8ª Edição | Bienal de Curitiba 2013 | Antologia

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fantasma civil

Ricardo Corona organização

curitiba 2013



Fantasma civil: um livro fora de si Ricardo Corona

Os poemas recolhidos em Fantasma civil1 têm o sentido que propõe esta antologia que é tangenciar a memória menos lembrada rasas, a escolha foi reunir poemas que pudessem modulá-la com o tempo e o ritmo da poesia, que tem por zelo uma ética do afastamento da homilia que tudo nomeia, revela e marca. As imagens igualmente não se submetem ilustrativamente, nem aos poemas. Entre os poemas e as imagens há uma conversa que faz da página um espaço atravessado pela sensação de um fora imenso, análogo ao da “infância grande”. Maurice Blanchot, sobre a infância, diz que 1 Título sugerido por Ricardo Pedrosa Alves, em conversa sobre o verso “Então é isso, como eu ia te dizendo, eu tenho esse fantasma, o homem civil”, do seu poema “Acaba de acontecer. Papel-carbono”, presente nesta antologia. 2 O espaço literário. RJ: Rocco, 1987, p. 24.

“essa idade de ouro parece banhada numa luz esplêndida porque irrevelada, mas é que esta é estranha à revelação, nada existe para imagem”2. A cidade, apesar das marcas das diversas territorialidades, guarda camadas imprevisíveis, sugere-se continuamente uma enciclopédia de experiências singulares – a cidade de cada um, a cidade de todos –, um espaço fantasmático e corpo permanentemente fascinado, inapreensível. É deste lugar da permanência e da experiência que a cidade se potencializa e se mantém irrevelada.



fantasma civil

Josely Vianna Baptista



fantasma civil

Lindsey R. Lagni

A cidade geme. O entardecer espreme o sol, fricciona o céu e puxa as nuvens de ambos os lados, até ficarem retilíneas. A tarde entorta a paisagem. Faz pensar no dia, faz se preocupar... A cidade sofre com a cor que engole o tempo. Curtida por mil sóis, lacerada por eterno entardecer. Furta cor que é sempre a mesma: silenciosa, morta-viva, atemporal. Acendem-se os olhos da cidade. Cegam-se olhos condutores. A pior hora para dirigir é a alucinação dos caminhos. Rosada e febril, a cidade pede água. Calhas mudas pedem partituras. Caminhe em paz ao findar dos dias. Observe seu escurecer.



fantasma civil

outono, as árvores expelem folhas como caspa nas passarelas urbanas de magérrima beleza o silêncio urde esquifes nos troncos às ruas falta ar como asma a solidão suprema do inverno todos tentando preencher o vazio que ficou da floresta nas ruas nuas o grito terrificante de vida prometido pelos ipês roxos e amarelos na primavera os flamboyants agonizando cor ao lado da discrição contida das sibipirunas o mato anunciando flores ignoradas pela rudeza dos olhares esquizos que passam alheios em seus sentimentos fendidos ancorados em corpos que se arrastam como esquizeáceas plantadas

Ademir Demarchi

de uma cidade que corroeu a floresta



fantasma civil

Compro ouro Cobrem-se botões Compro e vendo cabelo X-calabresa Porção e executivo Piso escorregadio Recuperamos seu crédito Restauração de pivô Tudo para noivas Cortes unissex Afiam-se tesouras Três opções de carne Pírceng & tatto Ilhós e rebites Chaveiro emergências Foto em 1 min. Serviços temporários Impressão express Dei minha mão pra cigana ler E ela começou assim: Víximaria!

Luci Collin

Orçamento sem compromisso



O rádio velho da rua Westphallen A mentira tenta me dar um drible de Garrincha, mas sou que nem o rádio velho da rua Westphallen: eu não ligo e a mentira corre desesperada para a morte

Fernando José Karl

fantasma civil



fantasma civil

Roberto Prado

O que tanto você lembra?

Lembra? Claro que lembra, era aquela, aquela ali, lembrou? Ah! Não! Vai dizer que esqueceu justo aquela uma que praticamente a gente morou? Aquela uma lá, que representa o tipo de uma estradinha, aquela lá lá, perto do armazém da Dona Coisinha, aquela logo ali, que antes parecia tão longe.



