008 esta empresa foi distinguida com um prémio de “Inovação e Tecnologia”, atribuído no âmbito do programa FINCRESCE do Ministério da Economia e do Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas (IAPMEI). Um galardão que se deveu aos investimentos feitos pela empresa na área ambiental: a tinturaria da empresa foi totalmente renovada nos últimos anos, o que resultou em grandes poupanças de energia e água e no incremento do nível tecnológico do processo produtivo desta empresa. Outro aspecto que também seria digno de um prémio é todo o apoio que a Fepsa dá ao Museu da Chapelaria, que vai desde a cedência de alguns feltros produzidos na empresa até à permissão da realização de entrevistas, pequenos filmes e visitas guiadas na fábrica. O Museu não seria o mesmo sem a colaboração da Fepsa, pelo que a cidade deve um agradecimento a esta empresa. A Fepsa em Hollywood: Como já referimos, os feltros da Fepsa já chegaram a Hollywood. Tudo graças a Graham Thompson, da marca Optimo Hats, uma empresa de Chicago que é especialista em chapéus de rigor idêntico aos dos anos 30 e 40 e que considera a Fepsa "a melhor fabricante de feltro para chapéus em todo o mundo". A Optimo Hats é uma cliente frequente das produtoras de filmes de Hollywood e funciona como a ponte que permite à Fepsa chegar a este exigente mercado. 60


Cap. IV – Casos de destaque no sector empresarial sanjoanense

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A primeira “aparição” da Fepsa em Hollywood foi no filme “Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull”, último filme desta saga, lançado em Maio de 2008. Os dois chapéus que Harrison Ford utilizou neste filme – um castanho e um cinzento – eram de feltro Fepsa. Porém, o caso mais marcante é o filme “Public Enemies”, que foi lançado no nosso país em Agosto de 2009. Este é uma autêntica montra de feltro Fepsa, pois apresenta cerca de 80 chapéus fedora, feitos com “feltro da mais alta qualidade de castor”, à imagem dos que se utilizavam na época histórica representada neste filme (anos 30 do século XX).

Figura 27 – Wallpaper do filme “Public Enemies”, protagonizado por Johnny Depp De entre todos estes chapéus, o que foi usado em Johnny Depp é especial: é composto por um feltro exclusivo, desenvolvido pela Fepsa especificamente para este filme, o “50X Black Rubby”, descrito por Ricardo Figueiredo, presidente da Fepsa, como um feltro "de uma qualidade muito boa, de topo, num vermelho muito escuro, quase preto". "Esta cor é um pouco invulgar, mas, ainda assim, é clássica. A responsável pelo guarda‐roupa do filme [Coleen Atwood] gostou da tonalidade e quis que fosse usada exclusivamente pelo Johnny Depp", admitiu Graham Thompson, da Optimo Hats. Em suma… 61


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Por tudo o que foi referido, a Fepsa é, sem dúvida, um dos expoentes máximos do sucesso empresarial na nossa cidade. Sucesso esse que, segundo o presidente da empresa, é consequência da “estabilidade política do País”, do “bom relacionamento com os trabalhadores” e do “facto de a mão‐de‐obra se ter mantido a custos moderados”. Prova‐se, com esta empresa, que só com uma boa gestão, nomeadamente ao nível da mão‐de‐obra, é possível vingar numa economia globalizada. Mas para além destes três factores, pode‐se acrescentar um quarto, sem o qual a Fepsa já teria “passado à história”: o factor exportações, que se tem afirmado nos últimos anos como o motor no qual todas as empresas devem apostar. Só este motor assegura o crescimento económico, quer das próprias empresas, quer do país como um todo. Terminamos felicitando a Fepsa por todo o seu êxito e a sua preocupação não só com os recursos humanos da empresa mas também com o ambiente!

Figura 28 – O exterior da Fepsa

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Cap. IV – Casos de destaque no sector empresarial sanjoanense

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Olmar

Continuamos a nossa série de textos relativos a casos de sucesso de empresas sanjoanenses com uma empresa que é certamente bem conhecida de todos os sanjoanenses, ou não fosse o seu local preferencial para a compra de material escolar e de escritório: a Olmar. Porém, há muito que não sabe sobre esta empresa! Fomos entrevistar Carla Ferreira, a relações públicas da Olmar, pelo que os parágrafos que se seguem estão recheados de curiosidades interessantes sobre a Olmar! História da empresa:

A Olmar nasceu em 1973, pelas mãos de Fernando Oliveira, que ainda hoje é o administrador da empresa. “O senhor Fernando Oliveira começou numa garagem, que era a garagem do prédio onde vivia, pequenininha, para aí com uns 30 metros quadrados, e aos bocadinhos foi conquistando uma cave”, explicou‐nos Carla Ferreira. E esta aventura da criação de uma microempresa no ramo da papelaria só foi possível graças à experiência adquirida por Fernando Oliveira nos anos em que trabalhou nos escritórios da Oliva: lá aprendeu “o que é um bloco de folhas, o que é uma boa esferográfica, o que é um bom lápis…” Nesta primeira fase da vida da Olmar Fernando Oliveira era não só o administrador da empresa mas também o principal vendedor. “A mestria que ele utilizou para iniciar a sua actividade como empresário foi ir conquistando devagarinho e sempre muito conscientemente” os clientes, tentando ter sempre o que este queria, mas “sem encher a empresa de stocks”. Foi esta a receita para o crescimento da empresa, que lentamente foi investindo em novas áreas de negócio e em novas formas de chegar aos clientes. Um crescimento lento mas constante, de tal forma que hoje em dia a Olmar é uma notável PME que comercializa cerca de 25 mil artigos diferentes. A Olmar, na actualidade: A Olmar do presente é a principal empresa na região do EDV a operar na área dos produtos para escritório. Material de escritório, artigos escolares e papelaria, informática, belas artes, mobiliário, equipamentos e tecnologia são os produtos que a Olmar disponibiliza aos seus clientes. E quais são os clientes da Olmar? “A Olmar é uma das principais fornecedoras do governo, de tudo o que é ministério, de tudo o que é banco…”, afirmou Carla Teixeira. Chegar a estes clientes não é tarefa fácil, mas a Olmar conseguiu graças à sua equipa 63


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de técnicos de vendas, que não só lidam com as maiores empresas do país mas também garantem a participação da empresa nos concursos públicos de compra de material de escritório, feitos pelo Estado.

Figura 29 – O exterior do armazém da Olmar Esta participação com sucesso nos concursos públicos faz com que a Olmar seja o fornecedor número 1 das escolas do país. Assim, escolas como a ‘nossa’ Secundária Oliveira Júnior vendem, nas suas papelarias, produtos provenientes da Olmar. Esta aposta no mercado escolar tem “dois objectivos, um mais comercial” – proporcionar uma importante fonte de receitas para a empresa – e “outro mais de marketing” – criar e potenciar o cliente de amanhã, já que as crianças de hoje, quando crescerem, vão reconhecer bem a imagem dos produtos das marcas próprias da Olmar. As marcas próprias da Olmar são também uma das características que a definem e derivaram, segundo Carla Ferreira, da necessidade de “criar uma alternativa [à concorrência] a grandes preços”. Actualmente a Olmar tem três marcas próprias principais: Pajory, Fegol e Polycópia. A Pajory é a marca de material escolar, bem reconhecida por todos os estudantes, cujo nome, curiosamente, “surgiu dos três nomes dos filhos de Fernando Oliveira, Paulo, João e Rita”. Já a Fegol – que provém do nome do administrador da empresa, Fernando Gomes de Oliveira – é a marca de material de arquivo e escritório. Por 64


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último, a Polycópia é a marca de papel de impressão e as suas resmas são fabricadas na Soporcel, empresa portuguesa que é uma das maiores fabricantes de papel a nível mundial. São marcas com as quais a empresa adapta‐se ao perfil do cliente actual, pois “O cliente hoje não compra por impulso, como há uns anos atrás, não diz «eu quero uma esferográfica Noris ou quero uma esferográfica Bic». O cliente hoje, quando vai comprar, pensa: «eu tenho que comprar uma esferográfica que custe até X», pelo que vendemos não só as marcas internacionais mas também as nossas próprias marcas”, explicou a relações públicas da Olmar. Há também outro aspecto importante relativamente às marcas próprias Olmar: “As nossas marcas próprias, contrariamente a muitas das marcas dos nossos concorrentes, não são feitas na China, só um ou outro artigo, de resto as nossas marcas são de origem europeia”, clarificou Carla Ferreira, mostrando‐nos que, ao contrário do que muitos pensam, também é possível produzir artigos de baixo preço em países como Portugal, não obstante os custos da mão‐de‐obra.

Figura 30 – A megastore da Olmar Se a Olmar, até há três anos atrás, era uma empresa que tinha como clientes apenas outras empresas ou instituições, não vendendo para o consumidor final, esse cenário alterou‐se em Janeiro de 2008 com a inauguração da megastore da Olmar, situada no 65


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limite sul do concelho de SJM. Este é um espaço comercial de 2000m2 que resultou de um investimento de 2 milhões e meio de euros e que criou 26 postos de trabalho. Lá os sanjoanenses (e não só!) podem encontrar todo o tipo de material de escritório e papelaria, como não poderia deixar de ser numa loja com o selo Olmar.

