Líbia - barrados na fronteira

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PRETO E

LÍBIA BARRADOS NA FRONTEIRA

Maurício Azêdo

Presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

A

cobertura jornalística da guerra civil na Líbia, iniciada em fevereiro de 2011, obedece a critérios que podem ser considerados no mínimo discutíveis. Alguns analistas entendem que a mídia, na prática, acabou se transformando na própria guerra. Algo semelhante já havia acontecido anos atrás quando da cobertura da invasão e posterior ocupação do Iraque pelas forças militares dos Estados Unidos. Este livro, além de analisar os acontecimentos naquele país do Norte da África mostra como os meios de comunicação manipularam fatos com a edição de imagens e textos que tiveram o objetivo de convencer a opinião pública sobre a “missão humanitária” exercida pelos bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), fator determinante para a definição de um dos lados da disputa entre adeptos e opositores do regime líbio, capitaneado por Muammar Kadhafi. Depois do assassinato de Muammar Kadhafi, o autor alerta para o fato de as razões “humanitárias” evocadas para justificar as ações militares da OTAN podem, de agora em diante, servir de pretexto para incursões em outros países que se contrapõem às exigências dos países ocidentais, que hoje atravessam uma crise econômica considerada por alguns analistas como o início de uma nova etapa do sistema capitalista.

MÁRIO AU G U ST O JA K O BS K I N D

bia, seu petróleo, teve no passado e terá no futuro imediato e deixa entrever o prolongamento de um drama nacional que não se esgotou com o assassinato do líder deposto. Ao contrário do que imaginam Barack Obama e seus títeres da OTAN, a tragédia líbia está apenas diante de novo e tormentoso capítulo e se mantém e continuará sob a pressão dos fatores que geraram o prolongado poder de Kadhafi, como a divisão do país de pouco mais de 6 milhões de habitantes por mais de uma centena de tribos que têm visões distintas da realidade nacional e da inserção da Líbia na comunidade internacional. Com o forte embasamento documental e a lucidez de jornalista e estudioso que há décadas se dedica às questões internacionais, como deixou visível em Cuba: Apesar do bloqueio e em outros trabalhos, Mário Augusto Jakobskind revela-se aqui analista e profeta, ao predizer que o último dia de Kadhafi não representa o fim da História, como gostam de assoalhar aqueles que espalham morticínio pelo mundo, como se deu agora na Líbia.

PANTONE 335 C

MÁRIO AUGUSTO

JAKOBSKIND

LÍBIA BARRADOS

EDIÇÃO URGENTE!

NA

FRONTEIRA O QUE NÃO SAIU NA MÍDIA SOBRE A INVASÃO DA LÍBIA Apresentação

MAURÍCIO AZÊDO

UM DRAMA NACIONAL QUE NÃO TERMINOU Com extremado senso de oportunidade jornalística, já demonstrado em outros trabalhos publicados pela mesma editora, Mário Augusto Jakobskind nos oferece neste seu mais novo livro não apenas o relato episódico de relevante acontecimento histórico, mas um amplo e circunstanciado painel da tragédia que se abateu sobre a Líbia e seu povo após a união de poderosas forças do Ocidente – Estados Unidos, GrãBretanha e França – para a derrubada de um dirigente nacional, Muammar Kadhafi, que durante mais de quatro décadas foi protagonista de destacados momentos da vida internacional. Partindo de um episódio isolado – a tentativa, concebida no Brasil, de se promover uma avaliação isenta da intervenção militar na Líbia após a decisão dos líderes do Ocidente de depor Muammar Kadhafi, investigação frustrada pela impossibilidade de se chegar ao país arrasado pela artilharia aérea da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Mário Augusto escancara os interesses há muito em conflito na região, destaca o papel que a principal riqueza da Lí-


