Aline Almeida Lima

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FACULDADE INDEPENDENTE DO NORDESTE – FAINOR CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

ALINE ALMEIDA LIMA

COI - CENTRO DE ONCOLOGIA INFANTIL: Humanização no caminho para a cura.

VITÓRIA DA CONQUISTA-BA, DEZEMBRO DE 2016


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ALINE ALMEIDA LIMA COI - CENTRO DE ONCOLOGIA INFANTIL: Humanização no caminho para a cura.

Projeto Apresentado à Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR, para obtenção do título de Arquiteta e Urbanista. Prof. Orientador: Leonardo Dourado

VITÓRIA DA CONQUISTA-BA, DEZEMBRO DE 2016


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ALINE ALMEIDA LIMA COI - CENTRO DE ONCOLOGIA INFANTIL: Humanização no caminho para a cura.

Projeto Apresentado à Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR, para obtenção do título de Arquiteto e Urbanista. Prof. Orientador: Leonardo Dourado Aprovado em ___/___/______

Banca examinadora:

_____________________________________________________ Nome: Titulação:

_____________________________________________________ Nome: Titulação:

_____________________________________________________ Nome: Titulação:

VITÓRIA DA CONQUISTA-BA, DEZEMBRO 2016


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“ Que a criança corra, se divirta, caia cem vezes por dia, tanto melhor, aprenderá mais cedo a se levantar.” Jean Jacques Rousseau


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Dedico este trabalho ao meu pai, que foi um guerreiro na luta contra o câncer, perdeu a batalha, mas transferiu para mim a sensibilidade de olhar para os pequenos pacientes e despertar o interesse pela criação de um espaço adequado para os mesmos.


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RESUMO

O presente estudo versa sobre a Oncologia pediátrica e sua associação com a humanização dos espaços, através da arquitetura. As pesquisas realizadas para elaboração deste trabalho são ligadas à temática da arquitetura hospitalar e da humanização hospitalar, havendo um enfoque

na especialidade oncológica

pediátrica. O embasamento explanado neste projeto, possui uma abordagem qualitativa pois buscou uma análise aprofundada do conteúdo estudado. Recorreu-se ao aporte técnico, teórico, crítico, histórico e metodológico fornecido por textos (livros, artigos, dissertações e teses acadêmicas, periódicos especializados) que versem acerca da temática. Foram adotados métodos de levantamento direto, através de aplicação de conversa informal com profissionais de saúde e observação direta. Através da reunião de todo esse material de estudo foi possível elaborar um projeto arquitetônico de uma clínica pediátrica especializada em oncologia para a cidade de Vitória da Conquista, propondo um ambiente voltado para o público de crianças de 0 a 17 anos, lúdico, agradável e confortável. Isso foi viável, por meio de uma proposta arquitetônica que proporciona bem-estar aos pacientes, através do estudo e aplicação de iluminação natural, conforto térmico, acessibilidade

e estudos de cores,

viabilizando a criação de ambientes humanizados, que contribuam para a recuperação dos infantes.

Palavras-chave: Arquitetura Hospitalar, Oncologia Infantil, Humanização, Vitória da Conquista – BA.


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ABSTRACT

This study deals with the Pediatric Oncology and its association with the humanization of spaces, through architecture. The research undertaken for the preparation of this work are linked to the theme of hospital architecture and hospital humanization, with a focus on pediatric oncology specialty. The foundation explained in this project has a qualitative approach since sought a thorough analysis of the study content. He used the technical contribution, theoretical, critical, historical and methodological provided by texts (books, articles, dissertations and academic theses, professional journals) that deal about the theme. Direct measurement methods were adopted, through semistructured interview application with healthcare professionals and direct observation. By assembling all this study material has been possible to develop an architectural design of a pediatric clinic specializing in oncology for the city of Vitรณria da Conquista, proposing a friendly environment for the audience of children 0-17 years old, playful, pleasant and comfortable . This was feasible through an architectural project that welfare provides to patients through the study and application of natural lighting, thermal comfort, affordability and color studies, enabling the creation of humanized environments that contribute to the recovery of infants .

Keywords: Hospital Architecture, Child Conquista - BA.

Oncology, Humanization, Vitรณria da


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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Hospital Neumors, Orlando, Flórida.............................................

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Figura 02 – Interior Hosp. Neumors ............................................................

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Figura 03 – Hall Hosp. Neumors ..................................................................

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Figura 04 – Balcão e acomodações Hospital Neumors ..................................

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Figura 05 – Área externa Hospital Neumors .................................................

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Figura 06 – Fachada iluminada Hospital Neumors .......................................

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Figura 07 – Distribuição do GRAAC ..............................................................

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Figura 08 - Fachada GRAACC .....................................................................

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Figura 09 - Fachada lateral GRAACC ..........................................................

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Figura 10 – Fachada A.C. Camargo................................................................

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Figura 11 – Mapa da Região Sudeste da Bahia............................................

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Figura 12 – Localização do terreno................................................................

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Figura 13 – Planta altimétrica.........................................................................

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Figura 14 – Estudo de Insolejamento e ventilação........................................

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Figura 15 – Mapa do sistema viário...............................................................

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Figura 16 – Mapa do uso do solo...................................................................

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Figura 17 – Mapa de legislação.....................................................................

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Figura 18 – Medidas de segurança contra incêndio .....................................

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Figura 19 – Vista microscp. as células e seu padrão geométrico..................

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Figura 20 –Fachada principal.........................................................................

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Figura 21 – Parque infantil geométrico..........................................................

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Figura 22 – Planta de layout setorizada.........................................................

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Figura 23 – Planta de situação.......................................................................

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Figura 24 – Fachadas......................................................................................

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SUMÁRIO

1.

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 10

2 EXPLORAÇÃO TEÓRICA DO TEMA.................................................................... 13 2.1 O câncer no contexto infantil ........................................................................... 13 2.2 Arquitetura Hospitalar ..................................................................................... 15 2.2.1 - Arquitetura Hospitalar no Brasil ............................................................. 17 2.3 - Humanização Hospitalar ............................................................................... 21 2.4 - Conforto Ambiental ...................................................................................... 23 2.4.1- Conforto térmico ...................................................................................... 23 2.4.2- Conforto luminoso ................................................................................... 24 2.4.3 - Conforto acústico .................................................................................... 25 2.4.4 – O uso das cores no ambiente hospitalar ................................................ 26 2.4.5 – O lúdico no hospital ............................................................................... 26 2.5 Projetos Referenciais ...................................................................................... 27 2.5.1 - Hospital Infantil Nemours ........................................................................ 27 2.5.2 – GRAACC Grupo de Apoio ao Adolesct. e à Criança com Câncer .......... 30 2.5.3 – Hospital A.C. Camargo .......................................................................... 32 3 METODOLOGIA ................................................................................................... 34 4 APRESENTAÇÃO DA ÁREA ................................................................................ 35 4.1 Localização e entorno ..................................................................................... 36 4.2 Levantamento Topográfico ............................................................................. 37 4.3 Estudo de Insolejamento e Ventilação ............................................................ 37 4.4 Sistema Viário ................................................................................................. 38 4.5 Uso do Solo .................................................................................................... 39 4.6 Legislação quanto ao uso e ocupação da área ............................................... 39 5 CONCEITO E PARTIDO ....................................................................................... 42 6 PROGRAMA DE NECESSIDADES ...................................................................... 44 7 FLUXOGRAMA ..................................................................................................... 49 8 O PROJETO ......................................................................................................... 50 8 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 56 9 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 57


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1. INTRODUÇÃO

A arquitetura hospitalar ao longo dos anos vem passando por um processo de transformação em virtude da preocupação emergente com o bem-estar dos pacientes. Fato que culminou em mudanças nas instalações e nos tratamentos de saúde. Atualmente a evidência está na qualidade do ambiente hospitalar e na inquietação em apartar o aspecto hostil e institucional que sempre prevaleceu neste tipo de edificação, principalmente quando se trata de crianças em situação de desvio da saúde. A hospitalização pode afetar o desenvolvimento normal da criança com câncer, devido ao rompimento de sua rotina anterior e ao processo de ajustamento à nova realidade (rotina hospitalar: exames, procedimentos dolorosos, horários, visitas, etc.), podendo ocasionar alterações físicas e mentais. Observa-se que, além dos problemas que a própria doença traz, as condições de hospitalização podem afetar a totalidade da criança, de forma que o seu desenvolvimentos físico, emocional e intelectual fiquem comprometidos. O câncer pediátrico atribui à criança aflição e expectativas variadas que transformam sua vida, gerando expressões de pena e de pesar decorrentes do medo e mitos da doença. Desta forma, emerge a vertente da Humanização dos Ambientes Hospitalares, em que se prepondera essencial o bem estar físico e psicológico do paciente. A humanização é capaz de aproximar o ambiente físico dos valores humanos, versando o homem como foco principal do projeto. O uso de cores adequadas, o domínio da iluminação, o contato com a natureza, a condição de orientação e a personalização dos espaços, faz com que o ambiente hospitalar apanhe um valor mais humano, aproximando-se da vida do paciente e distanciando-se da vertente exclusivamente institucional. A Integração interior/exterior apresenta-se como peça fundamental para a humanização do espaço arquitetônico por agrupar uma imensa variedade de estímulos provenientes do ambiente externo que provocam reações no corpo humano, como por exemplo, sons, aromas, texturas, ventilação e intensidade luminosa diferenciada, além de cores e formas diversas. Evidências científicas revelam que projetos arquitetônicos sem nenhuma propriedade ambiental excitante para o corpo humano, atuam contra o bem-estar dos pacientes e têm efeitos negativos nos indicativos fisiológicos. Conforme pesquisas


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citadas por ULRICH (1990, p. 88 - 104), esses ambientes geram as mesmas consequências negativas nos pacientes que a ansiedade, o delírio e a pressão alta, aumentando a admissão de drogas para controle da dor. Neste contexto este estudo justifica-se na medida em que ao verificar o cenário atual, a cidade de Vitória da Conquista encontra-se em crescente desenvolvimento em diversos setores, tornando-se através dos anos um pólo para toda a região Sudoeste da Bahia principalmente no quesito saúde. A cidade além de atender a população do seu território, é referência para cerca de 83 municípios do Sudoeste Baiano e norte de Minas Gerais. Percebe-se em Vitória da Conquista uma carência de serviços de atenção à criança, ocasionando um déficit no atendimento dos mesmos. Na especialidade de oncologia, o município dispõe de duas clínicas, porém nenhuma delas atende menores de 18 anos. Sendo todas as crianças encaminhadas para os municípios de Itabuna e Salvador. A fim de contribuir para o preenchimento desta lacuna, propõe-se a elaboração de projeto arquitetônico de uma clínica pediátrica especializada em oncologia para a cidade de Vitória da Conquista, tendo como foco a desconstrução do ambiente hospitalar, propondo um ambiente voltado para o público de crianças de 0 a 17 anos, lúdico, agradável e confortável. Isso foi viável, por meio de uma proposta arquitetônica que proporciona bem-estar aos pacientes, através do estudo e aplicação de iluminação natural, conforto térmico, acessibilidade e estudos de cores, viabilizando a criação de ambientes humanizados, que contribuem para a recuperação dos infantes. Este estudo apresenta como hipótese: A criação de um espaço humanizado e projetado com base em um conceito lúdico e confortável, através de estudo de cores, iluminação, ventilação e acessibilidade, melhoraria o atendimento em oncologia pediátrica na cidade de Vitória da Conquista e região, acelerando o processo de cura dos pacientes e evitando o deslocamento dos mesmos para outros municípios. Diante do exposto emergem os objetivos deste estudo:  Objetivo Geral: Elaborar projeto arquitetônico de uma clínica pediátrica especializada em oncologia para a cidade de Vitória da Conquista, proporcionando às crianças um espaço lúdico e confortável, através da aplicação do estudo de cores, Iluminação, ventilação e acessibilidade adequados.


