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Discurso sobre polícia faz Renato Freitas se tornar novamente alvo
Gabriel Carriconde recebeu a reportagem do Brasil de Fato Paraná na terça-feira (14), logo após sofrer pressões na Assembleia ao denunciar que as mortes causadas pela PM chegaram a 483 óbitos em 2022.
Acusado pelo secretário de Segurança Pública do Paraná de instigar a população contra as forças de segurança após criticar a letalidade da PM, o deputado estadual Renato Freitas
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A reação a seu discurso veio em ofício do secretário
Coronel Hudson, em que pedia que o deputado fosse repreendido pelas declarações. Outros deputados da base governista, como o ex-delegado de Polícia Civil Tito Barichello (UB-PR), também reagiram ao posicionamento de Freitas, chegando a elo-
Brasil de Fato Paraná - Na Alep, a direita vem acusando o senhor de ser inimigo da Polícia Militar por um discurso que fez. O que pode falar a respeito disso?
Renato Freitas - Na verdade, eu falei de uma política de segurança pública fracassada, que faz vítimas entre a sociedade civil, principalmente na porção mais fragilizada, que são as periferias, as áreas de ocupação, mas também as pessoas jovens negras e pobres, que são superrepresentadas nessas estatísticas de letalidade policial. Por outro lado, a própria PM se vê refém dessa política fracassada que produz morte. Em 2019, o suicídio de policiais militares ultrapassou o número de policiais mortos em atividade. A própria instituição padece e é letal ao policial mais do que a atividade em si. Em 2020, a PM do Paraná liderou o ranking de suicídios de todo o Brasil, e esse número é assustador, mostra a necessidade urgente de transformação da instituição. Foi isso que eu quis demonstrar pelos números do GAECO, de 488 mortes, 483 foram da Polícia Militar. É um número gigante porque uma política de segurança pública é salvaguarda à vida, todas, sem exceção, e que cumpre a lei, e até onde sabemos não há pena de morte no Brasil, então essa pena de morte desse direito penal subterrâneo é também uma ação ilegal e criminosa.
É sintomática essa reação da parte da Secretaria quando você levanta críticas à letalidade policial? Com certeza. O que demonstra a cumplicidade criminosa do alto escalão da PM e do governo (Ratinho Jr.), que se alinharam nos últimos quatro anos ao governo federal (Bolsonaro) que manifestava publicamente que os policiais deveriam assassinar qualquer bandido, na ideia de que bandido bom é bandido morto, logo, os policiais com uma ação de agrante, independentemente se estavam colocando a vida deles ou de outros em risco, essa pessoa deveria morrer, e os policiais não seriam responsabilizados. Isso é uma cultura da milícia, dos paramilitares. Em um país com tanta desigualdade, e com um passado escravocrata, em que não existe possibilidade de ordem, se não pelo controle pela giar a quantidade de mortes no PR. E também houve quem já falasse em cassação por seu posicionamento. Por coincidência, antes de nos receber, Freitas atendia a uma família vítima de violência da polícia, o que tem se transformado em uma roti- na, já que muitas o procuram para relatar abusos por parte das forças de segurança. Na visão de Renato, a estrutura faz o PM também, de certa forma vítima, ao destacar a quantidade de suicídios na PM. Confira os principais trechos da entrevista: violência. Essa ordem só pode ser mantida pela espoliação incessante daqueles que já foram subjugados em um processo inicial de dominação colonial. A PM, como ela se coloca hoje, é instrumento da classe dominante, que é essa elite colonial.
Achava que a polícia que mais mata era a que também mais morre, mas o senhor a rma que uma das polícias que mais se mata... Exatamente. Em alguns estados, como na Bahia, é a polícia que mais mata e é uma polícia que morre muito. A proporção é de um militar para cada 22 civis, uma proporção que no Paraná é de 140 civis para cada militar. Mas em 2020, foi a polícia que mais se matou no Brasil. A polícia do Paraná é a que mais mata e mais se mata.
Discurso muito propagado é a segurança do Paraná vai muito bem. Se a polícia está atirando, combate o crime. Como analisa essa visão? Não tem como estar funcionando num cenário de aumento no número de homicídios. Se está matando mais, não está preservando a vida. E o segundo argumento são os casos de crimes contra o patrimônio, contra a integridade física, contra a dignidade sexual, grandes crimes que interditam cidades, estradas, roubam grandes bancos, a sensação de insegurança da população. A questão de segurança pública não é quantitativa, mas também qualitativa. A sensação de segurança que sempre existe nas pessoas depende de uma série de fatores. Como a regulamentação da mídia, esses jornalistas do meio-dia que vendem medo para ganhar ibope e muitas vezes voto, eles devem ser responsabilizados pelas mentiras que levam pela incitação ao crime que normalmente reproduzem. Uma mídia que informe e uma educação e ciente vai fazer com que a pessoa compreenda melhor os mecanismos da segurança pública ou os con itos sociais que geram determinados crimes. Isso é inclusão pela cidadania, mesmo em um cenário violento como o Brasil, que é o país com mais homicídios no mundo. Falar em política exitosa na segurança pública chega a ser piada.