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pastiche, que “pode não ter existido nunca”. E adotar uma posição romântica, com Ruskin71 (e Morris), de nada restaurar e apenas preservar, nos levaria de volta à consequência já descrita – a continuidade da “interdição” da obra. A solução de compromisso estaria representada pelo “restauro filológico” de Boito e pelo “restauro crítico” de Brandi72 e os princípios de distinguibilidade, reversibilidade e mínima intervenção; no entanto, no caso presente, foi necessário ponderar a minimização da intervenção com a noção de “suficiência”. Explico: ao pé da letra, uma intervenção mínima, neste caso, se restringiria a consolidar os reforços da lombada, a costura e os cabeceados, e a proteção do exemplar seria proporcionada pelo seu acondicionamento em uma caixa de conservação – uma solução que contemplaria a preservação e a visibilidade das estruturas materiais, mas não seria suficiente para garantir o acesso à obra em sua completude. Uma hipótese que poderia viabilizar tanto a preservação quanto o acesso seria a concepção de uma estrutura típica de “encadernação de conservação”, um dos diversos modelos desenvolvidos a partir da proposta de Clarkson73, cujo objetivo é construir uma proteção neutra e estável para o corpo da obra. O princípio que norteia esses modelos é unicamente a conservação da materialidade das obras; preocupações estéticas e históricas podem estar incluídas, mas não são essenciais. (FIG. 25)
FIGURA 25 - “Encadernação Clarkson” de conservação Fonte: AMERICAN INSTITUTE FOR CONSERVATION OF HISTORIC AND ARTISTIC WORKS (AIC) Uma encadernação desse tipo seria uma escolha plausível e adequada, caso não existissem mais as costuras, os cabeceados e os reforços de pergaminho. Mas, no caso do 71
RUSKIN. A lâmpada da memória, p. 81-82. BRANDI. Teoria da Restauração, passim. 73 CLARKSON. Limp vellum binding and its potential as a conservation type structure for the rebinding of early printed books. 72