fantasma civil

Sabrina Lopes

arredores da osรณrio

aqui era um brejo os pernilongos o sabem pousados no asfalto



fantasma civil

Bruno Costa

Me enterrem no Boqueirão

Quando eu morrer Não quero lágrimas, nem velas, nem flores no caixão Quero que meus amigos fumem, bebam, se droguem E me enterrem no Boqueirão



fantasma civil

Amarildo Anzolin

Passeio público

Antes, os passantes se inebriavam com o peixe-elétrico, o pavão, o chipanzé, a puta, o pipoqueiro. Agora, a formiga, a pulga, o cupim se chocam e se enternecem com os que passam, em maior número – não dentro, e sim nos arredores e entornos –, mas em único bolo. O passeio, apesar de vazio, quase nulo – sina dos velhos, desocupados, inválidos –, pela fina fábrica da ironia, está mais público.



fantasma civil

Yo tengo ganas de murir Numa ciudad ecologica Num bierço explendido Num tubo de PVC Como Karam Como Raul Cruz Como Bakun Eh Leminski Eh Marcos Prado Saiam da Tumba Vamos para o Atuba Vamos ver o que é que há Yo tengo miedo de vivir Siempre buscando un segredo Como un projeto de lei Como un dejeto, degredo Como Oraci A Gilda ali E o Xavier Eh Palminor Eh Schoenberger Saiam da Tumba Vamos para o Atuba Vamos ver o que é que há

Carlos Careqa

Yo tengo ganas de murir



fantasma civil

embarco noutro trem o tempo leva pra bem longe pra bem longe. ai estrada curitiba-paranaguá tanta pedra rolando pirita das faisqueiras o ouro das bananeiras pra erguer um novo império sem lundu nem fandango. trabaio bunito não tem alegria não tem putaria só tem sim sinhô só tem prufavô o gato comeu sua língua lá longe o trem parou e foi longe mal foi longe já parou. no longe vaga a memória de alguém que se foi alguém que vai. ai quem não tem história ai quem não anda nos trilhos fumando o dragão de ferro viajante, andarilho. a estrada é longe longe de caranguejos no mangue dum passado que foge como a palavra da boca quando a língua é o cu do vácuo.

Marília Kubota

trem-fantasma



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Roosevelt Rocha

quem anda em silêncio sabe o som de seus passos se não tem sapatos não está descalço ainda há o asfalto onde nasce uma flor que se cala sob o piche até a próxima chuva sob o silêncio dos passos de quem anda descalço



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Durante muitas luas acompanhou-os o tropel de muitos, mas agora que caem fazem-no sozinho. Onde a morte lhes concede um pequeno ninho eles desabam, lado a lado, face a face, juntos na enorme solidão da sua sede. Para trás ficou o trote, o peso da cangalha, a ilharga aberta à tautologia do vento, para trás já o último alento, o dorso rasgado pelo clarão do chicote. E agora que a queda é a única esquadria e o flanco se dá finalmente ao pó eles abraçam o horror da heresia, e juntos, mas cada um só, cospem na boca da terra o que não têm: a última baba do desdém.

Camila Vardarac

Soneto para um cavalo e duas lágrimas



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Marcelo Sandmann

Sol japonês

7 horas da manhã. Um sol japonês sobre o céu de Curitiba. Fugiu pra onde o monte Fuji? Atrás da Serra do Mar? Do prédio da Telepar? O poeta-samurai eu sei: descansa em paz no cemitério da Água Verde.



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Vanessa C. Rodrigues

As pedras das esquinas desta cidade que me detesta não construirão uma casa nem um templo. As pedras das esquinas desta cidade que não me ama já foram casa, templo e puteiro. Já foram tijolo novo, barro. As pedras das esquinas desta cidade não são montanha. As pedras desta cidade ficam na esquina no meio do meu caminho quando volto pra casa às seis da tarde segurando uma sacola com pão. Ficam no meio do meu caminho quando volto pra casa empurrando meu corpo. As pedras das esquinas desta cidade me detestam e não são rochas. As pedras destas esquinas são farelo de concreto, morte. Restos de uma cidade que não me suporta. As pedras que me atrapalham são ruína que me impedem a passagem no meio do meu caminho quando volto pra casa segurando uma sacola com pão empurrando meu corpo que me detesta que vive nesta cidade de ruínas, pedras e esquinas.



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Anísio Homem

Discutindo com Drummond

Existem mapas que dão bússola à alma, que ensinam os caminhos que contornam as pedras?

Viver é derreter surpresas a cada dia, é tomar o trem sem saber suas chances de descarrilho.

É muito bom viver, driblar as inconveniências e tomar nossa dose de algo no final da tarde.

Às vezes é possível chutar as pedras em nosso caminho, às vezes chutá-las nos estraçalhará os ossos.