Segundo Carla Ferreira, é um investimento que tem dado bastante retorno, uma vez que o número de clientes que visitam a loja tem aumentado de ano para ano. “Quando abrimos a loja nós tínhamos cerca de 200 vendas diárias, hoje nós temos 300 a 320”. Isto apesar de a loja enfrentar a forte concorrência da “Staples de Santa Maria da Feira e da Staples de Oliveira de Azeméis”, concorrência que, garante Carla Ferreira, não consegue fazer preços tão bons quanto os da Olmar. Dito isto, deixamos para o leitor a tarefa de averiguar se esta informação é verdadeira… Todavia, a importância da megastore da Olmar não se esgota no facto de ter possibilitado a venda ao público: a megastore possibilitou e impulsionou o início da venda de produtos de informática e de tecnologia por parte da empresa. Fazendo jus ao slogan da empresa – «Olmar aposta em inovar» – esta loja, para além dos vários corredores com material de escritório e papelaria, tem também uma secção dedicada à venda de computadores, máquinas fotográficas, televisores, GPS, entre muitos outros equipamentos tecnológicos. “Não virámos costas ao global que é hoje o nosso mundo, nós vivemos todos numa aldeia global onde a tecnologia e a informática ditam aquilo que nós vendemos amanhã, por isso temos que estar sempre em cima destes acontecimentos e temos que estar sempre a vender”, afirmou a relações públicas da Olmar. A papelaria é e será sempre o forte da empresa, mas a emergência desta nova área de negócio não podia ter passado ao lado da gestão da Olmar. A empresa tem ainda outro canal de venda, resultante da abertura da megastore, que tem recebido uma atenção cada vez maior por parte da empresa: a Internet. “Nós vendemos muito pela internet”, assegurou Carla Ferreira, motivo pelo qual “o nosso site mudou o ano passado, este ano vai voltar a mudar em Março”, isto é, face ao aumento das vendas por esta via, o investimento que o site tem recebido em renovações e modernizações é cada vez maior. A internacionalização da Olmar: Não se pense que a Olmar alcançou a dimensão que apresenta actualmente apenas actuando no mercado português. Já há 20 anos que a Olmar está presente num mercado que hoje em dia é considerado emergente: os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), bem como alguns outros países africanos, como Marrocos e a Costa do Marfim. “Nós temos mesmo um armazém em Angola, em Huambo, e temos 3 ou 4 papelarias em Benguela e em Huambo”, informou‐nos Carla Ferreira. 66


Cap. IV – Casos de destaque no sector empresarial sanjoanense

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Esta estratégia de internacionalização está já bastante consolidada, pelo que o peso destes mercados nas vendas actuais da empresa “é um peso bastante grande, para aí uns 20%, é muito importante mesmo”. É, portanto, uma internacionalização de grande sucesso, de tal forma que a relações públicas questiona‐se: “Quem é que não tem sucesso naqueles mercados?” Questionámos também se a Olmar pensa em alargar a sua estratégia de internacionalização para outros mercados. “Pensamos. Nós estamos a pensar em ir para a Europa, estamos a pensar «Porque não? Já que os outros Europeus vêm para aqui porque é que nós não vamos para lá?» É uma questão de tentarmos”. Esperemos que esta ideia, um dia, deixe de ser um pensamento e passe a ser a realidade!

Figura 31 – Alguns dos produtos que são comercializados pela Olmar Em suma… Há que dar os parabéns a esta empresa, nomeadamente ao seu administrador, Fernando Oliveira, por ter conseguido, em apenas 38 anos, deixar de ser uma ‘empresa de garagem’ para atingir o estatuto de PME Líder e espalhar os seus próprios produtos pelas empresas e escolas de todo o país e até pelos PALOP. Desejamos a maior das sortes a esta empresa de sucesso nas apostas que venha a fazer no futuro, pois todo o sucesso que venha a alcançar será seguramente mais do que merecido!

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Viarco

A última empresa desta nossa série de textos relativos a empresas marcantes do panorama empresarial sanjoanense é a Viarco, que se destaca pela sua longa história e por ser, hoje em dia, a única fábrica de lápis em actividade no país. Nesta nossa abordagem a esta empresa contamos com uma entrevista a José Vieira, director da empresa. Agradecemos a disponibilidade do mesmo para a realização desta entrevista. História da empresa: A Viarco é já uma empresa centenária, uma vez que a sua origem está na fábrica de lápis “Faria, Cacheux & Cª” (mais conhecida por Portugália) da cidade de Vila do Conde, fábrica que iniciou a sua actividade em 1907. Esta empresa, que foi pioneira neste ramo de actividade no nosso país, teve um grande sucesso nos seus primeiros anos de actividade. Contudo, a partir de 1914 esta fábrica registou grandes dificuldades, devido aos efeitos que a participação de Portugal na I Guerra Mundial (1914‐1918) e que a Grande Depressão de 1929‐1933 tiveram na economia do país. Assim, em 1931, quando a Portugália estava em situação de falência, foi adquirida por Manoel Vieira Araújo. Este importante empresário da cidade de SJM, que já detinha uma fábrica de chapéus na Capital do Calçado, decidiu, desta forma, alargar os ramos de actividade da sua empresa, tendo sido a Portugália integrada no grupo Vieira Araújo. Após esta aquisição seguiram‐se dez anos de intenso trabalho na reactivação desta empresa e no desenvolvimento de novos processos produtivos, após os quais estavam criadas as condições para, em 1941, deslocalizar a fábrica de lápis para junto das restantes empresas do grupo Vieira Araújo, isto é, para a cidade de SJM, mais precisamente para a rua Jaime Afreixo, onde ainda hoje se localiza. Seguiram‐se anos em que a Viarco juntou à produção dos lápis mais comuns a produção de lápis de cera e de uma gama de lápis técnicos – lápis de carpinteiro, lápis para escrita em tecido… Posteriormente, na década de 1970, face ao crescimento da secção de produção de lápis do grupo Vieira Araújo, este decidiu tornar autónoma a unidade de produção de lápis, tendo nascido a “Viarco – Indústria de Lápis, Lda”. E é este o nome que a empresa toma hoje em dia, uma vez que sobreviveu aos concorrentes internacionais e tornou‐se na única fábrica de lápis do país. Sobrevivência que, segundo José Araújo, tem passado “por um lado, pela capacidade de execução e gestão da empresa”, ou seja, pela capacidade de tomar as decisões 68


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estratégicas correctas no momento correcto, e “por outro lado, como qualquer coisa na vida, pela sorte” que a empresa tem tido ao longo da sua já longa existência.

Figura 32 – Um produto da linha “Lápis Históricos” da Viarco A Viarco, na actualidade: Hoje em dia a Viarco emprega 20 trabalhadores, produzindo lápis para os mercados escolar, profissional, da publicidade e das artes plásticas. O seu volume de negócios foi, em 2009, de 500 mil euros. Um dos mercados tradicionais da empresa para a venda dos seus produtos é, naturalmente, o mercado escolar, pois a escola é naturalmente um local onde se consomem muitos lápis, é um “mercado de massas”, como afirmou José Vieira. Contudo, “aquilo que acontece é que, infelizmente o mercado escolar, para nós, Viarco, é extremamente difícil”, facto para o qual a empresa aponta duas causas principais. A primeira é a dificuldade de venda de lápis Viarco nas campanhas de “Regresso às Aulas” das grandes superfícies: estas vendem grande parte do seu espaço “às grandes marcas internacionais, que têm disponibilidade para pagar o espaço a peso de ouro, coisa que nós não temos”, destinando‐se o espaço restante à venda de produtos de marca própria, “provenientes de países de baixo custo, muitas vezes com qualidade duvidosa, mas a preços muito competitivos”. Já a outra é o facto de este mercado 69


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muito competitivo, com margens de lucro “muito pequenas”, pelo que é um mercado “não muito interessante, em termos do retorno financeiro que pode gerar”. Mesmo assim, a empresa não desiste deste mercado, pois, mesmo não sendo um mercado que possibilite grandes lucros à empresa, é importante pelo “contacto que nós criamos ou podemos criar com o consumidor, isto porque vocês hoje são alunos e amanhã vão ser professores, hoje são filhos e amanhã vão ser pais, e se houver esta afinidade, se conseguirmos esta afinidade com o consumidor jovem, estamos de certa forma a potenciar relações futuras, que podem ser muito proveitosas para a empresa no futuro”. Assim, regista‐se um grande empenho da Viarco no desenvolvimento de produtos que sejam do agrado dos consumidores escolares. E foi graças a este empenho que a empresa conseguiu obter os licenciamentos necessários à produção de lápis de cor e de cera que ostentam as marcas Noddy e Ruca. Licenciamentos que dão aos mais pequenos uma razão para comprarem os lápis da Viarco em vez dos estrangeiros – todos sabemos que qualquer criança prefere o lápis do seu ídolo aos restantes – e, portanto, potenciam as vendas da Viarco na área escolar.

Figura 33 – O código ColorAdd, que permite a correcta identificação das cores pelos daltónicos Mais recentemente, surgiu também outro produto Viarco destinado às crianças, mas desta feita apenas para um grupo muito restrito de crianças – as crianças daltónicas. A 70


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Viarco associou‐se ao projecto do designer português Miguel Neiva, que desenvolveu um sistema de identificação de cores para daltónicos, que utiliza as formas geométricas para definir as várias cores. “O facto de nós produzirmos os lápis com o código ColorADD passa por duas situações. Por um lado, apoiar efectivamente o Miguel na implementação da linguagem que ele criou. Por outro lado, dar a oportunidade às pessoas que sofrem de daltonismo, isto porque existem pessoas que se sentem quase que marginalizadas pelo facto de terem este tipo de limitação”, constatou José Araújo, que diz também ser um projecto que, apesar de não ter potencial para ser uma grande fonte de lucros para a empresa, é importante por contribuir para a inclusão social. É, de facto, de louvar que esta empresa não olhe apenas para o lucro e tenha também preocupações com a responsabilidade social. Mas, para a Viarco dos dias de hoje, a venda dos lápis tradicionais, de que temos estado a falar, tem perdido importância, pois a empresa tem desenvolvido novos produtos. Estamos a falar da linha ArtGraf, resultante dos processos de Investigação e Desenvolvimento que têm sido desenvolvidos na empresa e que se destina aos artistas plásticos: a concepção desta linha foi mesmo feita com base nas sugestões da própria comunidade artística. Composta por aguarelas de grafite para pintura, por barras de grafite aguarelável para uso em grandes superfícies e por um estúdio portátil com utensílios incluídos, este conjunto de “inovações totais a nível mundial” resulta da viragem da Viarco para uma estratégia de diferenciação. “Se fizermos uma proposta de um material que não existe, que não conseguem encontrar em mais lado nenhum, que funciona, que é bonito, que tem design, então não estou a vender lápis, estou a vender uma solução diferente e apelativa, e posso determinar o preço não em função do custo de produção, mas sim em função do valor que o consumidor está disposto a pagar, criando valor acrescentado”. A empresa apercebeu‐se de que só inovando pode vender produtos com grandes margens de lucro, que lhe permitam aumentar o volume de vendas. Para além disso, é esta estratégia que está a fomentar a internacionalização da empresa. Como estes produtos ArtGraf não são produzidos em mais nenhum local do mundo, a Viarco tem um enorme potencial de os exportar, um potencial que se evidencia nas participações da empresa em feiras internacionais do ramo do design e das artes – como a Tent Zone, em Londres, e a Zona Tortona, em Milão –, nas quais se tem registado uma reacção “fantástica, absolutamente fantástica” dos artistas a estas inovações. “Num mercado estático, acomodado, em que não há inovação nem desenvolvimento, quando alguém aparece com uma coisa nova, causa sensação”, garantiu José Vieira.

