GAZETA BMA x Década de 1925 a 1935 ∙x
O FRACASSO DA SEMANA DE ARTE MODERNA Monteiro Lobato foi ferrenho opositor dos modernistas Monteiro Lobato foi ferrenho opositor dos modernistas. Escreveu um artigo criticando a semana de arte moderna com o título “Paranoia ou mistificação, resultado: uma extensa briga entre defensores dos movimentos modernistas e apoiadores da arte clássica”. (pg 07)
O Nascimento da Biblioteca
Capa do catálogo da semana de arte moderna feito por Di Cavalcanti.
Literatura brasileira de 1925 a 1935
Toda aquela modernidade não agradou o público. As pinturas e Biblioteca Municipal de São Paulo à rua 7 de Abril. esculturas, de formas estranhas, fizeram os visitantes se perguntarem se os quadros estavam pendurados da maneira certa. Os poemas mo- O local estratégico no centro da cidade vai ao encondernistas eram declamados entre tro do ensejo de instruir os paulistanos a partir da disseminação da leitura e da cultura. (pg 04) vaias e gritos da plateia. (pg 05)
O Nascimento da Biblioteca
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A Saga de Gene Generic Para ilustrar o período entre 1925 e 1935, eu vou contar a história de um conhecido do meu bisavô: um americano de nome curioso cuja história é muito interessante Gene Generic está sentado na sua poltrona fumando um charuto e lendo um jornal muito especial. Ele e sua esposa acabaram de voltar de Paris, onde passaram as férias. No criado-mudo, do lado do telefone, há uma cópia de O Grande Gatsby e um copo de scotch clandestino. Gene está sentado mais apoiado na nádega esquerda que na direita, onde recentemente tomou uma injeção de penicilina, só por precaução. Um jazz suave toca na sua vitrola. No jornal, que muito convenientemente traz um resumo de tudo que aconteceu entre 1925 e 1929, Gene lê sobre a morte de Houdini por um soco, sobre a extração de petróleo nos países da América do Sul, sobre o buraco econômico em que se encontra a Alemanha, sobre o avanço dos direitos e participação das mulheres no mercado de trabalho, sobre um professor acusado de quebrar a lei por ensinar a teoria da evolução aos seus alunos. Ao fechar o jornal, uma estranha certeza intuitiva, relacionada às suas lucrativas ações na bolsa, sugere que saia ainda hoje (estamos em meados de setembro) no seu Ford T Touring com Daisy, sua esposa de cabelo Chanel, para desfrutar de duas novidades: o picolé e o cinema não mudo. Na volta, tudo está diferente! A começar pelas ações de Gene, que não valem mais nada. Todo mundo que ele conhece está desempregado, inclusive colegas veteranos de guerra. Daisy, sua esposa de cabelo desgrenhado, tenta ajudar nas contas da casa trabalhando numa lanchonete.
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Eles não se aguentam mais, porém, como a papelada do divórcio é bastante cara, é melhor que se aguentem mais um pouco... Gene Generic está sentado numa lata de leite em pó fumando uma bituca e lendo um jornal muito especial, porém emprestado. No criado-mudo, ao lado do jornal de classificados, há um copo de scotch da pior marca. Gene está sentado mais apoiado na nádega direita que na nádega esquerda, que não cabe na lata. O barulho da fábrica vizinha ecoa no pequeno apartamento. O jornal traz um resumo conveniente do que está acontecendo no mundo desde 1929 até 1935: Gene lê sobre o New Deal, do presidente Roosevelt e sobre a Revolução de 30 no Brasil; sobre o descobrimento de Plutão e a divisão do átomo; sobre a ascensão do nazismo e os primeiros campos de concentração; a prisão de Al Capone por sonegar impostos; sobre a admissão da União Soviética na Liga das Nações e de um homem negro no congresso; sobre uma tal de Frida Kahlo e outro tal de Diego Rivera, ambos pintores comunistas; a conclusão do Empire State em Nova Iorque e o Cristo Redentor no Rio de Janeiro; sobre o fim da proibição do álcool e o primeiro avistamento do monstro do lago Ness - coincidência? Depois desse conveniente update nos acontecimentos dos últimos anos, Gene dá uma passada nos classificados à procura de um emprego. Como não há nenhum, Gene continua com sua fria certeza desse tempo de vacas magras. Se tivesse dinheiro, um carro e vontade de levar Daisy para passear, sairia para desfrutar de duas novidades: o cheeseburguer e o boxe. Melhor ficar em casa mesmo. Vai saber o que poderia encontrar na volta... Por Raul
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O Nascimento da Biblioteca
Biblioteca Municipal de São Paulo à rua 7 de Abril.
A Bibliotheca Municipal, posteriormente Biblioteca Mário de Andrade, instalou-se no ano de 1925 à Rua 7 de Abril, nº 37, e lá permaneceu até 1942. Esse foi um período de metropolização, desenvolvimento econômico, alargamento de fronteiras e expansão da área urbana e populacional na cidade de São Paulo. O local estratégico no centro da cidade vai ao encontro do ensejo de instruir os paulistanos a partir da disseminação da leitura e da cultura. Ao acervo composto iniciamente por
documentos oficiais incorporou-se coleções doadas por intelectuais na tentativa de formar um sólido acervo referencial na metrópole ,consultado, aproximadamente, por setenta mil leitores. Em 1935, o escritor Mário de Andrade desenvolveu e dirigiu o Departamento de Cultura e Recreação da Cidade de São Paulo. O modernista, à frente do departamento, sonhou com a realização de uma biblioteca popular e itinerante que pudesse atingir a todos. Através de um caminhão recheado de livros, estacionado em áreas de lazer em que seja possível realizar leituras e empréstimos das mais variadas obras. A biblioteca circulou alcançando leitores, onde eles estivessem. O sonho tornou-se realidade. E essa realidade é considerada o primórdio da Seção Circulante. B.J. Duarte
Biblioteca Circulante do departamento de cultura, iniciativa da gestão de Mário de Andrade.
