FACULDADE INDEPENDENTE DO NORDESTE CURSO DE DESIGN DE MODA
RAFAELA TEIXEIRA DE OLIVEIRA
A EVOLUÇÃO DA MODELAGEM: TÉCNICAS, MÉTODOS E TECNOLOGIAS
VITÓRIA DA CONQUISTA – BA 2016
RAFAELA TEIXEIRA DE OLIVEIRA
A EVOLUÇÃO DA MODELAGEM: TÉCNICAS, MÉTODOS E TECNOLOGIAS
Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de Design de Moda da Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR, como requisito parcial para a obtenção do grau de tecnólogo sob a orientação da Profª. Msc. Analívia Lessa de Oliveira.
VITÓRIA DA CONQUISTA – BA 2016
O48e
Oliveira, Rafaela Teixeira de A evolução da modelagem: técnicas, métodos e tecnologias ./ Rafaela Teixeira de Oliveira._ _ Vitória da Conquista, 2016. 42.f Monografia (Graduação em Design de moda) Faculdade Independente do Nordeste - FAINOR Orientador (a): Profª. Analivia Lessa de Oliveira 1. Moda. 2. Modelagem 3. Sistema Informatizado. 4. Modelista. I Título. CDD: 687.05
Catalogação na fonte: Biblioteca da Fainor
RAFAELA TEIXEIRA DE OLIVEIRA
A EVOLUÇÃO DA MODELAGEM: TÉCNICAS, MÉTODOS E TECNOLOGIAS Trabalho de Conclusão de Curso Superior de Design de Moda apresentado a Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR, como requisito parcial para obtenção do título de Tecnóloga. Aprovado em ___/___/___ BANCA EXAMINADORA
Profª. Msc. Analívia Lessa de Oliveira Orientador
Profª. Msc. Leila Gina da Cruz Silva 2° Membro
Prof. Msc. Alberto Marlon 3° Membro
AGRADECIMENTOS Acredito que para um trabalho ser concluído de forma satisfatória, é preciso que tenhamos o apoio das pessoas que nos cercam. Ao longo dessa jornada tive o imenso prazer de contar com pessoas maravilhosas que, de certa forma, me inspiraram para a realização desta pesquisa. Por isso, declaro aqui os meus sinceros agradecimentos a: Ivanete Teixeira de Oliveira, minha mãe, minha verdadeira inspiração e referência na vida. Você é a maior influência pelo meu amor a costura, modelagem, corte e construção de roupas. José Aparecido de Oliveira, meu pai, pelo apoio nas minhas decisões e por sempre está lá quando eu preciso. Sou muito grata a Deus por ter um pai como você. Luan Mirante Galvão, meu namorado e amigo, pela paciência e compreensão. Seu apoio foi fundamental. Profª Msc. Analivia Lessa de Oliveira, que me orientou com tanta dedicação e paciência. Me considero privilegiada por ter tido a sua orientação. Suas correções me tornaram mais autocrítica e os seus conselhos, sem sombra de dúvidas, irei levar para a minha vida profissional. Muito obrigada por tudo. Faculdade Independente do Nordeste por proporcionar a nós, estudantes de moda, um ambiente exclusivo para a prática de nossas atividades. Geisa Santos e Juliana Souza pelo companheirismo e aprendizado diário em meu ambiente de trabalho. Vocês tornam os meus dias menos difíceis. Obrigada! A todos que, de alguma forma contribuíram para esta etapa tão importante em minha vida acadêmica. Deus, por ter me guiado até aqui. Tudo que eu faço é para Ele.
Escolha um trabalho que você ame e não terás que trabalhar um único dia em sua vida. Confúcio
A EVOLUÇÃO DA MODELAGEM: TÉCNICAS, MÉTODOS E TECNOLOGIAS
Rafaela Teixeira de Oliveira1 Analívia Lessa de Oliveira2
RESUMO Este estudo analisa a evolução e o aprimoramento das técnicas de modelagem ao longo do tempo. Busca-se compreender por que a modelagem tem sido uma etapa decisiva no processo de desenvolvimento de produtosde moda e qual a importância das empresas de confecção buscarem e aproveitarem os sistemas informatizados oferecidos pela Tecnologia da Informação. Para este fim, utilizou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica exploratória e o método indutivo. Assim, foi possível concluir que a modelagem é uma etapa extremamente importante para a construção de uma roupa, pois permeia desde a sua criação até o processo de montagem na costura. Além disso, percebeu-se que apesar de todo o avanço tecnológico e automatizado nas etapas de modelagem e corte das peças em escala industrial, a presença de um modelista é indispensável. PALAVRAS CHAVE: Moda, Modelagem, Sistema Informatizado, Modelista.
1 Graduanda do curso de Design de Moda pela FAINOR - Faculdade Independente do Nordeste. E-mail:rafaelatdeoliveira@gmail.com 2 Professora orientadora, Bacharel em Design de Moda pela FCS - Faculdade da Cidade o Salvador, Especialista em Desenho Registro e Memória Visual pela UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana, Mestranda em Artes Visuais pela UFBA – Universidade Federal da Bahia.E-mail: analivia@fainor.com.br
SUMÁRIO INTRODUÇÃO.....................................................................................................................05 1 O SURGIMENTO E A EVOLUÇÃO DA MODELAGEM NA HISTÓRIA.................07 2 MODELAGEM: CONCEITO, PROFISSÃO E AS TÉCNICAS TRADICIONAIS.....13 2.1 Modelista: O engenheiro da moda...................................................................................14 2.2 Modelagem Plana: A modelagem bidimensional...........................................................15 2.2.1 Moldes base: O ponto de partida....................................................................................15 2.2.2 Tabela de medidas: Os parâmetros métricos..................................................................17 2.2.3 O corpo............................................................................................................................18 2.3 Moulage/Drapping: A modelagem tridimensional.........................................................19 3 A MODELAGEM EM TEMPOS TECNOLÓGICOS.....................................................23 3.1 A modelagem informatizada com o recurso CAD...................................................…..24 3.3 A relevância do sistema CAM para a modelagem industrial........................................28 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................32 REFERÊNCIAS ….................................................................................................................33
5 INTRODUÇÃO A história nos mostra que o modo de produzir o vestuário foi se modificando com o passar do tempo, se adequando às necessidades e aos recursos disponíveis. Nesse sentido, a modelagem sempre teve um papel profícuo no processo de “fazer” roupas e hoje se apresenta como um fruto de constante aperfeiçoamento por artesãos, alfaiates, costureiras, estilistas, modelistas e pela presente Tecnologia da Informação. Baseado nisso, esse estudo se propõe a analisar os métodos de modelagem de roupas praticados desde os tempos primitivos até a atual era tecnológica. Com a finalidade de mostrar, com base em fatos históricos, quais foram os fatores que contribuíram para que as formas de modelar roupas chegassem aos níveis que estão hoje, em pleno século XXI, onde a todo o momento é fácil observar nas ruas roupas penduradas em araras, vestidas nos manequins, expostas em vitrines a chamar a atenção dos transeuntes. Poucos sabem, mas o que se apresenta diante de nossos olhos é apenas da ponta do iceberg. O caminho que leva uma peça de vestuário até o seu ponto de venda é longo e complexo; composto por processos que se inter relacionam e dentre os quais a modelagem se configura como etapa decisiva, pois é o único meio que permite que o tecido saia de dimensões planas para adquirir formas tridimensionais no corpo. Com isto em vista, devido ao seu papel indiscutível na confecção do vestuário, a modelagem se apresenta como o tema central desta pesquisa e aqui será tratada no âmbito dos métodos. Nesse sentido, esta análise inicial se faz necessária para contribuir com o objetivo geral desse artigo que é deixar clara a importância da modelagem informatizada em empresas brasileiras de confecção a fim de se tornarem competitivas no mercado, face às novas exigências dos consumidores. E apontada a direção, tentaremos responder às seguintes questões: Por que a modelagem é a etapa primordial no desenvolvimento de produtos de vestuário? E qual a importância do uso de um sistema informatizado de modelagem em fábricas de confecção? Assim, com base nas questões acima citadas, esse estudo se propõe a analisar a importância das empresas brasileiras de confecção se modernizarem em relação aos processos produtivos que envolvam a modelagem, como por exemplo: a etapa de corte das peças.Para tanto, opta-se por uma abordagem descritiva que se faz possível através da metodologia bibliográfica exploratória e do método indutivo. Desse modo, pretende-se: Realizar levantamento histórico acerca da modelagem praticada desde os tempos mais remotos até o século XXI, analisando cada uma das formas de modelar roupas até se tornarem as técnicas mais conhecidas; averiguar os benefícios do uso do computador na construção dos diagramas