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Figura 34 – Um dos produtos da linha ArtGraf da Viarco Em consequência, a Viarco já está presente nos principais países europeus: Espanha, Inglaterra, Alemanha, França e Itália. “Passo a passo queremos afirmar‐nos em toda a Europa e também alargar o nosso mercado a outros países, como EUA e Canadá”, o que certamente não será difícil, dado o grande potencial que esta gama ArtGraf possui. Neste artigo sobre a Viarco, há também que dar conta do grande sonho da empresa, que já tem quase dez anos: o Museu do Lápis. Tendo um enorme espólio de arqueologia industrial, isto é, de máquinas antigas e ultrapassadas de produção de lápis, a Viarco gostaria de disponibilizá‐lo à comunidade, através de um museu. Isto seria benéfico para a empresa, pois o contacto com a comunidade facilitaria vendas e seria uma óptima estratégia de marketing. Porém, face à falta de apoios – a Câmara Municipal não se mostra interessada e os fundos comunitários não podem apoiar este tipo de projectos – o projecto não pode avançar. Em suma… 72


Cap. IV – Casos de destaque no sector empresarial sanjoanense

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Não temos dúvida de que a Viarco é uma excelente empresa e que merece o destaque que lhe damos, pois, não obstante a sua reduzida dimensão e número de trabalhadores, tem uma longa história e soube, em boa hora, apostar na Investigação e Desenvolvimento e, assim, ‘agitar’ um mercado pouco dinâmico. Os sectores tradicionais também podem inovar e criar valor acrescentado, e esta empresa está de parabéns por se ter apercebido disto e por contribuir para as exportações do país, puxando pelo motor que pode tirar o país e a região da crise em que se encontra!

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Capítulo V

Instituições relevantes para o mundo do emprego em SJM

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Cap. V – Instituições relevantes para o mundo do emprego em SJM

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Sanjotec

Terminada a nossa série de textos sobre casos marcantes no panorama empresarial da cidade, chegou a vez de darmos protagonismo às instituições que apoiam de forma incansável os empresários da cidade, das mais diversas formas. Começamos pela Sanjotec, a instituição que gere a nossa incubadora de empresas de base tecnológica que, apesar de bastante recente, já contribui com bastantes empregos para o concelho de SJM. A Sanjotec e o Centro Empresarial e Tecnológico: O Centro Empresarial e Tecnológico é um equipamento de incubação de empresas de base tecnológica, isto é, empresas dos seguintes ramos de actividade: robótica, automação industrial, biotecnologia, química, design e tecnologias da informação. O edifício‐sede foi inaugurado em Outubro de 2008 pelo presidente da República, Prof. Cavaco Silva, e é o primeiro de um conjunto de dez edifícios que a autarquia sanjoanense projecta construir na zona da Devesa Velha da cidade de SJM. Representou um investimento de 6,8 milhões de euros, comparticipado por fundos comunitários.

Figura 35 – Vista geral do Centro Empresarial e Tecnológico 75


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Para a sua gestão, foi criada a “Sanjotec – Associação Científica e Tecnológica de S. João da Madeira”. Esta “pode ser definida como uma iniciativa estratégica do município sanjoanense que visa apoiar técnica e cientificamente a comunidade empresarial local e regional, através da difusão de uma cultura de inovação e do encorajamento a projectos empresariais de base tecnológica” (Boletim Municipal de SJM, nº 50, Novembro de 2008). Os associados da Sanjotec, que têm responsabilidades na sua gestão e administração, são:  

A Câmara Municipal de SJM; A PortusPark – Associação do Parque de Ciência e Tecnologia do Porto (é a instituição que engloba todos os parques tecnológicos do tipo do CET existentes na região Norte e assegura a existência de uma gestão integrada de todos estes equipamentos, bem como uma ligação dos mesmos à Universidade do Porto); A Universidade de Aveiro (é a única instituição de ensino superior público universitário existente no distrito e é uma das mais dinâmicas e inovadoras universidades do país, pois é das que mais aposta em Investigação e Desenvolvimento); O Centro Tecnológico do Calçado de Portugal (como foi referido por nós anteriormente, é uma instituição, sediada em SJM, que presta apoio ao sector do calçado, através da formação, da melhoria dos processos de produção das empresas…); O Centro para o Desenvolvimento e Inovação Tecnológicos – Cedintec (instituição pública que tem por objectivo apoiar as PME no reforço da sua competitividade, através da modernização dos seus processos produtivos); O Clube de Empresários de SJM (que se traduz numa plataforma de diálogo e de troca de experiências, constituída por empresários dos vários concelhos do EDV); A Faurecia (multinacional do ramo dos assentos para automóveis, que tem uma importante unidade de produção em SJM, sendo a maior empresa do concelho sanjoanense em termos de poder económico e de número de trabalhadores).

Assim sendo, o CET e a Sanjotec fizeram com que o concelho – que já dispunha de várias zonas industriais destinadas a empresas dos ramos de actividade que produzem através de métodos tradicionais – passasse a ter também as infra‐estruturas necessárias ao desenvolvimento de projectos empresariais com um forte cariz tecnológico. Desta forma, foi dado um passo no sentido de "diversificar o tecido produtivo e de preferência alterar também o perfil de especialização" do concelho (declarações de Castro Almeida, presidente da autarquia de SJM, aquando da 76


Cap. V – Instituições relevantes para o mundo do emprego em SJM

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inauguração do CET), condição necessária para que haja a alteração do paradigma de baixos salários existente no concelho de SJM. É uma diversificação que está a ter sucesso, uma vez que os 40 módulos de instalação de empresas existentes no edifício do CET encontram‐se, de momento, já todos ocupados por diversas empresas. Facto que se deve às excelentes condições que a Sanjotec disponibiliza aos empresários que se instalem no CET: para além de estes pagarem uma renda reduzida, ainda têm acesso a diversos serviços de apoio jurídico, fiscal e logístico. Assim, as empresas em fase de incubação não perdem tempo nem dinheiro com estes serviços, podendo‐se concentrar na sua actividade principal: produzir e inovar.

Figura 36 – Traseiras do edifício‐sede do Centro Empresarial e Tecnológico A Sanjotec tem ainda outra forma de apoiar as empresas: as suas acções de formação. Quem lê a imprensa local sabe bem do elevado número de acções deste tipo que a Sanjotec dinamiza e que estão abertas à participação de todos os empresários, e não só dos que têm empresas instaladas no CET. Por exemplo, o CET promoveu, em Dezembro de 2010, pela primeira vez em Portugal, o Programa de Formação “European Industrial Engineer”, que visa a obtenção, por parte dos empresários, através de um conjunto de exercícios e estudos de caso, de competências que possam contribuir para um aumento de competitividade nas empresas por eles geridas.

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Convém também realçar o elevado grau de exigência que a Sanjotec tem tido para a aceitação dos pedidos de incubação de empresas. Apenas projectos que sejam considerados pela direcção da Sanjotec como tendo elevada probabilidade de vingar têm a oportunidade de se instalar no CET e usufruir de todas as suas mais‐valias. Fosse esta selectividade menor, o CET teria ficado sobrelotado num ainda menor espaço de tempo e certamente não se poderia orgulhar do que se orgulha actualmente: todas as empresas que acolheu continuam em actividade e têm vingado no mercado. Sendo este um projecto que prevê a construção de dez edifícios e estando o edifício‐ sede já sobrelotado, a Sanjotec necessita de mais espaço para continuar com a sua missão de incubação de empresas de base tecnológica no concelho. Avançou, portanto, em Outubro de 2010, a construção do segundo edifício do CET – que será o seu núcleo de Investigação e Desenvolvimento –, num investimento de 6,5 milhões de euros.

Figura 37 – Imagem do projecto da construção do núcleo de Investigação e Desenvolvimento do CET Este novo edifício terá capacidade para albergar entre 14 e 62 empresas – pois o espaço físico de cada unidade será adaptável às necessidades de cada empresa –, o que corresponde a uma área bruta total de 8025,39 m².

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Cap. V – Instituições relevantes para o mundo do emprego em SJM

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A Sanjotec e o ensino superior na cidade: Já vimos anteriormente que um dos problemas que o concelho sanjoanense enfrenta é a inexistência de cursos de ensino superior no concelho. Contudo, a Sanjotec está no centro das duas iniciativas que visam aproximar o ensino superior de SJM: 

Centro Local de Aprendizagem de SJM da Universidade Aberta (UAb): A Universidade Aberta, única instituição pública de ensino superior à distância em Portugal (os cursos desta universidade são leccionados através de e‐ learning, sendo apenas os exames presenciais), criou, em 2010, um Centro Local de Aprendizagem em SJM, localizado na Sanjotec. Sendo que a UAb tem como «missão fundamental ir ao encontro das expectativas de um público adulto, com experiência de vida e normalmente já empenhado no exercício de uma profissão», a abertura deste centro permite a divulgação destes cursos superiores, bem como a realização de exames presenciais. É uma aproximação do ensino superior ao concelho que, mesmo não sendo nos moldes tradicionais, é muito bem‐vinda. Colaboração da Sanjotec com a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP): Estas duas instituições assinaram, no mês de Janeiro de 2011, um protocolo com vista à realização da componente prática do curso de Design de Produto da FBAUP (que actualmente é apenas um Curso de Especialização Tecnológica mas que no próximo ano lectivo se vai transformar em Mestrado) no concelho sanjoanense. Assim, os alunos deste curso (cujas aulas são leccionadas no Porto) irão desenvolver o seu trabalho prático em três empresas da cidade: Viarco, Fepsa (estas duas já abordadas nos nossos artigos sobre casos de empresas sanjoanenses) e Cartonagem Trindade (empresa que produz todo o tipo de embalagens dinâmicas e com design arrojado). Já as instalações da Sanjotec serão utilizadas para ateliês e utilização de software ou hardware. Esta sim é uma iniciativa que aproxima o ensino superior como todos o conhecemos à cidade de SJM e que pode ser o primeiro passo para um futuro em que haja um curso superior leccionado apenas em SJM!