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A Literatura Brasileira de 1925 a 1935 Na década de 1920, a cultura brasileira foi marcada pelo surgimento do Modernismo, movimento que buscava romper com o tradicionalismo das correntes literárias e artísticas anteriores: o parnasianismo, o simbolismo e a arte acadêmica. A defesa de um novo ponto de vista estético e o compromisso com a independência cultural do país fazem do modernismo sinônimo de “estilo novo”.
A Geração de 1930, também denominada segunda fase modernista, consolidou ainda mais as ideias proclamadas pelo Modernismo. Foi uma fase de verdadeiro engajamento político em que toda a ideologia estava voltada para a análise crítica da relação homem versus sociedade. Além disso, outra demanda foi apresentada: a necessidade de um olhar mais cuidadoso para a região Nordeste, que surgiu então como um novo cenário em nossa Literatura.
Geração de 1930: Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Érico Verrissimo, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos e Jorge Amado.
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Publicações literárias importantes do período 1925 O mundo do menino impossível – Jorge de Lima 1926 Vamos caçar papagaios – Cassiano Ricardo 1927 Amar, verbo intransitivo – Mário de Andrade Brás, Bexiga e Barra Funda – Antônio de Alcântara Machado 1928 Macunaíma – Mário de Andrade O manifesto antropofágico – Oswald de Andrade Retrato do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira – Caio Prado 1929 Compêndio de história da música – Mário de Andrade 1930 Alguma poesia – Carlos Drummond de Andrade O quinze – Rachel de Queirós Libertinagem – Manuel Bandeira Simplicidade – Guilherme de Almeida 1931 O país do Carnaval – Jorge Amado Cobra Norato – Raul Bopp 1932 Menino de engenho – José Lins do Rego Fantoches – Érico Veríssimo 1933 Evolução política do Brasil – Caio Prado Júnior Casa Grande e Senzala – Gilberto Freire Serafim Ponte Grande – Oswald de Andrade 1934 Brejo das almas – Carlos Drummond de Andrade São Bernardo – Graciliano Ramos 1935 Música ao longe – Érico Veríssimo Moleque Ricardo – José Lins do Rego
Capa das primeiras edições de Vamos caçar papagaios de Cassiano Ricardo, Macunaíma de Mário de Andrade e Libertinagem de Manuel Bandeira.
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O Fracasso da Semana de Arte Moderna
Da esquerda para direita: Couto de Barros, Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Paulo Prado, Ren Thiollier, Graça Aranha, Manuel Villaboim, Gofredo Silva Telles, Cândido Mota Filho, Rubens Borba de Moraes, Luís Aranha, Tácito de Almeida e Oswald de Andrade.
Monteiro Lobato foi ferrenho opositor dos modernistas. Escreveu um artigo criticando a semana de arte moderna com o título “Paranoia ou mistificação, resultado: uma extensa briga entre defensores dos movimentos modernistas e apoiadores da arte clássica”. (Fontes http://outraspalavras.net/brasil/paranoia-ou-mistificacao - artigo completo http://guiadoestudante. abril.com.br/blogs/curiosidades-historicas/tag/modernismo/) Toda aquela modernidade não agradou o público. As pinturas e esculturas, de formas estranhas, fizeram os visitantes se perguntarem se os quadros estavam pendurados da maneira certa. Os poemas modernistas eram declamados entre vaias e gritos da plateia. Conta-se, inclusive, que no último dia o músico Capa do catálogo da semana de arte moderna Heitor Villa-Lobos entrou para sua apresentação cal- feita pelo artista Di Cavalcanti.
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Anúncio de programa da Semana de Arte Moderna de 1922 publicado no jornal O Estado de S.Paulo.
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çando sapato em um pé e chinelos no outro, o que foi considerado um desrespeito pelo público presente. Não deu outra: ele foi vaiado furiosamente. Depois, o maestro explicou que fora calçado assim porque estava com um calo no pé. A reação dos visitantes ecoou entre os especialistas, que tratou o movimento como desimportante e retomou as críticas vorazes de Monteiro Lobato. De fato, à época, a Semana de Arte Moderna não teve tanta importância. Mas, nos anos seguintes, o evento passou a ser considerado o marco que inaugurou o Modernismo no país e provocou os efeitos sentidos em todos os aspectos da cultura brasileira.
Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Manuel Bandeira
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Mais sobre a Semana de 22 na Seção Circulante! Artes plásticas na Semana 22 – 709.81 A485a Modernistas: a semana de 22 em reflexão – 759.981 M689s O coro dos contrários: a música em torno da Semana de 22 – 780.08 W815c Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20 – 709.81 S497o O modernismo no Brasil – 709.81 B246m
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Cartaz da semana de arte moderna de 1922 feita pelo artista Di Cavalcanti.
p Equipe editorial Redação Ciculante
Jéssica de Souza Farjado Kaio Cássio dos Santos Juliana Almeida Marina Pereira da Silva Raoni Denaro de Souza
Renata Cristina de Melo Virgínia Markelene Lopes de Araújo Walsandra Rocha Monay
Designer gráfica Gabriela Lissa Sakajiri