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10.1 Escultura de São Francisco de Assis Penitente

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12.4 Vestes

12.4 Vestes

10. PROPOSTA DE TRATAMENTO E JUSTIFICATIVAS

Apresentaram-se aqui as intervenções pretendidas e no próximo capítulo os relatos, com precisão, das decisões tomadas de acordo com cada problema defrontado.

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10.1 Escultura de São Francisco de Assis Penitente

a) Faceamento: - Como medida preliminar, devido ao desprendimento de camadas pictóricas verificado nas mãos.

b) Desinfestação: - De acordo com o grau de comprometimento da peça, devido ao ataque de insetos xilófagos, e verificado a infestação ainda ativa, tornou-se necessária a proposição de tal tratamento.

c) Limpeza e consolidação das áreas carbonizadas: - Excetuando nas porções cobertas por carnação, optou-se pela retirada mecânica das camadas carbonizadas visíveis e friáveis até alcançar a madeira mais íntegra. Ao atingir tal região, propunha-se aplicar Paraloid® B72 a 10% diluído em álcool etílico para promover seu enrijecimento. O Paraloid® B72 já havia sido utilizado para o mesmo fim, com sucesso, em restaurações de obras com madeira carbonizada, mencionados no capítulo anterior.

d) Consolidação de áreas com perda de suporte; - Decidiu-se que as áreas de perda de suporte superficiais receberiam camadas de serragem com acetato de polivinila (PVA) diluído em água. A escolha da serragem como material de consolidação poderia ser justificada pela sua compatibilidade com o material original da obra e facilidade de aplicação em áreas superficiais, obtendo-se modelagem semelhante à anatomia da escultura. No caso do PVA, reconheceu-se ser este um adesivo forte, indicado para os fins de consolidação, e que misturado com a água tornava-se mais fluído, menos viscoso, e ao secar evitava a formação de película e o excesso de enrijecimento. As áreas de perda de suporte foram divididas em dois grupos para o tratamento estético, a ser realizado após a consolidação com serragem: o de carnação e o

de partes cobertas pelas vestes. As áreas de carnação receberam nivelamento e reintegração cromática, enquanto o de partes cobertas pelas vestes seria finalizado com uma camada de massa de serragem extremamente fina, com PVA e água, em que se acrescentavam pigmentos para tonalização ou ser reintegrada com cores que reproduzissem as porções carbonizadas. Seguir o carbonizado nessas partes deveu-se ao fato de que este representava o maior percentual em extensão superficial, ficando as áreas de perda mais integradas à escultura. Para as áreas internas com perda de suporte, optou-se pela introdução de microesfera de vidro e Paraloid® B72 a 10% em álcool etílico, a partir de uma mistura bem fluida. A resina acrílica, durante seu processo de secagem, enrijecia a madeira e, juntamente com a microesfera, criava um consolidante inerte, que se adequava ao espaço interno na escultura, com pouco peso.

e) Complementação de partes (dedos do pé esquerdo): - O tratamento do pé seguia o mesmo destinado às demais áreas com perda, ou seja, a partir da introdução de massa de serragem com PVA e água. No entanto, pensou-se na modelagem dos dedos, de acordo com a referência do outro pé, com resina epóxis. A complementação dos dedos tornou-se necessária, pois em uma imagem de vestir pés, mãos e rosto eram zonas de interesse, que se destacavam por estarem expostos. Para o São Francisco de Assis Penitente os membros ainda eram mais relevantes, pelos pés descalços que faziam parte da sua iconografia. Vale ressaltar que o pé funcionava como local a qual o fiel tinha acesso, onde ele tocava na maioria das procissões e altares, não podendo estar estruturalmente frágil.

f) Remoção de repintura: - Através da análise da fotografia da fluorescência de ultravioleta notou-se a presença de uma camada de repintura parcial na região da testa, no nariz, no contorno dos olhos e nas sobrancelhas, no pescoço, na nuca, na barba, nos cabelos, nas mãos e nos pés (Repintura 3). Os exames estratigráficos e as prospecções informaram que abaixo da Repintura 3 existiam duas outras, Repinturas 2 e 1. As repinturas encontravam-se ressecadas, quebradiças e com início de desprendimento, além de marcadas pela execução em questionável apuro estético, material e técnico, que comprometeram a talha juntamente com o encobrir de detalhes iconográficos, como as chagas. Sabia-se, igualmente, que a policromia original estava em boas condições, sendo também possível atingi-la com a supressão mecânica das repinturas. Os exames e as características da policromia

explicitados nos capítulos precedentes levaram à proposta da remoção das repinturas, no entanto, considerando-se ser este um processo único e irreversível, não seria adequado realizá-lo sem uma justificativa plausível, ou seja, sem um Critério de Intervenção, o capítulo seguinte.

g) Retirada da pintura branca: - Sabendo que a tinta branca foi aplicada após o incêndio, com a Repintura 1, e procedendo a remoção do carbonizado e desta repintura nas carnações, fez-se lógica a proposta da retirada dessa, até mesmo em prol de uma correspondência cronológica da policromia. Somou-se a busca por maior harmonia estética, excluindo o branco, que resultava em contraste acentuado com o negro, dando vista aos tons da madeira. A madeira original apresentava tom marrom claro, mas sofreu alteração cromática de acordo com a quantidade de fogo/ calor a que esteve exposta. Existiam diferentes tons escurecidos e que eram mais condizentes com o tom negro da carbonização do que o branco sujo e com restos de camadas pictóricas.

h) Nivelamento: - As lacunas até o suporte da carnação deveriam ser niveladas com massa de carboximetilcelulose a 4% e PVA na proporção de 3:1, utilizando carbonato de cálcio

como carga.

i) Apresentação Estética145 e Reintegração Cromática: - Com aquarela de boa qualidade, utilizando técnica ilusionista e pontilhismo. A maior quantidade de áreas para reintegração localizava-se nos pés, mãos e cabeça, locais expostos e de muita visibilidade para a imagem de vestir.

j) Confecção de pino de madeira:

145 O termo Apresentação Estética foi apresentado no Terceiro Curso de Especialização em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis, sendo conhecido por aula de Guillermo Joiko Henriquez e distribuído em espanhol no material mimeografado proveniente do 1º Curso de Restauração do Centro de Restauração de Bogotá, de 1978. Em tradução livre de Martha Beatriz Plazas de Fontana, para as disciplinas Restauração de Pinturas sobre tela e Escultura Policromada, tem-se que: “A apresentação estética é uma problemática mais complexa que não se refere ao tratamento das lacunas em toda a extensão, mas também a alterações de cores ou sujidades, nas alterações irreversíveis dos materiais empregados, desequilíbrio na pátina, obras não reintegráveis ou que podem ser perfeitamente apresentadas sem a reintegração específica das lacunas. A apresentação estética atua, inclusive, antes de iniciar a restauração, selecionando técnicas, materiais, avaliando elementos ou eliminado-os; exigindo determinadas práticas que tratam problemas mais sutis da imagem seguindo uma leitura cromática, matéria e formal, muito mais aguda, requerendo uma educação visual mais segura. Requer uma sensibilidade racionalizada que incluirá, também, em muitos casos, em relação a determinados objetos, problemas de marcos, pedestais, proteção, iluminação e outros elementos que determinem uma leitura adequada do objeto. [...]”

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