6 de moldes e no auxílio do corte de peças em grandes quantidades; enfatizar a importância do profissional modelista dentro do processo de desenvolvimento de produto, onde apesar de todo o avanço tecnológico ele é indispensável para que tudo ocorra de forma esperada. Logo, a importância desta pesquisa justifica-se no fato de haver uma necessidade de serem articuladas ideias e informações acerca da modelagem enquanto fator decisivo no processo de desenvolvimento de produtos do vestuário. Além de destacar a importância e as vantagens do uso de ferramentas tecnológicas no setor de modelagem em empresas de confecção atualmente. Com base nisso, é fundamental ressaltar que com o mundo em constante avanço tecnológico e a intensa aproximação dos processos produtivos com o advento da internet, a indústria brasileira de vestuário tem percebido o valor da tecnologia para manter-se firme no mercado mundial. A respeito disso, Dinis e Vasconcelos enfatizam que “[...] o desenvolvimento de produtos de vestuário no Brasil vem sendo tratado de forma mais profissional nos últimos anos [...]” (2009, p.72) e as empresas têm dado um enfoque maior às questões de design, qualidade e conforto. Isso ocorre devido à grande concorrência de produtos importados de países como a China que dispõem de tecnologias avançadas nas etapas de modelagem, corte e montagem de seus produtos que consequentemente terão um custo muito inferior se comparado aos nacionais. Porém, apesar das dificuldades, nota-se que a indústria de vestuário brasileira é considerada um polo criativo emergente até mesmo num contexto internacional. Por esse motivo, é de suma importância que o profissional de modelagem sempre busque conhecimentos para a sua qualificação. Pois a capacitação deve ser algo constante e é preciso que os profissionais e empresas deste segmento estejam receptíveis às mudanças, tanto no que se refere aos métodos de criação, quanto às formas de se produzir. Nesse sentido, o crescimento do mercado de moda exige grandes reformulações nas estruturas de trabalho, bem como um aprimoramento maquinário. A modernização, por sua vez, tem contribuído muito para os processos produtivos na tentativa de proporcionar eficiência, agilidade e qualidade a todas as etapas. Visto isso, no que se refere à complexa indústria de vestuário, um dos setores que mais se beneficiaram dos avanços da Tecnologia de Informação foi o setor de modelagem com o auxílio de ferramentas e recursos informatizados, que surgem para dar um grande suporte aessa etapa tão intrínseca ao campo de design de moda. 1 O SURGIMENTO E A EVOLUÇÃO DA MODELAGEM NA HISTÓRIA
7 A modelagem surgiu quando o homem teve a ideia de moldar a pele do animal para se vestir, na tentativa de fazer com que ela se tornasse um escudo, adorno ou simplesmente um status de força perante os demais. “As roupas surgem como uma das soluções para adaptar o ser humano ao meio ambiente [...]” (VELOSO, 2011, p.14). Em vista disso, o primeiro material utilizado pelo homem para a confecção de suas vestes foi a pele do animal, que após certo período endurecia e lhe dificultava os movimentos do corpo, além de não cobri-lo confortavelmente. Foi então que o homem viu que era preciso arranjar meios de dar forma a essa pele, tornando-a maleável. Para isso, várias tentativas foram feitas até se chegar à técnica de curtimento3 do couro, processo vigente até os dias atuais (LAVER, 2010). Logo que a técnica do curtimento se mostrou eficaz, as peles podiam ser cortadas e moldadas com mais facilidade. Junto a isso, tem-se o surgimento da agulha de mão, feita com ossos de animais. Segundo Laver, “Essa invenção tornou possível costurar pedaços de pele para amoldá-los ao corpo.” (2010, p.10-11). Este feito deixa claro que a partir do momento que o homem molda a pele do animal com a técnica do curtimento e tenta unir as partes através de costuras, ele está praticando a modelagem, mesmo que de maneira rudimentar. Portanto, esta tarefa constitui-se como a primeira manifestação de modelagem na história. Em ordem cronológica, com o passar do tempo e devido ao sedentarismo, os homens primitivos estabeleceram seu rebanho num local fixo, onde iniciaram o cultivo de plantações de linho, cânhamo e algodão, cujas fibras proporcionaram a fabricação de tecidos maleáveis e mais adaptáveis ao corpo. Dos primeiros teares, se obtiveram então tecidos em forma de retângulo que enrolados em volta da cintura formavam uma espécie de saia, que foi sendo aperfeiçoada e reinventada para ambos os sexos (DUBURG, 2012). Na tentativa de aperfeiçoar este procedimento, os gregos antigos desenvolveram a habilidade em drapear tecidos de diversos tamanhos em volta do corpo, ao unir as partes com fitas, costuras ou broches. As técnicas acabaram sendo disseminadas também entre os romanos e egípcios e podem ser consideradas hoje como moulage, pois “[...] não existiam moldes para as roupas […]. Os tecidos eram trabalhados diretamente sobre o corpo do usuário” (DINIS; VASCONCELOS, 2009, p.62). O que deixa claro que não existiam regras matemáticas ou métodos pre-estabelecidos. Simplesmente usava-se a intuição e deixava-se o tecido fluir sobre o corpo. Os resultados foram vestes que adquiriam formas e caimentos surpreendentes que marcaram toda uma estética das grandes civilizações do mundo ocidental. Em contrapartida, durante muito tempo na história da humanidade não houve uma 3 Técnica de amaciamento do couro obtida com o uso de ácidos extraídos das cascas de árvores como salgueiro e o carvalho (LAVER, 2010).
8 diferença clara entre o vestuário masculino e feminino. Somente no século XIV, começavam a surgir indícios de definição, pois neste momento o vestuário adquiria formas específicas de acordo com o gênero. Laver (2010) comenta que com as novas técnicas de modelagem era possível criar detalhes nas peças com pregas e nesgas, o que proporcionou certa divergência entre a aparência feminina e masculina. Posteriormente, no século XV, as Grandes Navegações acabaram contribuindo muito para a fomentação de práticas comerciais na Europa, onde o crescimento urbano foi intenso. Do Oriente foram levados para lá tecidos e peças prontas, que se tornaram verdadeiras fontes de inspiração e referências para os artesãos que se formavam nos burgos ou cidades medievais. A partir daí, surgem as guildas4 de alfaiates (fig. 01), que nada mais eram do que oficinas de confecção de roupas: Nelas os homens desenhavam, tiravam medidas, cortavam e ajustavam as roupas ao corpo, ou seja, eram os homens que detinham todo o conhecimento tecnológico nos mais diversos ofícios, o que permaneceu assim por muitos séculos, pois se considerava que as mulheres não tinham capacidade criativa para lidar com tecnologia, e sim, para a arte de ornamentar (Apud DIAS; VASCONCELOS, p.65). Figura 01 – Guilda de Alfaiate na Idade Média
Fonte: Site The Thomas More College of Liberal Arts
Diante disso, Dinis e Vasconcelos (2009) comentam que houve uma época em que 4 Corporações de ofícios vigentes na Idade Média. Exemplos: sapateiros, ferreiros, artesãos etc.