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 Objetivos Específicos: - Conhecer o panorama brasileiro atual para a oncologia pediátrica, correlacionando-o com a arquitetura hospitalar. - Proceder estudo da importância da incorporação de elementos lúdicos, estudo de cores, iluminação e ventilação como elementos de humanização na recuperação de pacientes.


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2 EXPLORAÇÃO TEÓRICA DO TEMA

2.1 O câncer no contexto infantil Conforme o Instituto Nacional do Câncer INCA (2008), o câncer Infantil corresponde a um grupo de várias patologias que tem em comum a proliferação desordenada de células anormais e que pode vir a calhar em qualquer local do organismo, compreende-se ainda que, do ponto de vista clínico, os tumores pediátricos exibem menores períodos de latência, em geral desenvolvem rapidamente e são mais invasivos, entretanto respondem melhor ao tratamento e são considerados de prognóstico favorável. De tal modo, os tumores pediátricos diferem acentuadamente das enfermidades malignas dos adultos em relação ao prognóstico, aos aspectos histológicos e a localização do tumor, ou seja, a Leucemia linfoblástica aguda, tumores cerebrais, linfomas, sarcomas de partes moles e ósseos preponderam nas crianças e nos adolescentes, contradizendo os padrões daqueles encontrados nos adultos, onde as taxas de câncer que por habitual alargam rápido com o aumento da idade, existe uma variabilidade ampla de idade no transcorrer do desenvolvimento, com dois picos, no início da infância e na adolescência (SILVA & MARTINS, 2011). Os cânceres na criança e no adolescente são considerados relevantes, embora possuam menores incidências quando correlacionados com neoplasias malignas dos adultos. O câncer infantil corresponde de 2% a 3% de todos os tumores no Brasil e, na América Latina, representam de 0,5% a 3% do total de todas as neoplasias malignas. No período entre 2012 e 2013, as avaliações de incidência perspectivadas pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva apontavam a ocorrência de 11.530 novos casos de câncer em crianças e adolescentes no país, em ressalva dos tumores de pele não melanoma (INCA,2008). Berman et al. (2005), afiançam que durante o primeiro ano de vida, os tumores embrionários, como neuroblastoma, rabdomiossarcoma e meduloblastoma são os mais comuns, acredita-se que esses tumores, provavelmente são congênitos, ocorrem em menor frequência nos adolescentes, cujos processos de desenvolvimento e diferenciação celular já se reduziram consideravelmente, e são extremamente incomuns nos adultos, assim os tumores embrionários, associados às leucemias agudas, os linfomas não-Hodgkin e os gliomas juntos, tem um pico de incidência de 2


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a 5 anos de idade, e com o passar decorrer do tempo, logo após a puberdade, as neoplasias ósseas, a doença de Hodgkin, os tumores de células germinativas e diversos carcinomas, como o câncer de tireóide e o melanoma maligno, aumentam de incidência. Berman et al. (2005), garantem que os sinais e sintomas, não condizem a um padrão, apesar de os tumores mais frequentes na infância sugerirem dez sinais e sintomas úteis na sua identificação precoce, a deficiência de critérios explícitos é causada por fatores múltiplos, visto que, os sintomas são mais variáveis e inespecíficos na infância, pois a maioria dos tumores das crianças provém de estruturas profundas no corpo, a partir do parênquima ou órgãos, em vez de camadas epiteliais que compõem a pele e que revestem os ductos e glândulas. Complementa enfatizando que a metástase está presente no diagnóstico em 80% dos casos, e os sinais e sintomas iniciais são provavelmente causados por essa situação e não por um tumor primário, por isso, os sinais do câncer nas crianças são frequentemente atribuídos a outras causas, antes de identificarmos a doença maligna (BERMAN et al, 2005). É evidente que são alarmantes os dados relativos ao câncer pediátrico no Brasil e no mundo; estudos mostram que este atinge 10 em cada 1.000.000 crianças a cada ano, em todo o mundo, sendo que uma criança em cada 600 pode desenvolvê-lo durante a infância; no Brasil, é a segunda causa de morte entre as crianças. Porém, está comprovado que com diagnóstico precoce e tratamento adequado a taxa de cura pode chegar até a 70% (LOPES, 2004); o simbolismo criado ao redor da patologia leva, muitas vezes, as famílias ao desespero, causando, inclusive, malefícios ao próprio paciente. Barbosa e Francisco (2007) salientam que apesar de toda a evolução tecnológica e das formas de tratamento, o estigma do câncer imprime sua marca na cultura e, ainda hoje, a cristalização deste estigma carregado de representações negativas parece não se dissipar, fazendo do medo do câncer permanecer por séculos estigmatizado na nossa sociedade, nos pacientes com a doença e, embora atualmente o câncer apresente uma forma de tratamento mais avançada sendo objeto de pesquisas sistemáticas, o medo persiste e o impacto pode causar modificações nas atitudes frente à patologia. Os autores supracitados ainda complementam que em pacientes oncológicos que se submetem aos procedimentos invasivos, o registro de sentença de morte que


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acompanha essa patologia, não raro, causa sentimento tão profundo de angústia, tanto nos pacientes quanto em seus familiares. Rodrigues (2010), quando se refere ao tratamento, sinaliza outro estigma, da de que o tratamento é agressivo, e no caso de crianças, as famílias podem sofrer antecipadamente, mas o avanço da tecnologia nas últimas décadas conseguiu diminuir esse impacto no tratamento do câncer. Segundo Freire et.al (2007), a inquietação com os efeitos biopsicossociais do tratamento do câncer infantil vem despertando interesse de diversos profissionais que possuem como objeto de estudo e trabalho as crianças. É consenso que o tratamento do câncer, em específico para as crianças, costuma perdurar por um tempo logo, o que determina inúmeras perdas no cotidiano tanto da criança quanto de seu núcleo familiar. Por vezes a criança tem que se afastar das pessoas que costumavam fazer parte do seu dia a dia: colegas da escola, amigos, familiares. Assim, adentra num ambiente desconhecido, repleto de procedimentos médicos, medo, culpa ansiedade, quimioterapia, radioterapia e até mesmo transplantes, que exigem hospitalização de longa permanência. Logo, é salutar que este tempo de permanência nos hospitais seja o menos traumático possível, assim enfatiza-se a importância da humanização da assistência. Conforme Rockenbach (1985), no que tange a importância do ambiente hospitalar , este deve ser colorido, iluminado, com higiene, disposto de conforto. Sendo assim, a disposição destes fatores pode contribuir para a humanização da instituição hospitalar. Nesse sentido, a arquitetura está inserida como parceira no tratamento das crianças com câncer quando projeta espaços que estejam condizentes com os aspectos citados acima, contribuindo significativamente para o processo de cura.

2.2 Arquitetura Hospitalar A criação de um projeto arquitetônico hospitalar é uma tarefa complexa, uma vez que além de atender todas as normativas específicas, os ambientes projetados devem

ser

funcionais,

permitindo

a

prática

eficiente

dos

procedimentos,

proporcionando ao mesmo tempo conforto e bem-estar ao paciente. Na sua origem, o termo hospital vem da palavra hospitalidade, do latim, hospitallis, derivado de hospes (hóspede estrangeiro, viajante,


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peregrino). Era o local de abrigo, hospedaria, albergue, que abrigava pessoas que estavam viajando. Mais tarde esses abrigos foram acrescidos de dependências para abrigar também pessoas doentes. (SAMPAIO, 2005, p.83)

Por muito tempo a ideia de hospital estava atrelado à um “local de caridade, que cuidava dos pobres, de pessoas, com doenças graves, que iam para morrer com um mínimo de dignidade“(GÓES, 2004,p.36). Não havia uma preocupação com a higiene, controle de infecção, ventilação adequada e separação por doenças, pois a preocupação não era a cura da doença e sim um destino para o pobre que estava morrendo. Segundo Medeiros (2004), no decorrer da Idade Média, religiosos e leigos detinham o poder e cuidavam das pessoas, nesse caso a maior preocupação era a busca pela salvação através da prática de obras de caridade. No entanto, nesse período começou a haver a preocupação com a higiene dos doentes. Como a religião que leva em consideração vários aspectos da higiene humana, essas preocupações foram transferidas para as edificações dos seus hospitais. Enfermarias separadas por sexo, por convalescentes, por especialidade médica, cozinha dietética, biblioteca e asilo de órfãos. (GÓES, 2004, p.09)

No período compreendido entre a Antiguidade e a Idade Média, o cuidado à doentes era exercido por sacerdotes e por leigos que praticavam a caridade. Já na Renascença, aos poucos os hospitais começaram a deixar de ser responsabilidade das congregações religiosas, passando a ser atribuição do Estado. Além disso, com a experiências obtidas através dos leprosários (locais destinados à pessoas com lepra), a percepção de divisão dos pacientes e espaços foi mais aguçada. No renascimento, a divisão funcionando como barreira física, ainda não existia, mas começou a haver uma preocupação nesse sentido, como o desenvolvimento das plantas em forma de cruz, que permitia uma separação dos doentes em quatro alas, a partir de um pátio central, possibilitando iluminação e ventilação. (SAMPAIO, 2005.Pág. 91)

