A umbanda como ela é

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LUIZ CARLOS PEREIRA EDSON CALIXTO MARTINS MOIZÉS MONTALVÃO

A UMBANDA COMO ELA É!


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A UMBANDA COMO ELA É!


Título dos autores em nosso catálogo: A umbanda como ela é!

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LUIZ CARLOS PEREIRA EDSON CALIXTO MARTINS

A UMBANDA COMO ELA É!


Copyright © 2006 Luiz Carlos Pereira e Edson Calixto Martins

Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida, em qualquer meio ou forma, seja digital, fotocópia, gravação etc., nem apropriada ou estocada em banco de dados, sem a autorização dos autores.

Arte-final da capa Demanda Editorial

P436 Pereira, Luiz Carlos, 1961A umbanda como ela é! / Luiz Carlos Pereira, Edson Calixto Martins.– Rio de Janeiro : Booklink, 2006. 144p. ; 21cm. ISBN: 85-7729-005-0 1. Religião. 2. Umbanda. I. Martins, Edson Calixto. II. Título. CDD 299.6

Editor Glauco de Oliveira Direitos exclusivos desta edição: Booklink Publicações Ltda. Caixa Postal 33014 22440 970 Rio RJ Fone 21 2265 0748 www.booklink.com.br booklink@booklink.com.br


Agradecimentos

A todos os filhos e freqüentadores de nossa casa, pela motivação que nos encorajou. À querida amiga, Helen Martinez Pereira, pelas horas dedicadas à correção de nosso texto. Às Sete linhas da Umbanda. A todos nossos guias e orixás.



Sumário Prólogo ......................................................................................................... 9 Origem ........................................................................................................ 11 Orixás .......................................................................................................... 14 Elementos ................................................................................................... 16 Sincretismos ............................................................................................... 18 O terreiro .................................................................................................... 20 As 7 linhas ................................................................................................... 25 Oxalá ........................................................................................................... 32 Iemanjá ........................................................................................................ 42 Ogum .......................................................................................................... 51 Oxóssi ......................................................................................................... 57 Xangô .......................................................................................................... 63 Preto velho ................................................................................................. 67 Ibeji .............................................................................................................. 70 Iansã ............................................................................................................. 74 Oxum .......................................................................................................... 81 Nanã Buruquê ............................................................................................ 87 Omulu ......................................................................................................... 90 Ossãe ........................................................................................................... 94 Exu .............................................................................................................. 98 Falanges auxiliares ................................................................................... 104 Apetrechos ............................................................................................... 114 Rituais ........................................................................................................ 119 Locais sagrados ....................................................................................... 128 Mediunidade ............................................................................................ 130 Incorporação ........................................................................................... 135 Evolução mediúnica ............................................................................... 139 Considerações finais ............................................................................... 142


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Prólogo Atualmente tem-se falado muito da Umbanda, mas infelizmente, na maioria das vezes, de modo grosseiro e impessoal. Por isso nem sempre conseguimos entender a magia simples, a beleza e o sentimento de fé que essa “religião” nos proporciona. As aspas entram por minha conta, já que essa lei não é considerada religião, e sim, “seita”. Não é minha intenção, neste livro, entrar nessa discussão. Ele está sendo escrito pela absoluta necessidade de dividir com os médiuns adeptos e simpatizantes um pouco do que aprendi em vinte e cinco anos de dedicação a essa que considero a “minha religião”. Tenham certeza, aqueles que porventura vierem a ler estas linhas, que a Umbanda é muito maior que qualquer debate promovido por pseudo-umbandistas e que por mais que se estude nunca chegaremos a uma conclusão única, pois ela é uma religião que muda a cada dia, refletindo as alterações do mundo astral que, por sua vez, adaptam-se ao mundo material. Partiremos da premissa que a lei de pai Oxalá não admite críticas destrutivas, as construtivas devem ser feitas com educação e respeito àqueles que se dedicam por anos à missão de construir um mundo melhor, esquecendo-se às vezes de sua própria vida para aliviar a dor de seus irmãos. Conheço médiuns, Babás e Iaôs altamente devotados, mas o contrário também se dá, ou seja, pessoas que se dizendo umbandistas cometem erros crassos e, quase sempre, movidos unicamente pelo interesse financeiro ou por segundas intenções. Claro que isso não vem ao caso neste livro que me foi cobrado pelos orixás que guiam minha coroa. Quero com ele, apenas, demonstrar que a Umbanda permite uma gama enor9