9 apenas os mestres alfaiates detinham o conhecimento de modelagem e costura das roupas. Somente no início do século XVIII começavam a surgir as guildas de modistas na medida em que as roupas femininas adquiriam novas formas, volumes e ornamentos. Entretanto o alfaiate continuava com a sua posição de destaque na confecção de vestimentas mais elaboradas e a alfaiataria se tornou uma verdadeira ciência com o advento da Revolução Industrial. Antes da Revolução Industrial, tudo era produzido manualmente: desde a fabricação do tecido até o produto final, não existindo nenhum auxílio de máquinas ou aparelhos, o que tornava a produção bastante limitada, realizada apenas por artesãos e alfaiates. Entretanto, graças à invenção da fita métrica, do busto manequim e da máquina de costura, o modo de fazer as roupas foi reestruturado, o que acabou contribuindo para certa aproximação das classes. Com relação às brilhantes invenções dessas ferramentas, Dinis e Vasconcelos (2009) comentam que as mesmas foram decisivas e marcaram para sempre o fazer das roupas. Nesse sentido, os modos de produção do vestuário mudam drasticamente com a Revolução Industrial, influenciados pela explosão demográfica em centros urbanos como Londres, na Inglaterra, onde as pessoas saíam do meio rural em direção às grandes metrópoles na busca de melhores condições de vida. Consequentemente essas pessoas, ao se estabelecerem por lá, sentiam a necessidade de terem um vestuário pronto e de preço acessível que pudesse suprir suas necessidades básicas: pudor e proteção (LAVER, 2010). Com a produção de vestuário a nível industrial, há uma padronização de produtos em linhas de montagens que permite uma redução em seus custos e o que acaba facilitando a aquisição à massa de consumidores. Entretanto, Jones (2011) ressalta que nesse período da história apenas roupas funcionais masculinas como uniformes militares e de trabalho eram produzidas em série nas fábricas de confecção. A roupa feminina, devido a sua complexidade ainda era feita sob medida pelas mãos de habilidosas costureiras, o que evidentemente se configurava como um serviço demasiado caro. Portanto não existiu até o final do século XIX roupa feminina pronta pra vestir. Enquanto isso, na Inglaterra a modelagem se manteve em constante aprimoramento, sendo aperfeiçoada pelos mestres alfaiates. Estes procuravam conhecimentos cada vez mais exatos acerca das medidas do corpo humano e assim foram capazes de lançar as primeiras bases da antropometria5. O que atingiu de maneira positiva a indústria do vestuário, agora prestes a produzir também peças para o público feminino (JONES, 2011). De acordo com Dinis e Vasconcelos, no final do século XIX, “[…] roupas prontas 5 Ciência que estuda as medidas do corpo humano ou as suas partes.
10 femininas de boa aparência se tornaram disponíveis em lojas de departamento” (2009, p.68). E aproximadamente em 1901 as peças já estavam mais justas, com dimensões e quantidade de tecido reduzidas, o que prova que a virada de um século para outro é um momento de mudanças bruscas, quebras de paradigmas e inovações. No entanto, “O avanço foi mais acelerado na América e mais lento na conservadora Europa” (ORSI; CARMO, 2015, p s/n). Com relação à produção nacional de vestuário nesse período, Beduschi e Italiano comentam que: “No Brasil no período anterior às guerras, existem lacunas documentais, quanto às confecções [...]” (2013, p.4). O que se sabe é no início do século XX a produção de vestuário era limitada e concentrada centros urbanos onde existiam colônias de europeus, em especial ingleses e franceses. Aos poucos surgiam nesses lugares pequenas fábricas de tinta de tecido, crinolina6 e metal, que somadas a uma tímida indústria de mídia impressa deram início produção de roupas com manifestação de moda (ORSI; CARMO, 2015). Posteriormente, o período que compreende os anos 1910 até 1920 foi conturbado na história da Europa com a eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), momento em que a moda feminina sofreu nítidas influências do visual militar, a ideia do vestuário masculino foi valorizada e era preciso que as roupas femininas fossem, antes de tudo, funcionais. Porém, quando a guerra termina, a Europa vive um momento de euforia e as pessoas tinham ânsia por viver e aproveitar ao máximo o presente. Surge então uma verdadeira reviravolta na moda entre os anos 1920 e o final dos anos 1930, período em que a silhueta feminina varia consideravelmente e provoca desde escândalos públicos até o estabelecimento de leis devido à ousadia das mulheres em encurtar suas saias (LAVER, 2010). Nesse período, é importante levar em consideração as contribuições da estilista Madeleine Vionnet, cujas criações foram revolucionárias para a época e são bastante relevantes para a moda hoje. Seu trabalho foi inovador ao fazer uso da técnica de modelagem tridimensional conhecida como moulage. Vionnet inventou o famoso método de corte no viés do tecido e utilizou o recurso em veludos, cetins de seda e em novos tecidos sintéticos da época. Nesse sentido, a estilista “[...] foi uma revolucionária em seu tempo, e o visual que criou acabou sendo popularizado pelas estrelas de Hollywood nos anos 1930 - [...] [já que] as roupas cortadas em viés refletiam a luz e fotografavam bem” (JONES, 2011, p.190-191). Logo as suas criações chamavam a atenção do público feminino, cada vez mais receptível às mudanças e às novas propostas de silhuetas. Todavia, no final dos anos 1930, a Europa viu novamente a moda sofrer impactos 6 Armações usadas sob a saias para lhes conferir volume (LAVER, 2010).
11 estéticos e econômicos, pois: “Durante a Segunda Guerra Mundial, o comércio na Europa foi interrompido, e todos os recursos de manufatura disponíveis foram usados para produção relacionada à guerra” (JONES, 2011, p.70). Essa situação durou até meados da década de 1940, e qualquer produção de vestuário era rigorosamente controlada, pois havia um intenso racionamento de tecidos e materiais. Logo a moda voltou a ter um visual sóbrio e funcional com influências militares. Contudo, em 1947, após o término da Segunda Guerra Mundial, há uma intensa valorização do glamour feminino pela Alta-Costura e um vestido ou saia leva metros de tecido para ser confeccionado. Também é importante destacar que nessa época a técnica de moulage era bastante explorada pelos estilistas em voga, com destaque para Christian Dior (fig. 02). “Durante o auge da alta-costura [...] criações fabulosas foram produzidas e a moulage foi usada em praticamente todos os atêlies dos grandes mestres” (DUBURG, 2012, p.15). Figura 02 – Dior e a técnica da moulage na criação de glamourosos vestidos
Fonte: Site Pinterest
Em sequência cronológica, a segunda metade do século XX foi marcada por grandes transformações no setor industrial de vestuário e paralelo a isso, tinha-se o surgimento de novos estilistas, cada vez mais ousados e focados no mercado de produção em série. Com relação ao Brasil, Beduschi e Italiano (2013) comenta que somente a partir dos anos 1950, com as exigências do pós-guerra, as indústrias nacionais começavam a dar sinais de avanço, o que proporcionou a introdução de novos métodos de trabalho e adequação de maquinário, com o objetivo de que as roupas se tornassem mais acessíveis à massa de consumidores, cada
12 vez mais ávida pelas novidades dos novos tempos. Em vista disso, as mesmas autoras também ressaltam que o consumidor agora se volta à roupa ready-to-wear ou pronta para-vestir, cuja concepção se dá através da modelagem plana a partir dos moldes bases. Por isso, devida à grande demanda de mercado, fomentada principalmente pelo público jovem, no decorrer dos anos 1960 há um aumento significativo na produção de vestuário e “o fazer roupa” acaba se tornando uma tarefa viável até mesmo em um ambiente doméstico. Para compreender melhor esse fato, Soares faz uma análise interessante que supostamente abrange não só anos 1960, mas também toda a década de 1970: A aprendizagem e as novas técnicas de modelagem começam a estruturar-se de forma mais sistemática e de acordo com as exigências dos novos tempos. Ampliam-se as publicações de revistas com vários conceitos de moda, novas tendências e modelos acompanhados pelas suas respectivas modelagens, para serem reproduzidas de forma prática, em vários tamanhos e acessíveis às pessoas que tenham o conhecimento mínimo na arte de corte e costura (2009, p. 243).
Posteriormente, a partir dos anos 1980 as mulheres adquiriram certo conhecimento das técnicas de corte e costura, e assim podiam arriscar na elaboração da modelagem de suas próprias roupas. No Brasil, inclusive, o ensino de modelagem era ministrado em cursos com metodologia internacional, e os mesmos eram aplicados em igrejas ou algumas instituições. Além disso, a década conhece um enorme crescimento na indústria de vestuário, que culmina em um número cada vez maior de cursos voltados à especialização das novas técnicas informatizadas de produção (DINIS; VASCONCELOS, 2009). Devido aos avanços tecnológicos e ao aceleramento das etapas produtivas, a década de 1990 começou com mudanças significativas tanto no âmbito cultural como tecnológico: processos de graduação de moldes e corte das peças começavam a ser feitos por sistemas computadorizados. O que se configura como uma grande evolução, não só para a indústria de vestuário, mas para a moda (OLIVEIRA, 2013).
