6 minute read

BRASIL

Next Article
OPINIÃO

OPINIÃO

Imunidade de rebanho por contágio: a ideia errada que seduziu o governo Bolsonaro

PANDEMIA Teoria de que contaminação em massa pode controlar surtos de doenças é cientificamente equivocada e eticamente inviável

Advertisement

Alex Pazuello - GovAM / Fotos Públicas

Nara Lacerda

Desde os registros dos primeiros casos de infecção pelo novo coronavírus no Brasil, o governo federal propagou o entendimento equivocado de que deixar uma grande parcela da população se infectar naturalmente vai controlar a pandemia da covid-19 no Brasil.

Nos debates sobre o tema, o termo imunidade de rebanho se popularizou para nomear a ideia. A medida seria uma forma de frear a propagação do vírus naturalmente - sem os custos de medi-

Mortes entre os mais jovens já são maioria

das de prevenção e da compra de vacinas. “É o famoso barato que sai caro. Esse barato implica em mortes. Torna-se impagável”, afirma o médico Marco Túlio Aguiar Mourão Ribeiro, doutor em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Ceará e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC).

Marco Túlio explica que a imunidade coletiva precisa ser possibilitada por meio da vacinação em massa. De outra forma, não há evidências de sucesso. “A gente não tem cura para a covid-19, tem controle. Esse controle se dá pela diminuição de exposição, imunização pela vacina e máscara”, alerta.

Importância das vacinas

Já é de conhecimento da ciência o fato de que os vírus sofrem mutações e podem voltar a atingir pessoas que já foram infectadas anteriormente. Há ainda o risco de contaminação de pessoas nascidas após o período em que a imunização natural teria ocorrido. Em muitas doenças e casos, a proteção não passa de mãe para filho.

O vice-presidente da SBMFC lembra: “foi visto logo no início que imunidade de rebanho não é uma estratégia adequada para a covid.

Controle da covid se dá pela diminuição de exposição, imunização pela vacina e máscara

Se você tem uma exposição maior, várias pessoas vão se contaminar, vão ser internadas, hospitalizadas e vão chegar à morte”.

Esses fatores ajudam a explicar por que a humanidade ainda está sujeita a doenças que são ameaça há milhares de anos, como a raiva, o sarampo, a varíola e diversas outras. Nenhuma delas foi controlada pela imunidade de rebanho por contágio. Sem a vacinação todas podem voltar a sair do controle. As duas doenças infecciosas

Código Penal considera crime “causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos

que foram consideradas erradicadas, a varíola e a peste bovina, teve o controle feito por meio das vacinas.

Variantes e crítica de cientistas

Conforme a vacinação avança entre os grupos prioritários e as variantes tomam conta do globo, o perfil das vítimas da covid muda drasticamente. No Brasil, as mortes entre os mais jovens já são maioria, por exemplo. Mas mesmo antes da imunização e das novas cepas, a proposta de imunização natural foi fortemente criticada pela comunidade científica.

Um grupo de 80 cientistas do mundo todo, de diversas áreas, publicou um artigo afirmando que a imunidade de rebanho é “uma falácia perigosa sem evidência científica”. Os pesquisadores alertavam para o fato de que a estratégia “daria lugar a epidemias recorrentes, como ocorreu com numerosas doenças infecciosas antes do desenvolvimento de vacinas”.

CRIME PREMEDITADO

Mesmo que houvesse alguma possibilidade de controle do coronavírus por meio da infecção em massa, esse movimento causaria um número de mortes gigantesco e esgotaria a capacidade de atendimento do sistema de saúde.

Nenhum desses argumentos, no entanto, pareceu suficiente para convencer o governo federal, capitaneado por Jair Bolsonaro. Segundo a plataforma Aos Fatos, a suposta eficácia da imunidade de rebanho é a segunda desinformação mais recorrente no discurso do presidente. Em abril do ano passado, ele já afirmava que o Brasil estaria imunizado quando a infecção atingisse entre 60% e 70% da população. DECISÕES PARA PROPAGAR O VÍRUS

Nas decisões de governo, também fica cada vez mais explícito para pesquisadores, juristas e estudiosos que houve ação deliberada para propagar o vírus. Um levantamento do Centro de Pesquisas e Estudos de Direito Sanitário (Cepedisa) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP), colocou essa percepção no papel.

O estudo trouxe uma análise de mais de 3 mil decisões da gestão de Jair Bolsonaro sobre a pandemia. São leis, medidas provisórias, decretos e outros mecanismos. A conclusão de que há uma ação proposital para impedir o combate ao coronavírus fica explícita em uma linha do tempo trazida pela publicação.

Em fevereiro, juristas brasileiros entraram com uma representação criminal na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Jair Bolsonaro por crimes contra a saúde pública. O grupo aponta que o governo “aposta na disseminação do vírus como estratégia de enfrentamento à pandemia”. O artigo 267 do Código Penal Brasileiro, considera crime “causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos”.

Quem é Pedro Castillo, novo presidente do Peru que venceu fascismo de Keiko Fujimori

Redação, com Lucas Rocha da Revista Fórum

Com 99.998% das urnas apuradas, já é possível afirmar que Pedro Castillo, professor e sindicalista de 51 anos que se lançou à presidência com o partido Peru Livre, conseguiu conquistar o apoio popular das classes mais baixas do Peru e dos redutos mais interiorizados. Com Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, como adversária, o socialista travou uma dura disputa que foi decidida voto a voto.

Assumidamente de esquerda, o candidato do partido marxista-leninista-mariateguista Peru Livre foi considerado um azarão por ter sido o mais votado no

Gian MASKO / AFP

primeiro turno. Continuou na liderança apesar da união em torno de Keiko formada por grupos midiáticos e pelas elites políticas liberais, incluindo o escritor Mário Vargas Llosa. Na apuração, aos 99.998%, Castillo ocupa a dianteira com 50,204% dos votos contra 49,796% de Keiko.

Keiko Fujimori (Força Popular) não aceita a derrota, alegando, sem qualquer prova, uma fraude eleitoral. Observadores internacionais reconheceram que o pleito do dia 6 foi realizado de maneira correta e exitosa, de acordo com os padrões nacionais e internacionais.

Quem é Castillo?

Professor, Castillo ganhou projeção nacional quando liderou a greve nacional de docentes de 2017, que paralisou as aulas por três semanas, exigindo melhores condições para profissionais daeducação. Seu slogan eleitoral é “Palavra de Mestre” e seu símbolo é um lápis gigante.

Terceiro de nove irmãos, desde cedo conheceu a desigualdade no país andino. Começou seus estudos em escola rural e depois foi para uma unidade educacional localizada a duas horas de distância, que percorria a pé. Na juventude, Castillo foi parte dos grupos “ronderos” nos anos 70, que protegiam os campesinos e agricultores sem assistência do Estado no interior do país. Os ronderos também atuaram para resguardar os povos diante da escalada de violência promovida pelas Forças Armadas nos anos 802000.

Propostas

Sua atuação no interior e seu linguajar popular foram alvo de xenofobia e racismo durante as eleições. Sua principal proposta de campanha é a reforma constitucional - uma reivindicação que motivou protestos em novembro de 2020 no país. Promete priorizar os mais pobres, a redução das desigualdades sociais, o acesso à saúde e à educação. “Faremos todos os esforços para levar saúde ao povo peruano, tranquilidade, bem estar e justiça”, afirmou Castillo ao votar.

Faremos todos os esforços para levar saúde ao povo peruano, tranquilidade, bem estar e justiça

ANÚNCIO

This article is from: