Cosmópolis - A utopia comunista

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Cosm贸polis


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Cosmópolis

Roberto Ponciano

A UTOPIA COMUNISTA

Apresentação R. SATURNINO BRAGA


Copyright © 2012 Roberto Ponciano Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida, em qualquer meio ou forma, seja digital, fotocópia, gravação etc., nem apropriada ou estocada em banco de dados, sem a autorização do autor. Capa Cris Lima / Demanda Editorial Foto da capa: Vinícius Souza (www.mediaquatro.com.br) Revisão João Mac-Cormick

Editor Glauco de Oliveira Direitos exclusivos desta edição: Booklink Publicações Ltda. Caixa Postal 33014 22440 970 Rio RJ Fone 21 2265 0748 www.booklink.com.br booklink@booklink.com.br

Cosmópolis / Roberto Ponciano . – Rio de Janeiro : Booklink, 2013. 136 p. ; 20,5 cm. ISBN: 978-85-7729-132-8 1. Literatura brasileira. 2. Novela. 3. Política I. Ponciano, Roberto. II. Título. ICDD 869.3


Ao movimento comunista internacional e a todos os camaradas mortos na luta pelo socialismo. Ao Partido Comunista Brasileiro e aos camaradas brasileiros presos, torturados e mortos na luta pelo socialismo. Aos 27 milhões de camaradas soviéticos que tombaram na luta contra o nazifascismo para que eu pudesse hoje, tranquilamente, escrever este livro. A Fernando Ladera Cubero, primeiro professor de comunismo e aos camaradas mortos lutando contra o fascismo na guerra civil espanhola. A Carlos Telles de Menezes, infatigável assistente no Partido Comunista Brasileiro. Ao companheiro de luta Saturnino Braga, pela generosa apresentação deste livro. A Salvador Allende, Che Guevara, Farabundo Martí, Túpac Amaru, José Martí, João Cândido e todos aqueles que morreram por amar este continente e desejá-lo livre. 5


João Mac-Cormick, a quem devo a correção ortográfica deste livro. Raimundo Santos Moura, por coordenar o projeto VERO*, desenvolvido pela comunidade de Software Livre com o propósito de manter o verificador ortográfico e gramatical do português do Brasil o mais atualizado possível para os nossos usuários. A todos aqueles que estão conscientes para entender que o socialismo é a única alternativa.

VERO – Verificador Ortográfico e Gramatical do LibreOffice. – Projeto desenvolvido em Software Livre para a identificação e correção de erros de grafia e gramática, sendo pioneiro na adequação ao Acordo Ortográfico de 1990, em vigor desde 2009.

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A utopia é necessária Das cavernas e da caça até a agricultura e as cidades a Humanidade deve ter evoluído por miniavanços operacionais conseguidos na prática do dia a dia, sem necessidade de projetos ou pensamentos teóricos sobre o futuro. Mas da cidade para a frente, quando começa o desenrolar da civilização, a grande História do homem, a reflexão teórica passa a ser necessária, e logo imprescindível. Não seria possível organizar e harmonizar as grandes aglomerações humanas sem o fundamento de crenças e valores estabelecidos pelo espírito humano, as teorias do mundo da vida. Uma das formas mais importantes dessas reflexões sobre as sociedades humanas é a formulação de projetos ideais de organização dessas sociedades. A definição de comportamentos individuais ideais foram as primeiras formas que assumiram essas reflexões e nelas se originaram as revelações dos líderes religiosos que orientaram a formação e a convivência 7


dessas grandes e crescentes aglomerações humanas. As religiões e seus preceitos morais foram as primeiras formas de definição dos modelos ideais de comportamento humano; sem elas não teria sido possível a construção das grandes civilizações ao longo de nossa História. Milênios de evolução cultural e civilizatória fizeram surgir as primeiras formulações para a organização de sociedades ideais sem caráter religioso, as chamadas utopias. Platão ao que se sabe foi o primeiro, há dois mil e quinhentos anos, com a descrição do seu modelo de sociedade na famosa “República”. A expressão Utopia que, em grego quer dizer nenhum lugar, foi criada por Thomas More, no início do século XVI, quase dois mil anos depois de Platão, para batizar a ilha imaginada por ele, que aliás era na América do Sul, habitada por uma população que tinha organizado a sociedade perfeita, ideal para ele no seu tempo, que não podia existir nunca porque contrariava a natureza humana de tão perfeita que era, no entender dele. Era tão somente um modelo, e a palavra Utopia passou a designar, daí em diante, modelos ideais de sociedade e de comportamento humano. O senso comum sabe perfeitamente que as utopias não são realizáveis e, entretanto, novas formulações ideais, novas utopias continuaram a ser propostas ao curso da História, como a sociedade comunista de Marx, tão livre que não teria Estado, apenas mencionada por ele como etapa final da evolução humana, sem descrição detalhada. O fato é que a Utopia é necessária para a evolução política da Humanidade. Sem modelo utópico, a política se transforma num jogo de poder vazio de conteúdo, um jogo puramen8