13 2 MODELAGEM: CONCEITO, PROFISSÃO E AS TÉCNICAS TRADICIONAIS De maneira sucinta, pode-se afirmar que a modelagem é a única técnica capaz de fazer o intermédio entre a etapa criativa e a etapa de concepção de uma roupa. Somente com a modelagem, os tecidos conseguem sair de seus meios planos para adquirirformas diversas sobre o corpo. O que pode resultar, muitas das vezes, em roupas encantadoras. Nesse sentido, quando nos deparamos com a exposição de roupas em lojas, sejam modelos em série, seja um modelo único e conceitual, nem nos damos conta dos inúmeros processos que cada uma das peças percorreu até chegar ao seu ponto de venda. Nesse sentido, Quando as pessoas vestem roupas, não têm noção do que se passou antes que fossem roupas. Elas não têm a experiência dos intrincados estágios iniciais da construção, da escolha do tecido e do desenho e arranjo das peças do molde, da sensação de cortar o tecido, do encaixe dos componentes abstratos e da construção da roupa final. (Apud VELOSO, 2011, p. 75).
Essa reflexão evidencia a complexidade da indústria de confecção de vestuário, composta por setores que se relacionam num ciclo contínuo e dentre os quais a modelagem tem papel de destaque, pois se configura como o único recurso que permite que um material plano como o tecido se transforme em roupas capazes de se adaptar as formas tridimensionais do corpo humano. Treptow afirma com propriedade que: “A modelagem está para o design de moda assim como a engenharia está para a arquitetura” (2013, p.151). Desse modo, subentende-se que sem uma prévia execução da modelagem com testes e eventuais ajustes, torna-se impossível a concepção da peça proposta e futuramente uma coleção de sucesso. Destarte, na etapa de modelagem devem ser articulados todos os tipos de informações e recursos que, posteriormente, possam facilitar na fabricação dos produtos em escala industrial. Menezes e Spaine relatam que devem ser analisados “[...] as formas, volumes, caimento, [...] que se configuram ao redor do corpo [...]”(2010, p.83), se atentando principalmente aos seus movimentos. Além disso, deve-se realizar um estudo satisfatório no modelo a ser desenvolvido de forma que sejam analisados não só a viabilidade de produção, mas também as necessidades de conforto, durabilidade e funcionalidade. Com base nisso, Araújo define a modelagem como “[…] a arte de confecção de moldes a partir de um modelo preestabelecido” (1996, p.93). Ou seja, de maneira geral, a modelagem pode ser definida como um procedimento que consiste em traçar no papel, no tecido ou na tela de um computador, os moldes de uma peça de vestuário, que depois de transferidos para o tecido, cortados e unidos através de costuras resultam numa roupa pronta. Assim, para a realização de tal feitio, existem diferentes métodos de confeccionar moldes e cada um deles tem a sua devida importância no processo de “fazer” roupas. O que deve-se
14 prezar é que o método escolhido esteja de acordo com segmento de vestuário em questão, atendendo às necessidades da marca ou empresa. Por conseguinte, o método de modelagem utilizado por uma indústria de confecção vai depender do seu porte, do seu volume de produção e até do tipo de roupa que ela confecciona. Dessa forma, as principais técnicas de modelagem utilizadas pela atual indústria de vestuário são: a modelagem plana através de diagramas bidimensionais; a modelagem tridimensional, conhecida como moulage ou drapping; e a modelagem informatizada com recursos de softwares7 CAD - Computer Aided Design que na tradução livre significa desenho ou projeto assistido por computador. Cada uma das técnicas citadas tem as suas peculiaridades, vantagens e desvantagens. Bem como a sua devida importância enquanto ferramenta de desenvolvimento de produto. Inclusive, atualmente é comum na indústria de moda a utilização de dois ou três métodos de modelagem conjuntamente. O que pode resultar em produtos de moda inovadores, tanto em questões de design, quanto de qualidade e conforto (JONES, 2011). No entanto, para que esses produtos sejam concebidos de forma efetiva, é preciso ter a disposição um bom profissional de modelagem que esteja apto a lidar com as diversas ferramentas que se encontrem a sua disposição, sejam tradicionais, sejam informatizadas. 2.1 Modelista: O engenheiro da moda Segundo Araújo, os modelistas são “[…] intérpretes de uma linguagem muito especial, baseada em desenhos e anotações de estilista [...]” (1996, p.92). O modelista deve ter a habilidade e capacidade técnica necessária para confeccionar moldes de modelos que inicialmente são apenas ideias, representadas por meio de esquemas que podem ser desde croquis estilizados até desenhos técnicos. “Cabe a interpretação de modelistas aproximar o desenho do designer de moda às medidas desenvolvidas na modelagem [...] com base nas medidas de um corpo humano real” (SOARES, 2011, p.51). Woltz, S. e Woltz, A. (2006, p s/n) pensam da mesma forma quando salientam que é imprescindível ao modelista noções de ergonomia e morfologia, pois é necessário que os moldes confeccionados satisfaçam as necessidades de conforto e usabilidade do produto final. Com base nisso Menezes e Spaine (2010) comentam que é preciso que o modelista, por meio das criações do designer, consiga desenvolver moldes de produtos que atendam aos desejos
7 Programas que comandam todo o funcionamento de um computador.
15 estéticos, funcionais e emocionais dos consumidores. O que pode ser facilmente alcançado caso o seu trabalho esteja alinhado com as ideias do estilista. Dessa forma, o modelista se configura como um profissional bastante relevante para a indústria de moda atual, pois ele é único responsável por fazer a mediação entre a etapa criativa e a etapa produtiva (MENEZES; SPAINE, 2010). A propósito Woltz, S. e Woltz, A. (2006) salientam a importância do envolvimento do modelista com a rotina da empresa, pois essa aproximação é vista com um fator positivo que contribui nos processos de prototipagem e, posteriormente, no corte das peças para a produção. 2.2 Modelagem plana: A modelagem bidimensional A modelagem plana está baseada e fundamentada em pesquisas de proporção do corpo humano, conhecidas como antropometria. O principal responsável por esse estudo foi o francês Guglielmo Compaign com o estabelecimento das primeiras ‘Tabelas de Medidas’, que ganhou força com o lançamento de sua obra intitulada ‘A Arte da Alfaiataria’ em 1830, cujo impacto foi a revolução das técnicas de modelagem por toda a Europa (SOARES, 2009, p. 243). Os princípios da modelagem plana se baseiam na geometria para a realização do traço dos diagramas bidimensionais em um plano. Esse plano mais tarde se transformará em moldes, nos quais há inúmeros posicionamentos de linhas verticais e horizontais formando ângulos que “[…] se relacionam com o plano de equilíbrio do corpo, simetria, alturas, comprimentos e relações de proporções entre as partes” (MENEZES; SPAINE, 2010, p.86). Dessa forma, os traços não são aleatórios nem estéticos, mas obedecem a um padrão lógico e matemático que precisam ser cuidadosamente analisados pelo modelista. À vista disso, pode-se afirmar que a modelagem plana é responsável por materializar a ideia do produto num plano, englobando atividades diretamente ligadas à elaboração e confecção dos moldes (MENEZES e SPAINE, 2010). Podemos comparar os moldes a um quebra-cabeça ou a uma planta de uma construção que envolve matemática e lógica. Portanto é preciso que todas as medidas estejam corretas para que tudo se encaixe perfeitamente. 2.2.1 Moldes Base: O ponto de partida Para a concepção de moldes, existe inicialmente os moldes base, que consistem em moldes simples, sem estilização ou margens de costura. Estes se configuram como o ponto de partida para a construção dos moldes de modelos diversos, através dos quais o modelista faz as modificações e manipulações até obter o diagrama da peça proposta. Assim, quando trata-
16 se de elaborar moldes para uma coleção ou até para uma única peça de vestuário, é importante ressaltar que os mesmos não são feitos de maneira aleatoria, tão pouco partem do zero. “O desenvolvimento de moldes estilizados requer atenção aos detalhes e elevado rigor” (ARAÚJO, 1996, p.98-100), além de que as proporções dos moldes base devem ser mantidas. Para exemplificar, tomemos como referência a confecção de um molde de saia: o molde básico pode ser transformado em diversos modelos de saias através de ajustes e refinamentos, contanto que se preservem as medidas e proporções dos traços do molde inicial (fig.03). Figura 03 – Molde de saia frente e costas com sua transformação para saia evasê.