Havia a predominância de grandes pavilhões horizontais dispersos baseandose no estudo da bacteriologia, a fim de minimizar a disseminação das bactérias, no entanto contraditoriamente, os estudiosos não viam a necessidade de isolar os pacientes não contagiosos e discordavam da teoria que o fato de os pavilhões estarem próximos ao chão fazia com que estes ficassem mais vulneráveis à invasão pelas moscas e poeira, propiciando e disseminando o contágio de doenças. Neste cenário, indo contra a teoria da época, de acordo com o Ministério da Saúde (1965) o cientista


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francês Louis Pasteur realizou diversas experiências e comprovou que as placas microbianas diminuíam com o aumento da altitude e que a disposição de pavilhões dispersos não reduzia o contágio hospitalar. Em 1860, a descoberta de Pasteur da transmissão de germes, mudou a percepção sobre projetos hospitalares, passando a haver a separação de doentes por patologias específicas. Além disso, suas pesquisas mostraram a necessidade de combater o contágio e a transmissão de doenças com a esterilização de utensílios médicos. Para Costeira (2012), com surgimento da medicina científica, do modelo pavilhonar e da divisão de funções específicas para os ambientes da assistência à saúde, houve o estabelecimento do perfil do hospital contemporâneo. A conformação dos hospitais foi se modificando com o passar do tempo, trazendo consigo uma série de normas específicas para edificações hospitalares, o que ocorreu com a percepção e estudo da interferência do ambiente hospitalar no processo de cura dos pacientes. Concomitantemente, a evolução da arquitetura e engenharia, trouxe novos materiais e tecnologias, gerando novas alternativas para a arquitetura hospitalar, como a construção compacta e vertical, como um monobloco. Para Sampaio (2005), as novas descobertas modificaram as características dos hospitais, que passaram a ser considerados centros de pesquisa de enfermidades, diagnóstico e tratamento.

2.2.1 - Arquitetura Hospitalar no Brasil Para Góes (2004) a assistência hospitalar no Brasil, teve início logo após o Descobrimento, pois Portugal tinha o hábito de transferir para as colônias todo o seu acervo cultural e no período do descobrimento encontrava-se em evolução o sistema criado pela rainha D. Leonor de Lencastre, que deu origem a obras de misericórdia, a instituição das Santas Casas. Em 1543, a primeira Santa Casa do Brasil foi fundada em Santos, por Braz Cubas. Podemos dizer que as Santas Casas desempenham até os dias um papel importante na configuração da assistência à saúde, e exerce grande influência na prestação de cuidados aos pacientes. Costeira (2012), afirma que a história da implantação de hospitais no Brasil se confunde com o estabelecimento de ações governamentais de assistência à saúde.


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Podemos citar a Revolta da Vacina em 1904, que foi resultado da revolta da população por conta da vacinação em massa proposta por Osvaldo Cruz, na busca pela erradicação da peste bulbônica, febre amarela e varíola. O sanitarista Osvaldo Cruz foi essencial no processo da reforma sanitária no Brasil. Essa reforma comandada por Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro do início do século XX foi muito importante, a iniciativa aconteceu em parceria com o engenheiro Pereira Passos, que foi o especialista encarregado de realizar a reforma da cidade no governo de Rodrigues Alves . No ano de 1930, com a instalação do Governo Provisório de Getúlio Vargas, a administração trouxe muitas transformações na área de saúde pública, principalmente no Distrito Federal da época, Rio de Janeiro. No período de 1931 a 1936 Pedro Ernesto foi prefeito da cidade do Rio de Janeiro e implementou uma serie de transformações na cidade. Pedro Ernesto formou uma equipe para estudar os problemas de saúde da cidade e empreendeu a construção de diversos Dispensários e Prontos Socorros, promovendo uma grande transformação nas questões de saúde e assistência médico hospitalar, por todo o Rio de Janeiro.(COSTEIRA, 2012. P. 61)

A partir das transformações ocorridas, não só no setor saúde, como também no social, tem início um período de construções de grandes edifícios públicos, alguns com programas complexos, marcando a chamada arquitetura moderna brasileira. A inspiração para tais estruturas vieram de Le Corbusier, referência em arquitetura da época ele esteve por algumas vezes no Brasil e tornou-se um ícone para os moldes de projetos hospitalares. De acordo com Góes (2004), Luis Nunes projetou e executou a primeira obra no Brasil dentro dos princípios de Le Corbusieur: a caixa-d'água de Olinda, em Pernambuco, mesclando tradição e modernidade. [...] a Caixa d’água de Olinda tornam-se rapidamente referências de uma modernidade nacional (francesa e brasileira) no exterior. A Caixa d’água é apresentada na exposição sobre a arquitetura brasileira do MOMA de Nova Iorque, em 1942 (Brazil Builds. Architecture New and Old, 1652-1942), privilegiando uma revisão do passado, o edifício aparece na continuidade da história arquitetônica do país, que retoma as suas origens no período colonial. (OLIVEIRA, BAUER, 2011.P. 03)

Com o golpe militar, a partir de 1964, presenciamos no Brasil uma mudança de panorama no setor saúde, durante esse período profissionais foram afastados de suas funções, laboratórios foram fechados, estudos e pesquisas foram interrompidos. As


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condições e ambientes de trabalho eram ruins, sucateados pela falta de recursos e de liberdade de expressão. Além disso, o golpe atingiu estrutura da Previdência Social, da assistência médica por controle dos trabalhadores. O impacto disso se deu nas estruturas físicas das unidades da saúde, com as instituições sofrendo um grande aumento na demanda por serviços de saúde. Para Costeira(2012) no período compreendido entre 1980 a 1983 houve uma crise acentuada da previdência social. Apesar das inúmeras crises anteriores sucedidas do modelo do seu financiamento, a saúde não conseguia proporcionar uma assistência eficaz à população, sendo assim as críticas ao sistema e a elaboração de novos projetos, buscavam alternativas. Neste contexto, em 1988 foi promulgada a Constituição de 1988, apontando as condições para a universalização do acesso a saúde, educação e previdência social. Com a Lei Orgânica da Saúde nº 8080, de 19 de setembro de 1990, a criação e implantação do Sistema Único de Saúde, proporcionou o acesso de milhões de brasileiros à assistência à saúde, seja preventiva ou curativa. Este novo modelo de atenção à saúde proposto pelo Sistema Único de Saúde, causou

grande impacto na conformação física dos estabelecimentos de saúde,

demandando uma nova abordagem para a arquitetura destas instituições. A busca de uma metodologia para projeto e construção de estabelecimentos de saúde aponta para a necessidade de compatibilização entre a tecnologia médica e de apoio ao diagnóstico e terapia presentes nestas estruturas e a humanização dos seus ambientes, promovendo a integralidade do atendimento à saúde a todos os segmentos da população, como menciona a Lei Orgânica da Saúde. (COSTEIRA, 2002.Pag.63)

Nos dias atuais a arquitetura hospitalar tem um grande desafio que é o de associar nos projetos a praticidade e funcionalidade do espaço e o conforto ambiental, proporcionando ao paciente e ao trabalhador de saúde um ambiente acolhedor, que facilite a execução dos procedimentos e acelere o processo de cura do usuário. De acordo com SAMPAIO (2005) é papel do arquiteto projetar ambientes acolhedores, que transmitam paz e tranquilidade, ao mesmo tempo os espaços devem proporcionar confiança, força e aumentar a esperança no paciente de sua recuperação. Portanto, atualmente a arquitetura hospitalar é muito mais ampla que apenas projetar um hospital de acordo com as normas e regulamentos básicos dos projetos hospitalares, deve-se considerar a influência deste no processo de cura do paciente, fugindo de ambientes frios e desconfortáveis. Para tanto, o arquiteto deve


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ponderar fatores como topografia, clima, incidência do sol e dos ventos, paisagismo, dentre outros.

2.2.2 - O ambiente hospitalar pediátrico

O ambiente voltado para o cuidado de crianças e adolescentes deve atender às demandas dos mesmos , da família, bem como dos trabalhadores de saúde. Portanto , é função do arquiteto conceber um ambiente que minimize o desconforto, promova bem-estar e auxilie no processo de cura do paciente. De acordo com Chagas e Sampaio (2010), vários estudos têm mostrado a relação direta do ambiente hospitalar com os resultados dos pacientes, uma vez que ambientes agradáveis diminuem a ansiedade e a dor, interferindo na cura. Além de proporcionar bem-estar aos pacientes, também é necessário que o ambiente hospitalar possa estimular a equipe de trabalhadores, melhorando as relações interpessoais e consequentemente disseminando um atendimento de boa qualidade. Para Carmo(2008), o brincar transforma o ambiente hospitalar e preenche uma lacuna entre a criança, sua família e a equipe hospitalar, aliviando o estresse e a ansiedade do paciente, e apresentando-se como uma forma de superar sentimentos dolorosos. Essa preocupação com a individualidade do paciente, no caso criança ou adolescente, causa uma transformação na atenção à saúde, pois o paciente passa a ser enxergado holisticamente, havendo um cuidado não só do físico mas também do mental, social, dentre outros. A criança hospitalizada tem necessidades que vão além daquelas de um paciente adulto, muitas vezes ultrapassando questões médicas, porém de igual relevância. Quando uma criança é hospitalizada ela se distancia de tudo o que lhe é familiar: como sua casa, amigos, escola. De acordo com (CARMO, 2008), ela se depara, então, com um ambiente hospitalar asséptico, que se apresenta como sendo estranho e ameaçador. Sendo assim, é importante que o arquiteto use de instrumentos para aliviar essa tensão causada pelo ambiente hospitalar, como cores, formas e espaços que atraiam os olhares dos pacientes infantes, tornando o espaço lúdico e agradável. Além disso, a família é uma importante ferramenta no processo de humanização da assistência à saúde infantil, pois ela é responsável pelo suporte para


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o enfretamento da hospitalização, por isso, a permanência dos pais foi assegurada como direito no Estatuto da Criança e do Adolescente.

