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Embora seja uma máquina que produz subjetividades, como pensa Agamben, ou uma "máquina de fazer ver e de fazer falar", segundo Deleuze (1993), o dispositivo não é necessariamente uma máquina concreta, é antes um conjunto de linhas. O dispositivo se compõe de linhas de visibilidade, linhas de enunciação, linhas de força, linhas de subjetivação, que se entrecruzam e se misturam. A linha de subjetivação é um processo, a produção de subjetividade em um dispositivo. A linha de visibilidade, o regime que regula o visível e o invisível, e a linha de enunciação, o regime que regula o enunciável e o indizível. Em cada dispositivo, as linhas atravessam limiares em função dos quais são estéticas, científicas, políticas, etc. Do ponto de vista do indivíduo, as linhas que o atravessam são diferenciadas em três qualidades: duras, maleáveis e de fuga. As linhas duras compreendem as normas e a estratificação, as linhas maleáveis (rizoma) permitem o fluxo, a desestratificação relativa, e as linhas de fuga, a ruptura e a experimentação, a desconstrução (DELEUZE e GUATTARI, 1995). O cruzamento dessas linhas implica em processos de sedimentação, trânsito ou ruptura de subjetivações, e destes processos de subjetivação-dessubjetivação resultam as subjetividades. Agamben (2009, p.46-49) observa que, na sociedade contemporânea, os processos de dessubjetivação ganham força. Os dispositivos com os quais temos que lidar na atual fase do capitalismo agem menos pela produção de um sujeito que pela dessubjetivação (p.46). Tais processos de dessubjetivação não dão lugar à recomposição do sujeito, como que ocorria no caso do dispositivo da confissão-penitência na igreja, um momento dessubjetivante que servia para restaurar a o processo de subjetivação. Além disso, ocorre a indiferenciação recíproca entre processos de subjetivação e processos de dessubjetivação, e tal indiferenciação leva à produção de "sujeitos espectrais". As sociedades contemporâneas se apresentam assim como corpos inertes atravessados por gigantescos processos de dessubjetivação que não correspondem a nenhuma subjetivação real.
3. Estética, dispositivo e mídia digital
Buscando identificar o que há de novo nas mídias digitais, Manovich (2001b) enumera cinco princípios fundamentais - representação numérica, modularidade, automação,