Fonte: Adaptado de FULCO; SILVA 2011, p.20-21
De acordo com Dinis e Vasconcelos (2009), o conjunto de moldes bases é composto por base de saia, base de blusa, base de manga e base de calça. Dessa forma, “ [...] se os moldes base forem perfeitos e o modelista os utilizar sempre como fonte para a criação dos moldes para os seus modelos, será possível conseguir consistência de medidas e proporção dos novos produtos criados” (ARAÚJO, 1996, p.96). O que aponta para certa padronização, a fim de que não ocorra divergência nas medidas e nos encaixes dos modelos. Ainda com relação à elaboração de moldes, existe um procedimento bastante relevante nesse processo, o qual “[...] consiste em criar os moldes para os vários tamanhos, utilizado regras de graduação [...] [que por sua vez] são instruções precisas que definem o afastamento vertical e horizontal dos pontos de graduação para cada tamanho” (ARAÚJO, 1996, p.92). As regras de graduação são obtidas a partir de uma tabela de medidas e deve obedecer rigorosamente às regras de proporção. Novamente o molde base tem papel de destaque nesta etapa, pois é a partir dele que são gerados os demais tamanhos.
17 2.2.2 Tabela de medidas: Os parâmetros métricos Dinis e Vasconcelos afirmam a importância da proporção quando abordam que “[...] a modelagem exige precisão matemática, que pode ser fornecida por uma tabela de medidas do corpo humano […]”(2009, p.74). Essa tabela fornece as medidas – geralmente em centímetros – das principais partes do corpo, como por exemplo: circunferência de busto, cintura e quadril; comprimento de ombro, costas e pernas etc. Logo, uma tabela de medidas usada como parâmetro por uma empresa de confecção deve estar de acordo com as medidas do público-alvo para o qual o vestuário é direcionado, em conformidade com seu biótipo. As tabelas de medidas (tabela 01) são estabelecidas através de um procedimento que consiste em tirar as medidas de um determinado número de pessoas com uma fita métrica. Das medidas obtidas se calculam médias que se agrupam em determinadas nomenclaturas de tamanhos como por exemplo P, M, G ou 38, 40, 42 (DINIS; VASCONCELOS, 2009). Por conseguinte, há diferentes tabelas de medidas de acordo com o país, região, faixa etária e até gênero, visto que os tipos físicos variam consideravelmente de pessoa para pessoa. Tabela 01 – Exemplo de uma tabela de medidas
Fonte: Adaptado de DINIS; VASCONCELOS, 2009, p.74
Conforme relata Woltz, S. e Woltz, A: “No Brasil as medidas referências [...] padronizam circunferências das partes do corpo para cada tamanho e são apresentadas na norma NBR 13377 da Associação Brasileira de Normas e Técnicas – ABNT” (2006, p. s/n). Já em nível mundial, a tabela de medidas é regida pela ISO - International Standartization Organization, a qual Araújo defende quando aborda que: “Com a globalização da economia torna-se importante que haja normalização a nível mundial, sendo desejável a aceitação de normas internacionais [...]”(1996, p.91). Logo, subentende-se que a depender do produto e do mercado da marca, é interessante que seja seguida uma tabela universal de medidas, de modo que as roupas serão usáveis em qualquer parte do mundo, facilitando dessa forma a sua produção e comercialização.
18 Com base nessas considerações, vários autores salientam a importância da tabela de medidas para a construção das bases de modelagem e posteriormente a produção de roupas em escala industrial. Logo, se vê que trata-se de uma ferramenta indispensável para o setor de modelagem, pois se caracteriza como um norte no estabelecimento de medidas em diversos tamanhos de forma que atenderá a diversos tipos físicos (ARAÚJO, 1996; DINIS; VASCONCELOS, 2009; FULCO; SILVA, 2011, ALDRICH, 2014). 2.2.3 O corpo Pode-se afirmar que o principal foco da modelagem é o corpo. Por esse motivo, Menezes e Spaine ressaltam que: “O processo de elaboração de um molde consiste numa fase que envolve os estudos dos fatores ergonômicos, da antropometria e o conhecimento do corpo do usuário” (2010, p. 83). Logo, devem ser analisados as formas, medidas e movimentos do corpo humano, acima de qualquer apelo estético. Para complementar, Veloso salienta que: “A roupa só adquire sua forma definitiva quando vestida [...]” (2011, p. 22). Nesse sentido, Araújo (1996) toca num ponto interessante quando aborda que moldes e tecidos são bidimensionais, ou seja, constituem-se apenas de comprimento e largura. E a peça, depois de montada, possuirá uma terceira dimensão que é a profundidade. Nesse caso torna-se um trabalho cauteloso se pensar nas pinças que serão inseridas nos moldes, a fim de controlar volume, acomodar saliências e pontos de articulação. Dessa forma, é de suma importância que todas as ideias e procedimentos sejam avaliados no decorrer da execução da modelagem, pois durante a produção industrial não será possível efetuar correções por falhas já que neste momento várias peças terão sido cortadas e encaminhadas para o setor de costura, onde “[...] não há mais retorno possível, a não ser que se refaça o molde e a peça piloto” (MENEZES; SPAINE, 2010, p.85-86). Evidentemente um fato como esse acarreta num desperdício de matéria prima, bem como um empecilho para o bom fluxo de trabalho entre os setores de modelagem e corte numa empresa. Um ponto fraco da modelagem plana é a distância da matéria têxtil, pois após os moldes serem cortados no tecido, estes podem se comportar de maneira particular e até inesperada a depender de suas características. Devido a isso, Aldrich (2014) ressalta a importância da construção de moldes também no tecido, pois em certos casos ,a depender do grau de elaboração de um modelo, é necessário que os moldes sejam conferidos sobre um corpo tridimensional. Com isso, a mesma autora destaca que: “Modelos aparentemente aceitáveis no papel podem parecer feios e distorcidos nas curvas do corpo ou do manequim” (2014, p.86). Dessa forma, é necessário que os traços do molde sejam feitos sobre o toile, que
19 nada mais é do que um protótipo inicial onde é possível visualizar antecipadamente o caimento da peça e fazer os ajustes e correções necessárias. No entanto, este procedimento é típico da moulage, técnica a qual será abordada no próximo subtópico. 2.3 Moulage/Drapping: A modelagem tridimensional A técnica de modelagem tridimensional é conhecida pelo termo francês moulage e em países de língua inglesa, é denominada drapping. Segundo Jones, “Moulage é esculpir com tecido” (2011, p. 187). Pode ser considerada como a forma mais artística de modelar roupas e se estabeleceu como técnica no início do século XX em Paris com a astúcia de Madeleine Vionnet, uma renomada costureira e modelista francesa que percebeu que o tecido tinha uma terceira dimensão, além do comprimento e da largura: o viés, cujo caimento criava efeitos de fluidez ao longo do corpo feminino (fig. 04) (OLIVEIRA, 2013). Sobre o viés, temos o seguinte conceito: O viés é o sentido diagonal do tecido (45 graus de ourela). Essencialmente, tecidos cortados em viés esticam, dão movimento à roupa e modelam a silhueta acompanhando os contornos do corpo. Um tecido todo cortado em viés cria bonitos ondulados quando vestido no corpo (JONES, 2011, p. 190). Figura 04 – Vestido com caimento fluído obtido através do corte em viés.
Fonte: Site Pinterest
20 Na moulage a construção do molde é feita com o tecido diretamente sobre o corpo de modelo vivo ou busto de manequim. Neste caso o molde é facilmente manipulado e vai se modificando de acordo com o grau de criatividade e até de inspiração do modelista. Figueiredo e Grimaldi (2015) frisam que essa técnica se afasta totalmente da planificação tradicional, pois o tecido sai da mesa para ser moldado num corpo tridimensional, seja ele humano, seja ele um manequim industrial (fig. 05).
Fonte: Adaptado de KIISEY, 2013, p.151
Duburg afirma que no processo de moulage, “Design e moldes são feitos simultaneamente [...]” (2012, p. 9). Portanto, ao fazer o uso desta técnica é preciso ter em mente que o tecido utilizado no procedimento tenha as características idênticas as do tecido do modelo idealizado, pois dessa forma evita-se divergênciasem medidas e caimento. A mesma autora ainda ressalta que “[...] vários tipos de tecidos já foram utilizados nessa técnica. Hoje, usa-se o algodão cru em suas diferentes gramaturas” (2012, p.9). Dessa forma, deve-se levar em consideração que o tecido tenha uma cor neutra e uma textura lisa, pois isso facilita o seu traçado sobre o corpo. Por esse motivo, Jones aborda que : “Tecidos brancos ou crus são mais fáceis de trabalhar que os estampados ou de cores escuras” (2011, p. 184).