2.3 - Humanização Hospitalar Com a Revolução industrial, e toda a sua corrida por eficiência, praticidade e produção em série, o ambiente hospitalar foi caracterizado como um espaço de racionalização e centralização de funções, cercado de frieza e impessoalidade. A humanização surge como uma resposta à essa objetividade advinda do avanço cientifico e tecnológico. O arquiteto deve estar atendo a este contexto e ser mediador entre funcionalidade e conforto. O arquiteto hospitalar, além de conhecer toda a complexidade do funcionamento de um hospital, deve propor soluções que atendam às suas necessidades técnicas e de humanização, ou seja, o edifício precisa ser flexível e expansível para atender todas as demandas das inovações tecnológicas e, sobretudo, ser mais humano. (MARTINS, 2004, pág. 64)

A assistência direcionada ao paciente, bem como a criação de ambientes humanizados que sejam acolhedores e atores no processo de recuperação do usuário, surge como resposta à crise da saúde percebida nos últimos anos. Em 2001, o Ministério da Saúde (MS) criou o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), que propõe traduzir princípios e modos de operar no conjunto das relações entre profissionais e usuários, entre os diferentes profissionais, entre as diversas unidades e serviços de saúde e entre as instâncias que constituem o SUS. Já em 2004, o PNHAH foi convertido na Política Nacional de Humanização (PNH), também conhecido como HumanizaSUS (Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS), desde então o Ministério da Saúde vem inserindo a humanização como política pública do SUS. O principal foco do PNH é promover a requalificação do setor saúde, valorizando a questão subjetiva humana durante todo o atendimento. O manual do Ministério da Saúde além de sugerir parâmetros para o atendimento, para as relações interpessoais, para as condições de tratamento em relação ao paciente, aponta também questões relacionadas à arquitetura quando trata do espaço no qual todas essas relações ocorrem. Na arquitetura, podemos entender a humanização como um aspecto está diretamente ligado ao conforto ambiental, integrando a valorização da ambiência,


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uma das diretrizes do PNH – Politica Nacional de Humanização. De acordo com o Ministério da Saúde - PNH (2001): [...] a compreensão da ambiência como diretriz é norteada por três eixos:1. espaço que visa confortabilidade; 2. O espaço como ferramenta facilitadora do processo de trabalho e 3. A ambiência como espaço de encontros entre os sujeitos.

Em relação à confortabilidade , afirmamos que o espaço deve oferecer ambientes confortáveis e acolhedores, proporcionando individualidade e privacidade tantos dos pacientes como dos trabalhadores de saúde, lançando composições que estimulem a percepção ambiental e a harmonia, como cores, iluminação, texturas e sons, e consequentemente propiciando a promoção da saúde dos indivíduos. No que se refere à ambiência como facilitadora do processo de trabalho, acredita-se que ela isoladamente não altera o processo de trabalho, no entanto pode ser mas pode ser aproveitada como instrumento transformador através da concepção de espaços funcionais, flexíveis que garantam a segurança tanto dos profissionais quanto dos usuários. A ambiência também deve proporcionar uma boa relação interpessoal entre os indivíduos ocupantes do espaço, sejam eles trabalhadores ou usuários, de acordo com a PNH devem ser criados espaços coletivos (oficinas, rodas) para discussão e decisão sobre as intervenções no espaço físico dos serviços de saúde. Nos textos dedicados à arquitetura de saúde, a expressão “ambiente humanizado” tem sido, em geral, utilizada para referir-se a ambientes “aconchegantes”, ou que trazem uma “sensação de bem estar” para os pacientes. Quase sempre, o termo vem seguido da descrição do ambiente destacando as cores, a iluminação, as texturas, os objetos decorativos ou a presença de vegetação. (LOPES. MEDEIROS. 2004, s/p.)

Sabe-se que a ambiência usa aspectos como as cores, iluminação e ventilação naturais e paisagismo, montando um conjunto que, no caso de um ambiente de tratamento oncológico para crianças, pode proporcionar um ambiente além de acolhedor, lúdico, que possa ser divertido para os pacientes infantis, tornando o tratamento mais brando e acelerando o processo de cura. A ligação entre a humanização e a arquitetura deve proporcionar uma modificação na maneira de ver o próximo, como também incitar as relações de vivência com o ambiente.


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Para Vasconcellos (2004) a humanização do espaço está diretamente atrelada à relação com o exterior proporcionada pelos ambientes e seus elementos construtivos, influenciados diretamente pelo conforto ambiental do espaço.

2.4 - Conforto Ambiental Atualmente nota-se que a arquitetura busca continuamente em seus projetos, o conforto, seja ele estético, acústico, luminoso, dentre outros. Porém para melhor entender todos estes ramos é necessário, uma compreensão mais aprofundada do conceito de conforto. De acordo com Pereira (2000) o conceito de conforto ambiental relaciona-se com o projeto a partir da seleção de efeitos

quanto à percepção das

consequências das variáveis do meio ambiente sobre a edificação, obtendo assim para a obtenção espaços adequados ao ser humano na temperatura, luminosidade e acústica adequados ao ser humano. Corroborando com Pereira (2000), podemos então subdividir o conceito de conforto em: térmico, relacionado à temperatura, ventilação e umidade, luminoso englobando iluminação natural e artificial por fim acústico referente ao controle de som no ambiente. Como este trabalho destina-se ao público infantil, para a clínica pediátrica oncológica acrescentaremos a esta divisão o lúdico e o estudo das cores, elementos contribuintes para o bem estar e recuperação da criança.

2.4.1- Conforto térmico Os eventos relacionados ao clima devem ser cuidadosamente analisados pela arquitetura na elaboração de um projeto, pois fatores inerentes ao loco da implantação do projeto como clima, incidência de ventos e insolação podem resultar em diferentes propostas de projeto, visando sempre o conforto dos seus usuários. Para Frota e Shiffer (1995, p. 66), em lugares com o clima quente, “a arquitetura deve contribuir para minimizar a diferença entre as temperaturas externas e internas do ar.” A ventilação natural deve ser priorizada, e em particular nas edificações hospitalares, esta contribui no combate a infecções, por evitar espaços ambientes enclausurados. Entretanto, existem alguns ambientes hospitalares em que a ventilação artificial através do uso de ar-condicionado, torna-se essencial, em espaços


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nos quais não seja possível, apenas com ventilação natural, proporcionar conforto térmico aos pacientes. Mesmo assim, o arquiteto deve lançar propostas que auxiliem na redução da utilização de equipamentos de refrigeração ao menos no que se refere á potência dos mesmos, favorecendo a edificação no consumo racional de energia. De acordo com Sampaio (2005) a associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) , publicou uma série de normativas que dizem respeito ao desempenho térmico das edificações. São elas: NBR( Norma Brasileira) 15220-1 que diz respeito ao desempenho térmico das edificações ,definições, símbolos e unidades; NBR 15220-2 refere-se aos métodos de cálculo de transmitância, capacidade e atraso térmicos, do fator solar de elementos que compõe a edificação; NBR 15220-3 explana sobre o zoneamento climático e diretrizes construtivas para habitações de interesse social; NBR 15220-4 refere-se a medição da resistência e da condutividade térmicas; e por fim a NBR15220-5 que cita o uso do fluximétrico para medir a resistência e condutividade térmicas. Todas estas normas devem servir de embasamento na concepção de projetos arquitetônicos com a ênfase em conforto térmico correlacionado ao clima local. Ainda falando sobre o conforto térmico um aspecto que está integrado a este é a umidade. Segundo Frota e Shiffer (1995, p. 68) “As diferenças quanto à umidade relativa do ar vão requerer partidos arquitetônicos distintos em função da consequente variação da temperatura diária, a qual, basicamente, definirá as vantagens ou não da ventilação interna.” Portanto, a definição do partido é individual para cada espaço, variando de acordo com o clima local, pois no caso da umidade, pode ser ou não interessante abrir lacunas para ventilações naturais.

2.4.2- Conforto luminoso A incidência de luz natural, além de reduzir o consumo de energia, contribui para diminuir a impressão de confinamento do paciente em ambientes. Iluminação inadequada pode causar desconforto e fadiga visual, dor de cabeça, ofuscamento, redução da eficiência visual ou mesmo acidentes.[...] Boa iluminação aumenta a produtividade, gera um ambiente mais prazeroso e pode também salvar vidas.(PEREIRA,2000.Pag.5)

A iluminação adequada se dá com soluções projetuais que aumentem a área de superfícies transparentes, como janelas, aberturas zenitais ou pele de vidro. Vale


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salientar que quando essa solução não é viável, busca-se uma iluminação artificial que seja semelhante à luz natural. Assim todos poderão ser beneficiados, gerando uma sensação e bem-estar tanto para pacientes como para trabalhadores de saúde. Para Martins (2004, pag. 65) “O clima tropical do Brasil proporciona condições para um maior aproveitamento da luz natural no interior das edificações.” Além disso a luz solar pode ser usada como terapêutica para pacientes internados, funcionando como parte do processo de recuperação do mesmo. Logo , antes de conferir a um projeto arquitetônico hospitalar espaços ou elementos construtivos integrados com o meio exterior, é necessário conhecer a incidência solar local para que estes não interfiram negativamente no conforto ambiental, e que por conseguinte interajam com a humanização do ambiente hospitalar.