me de tradições e formas de trabalho que por mais que pareçam errados estão sendo acompanhados por uma miríade de espíritos bons que estão sempre a nos guiar para o caminho do bem universal. Portanto, ninguém erra quando seus trabalhos são guiados pelo coração. O que interessa na realidade é a certeza da dedicação total que sempre nos leva a um bom resultado final. Gostaria de lembrar que a Umbanda é uma religião sem preconceitos que abre os braços a todos que nela quiserem ingressar. Não existem diferenças de raça, credo, sexo ou qualquer tipo de restrição que se queira fazer para discriminar alguém. Em nossos congás não temos isso. Venham todos e serão confortados. Unamo-nos todos para fazer de nossos trabalhos uma lição a ser seguida por todos os povos. Espero que gostem da maneira como vou tratar, de forma simples e direta, os diversos preceitos que aprendi em todos esses anos. Para trabalhar comigo neste livro chamei um amigo, filho de santo e irmão, Edson Calixto Martins que apesar da pouca idade é um defensor e estudioso das tradições umbandistas e foi quem sempre me ajudou nas pesquisas e no burilar das idéias. Axé, Edson. Obrigado. Saravá, Oxalá. Saravá, Jesuíno Gota D’Água.

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Origem Uma das versões mais conhecidas que se tem do início da Umbanda, conta a respeito da incorporação do Caboclo das 7 Encruzilhadas, no início do século XX, pelo médium Zélio Fernandino de Moraes, na época, com dezessete anos. O rapaz após apresentar diversos sintomas de desvio de personalidade foi levado por seus pais a um centro espírita. Lá chegando, encaminhado para um passe energético, foi tomado por um espírito que se dizia de um índio e pedia licença para trabalhar e cumprir sua missão. Foi severamente admoestado pelo presidente do centro por não ser iluminado o suficiente para trabalhar na mesa. O índio disse que assim como ele, diversos espíritos esperavam sequiosos para dividir seus conhecimentos e suas leis e se a casa espírita não os aceitava, ele iria fundar uma casa onde atenderia todos os enfermos e quem precisasse de ajuda, dando ainda oportunidade a muitos espíritos que como ele precisava trabalhar e evoluir. Convidou a todos os presentes para que estivessem no dia seguinte na casa do médium que lhe servia de aparelho, pois lá iria fundar uma nova religião. Perguntado sobre seu nome ele respondeu: “Já que vocês têm a necessidade de um nome, chamem-me Caboclo das Sete Encruzilhadas, pois sou aquele que veio abrir os caminhos para uma nova forma de trabalho na espiritualidade”. Nesse ponto, esclarecemos que, nessa época, as manifestações espíritas conhecidas eram somente dos centros de mesa branca e dos candomblés. O primeiro apenas recebia espíritos de luz ou aqueles que, sem luz, precisavam ser doutrinados. Já os candomblés trabalhavam somente com os santos africanos. 11


Qualquer outra manifestação incorporada era considerada “egum”, ou seja, espíritos de mortos que não atingiram grau de evolução suficiente para tornarem-se trabalhadores espirituais. Portanto, era impossível para um caboclo ou um preto-velho, verdadeiros baluartes da Umbanda, conseguirem um local para exercerem sua santa missão. No dia seguinte, a casa do rapaz estava cheia. Na hora marcada deu-se novamente a incorporação do Caboclo que elucidou a todos sobre sua missão e dos outros espíritos que o acompanhavam. Falou ainda de sua forma de trabalho e determinou as primeiras regras da nova religião chamada Umbanda. A partir daí, Zélio fundou a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade que por muitos anos serviu aos guias de Umbanda e a todos que por ela procuraram. Fizemos apenas um pequeno resumo da história, pensando naqueles que, porventura, nunca souberam desses fatos, por estarem em início de desenvolvimento ou simplesmente por terem contato com a Umbanda somente agora. Pedimos perdão aos puristas que exigem um número maior de exatidão e informação, mas não pretendemos ser históricos ou por demais didáticos. Queremos apenas simplificar e facilitar a vida dos que tem curiosidade e só acham livros enfadonhos e cheios de minúcias que, às vezes, somente interessam aos umbandistas antigos e já com um grande cabedal de conhecimentos e que os buscam para aprimoramento, deixando os iniciandos sem opções. A explicação para isso está lá no início da história umbandista. Nossa religião, por muitos anos, foi totalmente oralizada, ou seja, passada de pai para filhos de santo que eram, na sua maioria, pessoas incultas e até analfabetas, o que as fazia guardar as informações de memória ou quando muito, anotadas em rascunhos que com o tempo eram perdidos. Aos poucos a nova religião passou a ser difundida em todas as classes sociais chamando a atenção de estudiosos e escritores que iam aos terrei12