21 Com relação ao tamanho do tecido usado no procedimento, este pode variar de acordo com o modelo a ser desenvolvido, tamanho do manequim etc. Dessa forma é importante que o modelista conheça bem as características dos tecidos com o qual trabalhará e identifique facilmente algumas questões importantes como:o sentido do fio e o sentido do viés (fig. 06). Pois ao iniciar o procedimento demoulage é preciso que o material esteja uniforme com as tramas e urdumes no lugar e para isso é necessário passar ferro sobre toda a superfície a fim de se eliminar vincos ou torções (JONES, 2011). Feito isso, o trabalho se inicia com a marcação de linhas horizontais e verticais fundamentais do corpo humano sobre o tecido a ser moldado, obedecendo sempre ao sentido do fio. Duburg (2012) inclusive aborda queo processo acontece de forma livre e intuitiva. Imagem 06 - Esquema dos sentidos do fio no tecido plano
Fonte: Arquivo Pessoal
A vantagem do uso do tecido é devida ao fácil manuseio e à manipulação que permite uma rápida visualização de caimento e volume antes da peça ser efetivamente costurada. Como técnica de trabalho, a moulage “se mostra rápida e eficaz, pois facilita o processo de criação e análise do produto durante o processo [...]” (SILVEIRA e CLASEN, 2014, p. 159). As mesmas autoras ainda ressaltam que: A técnica favorece a criação de roupas que fogem do padrão ou que sejam bem modeladas ao corpo […] com muitos recortes, volumes, [...] e formatos diferentes, estruturas com pregas, franzidos, dobras e torcidos, e qualquer outro detalhe que é mais facilmente visualizado sobre o manequim (2014, p.159).
Por outro lado, Duburg (2012) defende que as técnicas de modelagem plana e moulage não se excluem. Em alguns casos, a depender do tipo de produto, é possível até mesclar as duas técnicas, cujo resultado tende a ser satisfatório. A mesma autora enfatiza que a técnica pode ser utilizada no processo de criação em vários setores da indústria de moda atual. Entretanto, Jones (2011) ressalta que o segmento de moda mais adepto a este recurso continua sendo a Alta-Costura, devido à exuberância e a complexidade de seus modelos.
22 “No Brasil, somente há alguns anos, a técnica tem despertado o interesse dos profissionais da moda e das empresas do vestuário” (SILVEIRA; CLASEN, 2014, p.153). O que aponta para uma maior valorização da técnica pelos designers brasileiros, pois por ser muito interativa e dinâmica, a técnica possibilita infinitos meios de explorar as propriedades dos tecidos. Sendo considerada, portanto, “a forma de criação que melhor conversa com nosso tempo” (SALEH; FOLLE, 2015, p.132). Com relação à aplicação da técnica de moulage em indústrias de vestuário, Silveira e Clasen (2014) revelam que o procedimento pode ser utilizado no desenvolvimento do protótipo, e logo em seguida transferem-se todas as marcações do toile para o molde de papel, que posteriormente será digitalizado, vetorizado e devidamente arquivado. No entanto, são poucas as empresas de confecção que utilizam essa técnica, visto que existem os moldes base que podem ser facilmente manipulados pelo computador usando softwares CAD.
23 3 A MODELAGEM INFORMATIZADA DO SÉCULO XXI Uma vez que as siglas CAD e CAM se mostram tão presentes nas indústrias brasileiras de vestuário, torna-se de fundamental importância entender os seus significados: O termo CAD (Computer Aided Design) se traduz como “projeto assistido por computador” e foi utilizado pela primeira vez por um pesquisador americano chamado Ivan Sutherland nos anos 1960. Já a sigla CAM (Computer Aided Manufacturing) pode ser traduzida como “fabricação assistida por computador” e surgiu no final dos anos 1940 (MARTORELLI, 2013). As duas siglas juntas representam uma tecnologia que integra dois recursos num sistema completo, que possibilita projetar o produto na tela de um computador e transmitir as informações necessárias sobre ele através de interfaces8 de comunicação, de modo que há uma interatividade entre o computador e o sistema de fabricação (ALDRICH, 2014). O surgimento dessa tecnologia ocorreu no início dos anos 1950 quando os computadores eram projetados no intuito de serem um auxílio para as engenharias através da criação de gráficos monocromáticos. Entretanto com o passar do tempo, outras áreas como o design tiraram proveito dessa ferramenta, tendo em vista os benefícios proporcionados. Oliveira afirma que: “Com o auxílio das tecnologias CAD/CAM, o designer tem controle da informação, desde a concepção do projeto até a sua fabricação” (2013, p.32-33). A utilização desses recursos já foi bastante limitada às empresas de grande porte por se tratar de um sistema oneroso, tanto no que se refere à aquisição, quanto à manutenção e treinamento de pessoas. Dinis e Vasconcelos ressaltam que em meados da década de 1990, quando os softwares CAD começavam a ser introduzidos no Brasil, eram viáveis apenas para “[...] um grupo específico de empresas, que produziam acima de um determinado valor de produção, pelo custo implicado na aquisição deste tipo de equipamento” (2009, p.103). No entanto, essa situação começou a mudar ao final dos anos 1990 e início do século XXI na medida em que surgiam novos avanços no campo da tecnologia da informação com melhorias de hardwares9 e com a introdução de computadores mais eficientes dentro dos processos criativos e produtivos. Nesse sentido, o sistema CAD/CAM abrange equipamentos específicos que “variam em sua estrutura e forma de armazenamento [...] mas todos estão aptos a acelerar o processo de desenvolvimento, graduação, encaixe e corte dos produtos [...]” (DINIS; VASCONCELOS, 2009, p.101). Em vista disso, os fabricantes dessa tecnologia tem desenvolvido softwares com um foco cada vez maior em indústrias de confecção, quer sejam 8 Ligação entre equipamentos que possuem diferentes funções. 9 Partes físicas de um computador. Ex: teclados, mouses, gabinetes etc.
24 grandes, quer sejam micros. Estes programas variam em seu nível de complexidade e custos a fim de atender aos diversos portes de empresas de confecção existentes no mercado. No entanto, todos têm uma finalidade em comum: facilitar e otimizar o processo de modelagem. 3.1 A modelagem informatizada com o recurso CAD Segundo Laver (2010), a construção de uma roupa se baseia em dois princípios básicos: a moulage (modelagem tridimensional) ou a modelagem plana (modelagem bidimensional). No entanto, a tecnologia tem proporcionado novos métodos de trabalho a serem adicionados as técnicas tradicionais. Nesse sentido, a modelagem informatizada, muitas vezes referida como modelagem plana industrial – se configura como um dos principais avanços, pois seu foco é conceber moldes de roupas que serão produzidas em série. Tudo isso num tempo infinitamente mais curto se comparado aos métodos manuais, sem deixar de lado questões de design e qualidade. De acordo com Dinis e Vasconcelos (2009), na modelagem informatizada os moldes são lidos como vetores10 na tela de um computador através de um software CAD, que varia em seu nível de complexidade e de acordo com o tipo de vestuário a ser desenvolvido. Com esse recurso o molde tanto pode ser traçado na tela do computador com o uso do mouse, como pode ser escaneado numa mesa digitalizadora, onde a imagem captada na tela é convertida em vetores (fig. 07). Aldrich explica detalhadamente este último procedimento quando aborda que: Se um molde foi elaborado de forma manual, normalmente, ele é digitalizado para o sistema. O molde é colocado na digitalizadora e o contorno [...] é inserido no computador por meio da identificação precisa do fim de linhas retas e pontos ao longo de linhas curvas. As dobras, o fio do tecido e a posição de piques [...] também são inseridos (2014, p.208). Figura 07 – Molde Digitalizado no Audaces Digiflash
