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Partindo da afirmação de Chun, de que na sociedade de controle o software é análogo à ideologia, Galloway sugere que a interface é uma alegoria do controle (2012, p.30). Mas a interface do usuário é mais que uma alegoria, ela opera e materializa objetivos estratégicos do programa. A interface é uma "área de escolha", uma delimitadora de opções. Ao mesmo tempo que abre um espaço para escolha, restringe esse espaço a um limite de opções. Ao enfatizar a escolha como liberdade, ou a "liberdade da escolha", e ao mesmo tempo, desconsiderar a restrição de opções como castração à liberdade, a interface incorpora um discurso ideológico. As opções disponibilizadas pela interface, normalmente, são impostas, isto é, o usuário não escolhe as opções, mas entre as opções. François Dagognet (1982, p.49) sublinha que "a interface faz perguntas, mas ao fazê-las, sugere respostas". Na análise de uma interface de usuário, portanto, devemos nos perguntar sobre as intenções que determinam as opções apresentadas ao usuário.
6. Internet e controle
A relação entre controle e liberdade na internet é investigada por Wendy Chun (2006), que rastreia os modos como uma tecnologia que prospera no controle pode ser compreendida como uma mídia de massa da liberdade. A ligação entre informação, código e controle está nas origens da ciência da computação, assim como nas origens da engenharia genética, afirma Chun. Informática e biotecnologia derivam de um mesmo campo epistêmico maior, o da programabilidade biopolítica, que pensa a informação como código e controle. A conversão de tudo (coisas e homens igualmente) em dados manipuláveis, programáveis, virtualmente acessíveis a qualquer um é indissociável da expansão da racionalidade técnica/tecnológica neoliberal. O mesmo discurso utópico que envolveu o desenvolvimento das tecnologias digitais acompanhou o desenvolvimento da internet. A promessa de Bill Gates de que a internet seria um espaço de "igualdade" que ajudaria a resolver problemas sociais no mundo físico mostrou-se ilusória. A questão da raça, como mostra Chun (2006, p.129), "foi, e ainda