ros para estudar o culto e assim escrever sobre ele em livros e jornais. No início foi penosa para eles a busca de informações, pois os antigos pais de santo, assim que se viam diante de uma pergunta um pouco mais profunda, respondiam: “Segredo de mironga quem sabe é congá!” – e davam a entrevista por encerrada. Devagar esse tabu foi caindo e vários pais de santo passaram a escrever seus próprios livros ensinando e mostrando os vários caminhos dos orixás, mas, e aí está o problema, muitos desses livros falam da Umbanda como uma experiência quase pessoal, o que os deixa cheios das minúcias que falamos acima. Parecem ser escritos para pessoas que já sabem muito e precisam apenas aprofundar-se no assunto. Com este livro queremos mostrar a beleza e a força dessa religião de uma forma clara e direta, esquecendo um pouco daqueles que já conhecem bastante e tentando mostrar aos que pouco sabem os caminhos básicos da lei. Isso para que todos entendam que a grandeza da Umbanda está justamente na sua humildade, em sua forma de seguir os ensinamentos do mestre que diz: “Dai de graça, o que de graça recebestes!” Todo o fundamento da Umbanda que muitos insistem em enfeitar está, na realidade, embutida nessa pequena frase. Bendito o umbandista que conseguir se guiar por ela e fizer dela sua missão e sacerdócio. Bem, vamos enfim dar início a essa viagem. Aproveitem, imbuam-se de fé e coragem (sim, um bom médium precisa muito das duas) e aprendam um pouquinho do que é essa divina lei. Que Oxalá esteja conosco!

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Orixás Antes de começarmos, precisamos explicar o significado da palavra orixá: ORI - Alto (Cabeça, destino, senhor) XÁ - Força (Da natureza por excelência) A língua africana é rica em dialetos e isso fez com que a tradução ganhasse várias interpretações, tais como: Senhor da natureza, Força que vem do alto, Cabeça da natureza e muitas outras, todas praticamente com o mesmo significado. Temos a convicção que os orixás são as forças vivas da natureza em todas as suas nuances: as matas, cachoeiras, os rios, o mar, o vento, a chuva e toda a energia que move e constitui o universo. Os representantes dessas forças são os santos louvados nos cultos afro-brasileiros, os orixás. Sabemos que as entidades que trabalham na Umbanda não são orixás no sentido exato da palavra, e sim, guias ou mentores. Porém, de alguns anos pra cá, o nome se popularizou demais em nosso meio e em muitos terreiros esses trabalhadores também são chamados orixás. Acreditamos que essa popularidade adveio da beleza e magia da palavra e da dificuldade em conseguir transmitir aos médiuns e freqüentadores a diferença entre guia (colar) e guia (entidade). Ao escrever este livro, pretendemos mostrar de forma clara e verdadeira, como é a Umbanda praticada hoje. Por isso utilizaremos o nome citado tanto para os santos como para as entidades, já que não acreditamos estar incorrendo em erro ao utilizá-lo, haja vista que a maioria de nós o usa em suas casas. 14


Para muitos pode parecer bobagem essa explicação, mas sabemos muito bem que seremos criticados por essa e por muitas outras coisas que falaremos no transcorrer deste livro. Porém, sendo nossa idéia transcrever fielmente o que temos observado, não poderíamos deixar de lado essa e outras mudanças que vêm ocorrendo em nossa religião nos últimos anos e estamos totalmente preparados para os julgamentos e críticas que fatalmente virão.

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