Em suma… Por tudo o que referimos, é de louvar a visão estratégica que a Câmara Municipal da cidade teve ao criar este projecto. De facto, segundo informações divulgadas na imprensa local, o CET já criou 120 postos de trabalho, dos quais 70 por cento são ocupados por quadros com formação superior. Podem não ser empregos na quantidade necessária para baixar a preocupante taxa de desemprego do concelho, mas o mais importante é que são empregos qualificados, bem pagos e que atenuam o paradigma de emprego tradicional que ainda se evidencia, de uma certa forma, na cidade. E são empregos em empresas de sucesso, das quais é exemplo a Creativesystems, empresa que também já mereceu um dos nossos artigos! 79


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Prova‐se que o investimento público, se for bem efectuado, pode ser motor da criação de emprego e da qualificação do país. Desejamos que a autarquia consiga desenvolver os dez edifícios que estão projectados para o CET e que este projecto não seja afectado pela austeridade em que vivemos…

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Cap. V – Instituições relevantes para o mundo do emprego em SJM

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Centro de Formação Profissional da Indústria do Calçado

Continuando a nossa série de textos sobre instituições que desempenham um papel importante no que diz respeito ao emprego na cidade, chegou a vez de darmos a conhecer um centro de formação que contribui em larga medida para a melhoria das qualificações da mão‐de‐obra sanjoanense – o Centro de Formação Profissional da Indústria do Calçado (CFPIC). Aproveitamos para agradecer a disponibilidade da Dra. Fátima Martins, Coordenadora Pedagógica do Centro de Novas Oportunidades do CFPIC, para a entrevista que nos concedeu. História do CFPIC: O CFPIC é uma instituição que conta já com 45 anos de história: foi criado em 1965, ao abrigo de um protocolo entre três entidades do ramo do calçado (Fundo de Desenvolvimento de Mão de Obra, Grémio Nacional dos Industriais de Calçado e Federação Nacional do Sindicato dos Operários Sapateiros). A criação desta instituição visava a resolução das grandes carências que a indústria de calçado evidenciava nessa década, em termos de formação profissional. E foi em Janeiro de 1966 que o Centro iniciou a sua actividade, sendo que as suas primeiras instalações situavam‐se no Palacete dos Condes, em SJM. Mas, uma vez que as fábricas de calçado registaram uma dispersão geográfica cada vez maior nos anos 60, 70 e 80 do século XX, este pólo revelou‐se insuficiente. Assim, o CFPIC criou pólos nas localidades de Oliveira do Douro (em 1967), de Felgueiras (em 1972), dos Carvalhos (em 1985), de Guimarães (em 1986), da Benedita (em 1986) e de Oliveira de Azeméis (em 1990). Já o final da década de 80 e o início da década de 90 destacam‐se por serem o período em que o Centro, que até então formava apenas mão‐de‐obra para as profissões tradicionais do calçado, passou a ter cursos de estilismo, de design, de informática de secretariado, de CAD/CAM. Assim, foi dada resposta à emergência de novas necessidades profissionais neste ramo, em virtude do desenvolvimento das novas tecnologias de informação e de comunicação.

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Porém, as décadas de 1990 e 2000 ficaram marcadas pelo encerramento da maioria dos pólos do CFPIC, de tal forma que hoje apenas subsistem os pólos de SJM e Felgueiras. Isto ocorreu “por uma questão de rentabilização de recursos e tendo em conta que hoje a mobilidade é superior a que existia anteriormente”: por exemplo, dada a facilidade de deslocação que existe hoje, não se justifica ter simultaneamente pólos em SJM e Oliveira de Azeméis ou em Felgueiras e Guimarães. A estas duas razões acrescenta‐se uma terceira, que é o facto de o Centro ter adquirido várias unidades móveis de formação, que fazem com que o CFPIC continue a desenvolver formações na Benedita e em Viana, mesmo já não tendo pólos nessas localidades.

Figura 38 – Exterior do pólo sanjoanense do CFPIC O CFPIC, na actualidade: Hoje em dia, como já foi referido, o CFPIC tem dois pólos, em SJM e em Felgueiras. De entre estes dois pólos, o que apresenta uma maior procura por parte da população local é, segundo Fátima Martins, “sem dúvida o de SJM”. Estando ambos os pólos inseridos em áreas industriais em que o ramo do calçado tem um papel de relevo, a região de Felgueiras distingue‐se por “incidir mais no fabrico” (no que respeita às indústrias de calçado) e por ter também “outras industrias ali próximas que absorvem facilmente as pessoas”. Assim, existe maior facilidade de encontrar emprego não qualificado em Felgueiras, pelo que existe uma menor procura das formações do Centro por parte da população. 82


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Ambos estes pólos são Centros Novas Oportunidades e disponibilizam vários tipos de formação: cursos de educação/formação de jovens, cursos de educação/formação de adultos (cursos EFA) e formação modular. Os cursos de educação/formação de jovens destinam‐se aos jovens que desejem concluir o 9º ou o 12º ano através de um curso com uma forte componente prática, que lhes ensine uma determinada profissão, mas mantendo a possibilidade de ingresso no ensino superior. São cursos que têm tido “resultados positivos”, uma vez que “a componente prática e o estágio normalmente motivam os alunos”. Os cursos EFA destinam‐se principalmente a adultos desempregados, pois os centros de emprego encaminham os desempregados para estes cursos, “para que, enquanto não encontram emprego, rentabilizem o seu tempo através da formação”, afirmou Fátima Martins. Já a formação modular é procurada essencialmente “por pessoas empregadas que estão activas e que querem evoluir” através da aquisição de conhecimentos que as tornem mais aptas à profissão que desempenham.

Figura 39 – Um dos equipamentos utilizados pelos formandos do CFPIC Quanto à empregabilidade dos dois tipos de cursos que se destinam a quem não está a trabalhar, esta “varia muito em função da área de formação de cada curso e da fase que o país esteja a atravessar a nível socioeconómico”. Todavia, é de referir que a empregabilidade dos cursos EFA é, em geral, superior à dos cursos de educação/formação de jovens, uma vez que as empresas valorizam a maior 83


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maturidade dos formandos dos cursos EFA. “Para determinados casos, ainda há alguma hesitação em admitir um jovem, por parte das instituições empregadoras, pois pensam que estes não têm experiência”, assegura Fátima Martins. É de notar também que, nos últimos anos, a formação de jovens tem um peso cada vez menor na formação desenvolvida no CFPIC. “Ultimamente nós estamos a prestar muito serviço de formações específicas para as empresas [formação modular], tanto nas instalações do Centro como nas próprias empresas. Estamos também a receber um número bastante elevado de desempregados que vêm encaminhados pelos centros de emprego, aos quais temos de dar resposta”. São dois factores que fazem com que “se nós compararmos o nosso público de há meia dúzia de anos com o de hoje, notamos uma diferença muito grande, porque nessa altura a maioria da nossa população era jovem e hoje em dia são adultos que frequentam cursos EFA e formação modular”, explicou‐nos Fátima Martins. Sendo o CFPIC um Centro Novas Oportunidades, confrontámos Fátima Martins com a fama que os cursos Novas Oportunidades têm de serem demasiado facilitistas. Esta considera que “o programa é positivo, é valido. Quando é posto em causa, muitas vezes é por pessoas que não tem conhecimento sobre o assunto ou que concebem apenas o sistema de ensino nos moldes tradicionais, não perspectivando outro tipo de ensino”. “Não considero que estes cursos sejam assim tão fáceis, logicamente que no nível básico são mais simples, no nível secundário não são tão simples quanto muitos querem fazer crer, o nível secundário já é um nível complexo”. No entanto, Fátima Martins salientou que, neste tipo de cursos, o grau de dificuldade é, em grande parte, da responsabilidade de cada Centro Novas Oportunidades, pois estes é que definem “a metodologia que usam, os requisitos que exigem aos formandos, a forma como desenvolvem o processo e os critérios de qualidade que seguem”. Existe outro aspecto que faz com que o CFPIC seja fortemente criticado por vários empresários do ramo do calçado: o Centro tem mais formandos a frequentar cursos de modelação, de estilismo ou de design do que cursos relacionados com as actividades tradicionais de produção, sendo que as empresas de calçado dizem ter dificuldades quando tentam contratar estes últimos profissionais. Ora, Fátima Martins argumenta que “a nossa actividade tem a ver com a nossa oferta mas também com a procura, com as exigências e os interesses da população. Nós não temos pessoas interessadas para o fabrico do calçado! Por exemplo, os jovens sentem‐se mais atraídos para o design, para a informática, para a instalação de redes, para a área do comércio, e não tanto para o fabrico do calçado”.

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Figura 40 – Um dos equipamentos utilizados pelos formandos do CFPIC É também de referir que o Centro tem estado presente em várias feiras internacionais de calçado, como a Micam e a GDS. Estas presenças têm três fins: a actualização do CFPIC, em termos de organização interna e de gestão, pois nestas feiras os responsáveis pelo Centro podem descobrir as novidades e as tendências do ramo do calçado, a nível mundial; a divulgação do trabalho e da criatividade dos estilistas em formação no Centro; o facto de possibilitar tanto aos profissionais do centro como aos alunos o conhecimento do mercado internacional e globalizado. “Nós hoje cada vez mais vivemos numa sociedade global e portanto temos obrigatoriamente de conhecer o mercado internacional e de nos fazermos representar no mesmo, já que só assim estamos integrados no mercado de trabalho tanto a nível nacional como internacional”. Por último, há que referir os vários prémios que alunos do Centro têm recebido em concursos internacionais, que se traduzem no reconhecimento a nível nacional e internacional do trabalho realizado pelo CFPIC. Em 2008, Marco Egídio, do curso de Modelação e Design de Calçado, e Rosário Alves, do curso de Modelação de Calçado e Marroquinaria, ganham o 1º e 2º prémios na categoria “Homem” do prémio Sulle Orme Del Cuoio; em 2009, uma equipa do curso de Electrónica de Equipamento ganhou o 2º prémio no concurso de Robótica e Electrónica na ROBOPARTY da Universidade do Minho: são apenas dois exemplos dos muitos prémios que o CFPIC tem recebido. São sucessos que resultam, segundo Fátima Martins, “do investimento 85


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na qualidade e no rigor e da preocupação constante em estarmos actualizados e também em sermos criativos”.