2.4.3 - Conforto acústico De acordo com Sampaio e Chagas (2010) o conforto acústico relaciona-se com a qualidade do som disposto no ambiente. Ou seja, avalia-se se a relação ente o interlocutor e o receptador é satisfatória e a mensagem é entendida ou não, e se existem ruídos que atrapalhem ou perturbem os indivíduos presentes no local. O conforto acústico está atrelado à compreensão dos ruídos e seus impactos na saúde e bem-estar do paciente. Os ambientes hospitalares têm buscado resguardar

a

privacidade de seus pacientes, impedindo que os ruídos consequentes das atividades laborais da assistência à saúde não interfiram no tratamento dos usuários e nem tampouco gere desconforto aos mesmos. Em um projeto arquitetônico deve-se conhecer o local, conhecer possíveis fontes produtoras de ruídos na região, conhecer a direção dos ventos predominantes, conhecer muito bem ainda, as atividades que serão desenvolvidas nos ambientes que estão sendo projetados, para que se possa fazer um zoneamento preliminar, agrupando espaços onde acontecem atividades ruidosas, separando-os o máximo possível daqueles que terão atividades que exijam maior concentração, necessitando assim de menos ou nenhum ruído. (SAMPAIO, 2005,Pag 171)

Também deve ser considerado no projeto a abertura de portas e janelas para ventilação e iluminação naturais e sua relação com a propagação de ruídos. Alguns aspectos devem ser seguidos na concepção de projetos destinados ao setor saúde no que se refere à acústica como considerações do entorno e fontes geradoras de


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ruído, ordenação do espaço quanto as suas funções silenciosas ou não, dispor de recursos e materiais que possam reduzir a transmissão de ruídos e melhorar a qualidade acústica do ambiente. 2.4.4 – O uso das cores no ambiente hospitalar As cores desempenham grande influência no espaço, podendo transformá-lo, causando sensações distintas nos indivíduos. Estamos em contato com as cores e suas sensações a todo momento. A força da influência da harmonia entre as cores e consequente

equilíbrio visual levam o paciente a exprimir sentimentos,

comportamentos intrínsecos à sua percepção do ambiente. Segundo Matarazzo (2010, pag. 54) “O uso das cores no ambiente hospitalar, está nas tintas, tecidos, objetos coloridos e, também, em composições de iluminação, inclusive com fontes coloridas.” Portanto podemos afirmar que o uso das cores funciona como elemento compositivo do ambiente, incorporando as sensações e sentimentos. Sob um ponto de vista subjetivo, a cor é a resposta a um estímulo luminoso captado pelo olho e interpretado no cérebro. Assim, a cor é uma sensação que depende de diversos fatores, tais como: posição que ocupa dentro de um conjunto de cores, iluminação que recebe, composição com outras cores, etc. (PEREIRA, 2000, pag. 27)

Assim, a arquitetura deve associar aspectos de iluminação e posicionamento da edificação ao uso de cores e texturas, pois estes fatores estão diretamente ligado e influenciam no tratamento e processo de cura do paciente. Para Demarco e Clarke (apud Santiago et.al, 2009) a cromoterapia é o conhecimento da ação e função terapêutica da cor, ou seja, é o uso da luz para curar, mental, psicológica e espiritualmente. A cromoterapia deve ser usada como técnica paliativa no tratamento do câncer infantil, uma vez que pode reduzir ansiedade, medo e proporcionar bemestar ao paciente. 2.4.5 – O lúdico no hospital A hospitalização de crianças diverge da de adultos, pois elas tem necessidades distintas destes, portanto os ambientes projetados também devem seguir essa diferenciação. A utilização de recursos lúdicos na arquitetura surge como um instrumento de intervenção no tratamento e processo de cura do paciente, o lúdico dá suporte à criança para o enfrentamento da doença, fortalecendo-a e reduzindo suas


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angustias. Para Benjamin (apud Carmo, 2008) o lúdico deve ser abordado em seu aspecto cultural, no qual a criança se encontra com o mundo, expressa sua individualidade, aguçando sua percepção e recebendo subsídios relevantes para a sua vida. Para o tratamento da criança com câncer essa percepção proporcionada pelo lúdico torna-se fundamental no enfrentamento da doença, pois como dito anteriormente, a criança tem necessidades que precisam ser supridas, e priorizadas com relevância frente à doença. Os exemplos da inclusão do lúdico no hospital demonstram que a forma de atendimento em unidades hospitalares e de promoção à saúde atravessa um momento de transformação, no qual se deixa de focalizar apenas a doença para enxergar o indivíduo como um todo, englobando, na prestação de assistência, cuidados com os aspectos psicológicos, sociais e culturais, além dos físicos. (CARVALHO e BEGNIS, 2006, pag.111)

A visão holística do paciente infantil contribui para o seu tratamento, englobando a multidisciplinaridade de profissionais, dentre eles o arquiteto, que é responsável por criar ambientes que sejam atraentes, divertidos e confortáveis através do uso de cores, formas e volumes.

2.5 Projetos Referenciais 2.5.1 - Hospital Infantil Nemours O Hospital Infantil Nemours é especializado no tratamento do público infantil, foi construído em Orlando, Flórida, e veio para mostrar um novo conceito de projeto, funcionando como um "ambiente de cura". Para Rebelo (2015) a edificação conta com uma estética simples e moderna, com ambientes animados pela luz e colorido. O hospital possui 95 leitos e 76 salas de exame, emergência, uma central de energia e um estacionamento. Foi concebido para divertir, acalmar e encorajar crianças e proporcionar tranquilidade e conforto à família. Os arquitetos, do escritório Stanley Beaman & Sears, criaram no projeto um ambiente que confortasse os pais e uma atmosfera que tranquilizasse os pais e extasiasse as crianças.


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Figura 01 – Hospital Neumors, Orlando, Flórida Fonte: NEUMORS (2016)

Crianças de todas as idades são o público alvo do hospital, algumas com problemas crônicos ou doenças em fase terminal. Portanto o maior enfoque do hospital, além de oferecer tratamento de qualidade, é de propiciar diversão e tranquilidade. A instituição Neumors (2016) afirma que

os espaços internos do

hospital são inundados com a iluminação natural, são fartas as vistas para o paisagismo exterior da edificação, retrata uma arquitetura madura, mas cheia de vida, que valoriza o papel da natureza no processo de cura do paciente.

Fig. 02 – Interior Hosp. Neumors

Fig. 03 – Hall Hosp. Neumors

Fonte: NEUMORS (2016)

Fonte: NEUMORS (2016)


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Figura 04 – Balcão e acomodações Hospital Neumors Fonte: NEUMORS (2016)

O hospital preconiza o cuidado no núcleo familiar, por isso os quartos de pacientes possuem

acomodações para dois pais, lavanderia e um balcão de

atendimento no lobby de cada pavimento, para guiá-los pelo espaço do hospital. As salas de estar e recreação tem vistas e acesso a grandes espaços ao ar livre, projetados com cuidado para proporcionar descanso e lazer a todos. São terraços com jardinagem, fontes interativas, jardim descoberto e um palco ao ar livre para apresentações.

Figura 05 – Área externa Hospital Neumors Fonte: NEUMORS (2016)


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Nas fachadas foram utilizados sistemas de pré-moldados, terracota, painéis de metal e vidro. A cor da iluminação dos quartos pode ser escolhida pela criança, criando um efeito incrível na fachada do hospital. Internamento e ambulatórios da mesma especialidade, localizam-se no mesmo pavimento, fazendo com durante a permanência de criança e família no hospital uma equipe de profissionais se torne familiar a eles, estabelecendo laços de confiança.

Figura 06 – Fachada iluminada Hospital Neumors Fonte: NEUMORS (2016)

2.5.2 – GRAACC Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer De acordo com o GRAACC (2011) ela se apresenta como uma instituição sem fins lucrativos, fundada em 1991 em São Paulo, para oferecer suporte adequado à crianças e adolescentes com câncer. Sua filosofia é condizente com um alto padrão cientifico e tecnológico, proporcionando aos pacientes o direito de obter todas as oportunidades de cura da doença com qualidade de vida. Segundo Rebelo (2015) o GRAACC é considerado um centro de referência ao câncer infantil, atende seus pacientes gratuitamente, contando com uma grande infraestrutura. No total são nove andares equipados com o que há de mais moderno para atender seus paciente, contando com Centro de


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Diagnóstico por Imagem, consultórios, serviço social, enfermagem, odontologia, psicologia, nutrição, farmácia ambulatorial, ambulatório da dor e atendimento multidisciplinar em cirurgia pediátrica, neurocirurgia, neuroclinica, ortopedia, fisiatria, endocrinologia, radioterapia, otorrinolaringologia e tratamento de quimioterapia, além de uma UTI e uma ala de internação. (REBELO, 2015. Pag.47)

A instituição crê na humanização como instrumento no processo de cura, por isso seus ambientes, além de funcionais, são lúdicos e confortáveis. O processo de Humanização é intensificado por conta da atuação de voluntários que são numerosos. O GRAACC está em expansão, o terreno da fase inicial da construção ao lado da edificação existente anteriormente possui conformação retangular com 14m de largura, sugerindo um edifício com 6 pavimentos e 2 subsolos, linear, conectado ao edifício existente através do pavimento térreo e algumas pontes em andares superiores.

Figura 07 – Distribuição do GRAAC Fonte: GRAAC (2009)


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Figura 08 - Fachada GRAACC

Figura 09 - Fachada lateral GRAACC

Fonte: GRAAC (2009)

Fonte: GRAAC (2009)

Nas fachadas externas foram utilizados como revestimento o vidro, sendo que para as áreas fechadas o vidro opaco de cor branca, enquanto que para as áreas abertas o vidro de alta performance na retenção de calor, na tonalidade verde. A opção do vidro como revestimento total do edifício foi definida pelo baixo custo de manutenção e limpeza ao longo da sua vida útil .

2.5.3 – Hospital A.C. Camargo A rede A.C. Camargo, é referência internacional para o câncer, de acordo com a instituição, trata-se de um centro integrado de diagnóstico, tratamento, ensino e pesquisa do câncer.

Oferece assistência de alta complexidade, integrada,

humanizada e centrada nas necessidades e segurança dos pacientes, advindos tanto do Sistema Único de Saúde – SUS, como da rede privada. A edificação foi projetada pelo arquiteto modernista Rino Levi, filho de italianos formado em Roma e Milão. De sua prancheta saiu a estrutura com o amplo mezanino sobre o qual se apoiam 13 andares, e que seria considerado um belo exemplar de arquitetura funcional. Levi projetou janelas que afastassem o sol e o ruído excessivo.


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Fundado em 1964, na cidade de São Paulo, a instituição tornou-se referência para o tratamento do câncer, para a pediatria foi um marco na assistência às crianças com essa enfermidade, pois antes de sua inauguração o tratamento dos infantes era realizado juntamente com os adultos, não ocorrendo assim uma assistência humanizada. Atualmente, a instituição conta com equipes multidisciplinares, mais de 50 especialidades, são aproximadamente 5.000 profissionais, trabalhando no combate ao câncer. Em relação ao ensino e pesquisa, ela é a principal instituição de ensino em oncologia no país, responsável pela formação de mais de mil especialistas e residentes, além de mais de 600 mestres e doutores.

Figura 10 – Fachada A.C. Camargo Fonte: Arquivo pessoal

Foi realizada visita à instituição nas unidades, Câncer Center e Tamandaré, a segunda voltada para o câncer infantil. Pôde-se comprovar no decorrer da visita a excelência tanto do atendimento humanizado, quanto da estrutura física do local. Os espaços são amplos e bem projetados, com ambientes dispostos de forma a acolher paciente, acompanhante e profissional. No ano de 2015, a instituição realizou cerca de 3,7 milhões de atendimentos, sendo 62% dos ambulatoriais dedicados aos pacientes do Sistema Único de Saúde SUS. É usado o mesmo espaço para atendimento público e privado, havendo diferenciação apenas nos setores de internamento. A ala infantil abriga o que há de mais moderno para o diagnóstico e tratamento do câncer infantil, com ambientes funcionais e bem distribuídos, no entanto observouse que nos setores de quimioterapia e atendimento de urgência, a ambiência é um pouco fria, não trazendo atrativos ou ludicidade para as crianças em tratamento.


