Rodrigo Campos Rocha - Mariposas, vaga-lumes, instagrammers: subjetivações e dispositivos digitais

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a residir não nos meios de produção mas na informação, talvez também a exploração e a maisvalia tenham encontrado novas formas. Uma dessas formas seria a introjeção da exploração, a autoexploração. Segundo Byung-Chul Han (2018), o indivíduo hoje não somente se autoexplora, ele se autoexplora acreditando estar se realizando. A autogestão e a autoexploração se colocam ao indivíduo como forma de autonomia e libertação. O indivíduo precisa e quer, ele mesmo, exercer o controle, acreditando assim conquistar a liberdade. Mas ao fazê-lo, ele obedece à lógica traiçoeira do neoliberalismo, que oferece o controle prometendo a liberdade. O que a ideologia quer fazer crer é que, se o controle é exercido pelo próprio indivíduo, ele - automaticamente - terá liberdade, autonomia, e será autêntico. Embora demonstre que o Instagram produz subjetividades, Manovich jamais vê um medium como um dispositivo. Entretanto, de acordo com Agamben, não se pode dissociar subjetivação e dispositivo, ou seja, se o Instagram produz subjetividades, é um dispositivo. A espetacularização do eu, a produção virtual de uma autobiografia, a publicação instantânea da intimidade, segundo Paula Sibília (2008), são processos de subjetivação característicos da expressão da sociedade do espetáculo. No território digital, blogs e redes sociais cumprem esse papel, sendo o Instagram um exemplo emblemático. O Instagram é uma mídia de massa que explora o potencial da rede em transformar qualquer um em espetáculo, capitalizando as visualizações dos "seguidores", transformados em público.

9. O papel da interface do usuário

No Instagram, um dispositivo que promove a visibilidade por meio da imagem, a interface de usuário tem um papel central. Ela cumpre a promessa primeira do aplicativo: dar visibilidade à imagem. Ao efetivar a visualização da imagem, a interface do usuário materializa um regime estético. Além disso, compete à interface operar mecanismos que capitalizam as visualizações. Em um aplicativo de gestão de imagens, a forma como se organizam e se apresentam as imagens na interface de usuário do Instagram é bastante significativa. A interface do Instagram assemelha-se ao álbum de fotografias, origina-se e atualiza (digitaliza) o álbum de fotografias, um aparato que permite se dispor as imagens da vida pessoal nas próprias mãos, e fazê-las correr com as próprias mãos. Por outro lado, como espaço público


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