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10. Das subjetividades
A gestão da imagem e da informação é sinônimo de poder na sociedade do espetáculo e da informação. O Instagram funciona como um dispositivo de gestão da imagem, com caráter estético, ideológico e subjetivante. Promove uma negociação entre liberdade e controle, e implica no cruzamento de regimes de visibilidade e de enunciação. Possui uma dimensão estética, porque distribui e regula visibilidades e enunciabilidades, num regime que propõe que qualquer um (que possua um celular e acesso à internet) possa produzir, publicar e comentar as imagens. Possui também uma dimensão ideológica, porque aplica a lógica hegemônica neoliberal da racionalidade técnica/tecnológica despolitizante, da valorização da visualização, que impele a adesão do indivíduo às praticas da autogestão e da auto-exposição pela publicação do privado. Ao mesmo tempo, implica em processos de subjetivação, produzindo e reproduzindo incontáveis subjetividades. Sua interface tem a função estratégica de interpelar o indivíduo como sujeito, de seduzi-lo à adesão e ao consentimento, e materializar seus regimes de visibilidade, de enunciação e de subjetivação .
Vale aqui uma reflexão sobre a noção de "qualquer um", de indivíduo qualquer, noção que parece atravessar e marcar discursos em vários contextos e momentos históricos. A preocupação com o indivíduo qualquer dissemina-se a partir da modernidade. A "qualquer um" são possibilitadas e atribuídas, sucessivamente, competências novas, que não tinha antes. Graças ao realismo, a fotografia, a arte pop, ao cinema, à tevê, às mídias digitais, vão se abrindo a "qualquer um" as possibilidades e as competências para: ser representado, ser visto, ver, produzir e publicar imagens, falar sobre o que se vê, representar, avaliar, controlar. Estas competências encontram-se em um único dispositivo, o Instagram, ou seja, o Instagram representa um acúmulo histórico de competências conferidas ao "qualquer um". O termo "qualquer um" é associado à ideia de inclusão, de ampliação de acesso e de direitos, de resposta às diferenças. Paradoxalmente, trata-se de uma forma de considerar os indivíduos independentemente de suas diferenças características, ou seja, uma forma de desconsiderar tais diferenças. O termo "qualquer um" exprime uma concepção universalista de individuo, um conceito que tenta conceber os indivíduos por meio da indiferença em relação às subjetividades que os distinguem. O Instagram destina-se a "qualquer um", a lhe viabilizar o