Figura 41 – Alguns dos prémios que os formandos do CFPIC têm ganho em diversos concursos Em suma… O Centro de Formação Profissional da Indústria do Calçado, por tudo o que referimos, dá um contributo excepcional para as indústrias de calçado na cidade, sendo um impulsionador da componente criativa deste sector, que é a que torna este ramo de actividade um ramo de elevado valor acrescentado e de elevado potencial de desenvolvimento. Assim sendo, desejamos as maiores felicidades ao Centro, nomeadamente no que diz respeito à resolução dos problemas de financiamento e de sobrelotação que hoje existem!

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Cap. VI – Perspectivas políticas acerca do emprego na cidade

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Capítulo VI

Perspectivas políticas acerca do emprego na cidade

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Perspectiva da Câmara Municipal de SJM Ora, depois do nosso inquérito, da análise às características do emprego na cidade, da divulgação de casos marcantes no panorama empresarial sanjoanense e da abordagem a instituições que apoiam os nossos empresários, é a hora de divulgar mais detalhadamente as opiniões e as acções desenvolvidas pela autarquia sanjoanense no domínio do emprego, das empresas e da educação. Para isso fomos entrevistar o Dr. Castro Almeida, presidente da Câmara Municipal de SJM. Agradecemos a sua disponibilidade e o tempo que despendeu connosco e que possibilitou a realização deste artigo.

Figura 42 – Castro Almeida e Dilma Nantes, a serem entrevistados por Ricardo Oliveira, Rúben Sousa e Daniel Diaz, elementos do nosso grupo A atracção de emprego para a cidade: Aquando da campanha eleitoral que precedeu o actual mandato autárquico, Castro Almeida afirmou que a prioridade deste mandato seria a melhoria das condições de empregabilidade no concelho sanjoanense. “O papel da autarquia é criar condições para atrair empresários. A criação de emprego não dispensa empresários, os 88


Cap. VI – Perspectivas políticas acerca do emprego na cidade

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empresários precisam de ter locais adequados para se instalarem e a função da autarquia é criar os locais adequados para os empresários se instalarem”, declarou Castro Almeida. Assim sendo, este terceiro mandato está a ser marcado por três investimentos: a ampliação da Zona Industrial das Travessas “para lá instalar empresas de base industrial”, a construção do novo edifício do Centro Empresarial e Tecnológico “para atrair empresas de base tecnológica para o nosso concelho” e a criação da Oliva Creative Factory “para atrair indústrias criativas para SJM”. Questionámos Castro Almeida acerca das razões para o primeiro destes investimentos. “Hoje há escassez de terrenos disponíveis para a instalação de indústrias em SJM, e os poucos terrenos que existem são caros. Por isso, nós queremos aumentar a oferta, como forma de fazer baixar os preços dos terrenos”. Só desta forma, afirma, será possível evitar que “os empresários de SJM construam fábricas fora da cidade porque os poucos terrenos que existem em SJM são caros”, como diz acontecer actualmente. Relativamente ao Centro Empresarial e Tecnológico (CET), face ao que já vimos anteriormente, no texto respeitante à Sanjotec, inquirimos o presidente da autarquia acerca do balanço que faz da construção deste equipamento. “É muito positivo, estão lá instaladas mais de 30 empresas, trabalham lá mais de 100 licenciados. Numa incubadora de empresas é normal que haja muita fragilidade nas empresas, mas no CET ainda não morreu nenhuma empresa, é uma característica muito interessante da nossa Sanjotec. O 1º edifício está cheio e é por isso que estamos a construir o segundo, porque o primeiro foi claramente um sucesso”. No que diz respeito à Oliva Creative Factory, investimento que já foi analisado em pormenor num dos nossos textos semanais, quisemos saber o que é que leva a autarquia a pensar que o concelho tem potencial para o sector das indústrias criativas. “As indústrias criativas são um sector de futuro no mundo inteiro, no mundo desenvolvido”, garantiu Castro Almeida. “A Oliva não está pensada para atrair só as empresas criadoras de SJM, a Oliva é uma infra‐estrutura de âmbito metropolitano e mesmo de âmbito nacional”. “Não há muitos espaços para a instalação de indústrias criativas no país, e nós queremos ser um dos melhores e maiores, eu creio que o nosso espaço vai ser provavelmente o maior do país para a instalação de indústrias criativas, estamos a falar de 14000 metros quadrados”. Ainda no que diz respeito a este projecto, surgiu recentemente, no semanário local Labor, uma notícia que dá conta que a autarquia feirense está também a desenvolver um projecto semelhante à Oliva Creative Factory – trata‐se da “Caixa das Artes”, que também contará com residências artísticas, incubadora de empresas e oficinas criativas. 89


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Havia, portanto, que perguntar a Castro Almeida se não receia que a multiplicação deste tipo de equipamentos faça com que eles não tenham uma procura correspondente à oferta. “Eu visitei algumas cidades na Europa onde na mesma cidade há mais do que um espaço para a instalação de indústrias criativas”, respondeu. “Não vejo nenhum problema em haver um equipamento de indústrias criativas em SJM e outro na Feira, acho até que podem ser complementares”. Castro Almeida passou a exemplificar este seu argumento: “Pense no seguinte, quando alguém quiser instalar uma loja de sapatos, pensa em ir para onde? Para um centro comercial. Mas já lá há outras lojas de sapatos, porque é que não há‐de ir para um sítio isolado? Porque quem quer comprar sapatos vai ao centro comercial, onde há uma diversidade de oferta que atrai mais consumidores”. Assim, o autarca pensa que “o facto de haver aqui dois espaços contidos fará que esta sub‐região fique conhecida como um espaço de indústrias criativas e que quem quiser procurar um fornecedor de produtos criativos venha aqui a esta região”. Em suma, estes três investimentos – ampliação da Zona Industrial das Travessas e do CET e requalificação da velha Oliva – significam que a aposta da autarquia quanto ao emprego é de “manter e reforçar as indústrias tradicionais, nomeadamente o calçado que vai ter futuro em SJM” e, simultaneamente, de “abrir novas frentes, empresas de base tecnológica no Centro Empresarial e Tecnológico, indústrias criativas na Oliva Creative Factory”, assegurou Castro Almeida. A Câmara Municipal e a educação na cidade: Sendo que o domínio da educação se reflecte nas qualificações da população e, portanto, no emprego da cidade, este foi um tema que também foi abordado na nossa entrevista ao presidente da autarquia. Começámos por confrontar o autarca com o problema da falta de ensino superior na cidade, perguntando a Castro Almeida se pensa que poderá, um dia, existir verdadeiramente ensino superior em SJM. “Eu sou totalmente contra a ideia de criar a Universidade de SJM ou o Instituto Politécnico de SJM”, exclamou, “pois eu não quereria que o meu filho estudasse numa universidade destas”. “Agora, o que eu quero é que a Universidade do Porto e a Universidade de Aveiro, que são boas universidades, possam também instalar alguns cursos em SJM. Eu queria ver a Universidade do Porto cada vez mais com um cariz metropolitano, não pode ser a universidade da cidade do Porto, tem que ser a universidade da metrópole do Porto, e a metrópole do Porto vai desde a Póvoa do Varzim a Oliveira de Azeméis”. Sendo este o objectivo da autarquia, Castro Almeida divulgou também que já foram dados os primeiros passos neste sentido: “Recentemente assinamos um acordo com a Universidade do Porto para instalar em SJM uma pós‐graduação em Design de Produto, que no próximo ano há‐de evoluir para um mestrado da Faculdade de Belas 90


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Artes da Universidade do Porto. É uma área que alia o Design e as Belas Artes à Engenharia e que é importante para nós, pois nós temos aqui muitas empresas nessa área, que podem beneficiar muito com a criação de uma pós‐graduação em Design de Produto”.

Figura 43 – Castro Almeida e Dilma Nantes, a serem entrevistados por Ricardo Oliveira, Rúben Sousa e Daniel Diaz, elementos do nosso grupo Nos últimos tempos, as estruturas locais dos partidos que se encontram na oposição têm responsabilizado a autarquia pelo facto de os jovens da cidade terem que sair de SJM para encontrarem um futuro. Ao confrontarmos o presidente da autarquia com estas críticas, este respondeu que “O que eu quero é que os jovens de SJM sejam felizes em qualquer parte do mundo, é o meu primeiro dever. Entre ter um jovem sanjoanense feliz a trabalhar em Londres e ter um jovem sanjoanense desempregado em SJM, eu antes quero um jovem sanjoanense feliz, activo, produtivo e bem sucedido em Londres”. “Eu não esqueço que tenho que criar condições na minha cidade para atrair o máximo de sanjoanenses que eu puder, mas fico feliz de os ver bem sucedidos noutras partes do mundo. Em primeiro lugar o que eu quero é que os sanjoanenses sejam bem sucedidos, felizes e tenham sucesso. Se puder ser em SJM, tanto melhor”.

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Também no domínio da educação, um momento importante na vida dos estudantes ocorre no final do 9º e do 12º ano, em que há que escolher o curso que querem seguir. No passado, a autarquia desenvolvia a Feira das Profissões como forma de ajudar os estudantes nestas escolhas. Contudo, este evento foi descontinuado há alguns anos. Confrontado com isto, Castro Almeida declarou que “passou‐se uma situação em que havia um excesso de feiras de profissões aqui na região. Nós passamos a investir na elaboração de um roteiro, um livro que divulgava a informação sobre essa matéria aos jovens. A Feira foi uma experiência proveitosa na sua época, mas estava a banalizar‐se e a suscitar um cada vez menor entusiasmo aos estudantes”. As medidas de austeridade e a autarquia: Terminámos a nossa entrevista com uma questão que se impõe neste momento de diminuição das receitas orçamentais da autarquia, em virtude da crise económica e das medidas de austeridade: estão em risco, devido a estes factores, os grandes projectos municipais no domínio da educação e do emprego? A resposta foi negativa. “Há de facto uma diminuição de receitas da Câmara Municipal de SJM, e nós vamos ter que cortar nas despesas, porque não aceito o princípio de ficar a dever, quero ter as contas equilibradas. Nós cortamos nas despesas correntes e não nas despesas de investimento. Os grandes projectos, como a ampliação da zona desportiva, a renovação das nossas piscinas, a construção da Oliva Creative Factory, a construção do novo edifício da Sanjotec, a construção da Casa das Artes e da Criatividade e a construção da nova escola secundária vão manter‐se. É na luz, na água, nas deslocações, na publicidade, no papel, nas impressoras, nos tinteiros e nos telefones onde nós estamos a poupar, e com sucesso, pois temos as coisas praticamente em ordem”. Em conclusão… Nesta entrevista evidenciou‐se que a actual gestão da Câmara Municipal de SJM está determinada em levar a cabo os seus três grandes projectos relacionados com o domínio do emprego e em fazer com que os empresários tenham em SJM as estruturas necessárias ao desenvolvimento de empresas de sucesso. Há que ter esperança de que estes equipamentos tenham a procura prevista pela autarquia e, assim, consigam potenciar o empreendedorismo não só dos sanjoanenses mas também da população de toda a região!

