Os textos que se reúnem neste volume, resultam de estímulos e reptos vários, mas incorporam todos eles um fio condutor comum: a vontade irresistível de pensar o rural enquanto espaço de pensamento e de expressão pregnante, livre e autêntica. Ao longo dos anos, quase uma década, que temos dedicado a nossa vida à criatividade em articulação com paisagens e comunidades rurais de montanha, nos maciços portugueses da Gralheira, da serra do Montemuro, nos vales do Paiva e do Vouga, temos percebido que o mundo rural presta-se a simplificações perniciosas, motivadas a maioria delas por vontades mais ou menos claras de criação de um corpo de representações úteis para o desenvolvimento de iniciativas económicas. Estas representações, sendo legítimas, resumem-se a meia dúzia de variáveis: natureza, ar puro, desporto, descanso, gastronomia, ou artesanato, o que para nós revela uma manifesta falta de aprofundamento sobre as complexidades imensas do mundo rural.