Ações interativas entre o perceber e o imaginar: iconografia brasileira e composição pictórica

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AÇÕES INTERATIVAS ENTRE O PERCEBER E O IMAGINAR: ICONOGRAFIA BRASILEIRA E COMPOSIÇÃO PICTÓRICA

Natasha Norberto dos Santos UFRRJ nathynorberto@gmail.com http://lattes.cnpq.br/3225267213121672 Luciana Diláscio Neves UFRRJ ludilne@ig.com.br http://lattes.cnpq.br/9002099783022805 RESUMO: Fazendo parte de atividades de iniciação à docência, vinculadas ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID do Curso de Licenciatura em Belas Artes da UFRRJ, o trabalho a seguir trata-se de uma experiência dos bolsistas-licenciandos do Programa desenvolvida com alunos do nono ano do ensino fundamental, tendo como pressuposto o trabalho com o imaginário repercutido através da iconografia brasileira apresentada pelas imagens pictóricas de artistas viajantes do século XVII e XIX; assim como o trabalho com aspectos formais da percepção visual, de modo que, na conjunção destes dois eixos de trabalho pudesse ser conduzida a criação de painéis pictóricos coletivos, em que a assimilação de novas formas, assim como dos conteúdos teóricos introduzidos, fundissem-se na percepção e imaginação particular de cada aluno. Palavras-chave: imaginário; iconografia brasileira; pintura. ABSTRACT: Making part of the teaching initiation activities, linked to the Teaching Initiation Scholarship Institutional Program – PIBID of the UFRRJ Beautiful Arts Graduation Course, the following work is about a scholarship students experience developed with ninth degree students, based upon working the passed imaginary through Brazilian iconography presented by pictorial images of traveling artists of the 17th and 19th centuries; as well as working with formal aspects of visual perception, so by the conjunction of these two working axis could be conducted the creation of pictorial collective panels, in what the assimilation of new forms, as well as introduced theoretical background, melt themselves in the perception and imagination of each student. Key-words: imaginary; brazilian iconography; painting.

Este trabalho objetiva relatar oficina realizada por alunos do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID do curso de Licenciatura em Belas Artes da UFRRJ, oferecida aos alunos do 9º ano do Fundamental do Centro de Atenção Integral à Criança, CAIC- Paulo Dacorso Filho. De abrangência prática e teórica, teve como proposta a realização de pequenos painéis, envolvendo o __________________________________________________________________ Federação de Arte Educadores do Brasil / FAEB Site: http://xxiiconfaeb2012.blogspot.com.br/ - e-mail: xxiiconfaeb2012@gmail.com


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imaginário presente na produção artística do século XVII e XIX, ilustrando através destas imagens um pouco da história cultural do Brasil. Além de conteúdos relativos à história da formação do Brasil, a oficina requisitou a participação em atividades de composição, desenho e pintura, fazendo parte de ações que têm visado interações entre o fazer (criar) e o compreender; o perceber e o imaginar. Neste sentido, procuramos destacar a importância da sensibilidade e da imaginação para a educação; empenhando-nos em salientar o valor de uma educação poética, de modo que, no caso da proposta deste trabalho objetivou-se fazer repercutir a imaginação sobre as origens e formação cultural do Brasil através de uma série de imagens diversificadas, conjugando também a contextualização sobre esta formação cultural com o processo de criação pictórica que culminou após atividades perceptivas, mas incentivando – pelo próprio modo de apresentação das imagens – um espaço interno para imaginar, vinculando tanto aquilo que é apreendido como “realidade”, como para aquilo que é reinventado. Planejamento e Processo de trabalho A primeira parte consistiu na apresentação de inúmeras imagens da iconografia brasileira: do Brasil colonial, em geral, dos artistas viajantes holandeses que aqui estiveram no século XVII, Frans Post (1612-1680) e Albert Eckhout (16101666), praticamente as únicas referências visuais do Brasil daquela época – pois não existia a fotografia e todo restante da produção cultural era voltada para a arte sacra – sendo responsáveis por quase tudo o que conhecemos do Brasil naquele período: paisagens, animais, frutas, as construções e os tipos humanos. No século XIX, foram atraídos para o Brasil inúmeros artistas viajantes que vinham nas expedições ou que se fixavam no país encantados pela exuberância tropical do novo continente. Deste período, foram mostradas imagens de Johann Moritz Rugendas (1802-1855), Nicolas Antoine Taunay (1755-1830), Jean Baptiste Debret (17681848), Thomas Ender (1793-1875), entre outros. A ideia era apresentar um pouco da feição do Brasil, assim como suas transformações e história cultural contadas exclusivamente através destas imagens visuais. Foram salientadas também referências de flora e fauna, tais como ocorriam nas expedições científicas. __________________________________________________________________ Federação de Arte Educadores do Brasil / FAEB Site: http://xxiiconfaeb2012.blogspot.com.br/ - e-mail: xxiiconfaeb2012@gmail.com


