Janes Mendes Pinto - RESTAURAÇÃO DE UMA ENCADERNAÇÃO DO SÉCULO XVI

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encadernação, que nasceu com o códice, já era atividade tecnicamente amadurecida e capaz de produzir verdadeiras obras de arte, em madeira, ouro, prata e pedrarias. Os stationarii e librarii já tinham acumulado, ao longo de mais de dois séculos de atividades, respeitável experiência em distribuir e comercializar com agilidade e eficiência. O que havia de novo era toda a construção do “corpo da obra”, que agora envolvia, em lugar de mera cópia, a seleção dos textos, a escolha dos formatos18 segundo uma hierarquia, o agenciamento dos cadernos,19 a preparação dos originais, a topografia da página,20 a composição dos tipos,21 a impressão propriamente dita. Essa era a gigantesca tarefa assumida pelos primeiros impressores, tarefa que só aos poucos foi se subdividindo em especialidades. (FIG. 2)

FIGURA 2 - A tipografia no século XVI Fonte: BIBLIOTHÈQUE NATIONALE DE FRANCE Verdadeiros empreendedores do mundo do impresso, tinham eles em comum o engajamento intelectual humanista pelo resgate da cultura clássica e uma ligação apaixonada 18

“A hierarquia dos formatos existe desde os últimos séculos do manuscrito: o grande in-fólio que se põe sobre a mesa é o livro de estudo, da escolástica, do saber; os formatos médios são aqueles dos novos lançamentos, dos humanistas, dos clássicos antigos copiados durante a primeira vaga do humanismo, antes de Gutenberg; e o libellus, isto é, o livro que se pode levar no bolso, é o livro de preces e de devoção, e às vezes de diversão.” (CHARTIER. A aventura do livro, p. 8-9.) 19 Agenciamento dos cadernos: planejamento da distribuição das páginas a serem impressas nas duas faces da folha de papel, de modo que, após a dobradura segundo o formato escolhido (in folio, in quarto, in-octavo, etc.), as páginas impressas venham a se encontrar em sequência. 20 Topografia da página: a distribuição das formas (caracteres e imagens) na superfície da página, que compreende o balanceamento entre essas formas e os espaços vazios, assim como a relação dessas formas umas com as outras (diferenças de dimensão e espaçamentos) segundo uma hierarquia de funções. 21 “Composição é o trabalho pelo qual o impressor reúne os caracteres em páginas e em grupos de páginas, cujo conjunto – a forma – é colocado em seguida sob a prensa para a fase seguinte do trabalho, que é a impressão propriamente dita.” (FEBVRE; MARTIN. O aparecimento do livro, p. 92.)


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FIGURA 33 - Preparo do dorso

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FIGURA 36 - Etapas finais do revestimento

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FIGURA 29 - Área de sujidade (a) antes e (b) depois da aplicação do bisturi

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FIGURA 32 - Caderno removido

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FIGURA 26 - Tamponamento

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FIGURA 20 - Caracteres manuscritos no reforço de lombada

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FIGURA 23 - Último caderno

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FIGURA 17 - Elementos gráficos I

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FIGURA 21 - Dorso da obra

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FIGURA 22 - Danos no suporte

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FIGURA 18 - Elementos gráficos II

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FIGURA 25 - “Encadernação Clarkson” de conservação

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pages 43-45

FIGURA 16 - Marcas d’água

1min
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FIGURA 12 - Revestimentos

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FIGURA 15 - A “capa” improvisada

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FIGURA 14 - Edição versus encadernação

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pages 30-31

FIGURA 13 - Decoração das pastas

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FIGURA 11 - Cabeceados

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FIGURA 9 - Dorsos

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FIGURA 3 - Elementos tipográficos

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FIGURA 4 - Folhas de rosto

3min
pages 17-18

FIGURA 7 - Cabeceados

2min
pages 22-23

FIGURA 8 - Estrutura das pastas

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FIGURA 2 - A tipografia no século XVI

4min
pages 14-15

FIGURA 5 - “Livro-bolsa” e encadernação “à holandesa”

4min
pages 19-20

FIGURA 1 - Paolo Manuzio

6min
pages 10-13

FIGURA 6 - Decoração dos revestimentos

1min
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