Temas em fenomenologia

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e V o c êe s t ár e c e b e n d ou mao b r a e mv e r s ã od i g i t a l d aB O O K L I N K s o me n t ep a r al e i t u r ae / o uc o n s u l t a . N e n h u map a r t ep o d e s e r u t i l i z a d ao ur e p r o d u z i d a , e mq u a l q u e r me i oo uf o r ma , s e j ad i g i t a l , f o t o c ó p i a , g r a v a ç ã oe t c . , n e ma p r o p r i a d ao ue s t o c a d a e mb a n c od ed a d o s , s e maa u t o r i z a ç ã od o ( s ) a u t o r ( e s ) . V e j ao u t r o st í t u l o sd i s p o n í v e i sd oa u t o r , d eo u t r o sa u t o r e s , e d i t o r e sei n s t i t u i ç õ e s q u ei n t e g r a mon o s s os i t e . C o l a b o r eep a r t i c i p e d aR E D ED EI NF O R MA Ç Õ E SB O O K L I NK( B O O K NE WS ) ed en o s s aR E D ED ER E V E ND AB O O K L I NK . C a d a s t r e s en os i t e .


TEMAS EM FENOMENOLOGIA


Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia grupo de trabalho de fenomenologia Coordenação: Alberto Marcos Onate (UNIOESTE) Núcleo de sustentação Angela Ales Bello (Pontifícia Universidade Lateranense de Roma) Dario Alves Teixeira Filho (UFRRJ) Ericson Sávio Falabretti (PUCPR) Gerson Brea (UNB) Jocelyn Benoist (Sorbonne-Paris) Pedro Alves (Universidade de Lisboa) Renaud Barbaras (Sorbonne-Paris) Núcleo de apoio Adão José Peixoto (UFG) Alex Jardim (UEMC) Carlos Tourinho (UFF) Celso Braida (UFSC) Claudinei Silva (UNIOESTE) Hélio Gentil (USJT) Ir. Jacinta Turolo Garcia Luiz Damon Moutinho (UFPR) Luiz Rohden (UNISINOS) Marcelo Fabri (UFSM) Marco Antonio Valentim (UFPR) Marcos José Müller-Granzotto (UFSC) Maria Aparecida Bicudo (UNESP) Mário Porta (PUC-SP) Martina Korelc (UFG) Nuno Coelho (USP-Ribeirão Preto) Nythamar Oliveira (PUCRS) Paula Mousinho Martins (UENF) Robson Ramos dos Reis (UFSM) Sebastião Trogo (Aposentado UFMG) Simeão Donizeti Sass (UFU) homepage / e-mail da instituição: www.booklink.com.br/gt.fenomenologia am.onate@uol.com.br


CARLOS DIÓGENES CÔRTES TOURINHO organizador

TEMAS EM FENOMENOLOGIA

FENOMENOLOGIA

GT / ANPOF


Copyright © 2012 Carlos Diógenes Côrtes Tourinho et al. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida, em qualquer meio ou forma, seja digital, fotocópia, gravação etc., nem apropriada ou estocada em banco de dados, sem a autorização dos autores. Capa Cris Lima / Demanda Editorial

Editores Glauco de Oliveira Bruno Torres Paraiso Direitos exclusivos desta edição: Booklink Publicações Ltda. Caixa Postal 33014 22440 970 Rio RJ Fone 21 2265 0748 www.booklink.com.br booklink@booklink.com.br Temas em fenomenologia / organizador, Carlos Diógenes Côrtes Tourinho – Rio de Janeiro : Booklink , 2012. 140 p. ; 20,5 cm. ISBN: 978-85-7729-120-5 1. Filosofia. 2. Filosofia contemporânea. 3. Filosofia da existência. 4. Existencialismo. 5. Fenomenologia. 6. Fenomenologia francesa. 7. Husserl. 8. Heidegger. I. Tourinho, Carlos Diógenes Côrtes. II. Título. CDD 180


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ....................................................................................................... 7 HISTÓRIA EMPÍRICA E HISTÓRIA TRANSCENDENTAL: DERRIDA LEITOR DE HUSSERL ..................................................................... 11 Alberto Marcos Onate O VIVIDO E SUAS POLARIDADES: OSCILAÇÕES DO “OBJETO INTENCIONAL” NA FENOMENOLOGIA DE HUSSERL .................................... 27 Carlos Diógenes Côrtes Tourinho DA CRÍTICA AO PSICOLOGISMO À CRÍTICA DA PSICOLOGIA ........................ 48 Mario Ariel Gonzalez Porta A CONSTITUIÇÃO DO OBJETO PELO SUJEITO ................................................. 77 Maria Aparecida Viggiani Bicudo NEGATIVIDADE E NEGAÇÃO NOS PROJETOS DE TEMATIZAÇÃO NA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA ................................................................... 96 Róbson Ramos dos Reis MERLEAU-PONTY: A PINTURA COMO PARADIGMA DA FILOSOFIA ........... 116 Ericson Falabretti