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As primeiras imagens apresentadas visaram fazer repercutir as indagações de como seria o “Brasil” do tempo do descobrimento ou mesmo antes – a partir de referências visuais posteriores; aproveitando-se, através das imagens, para contextualizar sobre o processo histórico e cultural da formação do Brasil. As imagens a seguir são parte destas pelas quais a oficina foi iniciada:

Rio na Floresta Brasileira, Pará, Óleo sobre tela

Um Tapir na Floresta Brasileira, Óleo sobre tela

A seguir, apresentamos imagens dos pintores viajantes da Comitiva do príncipe Maurice de Nassau, no século XVII: Imagens de Frans Post apresentando o universo cultural do Brasil colonial, com os cenários selvagens, mas já marcados pelos engenhos de cana de açúcar que começavam a pontilhar os ondulantes verdes. E de Albert Eckhout, apresentando imagens dos tipos raciais do Brasil e a os aspectos da flora e fauna:

Frans Post, Paisagem Brasileira com Tatu, 1649, Óleo sobre madeira

Frans Post, Igreja e claustro de Igaraçu, Óleo sobre madeira

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Albert Eckhout, Homem tapuia,

Albert Eckhout, Frutas Brasileiras,

1643, Óleo sobre tela

XVII, Óleo sobre tela

Por vezes, a utilização de algumas “citações verbais” – sejam documentais ou poéticas – acrescentadas às imagens, nos ajudou a estimular a imaginação sobre a imagem visual, tal como esta de Domingos Vieira Filho sobre o cenário colonial: com as boiadas se espraiando sertão adentro, avassalando campos e brenhas, irmanadas ao próprio homem aventureiro e obstinado que palmilhava ousadamente as imensidões da terra brasileira para plantar a semente de vilas e povoados com um escasso aparato civilizatório e uma vida cercada de perigos e desconfortos, e marcados para sempre pela saudade de seus maiores, que expressava nas modinhas dolentes e nos aboios que ecoavam na solidão dos campos perdidos como notas de profunda confrangedora tristeza (in FRADE et al, 1980, p.41).

Aspectos interessantes foram salientados em imagens de tapeçarias produzidas na Europa a partir de “motivos” brasileiros levados pelos artistas viajantes, revelando um possível “olhar” do europeu sobre o Brasil; resultando em algumas bastante exóticas, com possíveis fusões de espécies típicas no Brasil e na Europa:

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Tapeçaria

Tapeçaria

A seguir foram mostradas imagens resultantes dos pintores viajantes que vieram para o Brasil no século XIX e também das resultantes das inúmeras expedições científicas difundidas pelo território brasileiro. Aparecem aí, além das extensões de terra virgens, cidades e bairros em plena formação, nas imagens destes inúmeros artistas que aqui estiveram, fossem da missão artística francesa, ou estrangeiros independentes da missão. Apresentam também os tipos humanos, os costumes, as formas de trabalho, as manifestações populares expressas nas danças e cantos, tão claramente notificadas nas imagens de Debret:

Nicolas Antoine Taunay, Largo da Carioca,

Jean Baptiste Debret, 1827

1816, Óleo sobre tela

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Inúmeras imagens da iconografia da fauna e flora geralmente referente aos trabalhos produzidos pelas exposições também são apresentados.

Ilustração Científica

lustração Científica

E com o surgimento da fotografia no século XIX, também puderam ser apreciadas algumas fotos do período.