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Greta Benitez

Estou por um fio na capital mais fria do Brasil. E vou me apaixonar pelo canalha obscuro que pichou BANG! no muro.



fantasma civil

Existe amor em Curitiba: nos bares cheios de ilusões e em necas de pitibiriba – nas não vazias estações e nos contratos dessas tribos – nos ônibus e nas mansões, nesses lugares sem estribos. Existe algo até além mais mesmo: mais que as fatais Paramaribos. Os restaurantes sem torresmo, as avenidas de uma pista, e o esposo da lesma: sim: lesmo. Mas não é ponto pra turista: pois mesmo sem Sernamentiba existe amor em Curitiba e a quem nem sempre tem seu clima.

Ivan Justen Santana

Existe amor em Curitiba



fantasma civil

seu encardido cinza, estas fachadas laterais frias, disse, sem janelas são rostos sem olhos, tinturas gastas

no fundo da noite o branco ruído ela disse mas, a água se infiltra ele disse com pausa e como visse largamente o mofo pinta de cinza,

manchas frias na vista da cidade, e ela diz, veja, um prédio face a tantos outros, cada janela e claridade

pense para onde elas vão, desvãos multiplique as janelas pelo quanto quiser, somos para onde elas dão

Mario Domingues

ele edifícios cinzas disse a ela



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Marcos Prado

minha rua termina onde a tua começa e vice-versa então aonde você vai com tanta pressa?



fantasma civil

Bianca Lafroy

Lubrificar orifícios é uma ARTE.

Na formação do michê, dominar os próprios mucos é como aprender uma língua antiga.

Conversamos sobre isso no MON ao admirarmos os traços-esperma, a viscosidade visual os mucos de Münch.

Na rua, numa exibição, ele fez seus cuspe espesso cair em pé.



fantasma civil

Estrela Ruiz Leminski

sou daquele tipo que escancara armo o balacobaco fujo do nosso barraco sou devota de Baco mas não confunda porque a gente não se encara pois esse azedume em um dia de sol açucara está na cara sou curitiboca da clara



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Sérgio Viralobos

Novos nevados

O inverno de mil novecentos e setenta e cinco Nos deixou comovidos como diabos Foi como a lua furar o nosso zinco E a neve entrar pelos buracos Infelizmente morava em Brasília Mas senti Curitiba pelo frio dos livros Que meu avô enviou para a família Eles gelaram meus dedos então tão vivos Esse mesmo avô pisou em flocos E escorregou na nevasca mais bonita Pra quebrar a cara e os óculos Com as mãos no bolso em plena Boca Maldita



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Alexandre França

Morte num dia comum

No passeio público Um andar inebriado de cadela Escorre a azáfama de cães esfomeados. O carro de som dá partida à fome das vielas. “hoje, só hoje” berra o berro da mão do motorista. A ruminar soluços, Berços incandescentes disparam baforadas de vícios perdidos. Meu corpo espera a carne irromper no precipício O estopim dá lugar ao óbvio, Ao não início. E o meu óbito cruza as pernas, Na certeza de que alguém Ao menos hoje, Sentará ao meu lado.



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Helena Kolody

Nós

Fomos duas árvores castas. Não misturamos as raízes. Apenas enlaçamos os ramos e sonhamos juntos.



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Wilson Bueno

inverno

o frio de julho desnuda os ipês da praça neblina no escuro

velho vento na alameda dobra esquinas, chora seda



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Paulo Leminski

Imprecisa premissa

(quantas curitibas cabem numa só Curitiba?)

Cidades pequenas, como dói esse silêncio, cantilenas, ladainhas, tudo aquilo que nem penso, esse excesso que me faz ver todo o senso, imprecisa premissa, definitiva preguiça com que sobe, indeciso, o mais ou menos do incenso. Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, tende piedade de nós.



fantasma civil

Alice Ruiz

tantos outonos em uma paisagem chuva nos pinheiros



fantasma civil

Bรกrbara Lia

A chuva baila cinza na vidraรงa Que abre a cidade E as cicatrizes de concreto No mundo nรฃo hรก quem leve, Como eu, Este solar crepitar na alma



fantasma civil

Colocou seu casaco de inverno sapatos escuros e roupa de luto; passou batom muito vermelho nos lábios ruge e pó de arroz, depilou as sobrancelhas e pintou-as com lápis preto. Pegou a pesada mala e saiu enfrentando o vento e a manhã enevoada. Tomou um táxi (um Ford 38) falou alguma coisa ao motorista e sumiu deixando como paisagem a praça amortecida e sem movimento e um perfume de flores que se desprendia da lapela do casaco.