APRESENTAÇÃO

É com imensa satisfação que anunciamos, ao saudar o público acadêmico em geral, o lançamento de mais um livro do GT de Fenomenologia da ANPOF. A obra é o resultado do esforço conjunto de um grupo de professores de diversas universidades cujos estudos e pesquisas concentram-se, em nível de pós-graduação, em torno do projeto filosófico anunciado pela fenomenologia de Husserl, bem como em torno dos filósofos contemporâneos que se inserem no que se convencionou chamar de “tradição fenomenológico-existencial”, tais como Heidegger, Merleau-Ponty, dentre outros. Mais precisamente, tais professores encontram-se atualmente vinculados ao Grupo de Trabalho de Fenomenologia da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF). Oficializado junto à diretoria da ANPOF no início do ano de 2009, o GT de Fenomenologia completou, ao final do ano de 2011, três anos de existência, fato que, sem dúvida, muito tem contribuído para a divulgação e o aprimoramento dos estudos e pesquisas em fenomenologia no cenário nacional e, até mesmo, no cená7


rio internacional. Além da participação de pesquisadores brasileiros, o referido grupo conta também com a participação de pesquisadores estrangeiros. Em 2009, o grupo realizou o seu primeiro encontro anual no III Congresso de Fenomenologia da Região Centro-Oeste, ocorrido em novembro do mesmo ano, na Universidade Federal de Goiás (UFG), na cidade de Goiânia. Como resultado dos trabalhos apresentados pelos membros do GT neste primeiro encontro anual, publicou-se, no início de 2011, o primeiro livro do GT de Fenomenologia da ANPOF, intitulado Fenomenologia: influxos e dissidências (Rio de Janeiro: Booklink Publicações), obra organizada pelos professores Carlos Diógenes Côrtes Tourinho (UFF) e pela professora Maria Aparecida Viggiani Bicudo (UNESP/SP). No mês de outubro de 2010, o grupo reuniu-se no XIV Encontro Nacional da ANPOF, ocorrido na cidade paulista de Águas de Lindoia. Por fim, um ano depois, entre os dias 10 e 14 de outubro de 2011, o encontro anual dos membros do GT de Fenomenologia da ANPOF ocorreu durante a programação do III Congresso Luso-Brasileiro de Fenomenologia / IV Congresso Internacional da AFFEN (Associação Portuguesa de Filosofia Fenomenológica), na Universidade de Évora (Portugal). Os artigos presentes nesta obra representam, grosso modo, o resultado dos trabalhos apresentados pelos participantes do GT de Fenomenologia da ANPOF no referido congresso, na cidade de Évora. Temas em fenomenologia apresenta-nos seis artigos, cada um dos quais abordando uma temática relevante para a filosofia fenomenológica no século XX, na obra de Hus8


serl ou mesmo no pensamento de Heidegger, ou ainda de Merleau-Ponty. O leitor poderá perceber, nos quatro primeiros capítulos, um grupo de artigos cujos temas estão diretamente ligados ao projeto filosófico inaugurado pela fenomenologia transcendental de Edmund Husserl. Diferentes temas são abordados nos referidos artigos, tais como: “fenomenologia e história”, “vivência fenomenológica”, “intencionalidade”, “hylética fenomenológica”, “fenomenologia e psicologia”, dentre outros. Em seguida, sucedem-se outros dois artigos cuja inspiração maior remete-nos para os pensadores da chamada tradição fenomenológico-existencial, respectivamente, para a fenomenologia-hermenêutica de Martin Heidegger e para a importante contribuição de Maurice Merleau-Ponty na fenomenologia francesa contemporânea. Em tais “filosofias da existência”, destacam-se, por exemplo, temas como: “gênese da ciência e existência”, “fenomenologia e estética”, “corpo e experiência pré-reflexiva”, e assim por diante. Mais do que textos de reconhecida qualidade acadêmica, os artigos que compõem esta obra proporcionarão ao leitor uma abordagem minuciosa de alguns dos mais importantes temas da fenomenologia no século XX, permitindo-lhe traçar um desenho nítido do que foi e representou esta tradição fenomenológico-existencial enquanto um importante capítulo da filosofia contemporânea. Por fim, agradecemos a colaboração dos participantes do GT de Fenomenologia, grupo de trabalho cujas atividades periódicas contribuem decisivamente para alicerçar ainda mais os estudos e as pesquisas em fenomenologia no Brasil.