Fotografia, Igreja do Carmo – Rua 1° de março, Rio de Janeiro, 1865

Fotografia, Entrada da Baía do Rio de Janeiro, 1875

Mostramos aqui uma parcela das mais de 130 imagens utilizadas. Acreditamos que este procedimento, pela diversidade de imagens apresentadas, as quais encerram “visões” diversas dos aspectos do Brasil e de sua formação cultural, estimulam à confabulação e ajudam a “despertar” imagens internas nos próprios alunos, fazendo-os reverberar em torno deste universo observado. Além disto, inúmeros conteúdos podem ser introduzidos, assim como a utilização de outros elementos não necessariamente visuais, como textos documentais, poesias, __________________________________________________________________ Federação de Arte Educadores do Brasil / FAEB Site: http://xxiiconfaeb2012.blogspot.com.br/ - e-mail: xxiiconfaeb2012@gmail.com


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músicas que se relacionem com o contexto das imagens etc, no intuito de colaborar para a sugestão e “construção” de um universo interno. Finda a primeira parte, os participantes executaram uma pequena atividade de desenho - realizada individualmente - a partir da observação das configurações dos desenhos de flora e fauna apresentados. Nesta etapa, chamou-se atenção para a percepção das formas. Deste modo, o objetivo foi o enriquecimento do imaginário visual proporcionado com a observação de formas variadas de expressão. É notório que, em considerável parte dos casos, os alunos passam a desenhar com as referências mentais que trazem consigo e, muitas vezes, estas referências se tornam formas estereotipadas e repetitivas pela falta de contato com referências diferenciadas e mesmo pela falta do exercício propiciado pela observação concentrada do mundo ao redor. É comum o fato de “olharmos” as coisas genericamente, mais com o conceito mental que carregamos das mesmas, do que as “vendo” realmente, por isso, a observação concentrada em formas ricas em expressão, possibilitam um espaço distendido desta experiência em que a assimilação de novas formas se fundem na percepção e expressão particular de cada um. Segundo Ana Mae Barbosa (2002, pp. 79-82) a respeito de algumas idéias sobre arte-educação de John Dewey, o trabalho combinado da observação e da imaginação, aprofunda a capacidade de expressão do indivíduo, na medida em que amplia os significados da experiência. Para o pensador, o potencial da expressão criativa não ocorre nem na interpretação como descarga emocional, nem como imitação ou cópia do real, mas na tensão entre o sujeito e o mundo, entre o subjetivo e o objetivo. Dewey criticou a livre expressão como pura subjetividade (como prática-teórica exercida na década de 40), acreditando se tratar de uma experiência não integrativa da relação homem-mundo, e, portanto, pobre de significação; por outro lado, a subordinação da imaginação a uma prática mecânica de representação, resultaria igualmente numa experiência pouco significativa. Segundo Barbosa, colocando a imaginação como operação central da educação e da experiência estética, na teoria de Dewey: A imaginação projeta o significado além da experiência comum, e é uma característica humana gravada na textura da experiência da criança e do __________________________________________________________________ Federação de Arte Educadores do Brasil / FAEB Site: http://xxiiconfaeb2012.blogspot.com.br/ - e-mail: xxiiconfaeb2012@gmail.com


XXII CONFAEB Arte/Educação: Corpos em Trânsito 29 de outubro à 02 de novembro de 2012 Instituto de Artes / Universidade Estadual Paulista __________________________________________________________________ adulto. A subordinação da imaginação à racionalização não é um indício de maturidade, mas sim de mecanização (2002, p. 85).

Com relação ao conceito de “configuração” foi explicitado que a configuração apresenta aquilo que vemos, e de certo modo, independente daquilo que conhecemos, de modo que, por vezes, a configuração de um objeto não se identifica com o que “entendemos” do mesmo, tal como pode ser observado no exemplo abaixo:

Neste caso, a intenção seria intensificar a percepção da visualidade, estimulando a percepção da variedade formal para além de um conceito a ela inerente. Assim, de igual maneira, chamou-se atenção também para os movimentos e para as dinâmicas direcionais apresentadas nas formas ou nas composições observadas, tais como nos exemplos abaixo:

Antes de ser iniciado a criação dos painéis pictóricos, trabalhamos com a proposta de reconstrução de uma das composições observadas – escolhida por cada grupo – através de um processo de recorte e colagem, tentando captar pelos recortes as configurações, direções e dinâmicas das composições observadas, tais como aparecem nos exemplos abaixo: __________________________________________________________________ Federação de Arte Educadores do Brasil / FAEB Site: http://xxiiconfaeb2012.blogspot.com.br/ - e-mail: xxiiconfaeb2012@gmail.com