Zeca Corrêa Leite

1944



fantasma civil

amo o aço, o vidro e o cimento da cidade cinzenta e fria onde a beleza das flores joias vivas jamais cairão no esquecimento

suas ruas me levam como o vento para todos os seus recantos movido por meu sentimento

gosto das pessoas simples e desconfiadas que compartilham suas vidas com aqueles que simpatizam por onde caminho me encontro

Édson De Vulcanis

amor concreto



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Afonso José Afonso

Corpo cidade corpo

Há cimento, espaço-tempo, tijolos e amores em articulações como em esquinas. Cidades são corpos, cada rua o dobrar de dias e contos nos cantos. Praças crepúsculos de soluços e olhares outras vias. Onde se vive de verdade, cidades são fluxos de fios de vidas em meadas, encruzilhadas estórias embramadas, esquecidas avenidas de lembranças, nós falsos como destinos não cumpridos. Porque vamos mesmo sozinhos falseamos bússola de vento sem rosas. Imaginários mapas vivos nunca destruídos, direções cosidas à marca sem trégua e determinismos impossíveis, dinâmica não edificada de caminho desenhado por reais sentidos. Há uma cidade na pele do meu peito, um manto ontológico único de outra arquitetura, acobertando mentiras e verdades, poema do mapa do corpo de um homem.



fantasma civil

Homero Gomes

Fogo das veias Legumes pelo asfalto

e

óleo nas sarjetas. O dia na pressa acumulada dos dedos feirantes. Sob luz morrediça de postes,

braços compridos,

inscrições criptografadas nos muros abandonados à sorte. Recostado na umidade que escorre pelo reboco, o vazio nos ombros. Cílios compridos vestidos de olhos verdes,

secura nos sentidos,

querendo o escondimento pela peruca azul. A cidade passa lenta. Odeia o corpo transfigurado com o fogo de suas veias.



fantasma civil

Leonarda Glück A pobreza era evidente; a cama nem se quer tinha cortinado. Dostoiévski - “Prestuplenie i Nakazanie”

I love Raskolnikov Meu sonhos maltrapilhos. Vou falar das impressões que uma vida deixa. Os sonhos, esses ficam para trás. Com eles nada se faz. Eles não alimentam. Eles atrapalham. Eles devem ficar para trás, com os sonhos puídos. Começo pelo fim. Embora o fim não deva ser analisado. Houve um tempo em que os fins eram respeitáveis. Mas isso foi há muito tempo: a bandeira não estava tão rota. O sol da tarde entra raro pelas cortinas. Me alegra saber que há azul no céu. Abro as cortinas. A mãe se foi, penso. Tento descobrir qual o tanto que ficou. A dor ficou, mas isso não é novidade. A dor sempre fica. Sobrou o que levo chamando de vida escassa. Pouca. Quase insalubre. A Aurora, quando foi? Não consigo lembrar. Como se me enterrassem no cimento. Meu coração ainda pulsa um pouco entre o concreto. Vivendo como bobo em meio a órgãos fundidos. Um gato me espia. Tenho horror à autobiografia. As vozes com quem falo não me ouvem. Na rua, os carros, eu pasmo, ainda passam. A tarde me machuca. Me machuca. Me machuca os restos mortais. Assim resvalo para a pieguice. Ainda procuro do que rir. Já não existe risada genuína. Eu já vi tudo. O que há para ver? Engraçadas as vidas que se acabam antes de começar... O que pensavam os reis do mundo? Que o dinheiro salvaria? Que o dinheiro guiaria nós sabíamos. Os encontros de amor, bíblias aposentadas. Cadafalsos inapropriados. Se eu me repito, é porque só restou renitência. Ainda posso rever os bons momentos. Ainda prevejo o destino. Ainda burlo a verdade.



fantasma civil

Hamilton Faria

Ao pisar a pedra Deixa-me ser delicado Como quem pertence



fantasma civil

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Emerson Pereti

O muro



fantasma civil

as cédulas do mate derrubavam meias-águas. casarões brotavam, altos como a glória grega das musas. treinando a nudez para o voyeurismo do google maps. mendigando aristocracias, os poetas vestiram-se com o veludo literário das violetas. pichando signos estranhos pelos nós de pinho. gritando às araucárias: “todo passeio é público”. recusando o anonimato e o pseudônimo, das cartolas lançavam obras impressas. com a melindrosa estética do nanquim. instaurando a tipografia pitagórica pelos cafés de portas móveis. a cidade fez-se luz negra, virtuosa como uma moça parisiense. onde agora sondas contemporâneo. dândi sejas tu, pelo comércio do calçadão. dentro do cio da eletricidade intuirás a sutileza de uma colmeia simbolista. chegarás ao império dos livros. bolorenta e magistral, no púlpito da biblioteca: a esphynge iluminada. repousa no âmbar desta bela época. e digere. volte sempre.