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3 METODOLOGIA

As pesquisas realizadas para elaboração deste trabalho são ligadas à temática da arquitetura hospitalar e da humanização hospitalar, havendo um enfoque na especialidade oncológica pediátrica. O embasamento explanado neste projeto, possui uma abordagem qualitativa pois buscou uma análise aprofundada do conteúdo estudado. Recorreu-se ao aporte técnico, teórico, crítico, histórico e metodológico fornecido por textos (livros, artigos, dissertações e teses acadêmicas, periódicos especializados) que versem acerca da temática. Foram adotados métodos de levantamento direto, através de conversa informal sobre atemática com profissionais de saúde, observação direta através de visita à unidade de saúde prestadora de cuidados à crianças com câncer no Hospital AC Camargo em Salvador, além de coleta de dados na Secretaria Municipal de Saúde de Vitória da Conquista, a compilação destes dados forneceu instrumentos para a elaboração deste projeto. De acordo com os dados da Secretaria Municipal de saúde da cidade, verificou-se que os tipos de câncer mais frequentes que ocorreram em menores de 18 anos foram as leucemias (39,5%), linfomas (18,9%) e osteosarcomas ( 9,9%). Durante o ano de 2015, foram cadastrados 255 novos casos de câncer, e estes encaminhados para Itabuna e Salvador. Na elaboração do programa de necessidades foram utilizados: caderno técnico do Ministério da Saúde – Somasus volume 2, RDC nº 50/2002 e o Manual Prático de Arquitetura Hospitalar, do autor Ronald de Goés. Somadas a estas também foram utilizadas normas

municipais como Plano Diretor e Código de Obras para

dimensionamento de vagas para o estacionamento e devida ocupação e uso do terreno de acordo com a sua localização. Também foram consultadas diversas NBRs, que auxiliaram a elaboração do projeto desde o desenho técnico, até cálculo de reservatório, disposições do Corpo de Bombeiros, dentre outros.


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4 APRESENTAÇÃO DA ÁREA

A região Sudoeste do Estado da Bahia, abrange 39 municípios e possui uma área de 42.542,9 km², correspondendo a 7,5% do território baiano. De acordo com o IBGE (2010) a região abrange uma população estimada de 1.114.138 de pessoas.

Figura 11 - Mapa da região Sudoeste da Bahia Fonte: GRAAC (2009)

Essa região vem se estabelecendo como um importante pólo empreendedor, assumindo assim papel relevante para o desenvolvimento do interior da Bahia. Vários são os fatores que proporcionam tal ascenção, como localização, clima, infra-estrutura, dentre outros, fazendo com que o Sudoeste Baiano seja alvo de investimentos em diversos setores econômicos. Observa-se que dentre todos os setores, o terciário é o que mais se desenvolve na região, concentrando um grande número de comércio e serviços como educação e saúde. Neste panorama a cidade de Vitória da Conquista emerge como terceira maior cidade da Bahia, com uma população estimada pelo IBGE em 2016 de 346.069 pessoas, se estabelecendo como centro econômico, pólo da região Sudoeste suportando um raio de 200 km, prestando assistência a uma população de cerca de 2 milhões de habitantes. Diante disso foi escolhida a cidade de Vitória da Conquista para abrigar o projeto de uma Clinica Oncológica que atenderá pacientes de 0 a 17 anos, pois


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atualmente pela inexistência de um serviço na região os municípios do Sudoeste baiano são obrigados a encaminhar seus pacientes para Salvador e Itabuna. O Bairro da cidade escolhido foi o Felícia, primeiramente por ele abrigar o Hospital Geral de Vitória da Conquista, oferecendo suporte à clínica oncológica. Ademais, o bairro abriga a rodoviária da cidade e é margeado pela BR116, facilitando assim o acesso de pacientes advindos de outros municípios. O bairro também dispõe de outros serviços que darão suporte aos pacientes como hotéis, restaurantes e farmácias.

4.1 Localização e entorno Priorizou-se na escolha do terreno a facilidade de acesso dos pacientes, sejam eles do município ou da região Sudoeste. Ele está situado na cidade de Vitória da Conquista-BA, Loteamento Felícia, com testada para a Rua D, limite lateral esquerdo na Av Deputado Ulisses Guimarães e limite lateral direito na Rua J.

Figura 12 - Localização do terreno Fonte: Google Earth (2016) O terreno escolhido possui 94 metros de testada, e 68.7 metros nas laterais, totalizando uma área de 6.373m² com o Norte voltado para sua lateral direita, na margem da Rua J.


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4.2 Levantamento Topográfico Para o levantamento planialtimétrico do terreno, foi contratado profissional especializado para tal, a medição foi feita com o aparelho Estação Total.

Figura 13 - Planta altimétrica Fonte: Acervo próprio (2016) Percebe-se através da planta altimétrica que ocorre um desnível de aproximadamente 0.59 m, partindo da cota 901 até a cota 901.59, dando uma inclinação mínima ao terreno. A edificação foi implantada na cota 901.50, através da criação de um patamar, através de aterro realizado. 4.3 Estudo de Insolejamento e Ventilação

Os ventos predominantes em Vitória da Conquista procedem do Nordeste e Sudeste. Percebe-se que a localização do terreno promove a boa circulação do ar, uma vez que os ventos dominantes estão voltados para a sua fachada principal, na qual estão localizadas uma diversidade de aberturas, outro fator que facilita a ventilação, é a inexistência de edificações altas no entorno. Em relação ao insolejamento, na testada do terreno localiza-se o nascente, e ao fundo o poente, a fachada principal será privilegiada por haver uma incidência de sol mais amena com o nascente, enquanto que ao fundo foram locados alguns elementos como uma cobertura de estrutura metálica a fim de proteger a edificação da incidência solar do poente.


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Figura 14 - Estudo de Insolejamento e ventilação Fonte: Acervo próprio (2016)

4.4 Sistema Viário

Em relação ao sistema viário o terreno esta interligado a importantes vias da cidade, facilitando o acesso de diversos pontos da cidade, dentre as vias principais podemos citar a Av. Deputado Ullisses Guimarães, Avenida Juraci Magalhaes, Bartolomeu de Gusmão e Integração . Porém a testada do terreno está voltada para uma via local, que é a Rua D, possibilitando aos usuários do serviço um acesso seguro e desafogando as vias de grande tráfego.

Figura 15 - Mapa do sistema viário Fonte: Acervo próprio (2016)


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4.5 Uso do Solo Nota-se que o bairro Felícia é predominantemente residencial, no entanto por ser margeado por importantes vias, vem ocorrendo um aumento da área comercial do bairro, diversificando o uso do solo no local. Além disso, percebemos no entorno áreas institucionais abrigando o Hospital Regional de Vitória da Conquista e algumas habitações de interesse social. É importante ressaltar a existência da rodoviária que facilita o acesso de usuários oriundos de outras cidades. Existe uma grande parcela de terrenos ainda não ocupados, indicando a presença de vazios urbanos na região. Ocorrem também, escolas, hotéis, igrejas.

Figura 16 - Mapa uso do solo Fonte: Acervo próprio (2016) 4.6 Legislação quanto ao uso e ocupação da área

O terreno escolhido possui dimensões de 94 x 67.8m, totalizando 6.7373,2 m², por estar localizado no Bairro Felícia, de acordo com o Plano Diretor Municipal de Vitória da Conquista a área se enquadra na zona de uso ZR5. Para tal zona permitese o uso do solo para comercio varejista e atacadista, empreendimentos, serviços, institucional e residencial. Os recuos devem ser de 3,0m (frontal) e 1,5m (laterais e fundo). Em relação aos Coeficientes para o terreno são apontados pelo Plano os seguintes valores:


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 Coeficiente de Aproveitamento Básico – CAB = 1,0  Coeficiente de Aproveitamento Máximo – CAM = 1,0  Coeficiente de Permeabilidade – CP= 0,2  Coeficiente de Ocupação – CO = 0,6

Figura 17 - Mapa de legislação Fonte: Acervo próprio (2016) Tais parâmetros foram aplicados na elaboração do projeto da clínica de oncopediatria. Por se tratar de um estabelecimento de saúde, existe uma legislação própria para tal. Dentre elas podemos citar: - RDC nº. 220/2004 - Aprova o Regulamento Técnico de funcionamento dos Serviços de Terapia Antineoplásica indicando os parâmetros para seu funcionamento. Ainda de acordo com esta RDC, o serviço deve estar localizado próximo a um atendimento de emergência ou dispor do seu próprio serviço. Para o preparo de medicamentos antineoplásicos, a sala exclusiva para manipulação deve ter a área mínima de 5m² por cabine de segurança biológica, com uma área de armazenamento exclusiva. - RDC nº 306/2004 - Dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde: este deve ser feito com o objetivo de preservar a saúde pública e a qualidade do meio ambiente., atendendo às normas e exigências legais, desde o momento de sua geração até a sua destinação final. Esta norma determina um local, armazenamento e separação dos resíduos gerados pela clínica, dando a cada um deles um destino correto, não infectando um ao outro.


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- RDC nº 50/2002 – Dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. Foram verificados os fluxos de trabalho/ materiais/ insumos propostos no projeto físico, com o intuito de evitar problemas futuros de funcionamento e de controle de infecção. Para o dimensionamento dos ambientes, foram verificadas aas áreas e dimensões lineares dos ambientes propostos em relação ao dimensionamento mínimo exigido por este regulamento. DECRETO Nº 16.302/2015 – Regulamenta a Lei nº 12.929, de 27 de dezembro de 2013, que dispõe sobre a segurança contra incêndio e pânico e dá outras providências. De acordo com a classificação das edificações, estruturas e áreas de risco quanto à ocupação, o empreendimento se enquadra na categoria H6 – Clínica médica sem internação. Quanto a classificação de risco quanto a altura, a edificação é de Risco III Edificação, estrutura e área de risco de Baixa- Média Altura. Pelo enquadramento da empreendimento, ele deve conter as

medidas de segurança

dispostas na tabela a seguir.