e V o c êe s t ár e c e b e n d ou mao b r a e mv e r s ã od i g i t a l d aB O O K L I N K s o me n t ep a r al e i t u r ae / o uc o n s u l t a . N e n h u map a r t ep o d e s e r u t i l i z a d ao ur e p r o d u z i d a , e mq u a l q u e r me i oo uf o r ma , s e j ad i g i t a l , f o t o c ó p i a , g r a v a ç ã oe t c . , n e ma p r o p r i a d ao ue s t o c a d a e mb a n c od ed a d o s , s e maa u t o r i z a ç ã od o ( s ) a u t o r ( e s ) . V e j ao u t r o st í t u l o sd i s p o n í v e i sd oa u t o r , d eo u t r o sa u t o r e s , e d i t o r e sei n s t i t u i ç õ e s q u ei n t e g r a mon o s s os i t e . C o l a b o r eep a r t i c i p e d aR E D ED EI NF O R MA Ç Õ E SB O O K L I NK( B O O K NE WS ) ed en o s s aR E D ED ER E V E ND AB O O K L I NK . C a d a s t r e s en os i t e .


L Í B I A BARRADOS NA FRONTEIRA


Obras do autor em nosso catĂĄlogo: LĂ­bia: barrados na fronteira Cuba: apesar do bloqueio (2. ed.) Parla!

homepage / e-mail do autor: www.booklink.com.br/marioaugustojakobskind ajakobskind@gmail.com


Mário Augusto Jakobskind

L íbia

Barrados na F ronteira O que não saiu na mídia sobre a invasão da Líbia


Copyright © 2011 Mário Augusto Jakobskind Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida, por qualquer meio ou forma, seja digital, fotocópia, gravação etc, nem apropriada ou estocada em banco de dados, sem a autorização do autor. Capa Cris Lima / Demanda Editorial

Editor Glauco de Oliveira Direitos exclusivos desta edição: Booklink Publicações Ltda. Caixa postal 33014 22440 970 Rio RJ Fone 21 2265 0748 www.booklink.com.br booklink@booklink.com.br

Jakobskind, Mário Augusto, 1943Líbia: barrados na fronteira / Mário Augusto Jakobskind – Rio de Janeiro : Booklink, 2011. 136 p. 20,5 cm ISBN: 978-85-7729-124-3 1. Jornalismo. 2. Reportagem. 3. Política - Internacional. 4. OTAN. 5. África - Líbia. I. Jakobskind, Mário Augusto. II. Título. CDD 869.3


PREFÁCIO

SAGA DA DELEGAÇÃO BRASILEIRA Protógenes Queiroz1 O objetivo inicial da ida da delegação brasileira à Líbia era o de contribuir, juntamente com outras delegações internacionais, no processo de negociação de paz entre rebeldes líbios do CNT (Conselho de Nacional de Transição) e as forças aliadas de Muammar Kadhafi, na elaboração de um relatório final a ser encaminhado à Organização das Nações Unidas. Este livro retrata a real situação que passaram os nove integrantes da delegação, durante uma semana, entre a saída do Brasil com conexão na Tunísia e o destino final na capital Trípoli. O Deputado federal (PCdoB-SP) que, juntamente com o deputado federal Brizola Neto (PDT-RJ), integrou a delegação que iria à Líbia.

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que acabou não acontecendo devido ao criminoso bombardeio da OTAN na única estrada de entrada e saída de ajuda humanitária à Líbia, na cidade fronteiriça de Ben Guerdane. A guerra civil iniciada em fevereiro de 2011 era um conflito interno que poderia ser solucionado pelo próprio povo líbio sem o uso da força bélica. Houve até a proposta de um plebiscito para o povo líbio definir o regime de sua preferência. Não foi aceito pelos opositores de Kadhafi. Prevaleceu a força em vez do diálogo em direção à paz, em razão dos sucessivos bombardeios da OTAN pela marinha francesa, incluindo o portaaviões Charles de Gaulle, ancorado no Mar Mediterrâneo, aliado às tropas regulares das forças militares da Inglaterra, França, Itália, EUA e mercenários. Falaram mais alto os interesses econômicos com a participação de órgãos de inteligência (CIA e M16) e organizações extremistas como a alQaeda, que tinham por objetivo a dominação política para a apropriação de bilhões de dólares de reservas líbias de petróleo e gás. Pelo que parece, uma das metas era suprir a bolha e o rombo na economia dos EUA e Europa. E tudo sob o manto hipócrita de fortalecimento da democracia. O que está narrado neste livro demonstra coragem e o sentimento, não só do jornalista, mas, so6