Andréia Carvalho

convite ao cenáculo



fantasma civil

Ricardo Pedrosa Alves

Acaba de acontecer. Papel-carbono

Somos todos carbono. Sou em parte papel, em parte tinta. Papel-carbono.

Tantos hoje comem lixo. eu seria diferente ? Mendigos, putas, desempregados aos milhões...e eu seria diferente ?

Nos últimos dias, tive tudo o que uma febre pode oferecer.

Agora quero mijar nos olhos dela, a memória. Eles, os monstros do pensamento recôndito, não me pegarão. Então, só aí, poderei me inscrever na escritura aprendendo as palavras que a areia não apaga. Granículos trazidos na ventania, poeira de canaleta à beira, sempre à luz do raiou o dia.

Então é isso, como eu ia te dizendo, eu tenho esse fantasma, o homem civil. Que me põe de calça jeans e na urbs.



fantasma civil

michês queimam crack nas araucárias caninos se retorcem no doce da confeitaria a fina dor da retrátil gengiva – alucina sobrevive a cachorro-quente de coração de galinha faz um coque com o veneno da garoa a cabeça do Cavalo senil não chora: saliva curitibanos golfam a neve de 75 no chafariz, anjos digladiam-se no Atletiba flores de ipê-amarelo esmagadas nas Ruínas os gigantes da Praça dos Pelados forram os mocassins com a Tribuna de ontem (o gay foi assassinado) – meninos de rua bebem cicuta

Priscila Merizzio

Au revoir, velha Curitiba



fantasma civil

Marcelo De Angelis

Rua do rio II nessa rua passa um rio, um rio manso sem peixes, um rio dervixe, em acordo com a cidade que lhe confina e impõe remanso seu curso é menos hipótese do que trajeto, jamais hipérbole, mais dejeto do que meta morfose não existe vida no que não flui livre mente



fantasma civil

não há palavras que expliquem o azul ou o timbre de um sino coisas que transcendem o poder da linguagem. teu primeiro sorriso por exemplo e a força que se desencadeou e o tom que se estabeleceu entre os paralelepípedos da rua e teu modo de avançar pela calçada como as chamas de um incêndio a sina da poesia não é cantar tal sino será quem sabe num passe de mágica fazer vibrar o som azul do sino que plangeu íntimo o timbre repercutido no concerto grosso das imagens

Adalberto Müller

Rua São Francisco



fantasma civil

Cristiane Bouger

na fagulha e no orvalho hĂĄ um tĂ­mido alento, perspicaz nas horas tristes.




Deste modo, sentir a cidade por meio destas estruturas dissipativas que são os poemas e as imagens em Fantasma civil é não se iludir com homenagens e apropriações, mas compartilhamento de sentidos – livro fora de si, livro falado no corpo da cidade. A partir de sensações de lugares e espaços que arquivam tanto sensorialidades imemoriais como lembranças individuais e, sobretudo, rastrosresíduos da cidade deslembrada – lugares que são devires antes mesmo de os poemas e as imagens se estruturarem para evocálos. Aceder poeticamente a estes lugares de permanência por meio da memória que está em jogo nesta seleção é ato de leitura com o espaço – qualquer espaço – desdobram-se em desmedidas, em tratado de sensações, dos quais o espaço aberto é referência, fazendo É desta margem expandida que surgirá a experiência singular, transformando a literatura em arte, orbitando, portanto, aquilo que Reinaldo Laddaga sublinha a partir do crítico inglês Walter Pater: “Toda arte aspira à condição da música ↔ toda a literatura aspira à condição de arte contemporânea”3.

3 Espectáculos de realidad. Rosario: Beatriz Viterbo Editora, 2007, p. 14.



Andréia Carvalho Ricardo Pedrosa Alves Priscila Merizzio Marcelo De Angelis Adalberto Müller

ISBN 978-85-64029-08-8

Lindsey R. Lagni Ademir Demarchi Luci Collin Fernando José Karl Roberto Prado Sabrina Lopes Bruno Costa Amarildo Anzolin Carlos Careqa Marília Kubota Roosevelt Rocha Camila Vardarac Marcelo Sandmann Vanessa C. Rodrigues Anísio Homem Greta Benitez Ivan Justen Santana Mario Domingues Marcos Prado Bianca Lafroy Estrela Ruiz Leminski Sérgio Viralobos Alexandre França Helena Kolody Wilson Bueno Paulo Leminski Alice Ruiz Bárbara Lia Zeca Corrêa Leite Édson De Vulcanis Afonso José Afonso Homero Gomes Leonarda Glück Hamilton Faria


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