te maquiavélico de luta pelo poder pelo poder, sem nenhuma projeção ou proposta de realização de fins para a sociedade. A Utopia é realmente necessária, e foi pensando assim que Roberto Ponciano escreveu a sua Cosmópolis. Para afirmar que outro mundo é necessário para evitar a barbárie do puro business, e que outro mundo é possível, sim, tal com vem afirmando o Fórum Mundial Social. E este novo mundo está aí batendo à porta, com a crise europeia e com o radicalismo espantoso da direita norte-americana. Ponciano, então, ousa descrevê-lo; e o faz de modo inteligente e interessante. Revela-se o novo mundo de Ponciano numa novela criada por ele, passada em Cosmópolis, cerca de duzentos e cinquenta anos à frente dos nossos dias. Seu personagem principal é um militar, um capitão que tem um nome bem novelístico, Marco Antonio do Nascimento, doente terminal com trinta e poucos anos, que é congelado nos dias de hoje, como se congelam corpos recém-mortos, hiberna um quarto de século e é despertado e curado já nesse novo mundo futuro, que é o Rio de Janeiro duzentos anos depois da Revolução Mundial que extinguiu a mão invisível do Capital. Bem, não vou contar a história atraente que vocês vão ler do capitão Nascimento deslumbrado com o novo mundo que lhe é dado conhecer, e com a moça Carla, bela e competente psicóloga escalada para ciceroneá-lo na sua adaptação. O capitão vai às nuvens no seu sentimento, no seu conhecimento da sociedade que tem como princípio “De cada um conforme sua capacidade para cada um conforme a sua necessidade”; e vai à Lua, verdadeiramente, conhecer a nova colônia humana lá estabelecida. Um pouco de Júlio Verne é sempre um bom tempero nas narrativas. 9


A novela de Ponciano é rica e tem a luminosidade da imaginação e dos anseios de um trabalhador brasileiro que sente a mistura do privilégio de viver num país que estará na vanguarda desse novo mundo que descreve com a frustração de estar a um quarto de século deste futuro brilhante. É a velha Utopia atualizada. Roberto Ponciano é um escritor de méritos e um pensador que amadureceu sua meditação com muito estudo e trabalho. Vale a pena ler Cosmópolis. R. Saturnino Braga Rio de Janeiro, outubro de 2012

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nota do autor Este livro não tem pretensão literária. Não vejam esta declaração como uma desculpa para a falta de talento do autor. Mas efetivamente ele pretende apenas afirmar que: OUTRO MUNDO É POSSÍVEL. Mais do que isto, OUTRO MUNDO É NECESSÁRIO. No momento em que o Capital perdulário e destrutivo começa a ameaçar a existência da vida no nosso planeta, tem que soar mais alto o grito SOCIALISMO OU BARBÁRIE, que já está quase sendo transformado em SOCIALISMO OU BARATAS (isto se sobrarem baratas). Só o controle sociometabólico direto da sociedade dos produtores sobre seu próprio destino, alforriando-se do controle tirânico do Capital, que em sua reprodução, hoje em dia, só promete miséria, violência, fome e a ameaça letal de guerra continuada e sem controle. Diante das declarações imbecis das personificações do Capital que querem nos convencer de que a história acabou e 11


que é o Capitalismo ou Nada, temos que pensar que o Capitalismo é o Nada e que teremos Tudo, livrando-nos de uma forma de reprodução da vida humana no qual somos reduzidos à carcaça do tempo do trabalho, valor contabilizado, que do momento em que não pode ser aproveitado, de maneira trágica pode ser colocado na sarjeta como um DANO COLATERAL DO DESEMPREGO ESTRUTURAL. Contra a forma irracional de um processo que torna o homem inimigo do homem e algoz da natureza, a única alternativa foi, é e continua sendo o socialismo. Este livro, em forma de novela, é um grito. O grito do negro, do mongol e do índio contra o racismo, o grito da mulher contra a dominação do homem e a exploração sexista do seu corpo pela sociedade de consumo. O grito do pobre por condições decentes de vida, o grito de todos os explorados e oprimidos que só pode ser resumido em um grito: Socialismo ou barbárie!!!! Pois somos do povo o ativo Trabalhador forte e fecundo Pertence a terra aos produtivos Oh parasita deixa o mundo Oh parasita que te nutres Do nosso sangue a gotejar Se nos faltarem os abutres Não deixa o sol de fulgurar.