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Cap. VI – Perspectivas políticas acerca do emprego na cidade

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Perspectiva dos partidos da oposição

Depois da entrevista ao Dr. Castro Almeida, em que nos inteiramos das ideias e projectos da autarquia sanjoanense nos domínios do emprego e da educação, há que dar também a conhecer as ideias dos partidos da oposição ao PSD (que ganhou as últimas eleições autárquicas em SJM). A perspectiva da Juventude Socialista: Como pretendíamos conhecer melhor a perspectiva dos jovens do maior partido da oposição local, fizemos uma entrevista a Alessandro Azevedo, líder da Juventude Socialista (JS) de SJM. Agradecemos a disponibilidade do mesmo para esta entrevista.

Figura 44 – Alessandro Azevedo, líder da JS‐SJM, com Ricardo Teixeira e Diogo Moreira, elementos do nosso grupo À semelhança do que aconteceu na entrevista ao Dr. Castro Almeida, começámos por abordar o domínio do emprego. Em declarações recentes dos responsáveis da JS‐SJM tem sido afirmado que a autarquia podia ser mais activa no combate ao desemprego. 93


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“Há a necessidade de encontrar soluções a nível nacional que fomentem o crescimento económico, já que este é a melhor via de criação de emprego, mas os concelhos devem ter também um papel no desenvolvimento de ferramentas que fomentem a criação de emprego”, explicitou o líder desta estrutura partidária local na entrevista que nos concedeu. Impunha‐se saber, então, o que é que, para a JS, deve ser feito para combater o desemprego. Alessandro Azevedo começou por ressalvar que a JS está inteiramente a favor dos três grandes projectos da autarquia neste domínio: “Somos totalmente favoráveis aos três investimentos. As incubadoras de empresas, como o Centro Empresarial e Tecnológico, são desde há muitos anos uma preocupação da Juventude Socialista à escala nacional. Quanto à Oliva Creative Factory, é uma indústria criativa e estava, aliás, no projecto político que o PS apresentou em 2009”. Contudo, para o líder da JS‐SJM, “há uma questão à qual a Câmara Municipal não tem respondido, que é a defesa das indústrias tradicionais. SJM tem que recentrar a sua importância na realidade do sector do calçado a nível internacional. Nesse sentido, o PS defendeu, por exemplo, a construção do Museu do Calçado em SJM”. Por outro lado, “não se justifica que uma cidade como SJM não desenvolva uma Feira Internacional de Calçado, tínhamos todas as condições para o fazer, era uma boa medida de apoio ao sector que emprega muitos sanjoanenses”, defendeu Alessandro Azevedo. Estas são, segundo este líder, iniciativas tão ou mais importantes do que as que já estão a ser implementadas, uma vez que a JS defende que a solução de curto prazo para o desemprego está nos sectores tradicionais. O domínio da educação era outro domínio que se impunha nesta entrevista, à imagem do que se sucedeu na entrevista à autarquia da cidade. O líder da JS‐SJM começou por responsabilizar o governo central pelas boas condições do parque escolar da cidade, ou não estivesse o PS a governar o país desde há seis anos: “SJM beneficiou daquela que foi uma realidade nacional. A reabilitação da Escola Oliveira Júnior, a construção da nova João da Silva Correia, a reabilitação da Serafim Leite (que irá ocorrer numa fase seguinte do Programa Parque Escolar) e a renovação das escolas do 1º ciclo (em parte com um apoio do programa do governo) são realidades que se devem muito ao governo central”. Em seguida, pedimos a Alessandro Azevedo que desse a sua opinião acerca do problema da falta de ensino superior na cidade, para que a pudéssemos confrontar com a de Castro Almeida. “Eu tenho sérias dúvidas que uma eventual universidade em SJM conseguisse competir com as universidades já existentes e, portanto, entendo que, face aos problemas da dificuldade de fixação dos jovens na cidade e da taxa de desemprego elevada, o ensino superior é, quiçá, a última das prioridades, se é que é uma prioridade”.

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Cap. VI – Perspectivas políticas acerca do emprego na cidade

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Figura 45 – As obras de construção da nova Escola Secundária João da Silva Correia Na verdade, o líder desta estrutura partidária local considera que o problema da não fixação dos jovens em SJM não se deve à falta de ensino superior na cidade mas sim à falta de apoios que promovam a fixação dos mesmos. “Muitos são os concelhos que têm a preocupação na fixação dos jovens, dou o exemplo de Arouca, onde há terrenos que estão a ser vendidos, a baixo custo, a jovens que pretendam fixar‐se no concelho. Em SJM esta vertente não é explorada”, reiterou. “Temos ouvido a JSD a queixar‐se do Programa Porta 65 de arrendamento jovem, mas em SJM não há um gabinete de apoio à aplicação do Programa Porta 65, como existe em outros concelhos, nem existe uma política municipal de apoio à fixação dos jovens. Esta é uma falha que prejudica a cidade”, declarou Alessandro Azevedo. Optámos por também terminar esta entrevista com as medidas de austeridade. Será que a falta de dinheiro não torna as propostas da JS difíceis de executar? “A questão orçamental não deve ser a desculpa para não se fazer nada”, alegou o líder da JS‐SJM. “O governo central tem dificuldades de financiamento e não foi por isso que deixou de ter uma política industrial séria; muitos concelhos têm dificuldades orçamentais e não é por isso que deixam de ter políticas de fixação dos jovens. Se a autarquia redefinir as suas apostas, acho que é possível a execução das propostas da JS”, garantiu o líder deste partido no final da entrevista realizada. 95


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A perspectiva do CDS‐PP: Apresentamos a partir de agora as perspectivas dos restantes partidos com representação na Assembleia Municipal sanjoanense quanto ao emprego na cidade, tarefa para a qual nos baseámos nos programas políticos que cada um deles apresentou à população aquando da campanha eleitoral para as eleições autárquicas de 2009. À semelhança do que acontece com o actual executivo camarário e com a JS‐SJM, os centristas apresentam também uma grande preocupação com a atracção de empresas e de emprego para a cidade. Neste sentido, uma das propostas de Dina Rocha, que se candidatou pelo CDS à presidência da autarquia em 2009, era a integração de SJM em “redes multi‐ municipais de apoio ao empreendedorismo, no âmbito da inovação e das novas tecnologias”, isto é, a criação, em toda a região, de uma rede que facilitasse o espírito de iniciativa empresarial, proporcionando aos empresários, através de vários parceiros, espaços para a fixação das empresas, sistemas de garantia mútua, capital de risco, entre outras vantagens. Outro aspecto importante para a criação de emprego na cidade era, para a candidata deste partido, a criação de “uma incubadora de empresas e/ou ideias de base tecnológica, a localizar num parque empresarial que forneça serviços de suporte administrativo de apoio à gestão”. Trata‐se de uma ideia que, sem dúvida, faz lembrar o projecto de criação e ampliação do Centro Empresarial e Tecnológica que a Câmara Municipal de SJM desenvolve actualmente. Mas existem também aspectos em que as posições do CDS divergem das da autarquia. Um desses casos é a proposta de redução de impostos e do custo da água para as empresas da cidade, na medida em que este partido alega que a autarquia deveria contribuir mais para a redução dos custos fixos de produção das mesmas. Outra ideia do CDS que não se encontra nas prioridades actuais da autarquia é o apoio da criação de emprego social pelas IPSS. Para Dina Rocha, aspectos como a prestação de cuidados continuados aos mais idosos, a criação de novos centros de noite e a implementação de uma cantina social – tudo isto através das IPSS – seriam importantes, na medida em que, para além de apoiarem os mais desfavorecidos, levam à criação dos empregos necessários ao desenvolvimento destas actividades. Por último, é de referir que o CDS, ao contrário da JS, acha importantíssima a atracção do ensino superior para o concelho sanjoanense. Dina Rocha propôs‐se a “captar o ensino superior para a cidade, nomeadamente o tecnológico para que se possa ligar com as redes de empreendedorismo”. A existência de ensino superior em SJM, seja este da Universidade de Aveiro, do Instituto Politécnico do Porto ou da Universidade 96


Cap. VI – Perspectivas políticas acerca do emprego na cidade

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Lusófona, seria, para os centristas, muito positiva, desde que fosse integrada com as entidades empregadoras e contribuísse para a qualificação das empresas da cidade.

Figura 46 – Centro Coordenador de Transportes de SJM A perspectiva da CDU: Esta coligação, composta pelo Partido Comunista Português e pelo Partido Ecologista “Os Verdes”, centrou a sua última campanha eleitoral em casos como o da defesa da Urgência do hospital da cidade, da extinção da empresa municipal “Águas de S. João” ou do combate á exclusão social. Mostrou‐se, portanto, menos preocupada com a implementação de medidas de apoio ao emprego e ao empreendedorismo do que os partidos que referimos anteriormente. Contudo, Jorge Cortez, que foi o candidato da coligação à presidência da autarquia de SJM, não deixou de apresentar algumas propostas neste domínio: 

 

Criação, na própria estrutura da Câmara Municipal, de um departamento técnico que apoie as empresas em aspectos como a organização, as tecnologias, a inovação, o ambiente… Promoção do arrendamento de edifícios a preços baixos, de acordo com as necessidades específicas de cada empresa; Implementação de um serviço de apoio aos desempregados que, juntamente com o centro de emprego, os ajude na procura de emprego; 97


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Colocação de obstáculos à criação de grandes superfícies na cidade e incentivo ao desenvolvimento do comércio tradicional, na medida em que os comunistas defendem que a substituição do comércio tradicional pelo retalho moderno leva à destruição de emprego; Luta por uma melhoria das vias de acesso do concelho às auto‐estradas A1 e A29, de forma a tornar o concelho mais atractivo para a instalação de empresas.