Figura 18 Medidas de segurança contra incendio Fonte: Decreto Nº 16.302/2015


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5 CONCEITO E PARTIDO

Foi explorado no projeto o conceito lúdico, partindo da utilização de cores, formas e volumes e criação de espaços divertidos e confortáveis. Sabe-se que o lúdico dá suporte à criança e adolescente para o enfrentamento da doença, reduzindo suas angustias, podendo colaborar para o processo de cura do paciente. Além disso, outro conceito adotado foi o da humanização, que enfatiza a importância de projetar espaços que sejam acolhedores e confortáveis para seus usuários, para tanto, foram priorizados fatores como iluminação, ventilação e acessibilidade adequados, bem como estudo de aplicação de cores. O conceito lúdico permite que ao entrarem na clínica, as crianças vivenciem um ambiente de fantasia, pois os ambientes são decorados com temas infantis. O partido do projeto foi pensado a partir das formas geométricas, mais precisamente quadrados, retângulos e triângulos, a combinação destas formas culminou no volume pretendido. O uso do brise metálico vazado trouxe para a fachada movimento, além de ser o cartão de visitas da clínica promove o lúdico e conforta os usuários. A forma do brise tem como base a organização geométrica das células, foi reproduzida exatamente a imagem vista em microscópio da conformação celular.

Figura 19 –Vista microscópica das células e seu padrão geometrico Disponível em:http://cienciaparatodos-fs.blogspot.com.br/2016/05/as-celulas-temum-padrao- -que_18.html, acessado em 02/11/2016

Figura 20 –Fachada principal Fonte: Acervo próprio (2016)


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Além disso usando as formas geométricas foi projetado um parque infantil, que foge do conceito dos tradicionais parquinhos com gangorras e escorregadores. O parque geométrico foi pensado de forma a estimular a criatividade da criança, pois nos módulos criados ela poderá inventar as próprias brincadeiras.

Figura 21 –Parque infantil geométrico Fonte: Acervo próprio (2016)


44

6 PROGRAMA DE NECESSIDADES

A partir dos dados coletados na Secretaria Municipal de Saúde de Vitória da Conquista, foi possível estimar o público para o empreendimento e consequentemente projetar seus ambientes. A divisão dos setores deu-se através de consulta à RDC nº50/2002que os denomina de unidades funcionais, extrapolando a norma foi criado o novo setor, chamado de área de convivência e lazer. Segue abaixo o Programa de Necessidades com pré dimensionamento para a Clínica de Oncologia Infantil.

01 – ATENDIMENTO AMBULATORIAL 02 – ATENDIMENTO IMEDIATO 03 – DIAGNÓSTICO E TERAPIA 04 – APOIO TÉCNICO 05 - ADMINISTRATIVO 06 – APOIO LOGISTICO 07 – AREA DE CONVIVÊNCIA E LAZER

ATENDIMENTO AMBULATORIAL Unidade

Quantidade

Dimensionamento

Total

Sala de Espera Geral / Recepção

01

108,41 m²

108,41 m²

Consultório 01

01

12,79 m²

12,79 m²

Consultório 02

01

13,50 m²

13,50 m²

Consultório 03

01

9,13 m²

9,13 m²

W.C Interno Consultórios

03

2,36 m²

7,08 m²

Wc PCD Feminino

01

2,55 m²

2,55m²

Wc PCD Masculino

01

2,55 m²

2,55m²

Banheiro infantil

01

5,31 m²

5,31 m²

Sala de Imunização

01

14,72 m²

14,72 m²

DML

01

2,53 m²

2,53 m²

Rouparia

01

2,53 m²

2,53 m²

TOTAL

181,10m²


45

ATENDIMENTO IMEDIATO Quantidade

Dimensionamento

Total

Desembarque Ambulâncias

01

21 m² de Área Coberta

21 m²

Sala de atendimento médico

01

15,66 m²

15,66 m²

W.C Interno Consultório

01

2,36 m²

7,08 m²

Sala de Observação com 04 Leitos

01

42,35 m²

42,35 m²

Posto de Enfermagem

01

6,35 m²

6,35m²

Área de Recepção de Pacientes

01

44,97 m²

44,97m²

Wc PCD Feminino

01

2,55 m²

2,55m²

Wc PCD Masculino

01

2,55 m²

2,55m²

Banheiro infantil

01

6,00 m²

6,00 m²

Sala de Emergências

01

26,27 m²

26,27 m²

Sala aplicação de medicamentos

01

9,09 m²

9,09 m²

Sala de serviço

01

3,69 m²

3,69 m²

DML

01

2,55 m²

2,55 m²

Expurgo

01

2,68 m²

2,68 m²

Unidade

TOTAL

193,0m²

DIAGNÓSTICO E TERAPIA RADIOLOGIA Unidade

Quantidade

Dimensionamento

Total

Recepção / Sala de espera

01

16,86 m²

16,86 m²

Entrega de resultados

01

6,05 m²

6,05 m²

DML

01

4,61 m²

4,61 m²

Vestiários

03

4,23 m²

12,69 m²

Entrega de resultados

01

6,05 m²

6,05 m²

Sala de Ultrassom

01

9,08 m²

9,08 m²

Wc sala de usg

01

2,55m²

2,55m²

Sala de observação

01

7,62m²

7,62m²

Posto de enfermagem

01

7,50m²

7,50m²

Sala de preparo de contrastes

01

6,06m²

6,06m²

Sala de revelação digital

01

4,11m²

4,11m²

Sala de tomografia

01

36,10m²

36,10m²

Sala da ressonância magnética

01

40,93m²

40,93m²

Sala de comando

01

7,24m²

7,24m²


46

Sala de interpretação de laudos

01

6,22m²

6,22m²

Sala de Raio X

01

23,70 m²

23,70 m²

TOTAL

197,37 QUIMIOTERAPIA

Sala coletiva de aplicação de

01

286,92m²

286,92m²

4 leitos

16,03m²

16,03m²

de isolamento

01

2,54m²

2,54m²

Quarto de isolamento

01

12,43m²

12,43m²

Posto de enfermagem

02

6,35

12,70m²

Sanitário masculino PCD

01

2,55m²

2,55m²

Sanitário feminino PCD

01

2,55m²

2,55m²

Sanitário Infantil

01

6,01m²

6,01m²

Consultório

01

15,66m²

15,66m²

Distribuiçao

01

11,96m²

11,96m²

Armazenamento

01

7,33m²

7,33m²

Vestiário masculino PCD

01

15,66m²

15,66m²

Vestiário feminino PCD

01

15,66m²

15,66m²

Depósito

01

2,36m²

2,36m²

DML

01

2,36m²

2,36m²

quimioterápicos Enfermaria de repouso Antecamara de acesso ao quarto

TOTAL

412,72m²

APOIO TÉCNICO CENTRAL DE MATERIAL ESTERELIZADO Unidade

Quantidade

Dimensionamento

Total

01

8,11 m²

8,11m²

Área para Lavagem de Materiais

01

6,25 m²

6,25 m²

Área para Descontaminação

01

6,25 m²

6,25 m²

Sala de esterelização

01

6,25 m²

6,25 m²

Área de armazenamento de

01

13,63 m²

13,63m²

01

6,98m²

6,98m²

Área para Recepção / Descontaminação e Separação de Materiais

materiais esterelizados Área de distribuição

ENSINO E PESQUISA Sala de aula TOTAL

01

32,26m²

32,26m² 79,73m²


47

ADMINISTRATIVO Unidade

Quantidade

Dimensionamento

Total

Sala da direção

01

9,13m²

9,13m²

W.C Interno

01

2,36 m²

7,08 m²

Sala de reuniões

01

21,20m²

21,20m²

Sala administrativa

01

13,98m²

13,98m²

W.C Interno

01

2,36 m²

7,08 m²

Controle de ponto

01

02m²

02m²

Protocolo

01

10,26m²

10,26m²

Tesouraria

01

10,26m²

10,26m²

Recepção/ espera

01

21,20m²

21,20m²

TOTAL

102,19m²

APOIO LOGISTICO ARMAZENAGEM Depósito geral

01

17,76m²

17,76m²

Rouparia

01

8,08m²

8,08m²

Almoxarifado

01

17,56m²

17,56m²

CONFORTO E HIIGIENE Copa

01

20,20m²

20,20m²

Vestiário Funcionarios M

02

20,90m²

41,80m²

Vestiário Funcionarios F

02

20,90m²

41,80m²

LIMPEZA E ZELADORIA Sala de Utilidades c/ pia de

01

5,20m²

5,20m²

Casa de resíduos

04

6,73m²

26,92m²

Roupa suja

01

5,16m²

5,16m²

Depósito jardinagem

01

5,16m²

5,16m²

DML

01

5,20m²

5,20m²

despejo

SEGURANÇA E VIGILÂNCIA Guarita

01

05m²

05m²

INFRAESTRUTURA PREDIAL Casa do gerador

1

13,10m²

13,10m²

Sub estação de Energia

1

10,26m²

10,26m²

Casa de Gases medicinais

1

10,28m²

10,28m²

TOTAL

233,48m²


48

ÀREA DE CONVIVÊNCIA E LAZER Unidade

Quantidade

Dimensionamento

Total

Área de Convivência

01

174,40m²

174,40m²

Brinquedoteca

01

34,30m²

34,30m²

Manutenção e higienização

01

7,65m²

7,65m²

Sala de jogos

01

38,68m²

38,68m²

Sanitário masculino PCD

01

2,55m²

2,55m²

Sanitário feminino PCD

01

2,55m²

2,55m²

Sanitário Infantil

01

5,31²

5,31m²

de brinquedos

TOTAL

265,44m²

Ao somarmos todos os setores temos uma área de 1.665,03m², acrescidos das áreas de circulação que são 168,35m², temos o total 1.833,38m² de área útil.