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UM A ciência havia avançado muito nos últimos dois séculos e meio. Pela primeira vez, ela tentaria aquilo que parecia impossível: o milagre da vida. Um homem que vivera durante os últimos duzentos e cinquenta anos em coma induzido, quase que hibernando, acabou por esperar, involuntariamente, a sua cura. O planeta havia mudado, as pessoas, o sistema político-econômico. Mais do que um simples despertar, a questão era mais complexa. Como esse homem se comportaria diante do choque cultural? Como um índio do século dezesseis, arrancado de sua civilização e entregue a um mundo europeu diferente e hostil pelas grandes navegações, o capitão Marco Antônio do Nascimento virara uma curiosidade científica. Durante quase dois séculos travou-se uma verdadeira batalha ideológica para se saber se era lícito ou não mantêlo vivo, vegetando, ou praticar a eutanásia (agora uma op13


ção legal em todo o mundo), uma opção familiar, sendo que ele não tinha parentes próximos vivos. Nas últimas décadas, uma verdadeira guerra mobilizou grande parte da opinião pública de Cosmópolis. Com a moderna ciência era possível despertá-lo do sono e curar o seu mal, mas como seria ao acordar em uma nova era? A antiga terra do século XX, de miséria na abundância, de guerra e hostilidade, já não mais existia. O mundo do capitão ficara para trás. Aliás, nem mesmo ele era capitão, pois não havia mais exércitos nem países pelos quais guerrear. O que seria daquele homem de repente transformado em criança, reaprendendo a viver num mundo que não era seu? Como no sonho da música “Imagine” de Lennon. Se era uma loucura, um sonho absurdo imaginar um mundo sem países no século XX, agora parecia sonho acreditar que um dia o mundo estava dividido em pátrias rivais, envolvidas em guerras econômicas que fizeram a humanidade feder a fumo e sangue. Havia outras questões para Marco. Depois de duzentos e cinquenta anos hibernando, num coma induzido, experimentando uma série de novas drogas feitas para a conservação da vida, o que ele relembraria? De sua mulher, filhos, casa? Houve o cuidado, por parte da assistência social do hospital, pesquisar os descendentes, que já contavam quase dez gerações após o capitão, para apresentá-los àquele patriarca, espécie de fóssil vivo de um tempo bárbaro, da pré-história da nova era que a humanidade vivia. Conseguiu-se também recuperar fotos e filmes do século XX, onde ainda poderia ver a sua família original, mulher e filhos. O capitão entrara em coma induzido no ano 14


2012, pois estava com um raro tumor que, após debilitar todas as suas forças, estacionou, sem regredir, e impediuo de viver normalmente, e colocou-o à beira do limite entre a morte e a vida durante dois séculos e meio. Agora estava curado. Nos últimos duzentos anos experimentara drogas que reduziram seu metabolismo e envelhecimento, de maneira que, embora estivesse com trinta e três anos quando entrou em coma, agora, um quarto de milênio passado, não aparentava ter mais do que cinquenta anos. A questão era como retirá-lo do coma da maneira menos traumática. Uma descendente foi encarregada de ser sua tutora. Era a pessoa mais indicada. Médica, psicóloga, cientista, pesquisadora, brilhante acadêmica, sensível e com grande instinto maternal. Seu nome era Carla. Ela se encarregou voluntariamente para isso. Tinha a consciência de que aquela não era apenas uma tarefa científica, mais uma responsabilidade fraternal, humana: a de trazer um homem de volta à realidade, em um mundo completamente desconhecido, como se ele houvesse viajado numa espécie de máquina do tempo. Na sala do hospital estavam apenas os médicos e os descendentes que foram chamados para receber o patriarca. A droga, combalion, especialmente produzida para retirar pacientes de coma profundo, iria ser injetada. Plenamente eficaz, jamais teve utilização para um caso parecido como esse: o de um paciente de uma outra era. Todos os movimentos de Marco estavam sendo monitorados, o coração, o pulmão, o cérebro... Quatorze horas e quarenta e cinco minutos do ano 2262 do Nosso Senhor Jesus Cristo, ou do ano 200 da 15


Revolução Mundial. O capitão Marco Antônio do Nascimento, nascido a 3 de abril de 1967, retornará à vida. O combalion vai sendo injetado em suas veias. A temperatura vai-se elevando lentamente, os batimentos cardíacos se aceleram, sua atividade cerebral vai se tornando cada vez mais consciente, até que... Um milagre da ciência: o capitão Marco abre os olhos e retorna a vida. – Sofia – balbucia o nome da esposa, procurando-a com os olhos, pela sala. Carla toma de sua mão e lhe pede calma. Diz-lhe também que depois a esposa dele virá vê-lo. Ele tenta se levantar, mas é impossível; todos os seus músculos estão atrofiados. Ele vai necessitar de um longo período de exercícios para se recuperar física e psicologicamente, para entender e se inserir neste novo mundo comunitário, fraterno e solidário que é a Terra do Século XXIII.

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