Figura 47 – Igreja Matriz de SJM A perspectiva do BE: Já o Bloco de Esquerda mostrou‐se mais preocupado do que a CDU com as questões do combate ao desemprego. Aquando da campanha eleitoral para as Autárquicas 2009, o desemprego verificava uma tendência muito forte de aumento em termos locais e nacionais, tendência esta que motivou um conjunto de propostas no domínio do emprego, apresentadas por Pedro Pardal (candidato bloquista à Câmara Municipal de SJM, em 2009):  

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Criação de um gabinete e de uma linha telefónica gratuita de apoio aos desempregados, que os apoiasse nas suas tentativas de procura de emprego; Cedência, por parte da autarquia, de terrenos a baixo custo às empresas que queiram fixar‐se no concelho de SJM;


Cap. VI – Perspectivas políticas acerca do emprego na cidade

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Desenvolvimento de um programa de reabilitação urbana e habitacional na cidade: a autarquia compraria edifícios devolutos a preços justos, recuperá‐los‐ ‐ia e depois recolocaria essas habitações no mercado do arrendamento, o que, segundo os responsáveis do partido, criaria emprego, revitalizaria o mercado do arrendamento da cidade e promoveria o regresso da função residencial ao centro da cidade de SJM; Lançamento de um programa de apoio à instalação de novas empresas e de diversificação industrial, em articulação com o governo: este programa incentivaria as novas empresas que criassem postos de trabalho permanentes (com vínculos efectivos) em ramos de actividade fora da fileira calçado; as empresas que beneficiassem destes incentivos não poderiam distribuir quaisquer dividendos durante o período em que deles beneficiassem; Lançamento das chamadas “iniciativas locais de criação de emprego”, isto é, de projectos de criação de emprego nas áreas da produção cultural, do património natural, cultural e urbanístico, das tecnologias de informação e de comunicação e dos serviços de proximidade.

É de notar que o facto de o BE ser bastante crítico quanto às políticas da autarquia no domínio do emprego fez com que as propostas apresentadas se caracterizassem não tanto pelo apoio aos empresários mas principalmente pela criação de emprego de iniciativa pública e pelo apoio aos próprios desempregados. Contudo, não deixa de ser curioso verificar que a segunda medida referida vai de encontro com o objectivo do projecto de ampliação da Zona Industrial das Travessas do actual executivo camarário.

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O Mundo do Emprego em São João da Madeira

Conclusão

Terminamos assim este livro que compila todos os textos semanais elaborados no âmbito do nosso projecto. Na nossa opinião, a primeira fase do nosso projecto decorreu de uma forma bastante positiva e superou mesmo as nossas expectativas, pois conseguimos despertar o interesse da comunidade escolar e local de uma forma bastante significativa. O 1º período foi marcado pelo inquérito, no qual obtivemos um conjunto de dados muito interessante que possibilitou a elaboração de um artigo fantástico no qual constam todos os resultados do mesmo. Possibilitou também a identificação de um conjunto de características marcantes do emprego na cidade, que analisámos nos artigos que se seguiram. Já o 2º período destacou‐se por ter sido o que nos exigiu uma maior interacção com a comunidade local. Ao optarmos por abordar casos de empresas/instituições relevantes para o mundo do emprego em SJM e, em seguida, as perspectivas políticas acerca do emprego na cidade, isso exigiu de nós a realização de bastantes entrevistas e, assim, a mobilização de competências específicas da disciplina de Área de Projecto. Todas estas entrevistas acabaram por despertar o interesse da imprensa local. O jornal “Labor” convidou‐nos para uma entrevista e, com base nesta e no nosso texto semanal em que entrevistámos o presidente da autarquia sanjoanense, publicou um artigo de quase uma página, que aumentou exponencialmente a visibilidade do nosso projecto. Quanto à segunda fase, da qual faz parte a elaboração deste livro, estamos totalmente empenhados em fazer com que ela tenha um sucesso igual ou superior à primeira. Esperamos que, com o livro do projecto, a palestra final e a presença no “Fórum de Escolas – A Área de Projecto vai à Católica”, consigamos corresponder às expectativas que o professor e a comunidade escolar têm relativamente ao nosso projecto. Agradecemos a colaboração do nosso professor, da direcção da escola, dos semanários “O Regional” e “Labor”, da Creativesystems, da Netos, da Olmar, da Viarco, do Centro de Formação Profissional da Indústria do Calçado, da Câmara Municipal de SJM, da Juventude Socialista de SJM e de todos os que, de uma maneira ou outra, contribuíram para o avançar deste projecto. Agradecemos também a todos os seguidores do nosso facebook e de todos os restantes visitantes do blogue por terem acompanhado esta fase do nosso projecto!

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Bibliografia

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Bibliografia

Fontes de informação consultadas para a elaboração deste Livro do Projecto:            

Inquérito à população sanjoanense empregada, realizado pelos elementos do nosso grupo de Área de Projecto entre 31 de Outubro e 4 de Novembro de 2010; Entrevistas realizadas ao longo do ano lectivo; COUTO, Alexandra – S. João da Madeira Cidade. São João da Madeira: Câmara Municipal de São João da Madeira, 2008. ISBN 978‐972‐9148‐26‐2; GUIMARÃES, João Paulo Et al. – Plano Estratégico do Desenvolvimento Local da Câmara Municipal de São João da Madeira. São João da Madeira: Câmara Municipal de São João da Madeira, 2009; Boletim Municipal de São João da Madeira (diversos artigos de várias edições); Jornal semanário local “Labor” (diversos artigos de várias edições); Jornal semanário local “O Regional” (diversos artigos de várias edições); http://www.cm‐sjm.pt/; http://www.sanjotec.com/; http://www.cfpic.pt/; http://js‐sjm.blogspot.com/; Entre muitas outras…

Figura 48 – Parque Ferreira de Castro, em SJM 101


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Anexos

Anexo 1: Primeira parte do inquérito à população sanjoanense empregada.

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Idade:___

1. Habilitações literárias:

Sexo: M F

Nenhuma 1º Ciclo 2º Ciclo 3º Ciclo Secundário Curso Superior Outro: ____________________

4. Sector de Actividade da empresa: Primário Secundário 7. Ramo da empresa..

Indústria Comércio

Terciário

Calçado Têxteis Outro:_________ Grande estabelecimento Médio estabelecimento Pequeno estabelecimento

10. Quantos empregos tem actualmente? ______ 13. Tem um bom ambiente de trabalho? Sim Não


Anexos

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Anexo 2: Segunda parte do inquérito à população sanjoanense empregada. Idade:___

Sexo: M F

2. Situação laboral: Trabalhador por conta de outrem Efectivo Contratado a prazo Recibos Verdes Trabalhador por conta própria Desempregado Doméstico Reformado Outro: __________________

5. Qual o nº médio de horas que trabalha por semana? Menos de 20h De 20 a 25h De 26 a 31h De 32 a 37h De 38 a 43h De 44 a 49h De 50 a 55h Mais de 55h 8. Trabalha… Por turnos? À noite? Ao sábado? Ao domingo? 11. Quantos empregos já teve na sua vida activa? _____ 14. A sua empresa está em dificuldades financeiras? Sim Não

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Anexo 3: Terceira parte do inquérito à população sanjoanense empregada. Idade:___

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3. Local de trabalho (Concelho):

Sexo: M F

São João da Madeira Santa Maria da Feira Oliveira de Azeméis Outro: ___________

6.Quantas pessoas trabalham na sua empresa? Menos de 10 De 50 a 100 De 10 a 25 De 100 a 150 De 25 a 50 De 150 a 250 Mais de 250 9. Trabalha… No sector público?

No sector privado?

12. Gosta do seu emprego? Sim

Não

15. Acha que tem o seu emprego seguro por vários anos? Sim Não


Anexos

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Anexo 4: Questões colocadas na entrevista a Pedro França, colaborador da Creativesystems. 1. A vossa empresa nasceu em Santa Maria da Feira, mas mudou‐se para esta cidade quando foi inaugurado o Centro Empresarial e Tecnológico. Em que medida é que esta estrutura potencia o crescimento de empresas de base tecnológica, como a vossa? 2. A Creativesystems é uma empresa que tem uma aposta constante em Investigação e Desenvolvimento. Temos nesta região do país os recursos materiais e humanos necessários a essa aposta? 3. Damos desde já os parabéns à Creativesystems por ter tido um crescimento de 1300% em cinco anos. Qual é a receita para um tão grande sucesso em tempos de crise económica? 4. Como funciona o sistema RFID, que está na base de todos os vossos projectos? 5. Dizem que um dia as antenas RFID possibilitarão a passagem com um carrinho por uma caixa de supermercado sem tirar os produtos. Têm alguma previsão para o momento em que isto será possível, ou será apenas num futuro muito distante? 6. Em que consiste o Surfaceslab, que desenvolveram em conjunto com a Vicaima? 7. O Surfaceslab já está a ser utilizado em alguma empresa? 8. Passemos a outro sistema desenvolvido pela vossa empresa, o Magic Mirror. Este espelho mágico já funciona na Throttleman de Cascais. A Throttleman está satisfeita com este sistema? Prevê‐se a sua instalação em mais lojas? 9. Dizem estar agora também a apostar fortemente na economia dos serviços. Como pode o sistema RFID tornar os serviços públicos mais eficientes? 10. A Creativesystems é, segundo declarações vossas, uma “paper‐less company”. Qual é o significado dessa expressão e porque é que se enquadra na vossa empresa? 11. A vossa estratégia de internacionalização já teve início, com a criação de um escritório em Madrid. Quais os próximos passos para a internacionalização da Creativesystems? 105


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Anexo 5: Questões colocadas na entrevista a José Neto, administrador da Netos. 1. A Netos foi criada em 1957 e tem uma longa história. Qual tem sido a chave para a vossa resistência no mercado e para a vossa sobrevivência às várias crises económicas que o país e o mundo têm atravessado? 2. A vossa empresa chegou a exportar grande parte da sua produção para os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Porque decidiram deixar esse mercado e apostar mais nos países europeus? 3. A Netos actualmente exporta toda a sua produção, contribuindo para o equilíbrio da balança corrente do país. Estão por isto de parabéns. Porém, muitas outras empresas do ramo do calçado exportam também bastante, mas destinam parte da sua produção ao mercado interno. Pode‐nos explicar a razão para a Netos não apostar no nosso país? 4. Actualmente exportam a vossa produção, principalmente, para países como a Bélgica, a França, a Holanda, a Grécia e o Reino Unido. Prevêem a aposta noutros mercados? Se sim, pode‐nos especificar quais? 5. Infelizmente avizinha‐se uma nova recessão no nosso país. Todavia, prevê‐se o crescimento das exportações portuguesas neste ano. Partem para este novo ano com confiança que a crise não vos afecte? 6. Pelo que sabemos, o calçado da vossa empresa é de cada vez maior valor acrescentado. Isto tem protegido a Netos da concorrência dos países do sudeste asiático, ou mesmo assim sentem a força do calçado chinês? 7. A vossa empresa tem estado presente em feiras de calçado como a Micam e a GDS. Qual é o balanço que faz destas participações? São fulcrais para o futuro da Netos? 8. A Netos, aquando da sua criação, fabricava apenas calçado infantil. Quais são os tipos de calçado produzidos actualmente pela Netos? 9. Pensa que o facto de esta empresa ter uma gestão familiar e de ter tido sempre os mesmos proprietários tem contribuído para a sua solidez e sucesso?