10 Ligação de pontos que juntos formam desenhos através de coordenadas e medidas (SOARES, 2011, p.96).
25 Fonte: Site Audaces Vestuário
Por outro lado, caso o molde deva ser traçado diretamente na tela do computador, o sistema CAD dispõe de ferramentas que, somadas a outros recursos, são capazes de construir linhas, curvas e polígonos que se relacionam até formarem o diagrama de um molde pronto. O procedimento obedece rigorosamente a uma lógica matemática e geométrica. Nada é feito de maneira aleatória: no espaço da tela onde é traçado o desenho existem linhas cartesianas X, Y e Z que correspondem às medidas específicas representadas por grandezas de milímetros ou centímetros. Aldrich reforça que: “[...] os programas de modelagem são baseados em vetores, que registram e manipulam os dados na forma de coordenadas matemáticas” (2014, p.198). Dessa maneira, uma das vantagens da modelagem informatizada é que as medidas dos moldes são precisas e confiáveis, o que faz com que as chances de erros sejam reduzidas. Além disso, os softwares CAD possuem mecanismos rápidos que permitem o deslocamento de pences11, adição de pregas, volumes, margens de costura e identificações por tamanho e modelo. Sem contar que este recurso contribui consideravelmente na complexa etapa de graduação (fig. 08), que consiste em reproduzir um mesmo molde em diferentes tamanhos com base em medidas proporcionais. A respeito disso, Aldrich relata que: Diversas empresas de vestuário de pequeno porte não possuem expertise em modelagens ou graduação, de modo que empresas de software oferecem diversos moldes de roupas básicas [...] já graduados. Esse processo [...] é útil para empresas com linhas enxutas [...]” (2014, p.211). Figura 08 – Graduação no CAD
Fonte: Site Programas para Confecção
A partir disso, é interessante ressaltar que uma vez que alguma alteração ou correção é feita em um molde, a atualização é transferida automaticamente para todos os tamanhos 11 Prega irregular costurada do lado avesso da roupa que se estreita até desaparecer. Sua finalidade é eliminar folgas e ajustar a roupa ao corpo.
26 (CASAGRANDE, 2008). Logo, subentende-se que muitas empresas utilizam este recurso devido à agilidade que ele propicia nas etapas do processo. Pois quando trata-se de desenvolver modelos para a produção em escala industrial, é preciso atentar para questões de design e conforto, que só serão alcançadas através de uma modelagem de qualidade. Em contrapartida, Aldrich (2014) ressalta que a implantação do CAD em uma empresa pode acentuar “[...] a divisão entre a criação (etapa artística) e a modelagem (etapa técnica) de um produto de vestuário.” Logo, infere-se que o uso de ferramentas tecnológicas torna o processo de modelagem algo automático e equânime ao deixar de lado aspectos artesanais. Pois neste caso, a modelagem tem como único propósito a concepção de moldes para o corte em grandes quantidades com foco na exatidão de medidas das peças que irão permitir um melhor fluxo em processos posteriores que incluem: beneficiamentos (ex: estamparia, sublimação, bordados); costura e acabamento. Paralelo a isso, no que diz respeito a construção dos diagramas de moldes no CAD, ao passo que o molde base se constitui como um verdadeiro atalho na elaboração de moldes estilizados, na modelagem informatizada o papel dele é ainda mais conveniente e indispensável, pois através do software, a transformação pode ser feita com muito mais facilidade e praticidade. Além de que a elaboração completa de moldes para um modelo é realizada num tempo infinitamente mais curto se comparado aos métodos manuais (fig. 09). Figura 09 - Diagrama de saia vetorizado no CAD
Legenda: O molde base de saia (em azul) é transformado num molde de um modelo evasê. Fonte: Site Hitech Markers
Uma outra vantagem oferecida pelo CAD é que são eliminados problemas de falta de espaço para arquivar moldes de papel, visto que os mesmos deterioram-se com o passar do
27 tempo; com a adoção dessa ferramenta, os moldes ficam armazenados na memória do computador e são acessados de maneira rápida e prática (CASAGRANDE, 2008). Todavia, caso seja realmente necessário a materialização do molde no papel, o modelista poderá obter o molde físico através da plotagem da modelagem desejada. No que toca a questão de moldes materializados, Aldrich (2014) ressalta que existem empresas que apesar terem disponíveis recursos tecnológicos, continuam realizando alguns procedimentos de forma manual. Provavelmente isso ocorre por dois motivos: a empresa não dispõe de um profissional modelista apto a lidar com vetores na plataforma CAD ou o grau de complexidade do modelo exige que o molde seja feito por meio de métodos tradicionais, ou seja, traçado no papel ou no tecido e posteriormente digitalizado para o computador. Com relação a primeira hipótese, deve-se ressaltar que para um modelista executar corretamente o sistema CAD é preciso que ele tenha não só conhecimentos técnicos de modelagem, mas também saberes básicos de informática que facilitarão sua interação com o computador e as ferramentas oferecidas pelo software. Nesse sentido, Silveira e Silva enfatizam que: “O conhecimento dos modelistas e o constante aprendizado garantem que o potencial tecnológico seja usado totalmente. [o que depende de uma boa] formação profissional [...] e das experiências vivenciadas no chão de fábrica” (2011, p.13). Por outro lado, Araújo defende que: “A maioria dos modelistas [...] prefere conceber os moldes da maneira tradicional (papel, régua e lápis, etc.) digitalizando-os [...] para o computador” (1996, p. 138). Dessa forma, pode-se afirmar que a modelagem informatizada não anula as técnicas tradicionais, seja a modelagem plana, seja a moulage. Pelo contrário: muitas vezes existem diálogos entre as técnicas que, juntas, podem resultar em produtos que atendem perfeitamente às questões de design, conforto e inovação. Evidentemente o que almeja qualquer empresa de confecção de vestuário. Com base nessas considerações, Dinis e Vasconcelos (2009) comentam que a maior parte das indústrias de confecção do Brasil é composta por micro e pequenas empresas, por isso torna-se difícil encontrar um bom profissional modelista no mercado. Somado a isso, tem-se o fato de que este profissional encontra-se ainda pouco remunerado em algumas regiões do país, principalmente naquelas onde não existe a cultura de moda. Woltz, A. e Woltz, S. salientam que existe uma “[...] escassez desses profissionais no mercado.” (2006, p.s/n). O que aponta para certa valorização desses profissionais em regiões de polo confeccionista, onde existem empresas que tendem a adotar meios cada vez mais automatizados em seus processos produtivos. É neste ponto onde a tecnologia CAM se insere e onde a modelagem realmente se caracteriza como um processo industrial.
28 3.2 A relevância do sistema CAM na modelagem industrial O sistema CAM (Computer Aided Manufacturing), como o próprio nome sugere, está diretamente relacionado com a manufatura. Em outras palavras: com a fabricação. Este recurso está intimamente ligado ao CAD e nem se quer existe sem o mesmo. Souza e Coelho explicam que: “Finalizado o processo de modelamento do produto no sistema CAD, tem-se a transferência desta geometria para o sistema CAM, visando a geração de programas [...] para a manufatura” (2003, p.6). Logo, infere-se que o CAM executa o que o CAD projeta. Portanto, a ligação entre esses dois sistemas é bastante complexa, porém de extrema importância para empresas de confecção de porte elevado, onde peças de vestuário são produzidas em grandes quantidades diariamente. Consonante a essa abordagem, Veloso faz a seguinte reflexão: Do ponto de vista tecnológico, o modo de produzir roupas, tanto em termos estéticos quanto funcionais, foi se modificando atrelado às inovações dos materiais têxteis, às descobertas científicas e consequentes invenções de instrumentos e maquinários específicos para confecção (2011, p.14).