49

7 FLUXOGRAMA


50

8 O PROJETO A proposta do projeto da Clinica Oncológica Infantil propõe a elaboração de projeto arquitetônico de uma clínica pediátrica especializada em oncologia para a cidade de Vitória da Conquista, tendo como foco a desconstrução do ambiente hospitalar, propondo um ambiente voltado para o público de crianças de 0 a 17 anos, lúdico, agradável e confortável. Isso foi viável, por meio de uma proposta arquitetônica que proporciona bem-estar aos pacientes, através do estudo e aplicação de iluminação natural, conforto térmico, acessibilidade e estudos de cores, viabilizando a criação de ambientes humanizados, que contribuem para a recuperação dos infantes. O empreendimento possui 1.833,38m² de área útil, distribuídas em 7 setores:  Atendimento ambulatorial  Atendimento imediato  Diagnóstico e terapia  Apoio técnico  Administrativo  Apoio logístico  Área de convivência e lazer

Figura 22 –Planta de layout setorizada Fonte: Acervo próprio (2016)


51

O acesso principal ao interior da edificação se dá pela recepção geral, que está interligada a diversos setores do empreendimento. Neste espaço se encontram balcão de atendimento e dois espaços para entretenimento tanto de crianças como de adolescentes. Para as crianças, foi locado um tapete emborrachado com almofadas e brinquedos, além de um painel para escalada. Do lado oposto encontra-se o espaço para crianças maiores e adolescentes composto de vídeo game e tablets. Esses artifícios promovem a ludicidade e fazem a espera do usuário mais agradável. O setor de atendimento ambulatorial é responsável pelo acompanhamento através de consultas dos pacientes, nos três consultórios aí instalados ocorrerão consultas com equipe multidisciplinar

composta por médicos, enfermeiros,

psicólogos, terapeuta ocupacional, outros. Também neste setor se encontra a sala de imunização, responsável pelo controle e administração de vacinas nos usuários. No setor de atendimento imediato é prestado o serviço de urgência e emergência. No decorrer do tratamento do câncer podem ocorrer algumas intercorrências com os pacientes e tais intercorrências tem que ser atendidas com agilidade, pois o sistema imunológico deste pacientes em especial fica muito debilitado. Portanto foi projetada uma estrutura que conta com sala de urgência, consultório médico e sala de observação, estes ambientes somados a estrutura restante facilita e otimiza a assistência ao paciente. O setor de diagnóstico e terapia é subdividido em radiologia e quimioterapia. Na radiologia estão dispostos os serviços de imagem como: raio x, tomografia, ressonância magnética e ultrassonografia. Associada a estes serviços está o suporte para o funcionamento dos mesmos, como sala de interpretação, vestiários, sala de observação, de preparo de contrastes e de revelação digital. Na quimioterapia temos 22 poltronas e 02 berços para infusão de quimioterápicos, assessorados por dois postos de enfermagem. Além disso, estão locados enfermaria de repouso, quarto de isolamento, consultório médico e banheiros. O preparo de quimioterápicos é realizado em ambiente asséptico, com um equipamento chamado capela, que protege tanto o quimioterápico da contaminação quanto o profissional que manipula medicação. O acesso a este ambiente é feito através de vestiários, pois exige paramentação. Do preparo, a medicação segue para o armazenamento, onde são separados em nichos identificados com o nome e prontuário de cada paciente. No momento da infusão, a medicação segue para a distribuição e por fim para a sala de quimioterapia.


52

O apoio técnico é responsável pela esterilização de materiais e apoio aos alunos e professores que atuam no setor de ensino e pesquisa da instituição. O setor administrativo controla todo o funcionamento da instituição, contando com recepção, controle de ponto, protocolo, tesouraria, sala administrativa, coordenação, sala de reuniões e diretoria. O apoio logístico compreende a parte de serviços gerais e suporte a funcionários. Esta subdividido em armazenagem, conforto e higiene (funcionários), limpeza e zeladoria, segurança e vigilância e infraestrutura predial. Nesta última está locada a casa de gases, com fechamento em alvenaria e gradil para permitir ventilação, e também os 04 abrigos de resíduos (infectantes, perfuro-cortante, químicos e comum). A coleta de lixo será realizada por empresa privada, contratada pela clínica, que será responsável pelo descarte adequado destes resíduos para que não haja riscos de contaminação. Por fim, na área de convivência e lazer encontramos sala de jogos, brinquedoteca, banheiros. A área da lanchonete está integrada ao exterior através de portas pivoltantes que dão acesso ao jardim e ao parque infantil geométrico, composto por oito módulos em alvenaria, coloridos, que estimulam a criatividade e divertem as crianças. O jardim proporcionará tranquilidade tanto para funcionários como para pacientes, como descrito anteriormente, o contato com a natureza humaniza a assistência e pode acelerar o processo de cura da doença.

Figura 23 –Planta de situação Fonte: Acervo próprio (2016)


53

O acesso tanto de pedestres como de veículos se dá pela Rua D, foi escolhida por se tratar de uma via de baixo fluxo de veículos. Na mesma via se encontra a vaga de embarque e desembarque, não foi criada vaga para ônibus pois existem vários pontos de ônibus na região, o acesso ao empreendimento se dá por duas rampas que ligam a calçada até a circulação interna. No acesso de veículos temos guarita e uma cancela automática pata estacionamentos, na qual é emitido um cartão magnético que é depositado na saída (localizada na Rua J) para que a outra cancela se levante. O número de vagas de estacionamento foi calculado com base no Plano diretor Municipal que preconiza 1 vaga a cada 50m², como temos 1.833,38m² de área útil, seriam necessárias 37 vagas, para melhor comodidade de pacientes e funcionários, foram locadas 43 vagas para carros, 06 vagas para motos, 01 para ambulância, 01 carga e descarga e 01 para PCD (Pessoas Com Deficiência). De acordo com a RDC 50 , para o abastecimento de água do empreendimento, os reservatórios foram dimensionados a partir do cálculo de consumos parciais de profissionais. A norma diz que para funcionários e alunos o consumo é de 50l/dia, para paciente externo e público 10l/dia e para pacientes até 24horas, o consumo é de 120l/dia. Foi estimado o quantitativo de 40 funcionários e 10 alunos, 30 pacientes externos e público e 26 pacientes até 24 horas, como estes pacientes precisam de acompanhantes, serão 52 pessoas até 24hs. Dessa maneira, temos o seguinte: - Funcionários e alunos = 50x50l/dia = 2.500l/dia; - Pacientes externos e público = 30x10l/dia =300l/dia; - Pacientes e acompanhantes até 24hs = 52x120 = 6.240l/dia; Total de 9.040l/dia x 3dias = 27.120l/3dias. Deve ser acrescido a este montante a Reserva Técnica de Incendio – RTI, de acordo com a NBR 13714 – Hidrantes e Mangotinhos, calcularemos o volume de água que será somado ao reservatório superior. A fórmula utilizada é V= Q x t, sendo: V é o volume da reserva em litros, Q é a vazão, t é o tempo de 60min do sistema tipo 1 e 2. O empreendimento se encaixa no grupo H6, que contempla clinicas sem internamento, e preconiza o uso do sistema tipo 1, com esguicho regulável, mangueiras com diâmetro de 25 ou 32mm, comprimento máximo de 30m, com uma saída e Vazão de 80 ou 100l/min, para a utilização do cálculo é utilizado maior valor. Os sistemas de hidrantes e mangotinhos utilizados para o combate a incêndio deveram ser posicionados em posições centrais nas áreas protegidas e de 1,0m a 1,5m do piso. Então temos o seguinte cálculo: V=Q x t ---- V = 100l/min x 60min ----V


54

= 6.000l.O valor da Reserva Técnica para Incêndio (R.T.I.) é de 6.000 litros, colocados na parte superior, não podendo ser utilizado para o consumo. A divisão do volume de água se deu da seguinte forma: 1/3 para o reservatório superior com 9.040l mais R.T.I de 6.000l, totalizando 15.040l distribuídas em duas caixas de 10.000l e 2/3 para o reservatório inferior com 18.080l. O reservatório inferior terá as dimensões de 3,00x3,0x2,10(+0,30), estes 0,30 é uma folga mínima entre o nível máximo da água em extravasão até a cobertura do reservatório, ultrapassando 18.80llitros do necessários. Como o empreendimento possui uma grande área verde, e nos últimos tempos vem ocorrendo em nossa cidade uma escassez de água, foi planejado para o projeto um sistema de captação de água pluvial, sendo captadas através das calhas e armazenadas em um reservatório subterrâneo. Este sistema será utilizado para a rega de jardins e lavagem de pisos externos. A cobertura da edificação servirá como área de captação, as calhas e tubos direcionam a água para um reservatório, como a utilização é apenas no jardim e lavagem de piso, é necessário apenas um filtro grosseiro antes do reservatório para a filtragem de materiais grosseiros como folhas, é descartada a primeira água da chuva, sendo o restante direcionado para a cisterna com o tratamento adequado de cloro. Foi priorizada no empreendimento a acessibilidade de Pessoas Com Deficiência, como o empreendimento é térreo, apenas com um desvível de 50 centímetros, foram utilizadas em rampas com inclinação de 8,33% de acordo a NBR 9050 – Acessibilidade, dando acesso aos diferentes níveis do acesso, os sanitários são adaptados e toda a circulação é acessível para macas e cadeiras de rodas.

.

Figura 24 –Fachadas Fonte: Acervo próprio (2016)


55

As fachadas da clínica são em concreto aparente, coloridas por brises metálicos e molduras nas janelas. Na fachada voltada para a rua Deputado Ulisses Guimarães, foi dado um tratamento diferente, pois trata-se de uma via de grande fluxo e consequente maior visibilidade do empreendimento. Compõe esta fachada, o parque infantil geométrico, e bloco com textura grafiato azul índigo e cobogó cerâmico na cor amarelo.


56

8 CONCLUSÃO O presente estudo tem o intuito de projetar para a cidade de Vitória da Conquista –BA uma clínica referência em diagnóstico e tratamento de crianças e adolescentes de 0 a 17 anos com câncer, oferecendo um ambiente humanizado e lúdico, amenizando assim os percaustos do tratamento e acelerando o processo de cura através de uma assistência humanizada. Através das pesquisas realizadas no decorrer deste processo, pôde-se comprovar que o objetivo geral do estudo foi alcançado, uma vez que o projeto da clínica foi elaborado dentro dos conceitos propostos e a viabilidade da execução é real, pois a cidade não possui assistência ao câncer infantil. O projeto tem relevância social, pois atualmente os pacientes com câncer de 0 a 17 anos da região sudoeste têm que se deslocar para outras cidades para terem direito ao seu tratamento. A implantação da clínica na cidade de Vitória da Conquista, proporcionará um espaço mais acessível e confortável para os pacientes e implicará em redução de custos para os municípios que custeiam o deslocamento de pacientes para grandes distâncias atualmente. A elaboração deste projeto, juntamente com o contato com o câncer infantil, contribuiu para a formação profissional em arquitetura e trouxe de volta conceitos da formação anterior da pesquisadora, a enfermagem. Foi de grande valia a associação das duas formações na construção de um espaço que fosse funcional e ao mesmo tempo humanizado para o tratamento do câncer.

.


57

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