Sub-Comissão Preservar o Planeta Terra • N.º 4 - Outubro
Comissão Serviços à Comunidade Distrito 1960
Tema: Alterações Climáticas
Efeito estufa, Aquecimento Global Uma coisa agora é certa, já ninguém (políticos incluídos) pode dizer que a temperatura média da terra (nas camadas mais juntas da crusta) não está a aumentar de forma consolidada, e ninguém poderá negar que este processo é essencialmente obra da acção humana neste planeta. Acabaram-se as meias tintas, terminaram as justificações para a ausência de políticas rectificadoras e para a inoperância e abstenção de todos os cidadãos. Afinal o que parecia... é! O terceiro relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) é peremptório e afirma, para além da constatação da causa humana para as alterações climáticas, que as consequências que se podem esperar destas alterações serão concerteza maiores do que até agora era esperado. O aumento global da temperatura à superfície da terra foi estimado em 0.6 ºC durante o século passado e espera-se que o seu aumento entre 1990 e 2100 se cifre num valor entre 1.4 e 5.8 ºC. Este aquecimento que é neste momento sustentado por estudos científicos está directamente ligado ao famoso efeito estufa, de que tanto se tem falado nas últimas décadas, e que é responsável pela retenção do calor do sol na atmosfera de uma forma superior ao que seria normal (diz-se efeito estufa porque todo o mecanismo é similar a uma estufa de jardim. O calor entra na estufa vinda do sol mas a estrutura da estufa não deixa que o calor se dissipe para o exterior aumentando de forma acentuada a temperatura do interior). O que no caso da Terra funciona como retentor de calor, tal como os vidros no caso da estufa convencional, são os “gases de efeito de estufa” (GEE). Estes gases em concentrações muito superiores às que existiam antes da revolução industrial criam uma camada retentora do calor emanado da Terra depois de esta o ter recebido do sol. O principal gás GEE é o CO2 (dióxido de carbono) proveniente em grande parte da queima de combustíveis fósseis (especialmente petróleo e carvão). Este gás aumentou a sua concentração na atmosfera em 31% nos últimos 250 anos. Outros GEEs são o CH4 (metano) que aumentou 151 % nos mesmos 250 anos e os óxidos de azoto (NOx) que aumentaram no mesmo período 17%. Este aumento da temperatura não é mau por si só mas sim pelas influências nefastas que acarreta num conjunto de factores ambientais, tais como: Altera o regime de chuvas e períodos de seca. Estima-se que as chuvas deverão aumentar e que a sua violência recrudescerá. Noutros locais do planeta será a seca o maior flagelo. Estas alterações trarão consequências gravíssimas sobretudo às culturas, ao mesmo tempo que aumentará a possibilidade de existirem catástrofes de grande dimensão entre a população de cidades e/ou de países inteiros. Muda os limites dos Biomas. Ou seja as zonas tropicais irão avançar para dentro das zonas temperadas e estas interpenetrarão nas zonas geladas transformando em larga escala o padrão climático. Por força desta alteração haverá espécies que sofrerão danos muito violentos no seu habitat e que serão obrigadas a deslocar-se em latitude (haverá outras que desaparecerão). Dentro dos riscos que estas invasões podem trazer, a maior é a de alguns insectos e outros portadores de doenças passarem a existir em áreas onde as populações não estão imunizadas para elas, podendo dar-se grandes epidemias mortais para o homem. No entanto o efeito mais devastador destas mudanças climáticas, e sobretudo do aumento da temperatura média, é o da subida dos níveis dos oceanos e da diminuição da agua potável armazenada e disponível. Segue no verso
Outubro 2003 1
O nível das águas dos mares subiu entre 10 e 20 centímetros no último século (no Hemisfério Norte) mas perspectiva-se que este aumento possa estimar-se entre os 9 e os 88 centímetros entre 1990 e 2100. Este aumento dos níveis dos mares é devido, por um lado, à expansão do volume derivado ao aumento da temperatura global e, por outro, ao degelo das calotes polares e dos cumes gelados das altas montanhas. Para além das modificações intensas que estes degelos provocarão nas zonas onde vão acontecer, o aumento do nível dos oceanos irá criar um novo redimensionamento das áreas emersas da Terra, já que um aumento desta grandeza no nível das águas submergirá grandes áreas do planeta que neste momento conhecemos como terra. Muitos países ficarão muitíssimo reduzidos e outros (sobretudo ilhas) desaparecerão. Ficaremos sem as melhores terras de cultivo (normalmente situadas em vales e planícies) e haverá monstruosas movimentações de refugiados a quem poderemos chamar com todo a rectidão “refugiados ambientais”. Este é o cenário provável do fim deste século para a humanidade. Um cenário incrivelmente realista, mas que parece não conseguir demover os países (sobretudo os mais desenvolvidos) a inverter a tendência que sabemos conduzirá a situações muito difíceis. Ao contrário cada vez se continua a dar mais ênfase aos combustíveis fósseis. A maior economia do mundo está baseada neste tipo de combustível e quase todos os decisores têm interesses neste lobby. Países como Portugal que já deveriam estar devidamente comprometidos com uma diminuição das taxas de GEEs libertados ainda estão numa fase de aumento das taxas emitidas todos os anos. Mais grave, ainda, é que não se vislumbra uma politica de alteração desta situação para as próximas décadas. O fim não é animador e parece estarmos na presença de um problema de larguíssimo número de gerações, já que estes efeitos que neste momento os governos (e os cidadãos em geral) desprezam ir-se-ão manter por muitos séculos, e já hoje seria tarde para uma tomada de posição radical no sentido de fazer marcha atrás. Estamos a empenhar o planeta que vamos deixar às gerações vindoiras de uma forma que não tem paralelo na história da humanidade. Estamos a sofrer as consequências de políticas (sobretudo energéticas mas também de desenvolvimento) imponderadas e irreflectidas. Cabe-nos a todos nós, e a cada um por si, fazer a análise dos dados que nos são apresentados e, depois, racionalmente tomarmos atitudes que levem a que este problema seja minorado desde já.
Frases do mês “O Clima é uma besta indomável.” “Quem disser que podemos continuar como até aqui, está a jogar à roleta russa com o clima.” “Tenho defendido que se crie uma rectaguarda que permita ter energia para toda a gente no mundo sem libertar CO2 para a atmosfera.” (Wallace Broeker, Visão nº 550, 2003)
“A modificação do clima vai aniquilar os beneficios dos avanços da medicina do sec XX”. (Paul Kingsnorth, L’ ecologiste, Vol I nº 2 , 2000)
Ficha Técnica Folha da Sub-comissão Preserve o Planeta Terra, da Comissão dos Serviços à Comunidade Responsável pela Sub-Comissão e pelos conteúdos: José Rodrigues (Rotary Clube de Sesimbra) Tel.: 21 084 16 64 • Email: jose.rodrigues.60@netvisao.pt
Sites e livros de interesse www.ptsoft/vastro/referencia/estufa www.effet-de-serre.gouv.fr
Climate Change in PortugaL - F.D. Santos / Gradiva Meteorology Today - Donald Ahrens/ Seventh Edition A Mudança Global do Ambiente (Duncan Reavey)/Instituto Piaget
Clima Terra - Robert Sadourny/ Instituto Piaget
2 Outubro 2003