Tal pensamento evidencia o fato de que hoje as empresas de confecção prezam pela velocidade da produção e soluções tecnológicas voltadas a modelagem são bem aceitas. Nesse sentido, a tecnologia CAM, em conjunto com o CAD, oferece softwares que executam diversas tarefas relacionadasa concepção de moldes sobre o tecido e o corte. Desse modo, dentre os recursos oferecidos pelo CAM, temos a esquematização do plano de corte, que nada mais é do que um diagrama que ilustra a disposição de todas as partes componentes do molde sobre um plano (fig. 10). Esta prévia visualização fornece uma precisão da quantidade de tecido que o modelo consumirá, bem como uma análise da viabilidade de produção do mesmo, pois um modelo possui diversos planos de corte, na medida em que seus tamanhos variam consideravelmente (ALDRICH, 2014). Figura 10 – Plano de corte de um vestido
Fonte: Adaptado do site House of Pinheiro
29 Com base nessa abordagem, é importante frisar novamente que a aleatoriedade não está presente no processo de posicionamento dos moldes sobre o tecido. Para serem cortadas, as peças precisam estar alinhadas ao fio (fig. 11), a fim de que não haja problemas de costura e caimento (OLIVEIRA, 2013). Logo, este fator esbarra na questão do aproveitamento máximo de tecido. Pois, a depender do modelo, não será possível fabricá-lo em escala industrial, devido ao risco de desperdício. Dessa forma, é importante que o designer, ciente que seus modelos serão produzidos em escala industrial, já tenha em mente durante o momento criativo, outras etapas do processo, como por exemplo: a elaboração de uma modelagem que possibilite um encaixe perfeito das peças no plano de corte (FIRMO, 2014, p.2). Imagem 11 –Moldes de uma jaqueta alinhados ao fio do tecido
Fonte: Adaptado do site Cortando e Costurando
Por conseguinte, modelos que tenham muitos detalhes em recortes, curvas e exijam cortes no viés, precisam ser analisados cautelosamente pela empresa antes de serem produzidos (fig. 12). Pois o fato de o tecido ser uma matéria-prima cara, seu consumo por peça interfere diretamente no preço da roupa final e isso, de certo forma, influencia no sucesso ou fracasso dos produtos comercialmente. Imagem 12 – Moldes de um vestido com design diferenciado
Fonte: Site Shangai Layers
30 Em consonância a essa ideia, o sistema CAD/CAM realiza o procedimento de encaixe automático (fig. 13), que consiste num estudo minucioso do posicionamento de todas as partes do molde sobre um plano: “O comprimento da mesa de corte, a largura do tecido, o número e o tamanho das peças determinam o encaixe do plano de corte” (ALDRICH, 2014, p.212). Neste caso o CAM sempre busca a melhor alternativa de encaixe dos moldes e os fabricantes esperam o máximo de aproveitamento do tecido, pois ao fornecer a quantidade exata a ser consumida, o software tem como maior objetivo minimizar eventuais desperdícios. Figura 13 – Esquema de encaixe de moldes
Fonte: Site RZ CAD Têxtil
Ligado ao recurso do encaixe automático, temos o exemplo intrinsecamente industrial do CAD/CAM: o corte automatizado de peças em grandes quantidades. Esse procedimento se configura como o mais alto padrão de tecnologia voltado a confecção e é realizado por máquinas específicas (fig. 14) que possuem lâminas de corte computadorizadas, cujos custos são altíssimos e exigem um treinamento efetivo para as pessoas que irão operá-la. Portanto,é importante que haja profissionais plenamente capacitados para operar esses tipos de equipamentos, em vista dos aspectos demasiadamente técnicos que eles abrangem, além dos riscos que podem representar (ARAÚJO, 1996; DINIS; VASCONCELOS, 2009). Imagem 14 - Máquina de corte de alto padrão
Fonte: Site Lectra
31 Em vista disso, Martorelli comenta que: O maior entrave para que as empresas [brasileiras] possam se equipar com essa tecnologia continua sendo a alta carga tributária que incide na importação desses equipamentos. Podemos dizer que no Brasil os sistemas CAD já são aceitos, porém para as máquinas de corte ainda temos um longo caminho a percorrer até podermos nos comparar a países como China, Turquia e outros grandes produtores de vestuário (2013, p.50).
Em contrapartida, apesar do sistema CAM ter sido criado com o foco em grandes indústrias, atualmente existem diferentes níveis desse sistemas voltados para todo e qualquer porte de empresas de confecção, de forma que as necessidades de cada uma são devidamente atendidas. Nesse sentido, hoje os sistemas informatizados de modelagem não são mais recursos exclusivos de médias e grandes empresas, “[…] as micros e pequenas empresas também se beneficiam dessa ferramenta” (SILVEIRA; SILVA, 2011, p. 22). Isso ocorre devido à grande concorrência de mercado que existe entre as empresas desenvolvedoras de soluções tecnológicas, que com o objetivo de atingir e suprir as necessidades de pequenas confecções, buscam alternativas para conquistar essa parcela de mercado. Para isso lançam estratégias inteligentes como por exemplo: oferecem versões de softwares CAD/CAM com um nível mais simplificado e de menor custo. Consonantes a isso, Souza e Coelho salientam que: “Considerando que a tecnologia utilizada para o desenvolvimento de sistemas CAD/CAM esteja atingindo seu ápice, a interface homem-máquina passará a ser o diferencial na concorrência entre os fornecedores de softwares” (2003, p.8). Logo, a tendência é que esse sistema abranja também pequenas empresas de confecção, já que elas precisam se modernizar para se manterem ativas. Além disso, muitas empresas brasileiras contam com financiamentos que permitem uma reestruturação em seus ambientes fabris, especialmente nos setores de modelagem e corte onde são introduzidas ferramentas tecnológicas que correspondem às necessidades específicas de cada uma. Logo, o objetivo do CAD/CAM é proporcionar melhorias significativas na qualidade dos produtos e uma maior agilidade nos processos produtivos, em vista dos curtos prazos de entrega que devem cumpridos face ao ritmo acelerado do mundo globalizado em que os consumidores estão cada vez mais ávidos por novidades.
32 CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo desta pesquisa foi analisar as técnicas de modelagem mais utilizadas pela indústria de confecção ao longo do tempo. Para esse fim realizou-se um estudo abrangente sobre a modelagem enquanto etapa imprescindível no desenvolvimento de produtos de vestuário. Dessa forma, foi necessário verificar cada uma das técnicas tradicionais e mostrar de que maneira elas se relacionam com os métodos informatizadas do mundo moderno. O que levou a destacar as contribuições que a Tecnologia da Informação tem dado a este processo tão inerente ao campo de design de moda. O primeiro passo do trabalho se deu com uma análise histórica acerca dos fatos que contribuíram na arte de moldar roupas. Foi identificado que a modelagem surgiu de maneira intuitiva com o homem paleolítico, sem grandes pretensões; posteriormente os gregos, romanos e egípcios buscavam maneiras criativas de moldar o tecido (geralmente de linho ou algodão) em volta do corpo e deram os primeiros passos na técnica conhecida hoje como moulage ou drapping. Posteriormente, verificou-se que a modelagem plana se estabeleceu como técnica graças aos mestres alfaiates, que por dominarem com destreza as técnicas de corte e costura, foram os pioneiros na divulgação de livros e no estabelecimento de tabelas de medidas antropométricas. Relacionado a este fato conclui-se que a Revolução Industrial foi um divisor de águas e o avanço da produção em larga escala atingiu profundamente o setor de vestuário, onde era possível realizar a reprodutibilidade técnica dos produtos de moda. Nesse sentido, a revisão bibliográfica em conjunto com as interpretações de elementos visuais, permitiu que houvesse um maior entendimento acerca da modelagem tanto enquanto técnica, como enquanto forma de arte. Por esse motivo, ao finalizar essa pesquisa, foi possível concluir que assim como a maneira de se vestir muda com o passar do tempo, os métodos de produção do vestuário também. E da mesma forma que a moda muda por questões sociais e econômicas, a tecnologia e as ferramentas disponíveis para a confecção das vestimentas estão em conformidade com as mesmas mudanças. Porém, é importante salientar que uma mudança nunca acontece de maneira aleatória ou proposital. Por trás dela há sempre um motivo impulsionado por acontecimentos relevantes, seja no âmbito econômico, seja no âmbito científico ou tecnológico. Como exemplo podemos citar o uso de um recurso inovador voltado a engenharia ainda em meados da década de 1950 e que foi adequado brilhantemente ao campo da confecção de vestuário: O sistema CAD/CAM.
33 Dessa forma, pode-se inferir que cada vez que um método ou uma ferramenta se faz útil e proporciona benefícios intangíveis a alguma área específica, o mesmo é adequado e se torna indispensável. Há séculos isso ocorreu com a invenção da máquina de costura, e hoje ocorre o mesmo com o computador. Todavia, apesar de todo o avanço tecnológico e do surgimento de ferramentas cada vez mais eficientes, o fator humano nunca será dispensado. Por trás da tecnologia está a mente humana capaz de imaginar, projetar e criar produtos que tem por finalidade satisfazer os desejos dos consumidores. Logo, somente o homem detém a criatividade e a inspiração necessária para a busca de soluções e inovações, seja no âmbito artístico no qual a moda se insere, seja no âmbito industrial, onde a produção do vestuário realmente acontece e dificilmente dispensará a mente e a mão de obra humana.
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