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Por fim, foram apresentadas também teorias sobre algumas possibilidades de mistura de cores, tendo sido elaborados cinco painéis coletivos no tamanho de 1,00 x 0,80 m a partir dos elementos observados e desenhados; através de procedimentos que visaram aguçar a percepção das formas, mas incentivando também uma integração entre observação e imaginação como princípio das composições. Buscaram-se basicamente dois objetivos: propiciar um imaginário brasileiro – tema para os painéis – a partir das imagens apresentadas, aproveitando para contextualizar sobre elementos da formação cultural do Brasil; por outro lado, exercer uma atividade envolvendo desenho, pintura, composição, abrindo espaço para reflexões próprias do meio pictórico, envolvendo atividades de percepção de formas. As imagens utilizadas, apresentando aspectos e elementos deste cenário brasileiro, serviram à percepção das formas, buscando convergir na elaboração dos painéis, a percepção e a imaginação. Seguem imagens dos painéis:

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Justificativas A primeira argumentação que propomos a respeito do processo utilizado se baseia na importância de enriquecimento do imaginário dos alunos através do contato com referenciais culturais diversificados, sejam visuais, sonoros, literários, audiovisuais etc, e, em especial, do contato com referenciais da arte. Como mostra Ana Mae, de acordo como John Dewey a respeito do preconceito vindo da supervalorização da livre expressão do ensino da arte, na década de 40, com relação às influências sofridas pelas crianças na escola, não há germinação espontânea na vida mental: “Se ela [a criança] não receber a sugestão do professor, irá recebê-la de alguém ou de alguma coisa, em casa ou na rua, ou daquilo que algum colega mais vigoroso estiver fazendo” (in BARBOSA, 2002, p.82). Barbosa (2005, p. 20) esclarece que ficou comprovado que a percepção da criança sem influência de imagens não existe realmente, e que grande parte de nosso conhecimento informal vem através das imagens que recebemos a todo instante. Tal constatação se confronta com o antigo preconceito do uso de imagens artísticas em sala de aula e com alunos observando ou se referenciando em imagens de arte, baseada, em grande parte, numa compreensão superficial de senso comum que identifica a criatividade com uma pretensa espontaneidade “livre __________________________________________________________________ Federação de Arte Educadores do Brasil / FAEB Site: http://xxiiconfaeb2012.blogspot.com.br/ - e-mail: xxiiconfaeb2012@gmail.com


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de influências”. Segundo Fayga Ostrower, “ser espontâneo nada tem a ver com ser livre de influências” (1983, p. 147), e se o homem não tem como omitir-se a valorações do contexto cultural, ele exerce sua liberdade pela possibilidade de as enfrentá-la seletivamente, de modo que tal liberdade e individualidade se concretiza, quanto mais ele pode se confrontar com uma amplitude diversificada de significados externos. Consideramos que este é um trabalho fundamental da educação: um trabalho de “construção” cultural e do enriquecimento do imaginário do educando, na intenção de ampliação dos referenciais do mundo interno do indivíduo. O procedimento que desenvolvemos na oficina aqui descrita tem sua afirmação dentro de um conjunto de outras ações que visem sempre mais a colaboração para esta abertura, preservando as potencialidades do indivíduo para uma crescente e contínua apreensão de conteúdos e significados revelados na relação sujeitomundo. É um trabalho sempre contínuo da educação: buscar meios de fazer despertar o interesse do aluno pelo conhecimento e pelo vasto universo cultural e artístico, trabalhando para um constante interesse do individuo, seja pela realidade natural com todas as suas implicações, seja pela realidade cultural e artística que guardam consigo um inesgotável arsenal da vivência e do confabular humano. Acreditamos que esta função é o meio que a educação tem de construir este complexo “artefato chamado liberdade”, pois como acrescenta Ana Mae Barbosa, liberdade ou individualidade “não é ausência de controle, mas implica um longo trabalho de construção” (2002, p.83). Com relação ao uso de imagens artísticas como referenciais para uma recriação, salientamos que todo direcionamento do procedimento utilizado foi no sentido de que a observação destas imagens pudesse “aprofundar e ampliar a própria capacidade de expressão e não para desenvolver um modo de representação realista” (2002, p.80), num processo em que o diálogo entre a observação e a imaginação se torne princípio condutor deste fazer.

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Natasha Norberto dos Santos Aluna do Curso de Licenciatura em Belas Artes da UFRRJ, bolsista do Programa Institucional de Iniciação à Docência- PIBID. Luciana Diláscio Neves Professora do Curso de Licenciatura em Belas Artes da UFRRJ. Graduada pela Escola de Belas Artes da UFRJ. Mestre em Ciência da Arte pela UFF. Licenciada pelo Curso de Formação Pedagógica da UCAM. Coordenadora do PIBID Belas Artes da UFRRJ desde maio de 2010.

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