bretudo, do cidadão brasileiro, preocupado com os acontecimentos históricos em países como o Afeganistão, Iraque, Egito, Síria, Tunísia. O autor não deixou também de alertar para o perigo que representa para o Brasil o potencial energético e hidrográfico, bem como a necessidade de se contrapor a isso pela nossa união para nos proteger contra possíveis ameaças e cobiças internacionais. Embora impedidos de seguir viagem para Trípoli, parte da equipe da qual participei seguiu em um comboio do exército da Tunísia até o posto de fronteira na cidade de Ben Guerdane. Então, pude confirmar uma realidade descrita aqui com fatos que nos levam à indignação dessa ocupação premeditada que remete aos corsários que cruzavam os mares usando de força e violência, para satisfazer interesses pessoais ou de determinado grupo a eles vinculados. A situação da Líbia é muito complexa e faz-se necessário condenarmos com veemência as ações da OTAN, com o consentimento tácito da ONU, que levam a graves consequências internacionais. No caso, um país como a Líbia, com peculiaridades étnicas culturais próprias que demorou séculos para se firmar como civilização política, econômica e socialmente viável aos desafios ocidentais de modernidade. Além disso, depois da 7


lamentável guerra civil de mais de seis meses, o país hoje corre o risco de perder sua identidade histórica e importância de polo propulsor do desenvolvimento do continente africano. A alternância na estrutura de poder de qualquer Estado é saudável para as renovações das relações políticas, econômicas e sociais, mas temos que considerar o momento certo para transição e avaliar as consequências da mudança, tendo como centro de debate que o homem é o produto de sua história e de sua cultura. Impor um modelo de Estado e governo ocidentalizado em um país com formação histórica tribal ou familiar, com modelo de falsa democracia, é um modo violento de colonização contemporânea, cujo objetivo final é a apropriação das riquezas, o que é incompatível com os avanços tecnológicos do mundo moderno. Ou seja, uma falsa democracia imposta pela força não pode ser aceita pela comunidade internacional. Quanto ao líder Muammar Kadhafi, a sua condição de mártir exposto às contradições da cobiça internacional pelas riquezas de sua terra e cultura nos remete a um pensamento: “ruim com ele, pior sem ele...”.

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Delegação brasileira barrada na fronteira do Líbano devido aos bombardeios da OTAN A aeronave da Air France desliza pela pista do Aeroporto Internacional de Guarulhos, São Paulo, Brasil. Eram 21h30 da noite do domingo, 14 de agosto. Destino: São Paulo-Túnis, com breve escala em Paris, e de lá em outro voo direto para Djerba – a cerca de 100 quilômetros da fronteira da Tunísia com a Líbia – de onde seguiríamos por terra para Trípoli. Afivelado na poltrona do avião ainda estava sofrendo com os mais de 20 dias de ansiedade, desde o convite recebido para integrar, como observador internacional, uma delegação brasileira com a finalidade de acompanhar o desenrolar dos conflitos que ocorriam – e que ainda ocorrem – na Líbia, constante e duramente bombardeada pelas forças da OTAN (Organização do Atlântico Norte), sempre comandada pela prepotência e arrogância dos governos dos Estados Unidos, Reino Unido, França e outros menos votados, desde a sua formação em 4 de abril de 1949. 9


Um convite irrecusável para este repórter, um veterano profissional de imprensa, mesmo sendo considerado pela Folha de S.Paulo, no qual trabalhei durante cinco anos, somente um “escritor esquerdista”, conforme matéria publicada naquele jornal sobre a ida da delegação brasileira à Líbia. Juntamente com este repórter, os demais membros da delegação foram convidados pela organização não governamental líbia, Fact Finding Committee, para acompanhar de perto a situação naquele país do Norte da África que, depois de seis meses, sofria fortes ataques aéreos, num total estimado entre 7.500 mil e mais de 20 mil bombardeios. O papel da delegação era preparar mais um relatório oficial para a ONU, sob o ponto de vista do Brasil, como já tinham feito diversas delegações de outros países, o que, certamente, demonstra a importância do Brasil, hoje, no cenário internacional. Fato curioso é que os integrantes da delegação, dois deputados federais, jornalistas e ativistas de movimentos sociais brasileiros, não se conheciam pessoalmente, o que ocorreu somente durante a viagem. Até mesmo durante o check in, no saguão do aeroporto de Guarulhos, a expectativa pela viagem era contagiante. Mesmo não se conhecendo, a aproximação foi imediata. Todos tentávamos 10