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Anexos

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Anexo 6: Questões colocadas na entrevista a Carla Ferreira, relações públicas da Olmar. 1. A vossa empresa já tem mais de 35 anos de história. Como conseguiram crescer sempre ao longo destes anos e resistir às várias crises que o país tem atravessado? 2. Pelo que sabemos, a Olmar tem 4 marcas próprias no ramo da papelaria. Consideram importante terem as vossas marcas em vez de revenderem produtos de outras marcas? 3. Sabemos que muitas escolas, incluindo a ‘nossa’ Escola Oliveira Júnior, vendem nas suas papelarias produtos das vossas marcas. O mercado escolar está no topo das prioridades da vossa empresa? Porquê? 4. Ultimamente têm apostado também na venda de produtos informáticos e tecnológicos. Estão a pensar virarem‐se mais para esta área em ascensão, ou a papelaria será sempre o vosso forte? 5. Em 2008 investiram fortemente na inauguração da vossa megastore, loja que aumentou bastante a visibilidade da vossa marca. Qual tem sido o retorno deste investimento? 6. Desde a realização deste investimento, qual tem sido a vossa principal fonte de receitas? É a megastore ou continua a ser a venda por grosso? 7. Pelas informações que temos, a vossa empresa já se internacionalizou e está presente nos PALOP e no Norte de África. Estão a ter sucesso nestes mercados? Actualmente, qual é o peso dos mercados externos nas vossas vendas? 8. Pensam em alargar a vossa estratégia de internacionalização? Se sim, quais os mercados para onde prevêem apostar? 9. A megastore da Olmar dinamiza vários ateliês, nos quais a população em geral se pode inscrever. A que se deve esta aposta? É para continuar?

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Anexo 7: Questões colocadas na entrevista a José Vieira, director da Viarco. 1. A Viarco é uma empresa centenária e está por isso de parabéns. Como conseguiram sobreviver tantos anos, resistindo às várias crises que têm surgido, e tornarem‐se na única fábrica de lápis do país? 2. Muito do equipamento que a Viarco utiliza para fabricar os seus lápis é, segundo afirmações vossas, equipamento já muito ultrapassado. Até que ponto é que isto condiciona a gestão da Viarco? 3. Pelo que sabemos, a vossa empresa aposta fortemente no mercado escolar. Têm tido sucesso neste mercado? 4. É aqui que são produzidos os lápis do Noddy e do Ruca. Como é que uma pequena fábrica como esta conseguiu as autorizações para produzir lápis com estas marcas internacionais que tanto agradam aos mais pequenos? 5. Lançaram uma gama de lápis de cor inovadora, por ser acessível a daltónicos e, assim, atenuar um factor de exclusão das crianças daltónicas. Sentem‐se orgulhosos com este projecto que contribui para a inclusão? 6. Têm apostado na linha ArtGraf, cujos inovadores lápis se destinam aos artistas. Esta aposta na inovação tem dado frutos para a vossa empresa? 7. A vossa empresa lançou um espaço para artistas que queiram desenvolver ideias de negócio. Quais são, para a Viarco, as mais‐valias desta incubadora? 8. Têm estado presentes em feiras internacionais, como a Tent London ou a Zona Tortona. Qual tem sido a reacção dos visitantes aos vossos produtos? 9. A Viarco tem apostado na internacionalização e está actualmente presente em mercados como Inglaterra e Espanha. Prevêem a aposta em novos mercados? Se sim, pode‐nos especificar quais? 10. Sabemos que são ambiciosos ao ponto de pretenderem fazer da vossa fábrica um Museu do Lápis. O que é que falta para que este projecto avance?

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Anexos

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Anexo 8: Questões colocadas na entrevista à Dra. Fátima Martins, Coordenadora Pedagógica do Centro de Novas Oportunidades do Centro de Formação Profissional da Indústria do Calçado. 1. O CFPIC já tem uma longa história e na década de 90 tinha, pelo que sabemos, sete pólos. Contudo, hoje em dia só estão presentes em SJM e Felgueiras. Quais foram os problemas que vos obrigaram a fechar todos os restantes pólos? 2. De entre os vossos dois pólos, qual é o que apresenta a maior procura por parte dos formandos e das empresas? Porquê? 3. Sabemos que são um Centro Novas Oportunidades e que, portanto, têm na vossa oferta formativa CEFs, Cursos Profissionais, RVCCs… As Novas Oportunidades são muito criticadas por alegadamente serem demasiado facilitistas. Qual é a sua opinião acerca deste assunto? 4. Qual é o balanço que fazem dos vossos cursos Novas Oportunidades, em termos de empregabilidade? 5. Ao mesmo tempo que leccionam os cursos Novas Oportunidades, também fazem formações a funcionários de fábricas de calçado. A procura destas formações é elevada? Qual das vossas duas vertentes de formação é que é mais requisitada pela população local? 6. Alguns empresários do sector criticam‐vos por formarem modeladores e estilistas a mais e não fornecerem ao mercado profissionais mais ligados às actividades tradicionais de produção. Como reage a estas críticas? 7. O Centro tem estado presente em feiras de calçado como a Micam e a GDS. Qual é o objectivo destas participações? Têm tido sucesso nas mesmas? 8. Damos‐vos os parabéns pelos vários prémios que alunos vossos têm recebido em concursos internacionais, que mostram que os vossos cursos são de qualidade. Qual é o vossos segredo para este sucesso? 9. Como perspectiva o futuro para o CFPIC? Que novos desafios estão a surgir para o Centro?

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Anexo 9: Questões colocadas na entrevista ao Dr. Castro Almeida, presidente da Câmara Municipal de SJM. 1. Quando foram eleitos para este vosso mandato que está a decorrer, afirmaram que a grande prioridade das vossas acções seria a atracção de emprego para a cidade. Numa conjuntura económica tão desfavorável, em que medida é que a autarquia pode contrariar o aumento do desemprego? 2. Neste domínio da atracção das empresas, uma das vossas primeiras acções foi a construção do Centro Empresarial e Tecnológico. Qual é o balanço que faz da criação deste equipamento? 3. Mais recentemente têm desenvolvido o projecto da Oliva Creative Factory, que, pelo que foi divulgado, irá começar a ser construída no Verão. O que é que o leva a pensar que o concelho tem potencial para o sector das indústrias criativas? 4. Ao mesmo tempo que desenvolvem este projecto, a autarquia feirense desenvolve um projecto do mesmo género, a “Caixa das Artes”. Não receia que a criação de vários equipamentos para o mesmo sector ao mesmo tempo faça com que não haja uma procura destes equipamentos correspondente à oferta? 5. Pelo que sabemos, está planeada também a ampliação da Zona Industrial das Travessas. Quais são as razões para este investimento? A Zona Industrial das Travessas está sobrelotada? 6. Passemos ao domínio da educação. O parque escolar da cidade já foi requalificado, mas ainda existe o problema da falta de ensino superior na cidade. Qual é a sua opinião sobre este assunto? Pensa que poderá, um dia, existir verdadeiramente ensino superior em SJM? 7. Muitos dos jovens sanjoanenses, por não existir ensino superior na cidade, acabam por deixar SJM e não regressar, pois arranjam emprego nos grandes centros. Como enfrenta este problema? 8. No passado a autarquia desenvolvia a Feira das Profissões, que ajudava os jovens nas suas opções quanto ao seu futuro. O que é que levou a autarquia a desistir desta iniciativa? 9. Têm enfrentado o problema da diminuição das vossas receitas orçamentais, em virtude da crise económica e das medidas de austeridade. Isto põe em risco os vossos grandes projectos no domínio do emprego e da educação? 110


Anexos

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Anexo 10: Questões colocadas na entrevista a Alessandro Azevedo, líder da Juventude Socialista de SJM. 1. A JS tem afirmado várias vezes que a Câmara Municipal da cidade não ouve as propostas dos jovens. Porquê? 2. Têm surgido várias notícias em que vocês se queixam da não existência de um Conselho Municipal da Juventude em SJM. Quais seriam os benefícios da existência deste órgão na cidade? 3. Uma das vossas principais ideias para a cidade é a criação de uma Casa da Juventude. Em que medida é que este equipamento seria útil para os jovens sanjoanenses? 4. Quanto à área do emprego, defendem que a autarquia não tem feito tudo o que podia fazer para combater o desemprego. Quais são as vossas propostas neste domínio? 5. A Câmara Municipal está a apostar actualmente na construção da Oliva Creative Factory e na ampliação da Zona Industrial das Travessas e do Centro Empresarial e tecnológico. Estão a favor ou contra a criação destes equipamentos? São ou não as melhores formas de estimular a criação de emprego? 6. O vosso partido queixa‐se também, e a nosso ver com razão, de que o concelho não consegue fixar a população mais qualificada. Acha que isto se deve às opções da autarquia? 7. Relativamente à área da educação, sabemos que não estão inteiramente de acordo com a gestão actual da autarquia. Quais são as vossas ideias neste domínio? 8. Aquando da nossa entrevista com o Dr. Castro Almeida, pedimos a opinião dele acerca do problema da falta de ensino superior em SJM. Gostávamos de saber também a vossa opinião acerca disto… Pensam que poderá, um dia, existir verdadeiramente ensino superior em SJM? 9. Vivemos num contexto de forte crise económica e em que a Câmara Municipal enfrenta o problema da diminuição das suas receitas orçamentais. Isto não faz com que as vossas ideias sejam demasiado ambiciosas? Há dinheiro para executar todas estas propostas? 111


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