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HISTÓRIA EMPÍRICA E HISTÓRIA TRANSCENDENTAL: DERRIDA LEITOR DE HUSSERL Alberto Marcos Onate Professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UNIOESTE / Toledo (PR) - (am.onate@uol.com.br)

Quanto ao modo de sua instauração, o diálogo filosófico comporta múltiplas direções de efetivação. Duas orientações podem ser destacadas: 1) O debate entre pensadores a partir de tema(s) comum(ns); 2) O trabalho dos intérpretes ou comentadores em relação ao(s) texto(s) e tema(s) desenvolvidos pelos pensadores. No segundo caso, trata-se de pensar as questões abordadas pelos pensadores a partir dos limites por eles traçados, mesmo que seja para aprofundá-las, desenvolvê-las, complementálas, ou também para modificá-las, corrigi-las ou transformá-las. Embora, às vezes, numa postura divergente à do pensador, o intérprete opera no campo aberto pelo primeiro, sem lograr extrapolá-lo. Esta é, na grande maioria dos casos, a sua contribuição, importante, mas bem demarcada, para o cenário filosófico. No primeiro caso, porém, do diálogo entre pensadores, os limites pensantes constituídos pelo precursor são franqueados pelo sucessor, numa dinâmica fecunda de criação a partir do material já elaborado. É o que parece ocorrer na relação entre 11


Husserl e Derrida, sobretudo, no primeiro texto sistemático dedicado pelo pensador francês à obra do pensador alemão. Escrito em 1953-1954 e publicado só em 1990, Le problème de la genèse dans la philosophie de Husserl constitui um importante trabalho não apenas para se conhecer o período inicial da obra do filósofo francês, mas, sobretudo, para se avaliar a concepção husserliana de história. Comentando pontualmente as obras de Husserl publicadas à época e os textos do Nachlass consultados em Louvain, Derrida diagnostica as dificuldades husserlianas para conciliar as dimensões empírica e transcendental da noção de “história”, impasses devidos principalmente à primazia do teórico sobre o prático no conjunto da obra do filósofo alemão. Na etapa final da empreitada husserliana, mormente na Krisis, tais óbices conduziriam a uma filosofia da história alicerçada numa história da filosofia de caráter formalista cujas origens e transformações genéticas careceriam de explicitação conceitual e argumentativa. Colocando em xeque o projeto husserliano de descrição pura do originário e do simples, Derrida denuncia a irredutível contaminação originária da origem, a incontornável corrupção inicial do simples1, cuja consequência mais profunda é a impossibilidade da distinção entre o “transcendental” e o “empírico”, mesmo quando sustentada por procedimentos redutivos radicais. O conceito de “gênese” desempenha um papel decisivo em tal estratégia questionadora, pois é a partir dele que se estratificam os polos constituintes e constituídos do processo constitutivo transcendental, cujos meandros perfazem o tema pri1

Cf. Derrida, J. Le problème de la genèse dans la philosophie de Husserl, p. VII.

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vilegiado da descrição proposta pela fenomenologia em sua vertente husserliana. Apresentam-se questões relevantes, tais como: há um começo absoluto ou apenas inícios relativos? Há, e quais são, as conexões entre os eventos históricos mundanos e a dimensão transcendental? Comporta a transcendentalidade algum tipo de história? Qual o vínculo entre a gênese transcendental e a gênese empírica? Procurando corresponder ao movimento pensante do conjunto da obra husserliana disponível à época, sem sucumbir a uma abordagem cronológica estrita e estéril, Derrida explora o estabelecimento husserliano do tema da gênese enquanto fio condutor, bem como investiga as implicações de seus principais desdobramentos. Para o filósofo francês, a passagem de Husserl da matemática à filosofia ocorre sob os auspícios de uma posição oscilante entre um psicologismo sustentado, sobretudo, por Mill, Sigwart, Lipps, Wundt e Stumpf, e um logicismo inspirado em Kant e Natorp. A condução subreptícia do debate entre psicologistas e logicistas estaria já reservada ao problema da gênese: os primeiros defendendo “uma gênese sem objetividade”, os segundos afirmando “uma objetividade sem gênese”2. Embora no início de seu itinerário filosófico Husserl se aproxime dos primeiros, não o faz sem restrições, mormente no que concerne às implicações relativistas e céticas de suas concepções. De modo complementar, mesmo rechaçando o formalismo transcendental estrito dos segundos, ele resguardará alguns de seus pressupostos: a busca de fundamento para a lógica e a filosofia, a distinção entre dois âmbitos 2

Cf. Derrida, J. Le problème de la genèse dans la philosophie de Husserl, p. 53. 13


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