prever sobre o que nos esperava na Líbia, e alguns analisavam os acontecimentos que lá ocorriam. Apesar de certa ansiedade natural pelos motivos da viagem e pelos possíveis riscos de vida que correríamos, em todos predominava o bom humor nos diálogos, algo ao estilo carioca dos bons tempos. O avião pousou em Paris, no aeroporto Charles de Gaulle, dia 15, por volta das 14 horas, horário local. A expectativa da viagem era frenética. Contávamos os segundos, os minutos e as horas, para o embarque rumo a Túnis, onde chegamos por volta das 23 horas. Aí, a primeira surpresa: ninguém da ONG que nos convidou, ou da embaixada líbia, aguardava a delegação no aeroporto. Somente ouvíamos as notícias: parte da embaixada líbia na capital da Tunísia havia passado para o lado do Conselho Nacional de Transição (CNT), o organismo político que em Benghazi se voltou contra o regime capitaneado por Muammar Kadhafi. Como os velhos homens do mar, estávamos à deriva no aeroporto de Túnis. Tempos depois, fomos informados por Juliana Castro, a coordenadora da delegação, de que a OTAN tinha intensificado os ataques aéreos, sobretudo em um trecho da estrada que nos conduziria de Djerba, na Tunísia, a Tripoli. E, devido a isso, não poderíamos seguir 11


viagem. Fomos então para um hotel – Diplomat –, onde deveríamos aguardar o cessar fogo, para prosseguir viagem. Lá ficamos. As horas se passaram, os dias também. E a viagem foi interrompida. Frustração geral, principalmente para este repórter, ansioso como deve ser o trabalho jornalístico. A pauta “caiu”, como se diz no jargão de nossa profissão, pois já estava preparado para escrever um livro sobre a viagem. Mas, em contato com o meu editor Glauco de Oliveira, este encorajoume a transformar a não viagem neste livro-reportagem. “Esta é a história”, foi a mensagem que recebi por email, e completou: “Que tal, então, escrever sobre os antecedentes históricos, a formação dos estados árabes, o nacionalismo predominante na região desde a década de 60, até os dias atuais, narrando os fatos que desencadearam a invasão da Líbia pela OTAN?” Ficamos hospedados no hotel durante cinco dias. E retornamos ao Brasil. Ainda na viagem, o que ocorreu no sábado, 21 de agosto de 2011, vinha escrevendo mentalmente o desenrolar dos acontecimentos para o livro, pois muitos dos fatos aqui narrados não aparecem no dia a dia do jornalismo de mercado brasileiro. Antes do retorno ao Brasil, fiquei três horas em Paris, no Aeroporto Charles de Gaulle, à espera do embarque. Ia utilizar um cartão telefônico que 12


tinha comprado uma semana antes quando da ida a Túnis. Só que o cartão foi vendido com defeito e nem lembrava mais em que local do mesmo aeroporto tinha comprado. Pensei com os meus botões: imagina se isso tivesse acontecido no Brasil, e não na França, com algum viajante estrangeiro? O Brasil certamente seria esculhambado, mas então, por que silenciar diante do fato de ter sido “garfado” em um país desenvolvido e rico como a França? Ou se conformar aceitando passivamente a cantilena dos francófonos segundo a qual c’est la civilization? Ah, sim, ao contrário do que insinuaram veículos da mídia de mercado, informo que, como integrante da delegação que foi impedida, devido aos bombardeios da OTAN, de ingressar na Líbia, não houve nenhum depósito de petrodólares na minha conta bancária. E, além do mais, no final das contas, as despesas da delegação brasileira em Túnis não foram pagas pelo antigo regime líbio, mas por cada um dos integrantes. E as passagens também. Esta é a minha história que você, caro leitor, acompanhará a partir de agora.

“Não houve nenhum depósito de petrodólares na minha conta bancária” 13


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