Texto Bárbara, intercambio

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Se aproxima a reta final. E lá se foram 7 meses que aparentaram 7 dias. Tudo tão rápido, mas tão intenso. Eu lembro de estar naquele táxi, a caminho do aeroporto da minha cidade. Não conseguia pensar em nada, apenas segurava com firmeza a mão da minha mãe, não muito crente do que viria a seguir. Todos os meus amigos já estavam ali esperando por mim, pra me dar aquele “último abraço”, que só se repetiria um ano depois. Meus pais me acompanharam à minha escala no aeroporto de São Paulo e logo seguiriam viagem a outro estado brasileiro. Não demorou muito para ouvir a chamada de vôo, e finalmente, fiquei sozinha. E foi aí que comecei a acreditar. Foi nesse momento que senti que havia virado a ampulheta de ponta cabeça, e que a areia começava a cair. Nesse instante percebi que algo grande estava por acontecer, senti uma sensação de liberdade e ao mesmo tempo de solidão. Me dei conta de que estava prestes a descobrir o mundo. Somente eu, por mim mesma. O primeiro mês já começou com uma programação bastante cultural. Recordo de tudo, nos mínimos detalhes. No meu primeiro dia, tive a sorte de estar na Feira Franca, em Pontevedra. Lembro de como fiquei admirada e apaixonada pela zona velha da cidade, me sentia realmente em algum lugar distante na Idade Média. Fui bem recebida, experimentei as empanadas espanholas, me surpreendi com os gaiteiros por todos os lados. Lembro que, com minha pobre fluência no idioma, tinha dificuldade de expressar o que sentia, e alternava expressões como “qué guay!” ou “qué bonito!” para me referir a quase tudo. Aproveitei minha primeira semana, e minha única de férias, antes que a minha maior preocupação viesse Como era a minha escola? Quem seriam meus amigos? Será que vão perceber que eu sou de fora e vão me acolher bem? Até que chegou o dia. E posso dizer que tive sorte. Não foi nada desesperador, conheci algumas pessoas, todas muito simpáticas. Me vi um pouco perdida a principio, desorientada por alguns conteúdos distintos aos que estava habituada, e por um momento pensei que não seria capaz. Nos meses que se seguiam, visitei cidades, Santiago de Compostela, Vigo, Bueu, Barcelona, fui a Portugal, participei da colheita de uvas para ajudar a fazer o “viño da casa”, vi ao vivo o jogo do Celta em Balaídos. Fiz grandes amizades, chorei de saudade de casa, ri de chorar, passei frio (muito frio pra uma brasileira), ouvi “te quiero” de pessoas muito importantes pra mim, disse o mesmo a elas, cresci. Me frustrei com a dificuldade pra falar espanhol, fiquei feliz no quinto mês de me sentir mais segura com o idioma, visitei a Holanda, conheci de perto a cultura holandesa, aprendi. Percebi o quão adaptada estava quando voltei à Espanha e me senti, definitivamente, em casa. Faltam dois meses. Dois meses que, com certeza, vão passar sem que eu me dê conta. Mas enquanto eu estiver aqui, prometo aproveitar cada segundo como se fosse o último, cada dia como se fosse mais curto do que realmente é. O intercâmbio cultural é uma das experiências que acredito que podem fazer a diferença no mundo, porque nos faz vê-lo com outros olhos, com uma perspectiva completamente nova. Preconceitos são quebrados e a aprendizagem é mútua, tanto por parte do próprio estudante como por quem o acolhe. Tudo o que eu vivi, tudo que aprendi, as pessoas que conheci, serão levadas comigo na mala. Aliás, já tenho que providenciar uma mala maior.


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