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12.1.2 Limpeza e Consolidação das Áreas Carbonizadas

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12.4 Vestes

12.4 Vestes

Durante a consolidação do suporte nas áreas da barba e da tonsura, a madeira e a policromia se revelaram muito frágeis, necessitando de faceamento para dar continuidade aos trabalhos (ver Fotografia 80). Realizado com entretela sem goma e carboximetilcelulose a 4% em água, sua remoção deu-se, posteriormente, com swab e água filtrada, provando uma boa fixação da policromia que se desprendia.

Fotografia 78 – Faceamento da policromia na região inferior da mão esquerda.

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Fonte: Fotografia da autora (26 mai. 2014).

Fotografia 79 – Remoção do faceamento nas mãos. Policromia se desprendendo em placas, deixando a mostra madeira subjacente carbonizada.

Fonte: Fotografia da autora (26 set. 2014).

Fotografia 80 – Faceamento com entretela sem goma e carboximetilcelulose.

Fonte: Fotografia da autora (14 nov. 2014).

12.1.2 Limpeza e Consolidação das Áreas Carbonizadas

Após os estudos do estado de conservação, sabendo-se que pés, pernas, tronco e braços encontravam-se visivelmente carbonizados, os desbastes dessas áreas tiveram início. Como um dos pés havia se soltado, pé esquerdo, sendo observado que este era aderido ao restante da escultura apenas por encaixe e cola, decidiu-se retirar também o pé direito para facilitar a limpeza. Manualmente e sem a ajuda de instrumentos, o pé cedeu à pressão e se destacou da obra. A higienização do pé seguiu o princípio de desbaste do carvão até que uma camada de madeira mais rígida fosse encontrada. Retirou-se o carvão apenas nas áreas sem policromia, como nos calcanhares (ver Fotografia 81). Posteriormente à remoção do

material carbonizado até uma camada mais estável, realizou-se um teste com Paraloid® B72 a 10% em álcool etílico 92,8% para verificar o enrijecimento da madeira, sendo aplicado no calcanhar do pé esquerdo. Devido à fragilidade, a madeira carbonizada não suportou a introdução do álcool etílico e fissurou. Assim, pensou-se em substituir o álcool pela acetona, de caráter mais volátil. O teste feito com o Paraloid® B72 a 10% em acetona PA mostrou-se bastante satisfatório, sem nenhuma alteração do suporte, por isso decidiu-se adotá-la (ver Fotografia 82). A comparação das propriedades físico-químicas da acetona e do álcool etílico, na tabela abaixo, puderam explicar a melhor eficiência da acetona.

Tabela 1 – Comparação de propriedades físico-químicas entre Acetona e Álcool Etílico.

Nome do Produto Ponto de fusão (ºC) Ponto de ebulição (ºC) Pressão de vapor (hPa em 20ºC) Viscosidade (mPa.s em 20ºC)

Acetona, PA -95 56,2 26,7 0,33

Álcool Etílico, PA -114,5 78,3 59 1,2

Fonte: http://isofar.com.br

Os valores para os pontos de fusão e ebulição, além da pressão de vapor, demonstraram o caráter mais volátil da acetona em relação ao álcool etílico. Ao mesmo tempo, a viscosidade mostrou-se mais baixa na acetona, ou seja, conferindo maior capacidade de penetração e atingindo mais densamente a madeira carbonizada para consolidação. Assim, o que foi observado de forma empírica confirmou-se com a análise comparativa das propriedades físico-químicas dos dois produtos, a acetona era mais adequada tanto por adentrar e levar consigo o Paraloid® B72 até percentuais mais profundos da madeira, quanto por evaporar mais rapidamente, evitando movimentações e rachaduras no suporte fragilizado. Somando-se a essas características, conversas com o Professor Doutor João Cura D’Ars Figueiredo Junior e as suas indicações de pesquisa186 revelaram que o Paraloid® B72 se solubilizava parcialmente em álcool etílico, gerando uma mistura de duas fases, com o solvente concentrado no topo e a resina decantada ao fundo dos recipientes. Tal tendência resultava na formação de um filme reticulado após a sua secagem. Portanto, encontrou-se mais um motivo para a adoção da resina em acetona, pois a mesma bibliografia indicava a solubilização completa do Paraloid® B72 neste segundo solvente.

Decorrido uma semana da execução do teste, ficou evidente que o Paraloid® B72 a 10% em acetona PA cumpriu bem a função de enrijecer as áreas carbonizadas, no

186 http://www.conservation-wiki.com/wiki/V._Polymeric_Varnishes

entanto seriam necessárias mais demãos. Com o enrijecimento possível, tomou-se a decisão de retirada de camadas mais superficiais da área carbonizada, no intuito de preservar ao máximo o original e sua forma anatômica. Para facilitar o manuseio e tratamento do restante da obra, decidiu-se pela desmontagem dos braços do tronco, algo conseguido com a introdução de álcool etílico 92,8% e cunhas que exerciam pressão (ver Fotografia 83). A madeira absorveu o álcool etílico, abrindo ligeiramente suas fibras, modificando sua estrutura anatômica e com diminuição da tensão superficial, o que facilitou a movimentação dos cravos. Após a retirada dos braços, deu-se continuidade a limpeza das áreas carbonizadas destes e a aplicação de Paraloid® B72 para enrijecimento, testando-se a resina diluída em acetona PA, mas a 15%. No entanto, logo se percebeu que a concentração estava muito alta para o fim pretendido, pois a madeira teve dificuldades em absorver o material, sendo formado um filme rígido e com pequenas bolhas sobre a superfície. Depois de seco, este filme foi retirado da peça com o auxílio de um bisturi.

Fotografia 81 – Vista de desbaste da parte carbonizada, sem policromia do pé esquerdo.

Fonte: Fotografia da autora (05 set. 2014). Fotografia 82 – Teste com aplicação de Paraloid® B72 para enrijecimento.

Fonte: Fotografia da autora (05 set. 2014).

Fotografia 83 – Vista da escultura sem os braços e pés.

Fonte: Fotografia da autora (05 set. 2014). Fotografia 84 – Aplicação de Paraloid® B72 em área com carvão desbastado nas pernas.

Fonte: Fotografia da autora (05 set. 2014).

Ao todo, a profundidade da camada de material carbonizado variou de 5,0 mm nos pés a 2,0 mm nas pernas e tronco, e as áreas receberam, cada uma delas, quatro

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